Capítulo 03

Ao me aproximar da morena, testemunhei seu poderoso golpe contra o babaca que a havia importunado mais cedo. A cena me deixou indeciso entre a risada e a preocupação genuína com o homem. Aquela mulher não era apenas uma beleza estonteante, mas também uma força da natureza.

O homem caído no chão, segurando suas partes íntimas, recebeu uma advertência direta da morena. Ela exalava confiança e determinação, e, de repente, eu me senti ainda mais atraído por ela.

— Se você se aproximar de mim novamente, vou te esmurrar até 2050, entendeu? – Ela perguntou, e o cara balançou a cabeça. — Responde com a boca, seu babaca.

— S… S… Sim, senhora. – Ele gaguejou. 

— Agora peça desculpas? – O cara pediu desculpa e ela o ajudou a levantar. — Bom garoto! Agora vá embora. – O cara passou por mim igual um foguete.

Assim que o cara se foi, ela se virou para mim, seus olhos mel esverdeados brilhando com uma mistura de coragem e intensidade.

— E você, o que quer? – Ela me olhou, e eu fui direto ao ponto.

— Quero você.

— Hum! – Ela pensou por um momento, e um sorriso sapeca surgiu em seus lábios. — Na minha ou na sua?

— Pode ser na minha. – Respondi, tentando manter o clima sensual.

— Pode ser, mas já aviso que se tentar me forçar a algo, vou te dar uma surra. 

— Hey, calma! Somos amigos, morena. – Estendi a mão, e ela apertou de uma forma sensual e, ao mesmo tempo, firme.

Optamos por um carro de aplicativo para chegar à minha casa, já que nenhum de nós estava em condições de dirigir. Durante o trajeto, tentei puxar conversa, mas suas respostas eram monossilábicas. Parecia que não tiraria muitos segredos dela.

— Que golpe incrível! O cara ficou amedrontado. Você luta? – Perguntei, surpreso.

— Krav Maga e um pouco de boxe. E você, o que pratica? – Ela observou detalhes em mim que eu mal percebia.

— Como sabe que eu luto?

— Corte no supercílio direito, lábio levemente cortado do lado esquerdo, mãos inchadas e um porte atlético. E, claro, você venceu. 

— Sabe ler mentes?

— Sou apenas detalhista. – Ela sorriu.

— Como se chama? – Perguntei, curioso.

— Para que dizer nossos nomes? Não seremos amigos, muito menos íntimos.

— Você quem manda, morena. – Ela passou a língua pelos lábios, e, sem poder resistir, a beijei. E que beijo!

Ao chegarmos à recepção do prédio, chamamos a atenção de todos, afinal, nunca me viram com uma mulher aqui. No elevador, o clima esquentou ainda mais entre nós. Começamos a nos pegar, e eu estava pronto para levá-la a loucura quando senhor e senhora Silvério entraram, interrompendo o momento. Ela os cumprimentou com naturalidade e, ao olhar para mim, piscou de forma provocativa.

No meu andar, ela se surpreendeu com a cobertura.

— Uau! Na cobertura. – Ela assobiou. 

— Quer algo para beber? – Perguntei, tentando manter o clima.

— O que eu quero beber não se encontra em todo lugar. – Ela passou a língua entre os lábios, provocando mais uma vez, e logo entendi o recado.

A levei para o meu quarto, prometendo dar a ela tudo o que quisesse.

Everlly Soares

Se passaram três meses desde o meu aniversário, e ainda tenho a lembrança daquele homem gostoso de olhos verdes. Me arrependi de não ter dado meu número pra ele, pois foi a melhor transa que eu tive na vida. “Menos, Ever.” Meu subconsciente ralha comigo.

Voltei à realidade com meu amigo estalando os dedos na minha frente.

— Everlly Caroline Alves Soares, dá pra voltar para o planeta Terra.

— Foi mal, David. Estava com a mente longe. E aí, vamos sair mais tarde? – Ele logo se animou.

Chegamos ao hospital, e encontrei meu grupo. Somos palhaços voluntários, alegramos crianças acamadas, mas a minha ala favorita é das crianças com paralisia. Elas ficam alegres quando nos veem, pena que o nosso tempo com elas é muito curto.

— Amiga, quando sairmos daqui, vamos para a ala da oncologia? – David perguntou, e eu neguei.

— Adoraria, mas tenho uma audiência trabalhista. Os clientes são do Magno, já que ele e Bruno precisaram viajar.

— Que clientes são esses? – Meu amigo perguntou curioso.

— Não faço ideia, David. Irei conhecê-los hoje.

— Tomara que pelo menos sejam gatos. 

Olhei para ele, chamando-o para continuarmos nosso trabalho. Por volta da tarde, saí do hospital já arrumada. Com o trânsito caótico do Rio de Janeiro, liguei para Carlos, meu assistente.

— Everlly, cadê você? – Ele pergunta preocupado.

— A caminho, Carlos. Veja se consegue atrasar a audiência, o trânsito está uma merda. 

— Vou ver o que posso fazer. – Ele diz solicito e o agradeço. 

— Você é o melhor, Carlinhos. Eu te amo! – Fiz barulho de beijos e ele riu do outro lado. 

— Eu também te amo chefinha! 

Desliguei o celular e continuei a dirigir, mas o trânsito não ajudava. Para relaxar, coloquei uma música da Beyoncé, tentando manter a calma. Finalmente, o trânsito colaborou, e, ao chegar ao fórum, retoquei a maquiagem. Liguei para Carlos, que conseguiu um pouco mais de tempo. Peguei o elevador para o local da audiência, e alguns homens começaram a me encarar. O desconforto crescia, então os encarei, e os marmanjos sorriram para mim sem graça.

Enquanto chegava ao meu destino, recebi uma ligação de uma das minhas clientes, e, enquanto eu conversava com ela, passei por dois caras que pareciam uns armários. A estava aconselhando sobre uma decisão delicada que deveria tomar quando ouço os dois caçoarem do meu nome, precisei desligar e deixei rolar para ver até onde a conversa dos dois panacas iria dar.

— Essa advogada deve ser gata? – Um deles perguntou.

— Sei lá, com um nome desses, duvido muito.

— Magno podia ter dito como ela é, assim ficaria mais fácil identificar.

— Quem se chama Everlly? Tenho certeza que ela é uma velhota cheia de gatos. – Os dois continuam zombando. — Podia ser gostosa igual aquela ali. – Já estava muito irritada, então virei para eles.

— Muito prazer! – Apertei a mão dos dois.

— O prazer é nosso.

— Me chamo Everlly Caroline Alves Soares, amo pets, tenho um gato, um cachorro e dois peixinhos. E não sou uma vovozinha como pensavam — Eles ficaram em silêncio, e quando ergui meus olhos para encará-los estava perplexa.

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