Tudo estava escuro.
Haviam diversos carros encostados, enquanto homens se enfrentavam defendendo ideais. Christopher estava lá, mas eu não podia ajudá-lo, seria ferida na primeira oportunidade.
Ele lutava com bravura, mas eu sabia que o pior iria acontecer. Instintivamente.
Meu corpo suava demais, enquanto permanecia gelada. Sentia a falta da circulação nos meus dedos mas meu coração pulsava forte enquanto o som do tiro ecoava na minha mente.
O pior aconteceu, não haviam lágrimas, apenas a dor da perda enquanto alguém me arrastava do local.
O silêncio, após o tiro, invadia a minha alma, minha respiração já estava difícil e meu coração causava uma dor absurda cada vez que ele pulsava e batia contra meu peito.Meu corpo tomou consciência.Já não era a primeira vez que eu sonhava com essa cena. Toda vez, acordava sentindo-me sufocada, com as mãos suadas e lágrimas acumuladas.Vejo pelas fresta da janela que o sol não apareceu ainda, mas tenho a sensação que o dia já amanheceu, me inclino e pego meu telefone na cabeceira e o relógio marca 8:47.A dor do pesadelo ficava presente até que minha respiração finalmente se acalmasse, e que meu consciente entendesse que a minha realidade havia mudado.Agora, tinha mais uma rotina normal, faculdade, trabalho, minha casa, e quando dava, tinha os treinos na academia.Algo normal... tirando as doses de medicações que tomo periodicamente durante o dia, receitado pelo médico psiquiatra e as sessões de terapia semanais que faço para os eventos pós traumáticos.Assim como aprendi na terapia, é horrivel reviver essa dor, a mais intensa que senti na minha vida, mas não havia nada que me fizesse esquecer e eu não queria.Me levanto ainda com a sensação de formigamento nos dedos, causado pelo pesadelo e vou até a cozinha. Tomo um copo grande de água junto a minha primeira cartela de medicações.A agitação do pesadelo sempre me faz ter fome, mas dessa vez não sinto fome, então como apenas uma banana, e meu telefone começa a tocar.É Cassie.
- Oii, linda bom dia - disse ela animada pelo ligação- Oii Cas, bom dia - digo ainda sonolenta- Acordou agora foi ? - disse ironicamente - Vamos fazer o que amanhã ? - pergunta- Eu não to a fim de fazer nada. - digo nervosa- Mas é seu aniversário. Você precisa fazer alguma coisa. - disse indignada- Eu vou pensar, prometo.- Você não disse que tinha algo importante de manhã- disse ela rapidamenteEstou MUITO atrasada.- Verdade. Tenho que ir. - digo nervosa- Me avisa quando chegar lá. - disse Cassie finalizando a ligação.Hoje é sábado. Dia de psicóloga. Dia intenso.Vejo o visor do meu telefone e percebo que preciso dar uma corrida e sair rapidamente. Estou atrasada, o pesadelo me fez perder a hora.Tomo meu banho rapidamente, mas ajudando-me a relaxar, coloco um vestido simples e florido, algo que tente transparecer calma, coisa que não tenho ultimamente e saio pedindo o uber para chegar o quanto antes." Porque marco as consultas tão cedo " - resmungo enquanto desço as escadas.Um motorista aceita minha corrida. Estranho. Um motorista iniciante, com poucas avaliações e sem foto." Ótimo " - rapidamente procuro o contato de Cassie, e deixo como atalho e fico à espera do carro.Um carro padrão preto para ao meu lado e seu vidro insu-film não me deixa avaliar o motorista. Mas a placa é compatível com o aplicativo. Entro no carro.- Bom dia - digo fechando a porta e me ajeitando preparada para fugir, se necessário.- Bom dia, senhorita Alice, bem? - pergunta o homem ao meu lado.- sim - confirmo, até perceber…Meu corpo gela e meus dedos buscam incessantemente abrir a porta. Havia mais de um homem no carro.A trava havia sido acionada.Meus pensamentos estavam começando a diminuir, resultado da cartela de remédio que havia tomado mais cedo. Merda!Eu desisto e me viro para o homem ao meu lado. O motorista usava terno e um óculos escuro, ele parecia mais um segurança do que motorista. Ao seu lado havia outro homem sentado. E ao meu lado estava um homem com uma máscara skin.Ele utilizava um terno, mas não da mesma categoria que o motorista, reconhecia um terno chique de longe.Ele é alguém importante.Mas o que esses homens queriam comigo?- me perguntava- Será que poderiam ser consequências do passado de Christopher ?- Voce não sabe quanto tempo demoramos para te encontrar - disse o homem com a máscara.Sua voz era familiar, mas meu corpo se retraia, como se ativasse um lado meu que não deveria. Talvez fosse a vontade de viver, não tinha ideia do que esses homens queriam comigo.- me perdoa - disse o mesmo se aproximando.Ele está se desculpando ? - meu inconsciente se perguntava enquanto ele se aproximava de forma lenta. Meu corpo ficava lento quando minha ansiedade era alta demais, consequência dos remédios.Pude ver suas mãos com um pano branco e essas foram minhas últimas lembranças até acordar numa espécie de galpão, com pouca luz.Meu corpo demorou uns minutos até perceber que estava entre duas fileiras de prateleiras de galões. Eram galões enormes que impediam de tentar ver o teto dele.Busco escutar os sons, mas não há nada.Silencio absoluto.Tento, então, me levantar mas meus braços estão presos na parte de trás da cadeira, amarrando meu tronco por inteiro, minhas pernas eram as únicas livres, mas não podia fazer nada com elas.- Quem diria que te encontraria depois de tanto tempo ? - pergunta uma nova voz vindo da minha frenteConseguia ver seu contorno, era um homem alto, com um corpo musculoso. Ele estava em pé me observando.- Quem é ? - pegunto desesperada- Que ofensa da sua parte não me reconhcer - disse, enquanto a voz se aproximava ainda mais.Meu corpo estava em espécie de “te conheço, mas não me recordo”, e a ação do remédio ainda não me ajudava- Vai me dizer que esqueceu do seu primeiro amor ? ! - disse se aproximando demaisMeu corpo desbloqueou uma memória, a primeira vez que vi Christopher. Um homem alto, atlético e bonito, mas meu eu conseguia entender que era impossível que ele estivesse vivo.Um lado meu queria acreditar na possibilidade. As memórias de Christopher começaram uma após a outra surgirem, as lágrimas que meu corpo evitava usar na terapia, começaram a cair sobre meu rosto enquanto buscava racionalidade no que esse homem falava.Podia ser apenas um louco...Ele deu um passo e se agachou na minha frente. Bateu palma e todas as luzes se acenderam iluminando o homem diante de mim. Meu corpo demorou uns minutos observando meu primeiro amor agachado na minha frente. Eu me lembrava claramente do dia que ele tomou um tiro, e desde então continuava tendo pesadelos diariamente. Era uma dor que não conseguia entender, minhas lágrimas não era suficientes e minha vontade era de envolvê-lo em meus braços.- Agora se lembra né, Alice? - perguntou ao se colocar de pé novamente, para se afastar. Ele encostou na fileira e colocou as mãos no bolso.- Não vai falar nada ? - disse de forma debochada.- Você está vivo ? - sussurro entre os soluços - Christopher?
Era ele, meu primeiro amor. Vivo e respirando perto de mim.Meu corpo ansiava pelo seu, eu estava inquieta porém tranquila como se meus medos tivessem desaparecidos. - Chefe. Ela já chegou - disse um homem ao se aproximar, pude identificar que era o motorista que me trouxe.- Mande ela entrar - disse Christopher. Ele deu um passo à frente, seus olhos penetravm nos meus, ele realmente me queria. - Eu preciso de você - disse ele, fechando seu sorriso Eu não entendia o que era, mas sabia que precisava ajudá-lo. Faria o necessário por ele. - Como ? - pergunto, segurando as lágrimas Ele passa por mim, e retira delicamente as cordas que me seguravam e, se agacha novamente na minha frente. Ele me olha por alguns instantes e passa seus dedos firmes pelo meu rosto. Isso me causou arrepios, uma sensação que não sentia há muito tempo. Eu precisava ter ele. - Vem comigo. - disse ele, colocando-se de pé e passando seus dedos pelos meus. Meu corpo estava em frenesi. Eu queria ele, sentir
Eu estava em completo choque só de imaginar a ideia de me casar com ele. Ele era idêntico ao Christopher mas possui uma personalidade terrível. - Vamos meu amor. - disse estressado. Eu precisava ganhar tempo. Precisava pensar, arrumar um plano melhor. - Me conta mais, sobre essa empresa que vou trabalhar... Aonde vamos morar. - busco enrolar ele - Só direi depois que assinar o contrato. Minhas mãos tremiam e meu corpo suava em busca de uma solução. Ou eu me casava e tinha uma vida duvidosa, ou minha família corria perigo.Não ! Eu pego o papel e puxo uma caneta e assino sem nem ao menos ler, não queria imaginar ter minha família sofrendo por uma máfia. Eu sabia o que eles era capazes de fazer.- Pronto - digo a ele.- Ótimo - disse Lisa. - Mas vou reforçar os pontos importantes.Eu não havia lido, de tão nervosa estou. Merda!- Eu posso ler ?! - pergunto e Lisa me entrega o contrato novamente. De todos os pontos, os que mais me chamaram atenção: § Dentro e fora da facção, ele
Gabriel estava indo tão bem, mas vindo de alguém tão imaturo, era de se esperar esse tipo de comentário. - Não Gabriel. Não sou lésbica e o problema não é esse. O problema é ser forçado a fazer algo que não quer e ainda acreditar que alguém está vivo. Ele ficou pensativo por um instante. Ele entendeu meu recado. - Desculpa. - resmungouEle passou o resto do caminho em silêncio e parou o carro em frente a minha casa. Eu desci, sem nem esperar ele, até que notei sua presença. Demoraria um tempo até me acostumar com alguém me vigiando. Subimos, em silêncio, até meu andar e lá comecei a organizar minhas roupas. Não seria uma tarefa fácil, por isso, aproveitei e comecei a fazer uma limpa. Eu poderia doar algumas roupas para Dona Maria e, assim ela poderia entregar a um ONG ou a igreja. - Senta aí. - disse ao Gabriel, apontando para a cadeira da cozinha. Ele me olhou, fechou a porta e se sentou. Ele me observava enquanto ajeitava tudo. - Você não precisa levar muitas roupas. - dis
Sentia a respiração de Gabriel diminuir, seu corpo gelou. Mas não foi por prazer e, sim por medo de Caio.Ele analisou a situação e jogou-me para o lado e se colocou de pé rapidamente. Caio olhava para Gabriel com ódio, como se ele tivesse roubado algo dele. Conhecia esse olhar, já havia visto em Christopher. Caio não estava sozinho, haviam mais dois seguranças atrás dele. Eu permanecia estática e ansiava para que Caio me notasse, queria que ele visse que não é único a fazer as regras. Não demorou para que seus olhos me encontrassem, logo, passei meus dedos pelo meu pescoço de forma a intriga-ló.- Você é uma vadia mesmo, né ?! - disse Caio se aproximando de mim. Ele não hesitou e me acertou com um intenso tapa no rosto. Aquela sensação de ser corrigida me assustava e me deixava com raiva. Já não era a primeira vez que ele me agredia, isso iria ser comum ?Olho para porta e seus capangas entraram fechando a porta. Eles sacaram suas armas e permaneceram estáticos, me observando. C
Pude sentir Caio me carregando, mas não conseguia reagir. Não conseguia abrir os olhos, mover meus músculos, ficava apenas estática. Não sei em qual momento eu realmente apaguei, mas quando abri meus olhos, já estava no avião. Estávamos alto o suficiente para que não conseguisse ver a cidade. Obsservei ao redor, não havia ninguém mas podia escutar conversas vindo de outros lugares. Haviam vários setores no avião, não era um avião convencional. Tirei o cinto, mas logo começou a apitar. Não demorou para que dois homens grandes aproximassem. - Senta - disse um deles a mim - Você não tem autorização pra levantar até chegar na capital. Eu observei os dois caras, não valia meu tempo. Rapidamente me sentei, tentando evitar que pudesse tomr um tiro deles.- Chefe, a garota acordou - disse o outro homem no rádio. Os dois ficaram parados na minha frente, minha mente buscava entender o motivo de terem avisado a alguém que havia acordado.Não demora muito para que um homem alto, usando tern
Nem me dei conta que o sol já havia nascido, e eu ainda continuava no avião. A viagem era longa, afinal da Coreia até os Estados Unidos davam mais de 12 horas de voo, mas chegaríamos logo. - Bom dia senhorita Alice, gostaria de tomar um café ? - uma comissária de bordo me surpreendeu. Ela estava com um pequeno sorriso amigável enquanto aguardava minha resposta. - aceito sim. - digo a ela- Você poderia me dizer as horas ? - pergunto impaciente com o voo - Sim, - disse olhando para seu relógio - São seis e vinte da manhã. - Obrigada e... O banheiro fica em qual sentido ? - pergunto após me dar conta que preciso utilizar urgentemente.- a direita e siga reto - disse enquanto eu agradecia com a cabeça Levantei-me cambaleando sentindo minhas pernas dormentes. Após dar alguns passos, meu sangue voltou a circular e cheguei rapidamente ao banheiro.Tentei abrir a porta mas estava ocupado. Quem poderia ser? Precisava utilizar ele logo.... Iria ter que esperar, jáque não aguentaria mais t
Vou até a cozinha, já que estou com muita fome. Assim que chego, vejo Jim na área externa da lavanderia numa conversa intensa no telefone. - Olá, Sou a mary - disse uma senhora de cabelos grisalhos com um sorriso gentil- você é a Alice né ?! - isso - digo estendendo a mão, fechando num aperto- Muito prazer! - Você tem alguma restrição alimentar ? Ou algo que não coma - pergunta com tom de medo. -olha, sou chata com algumas verduras mas como de tudo, fica em paz. - digo a ela tentando ser a mais gentil possível. - ah perfeito, hoje eu preparei lasanha, pode ser ?! - disse com o mesmo sorriso gentil. - claro, agradeço muito. - digo abrindo um grande sorriso Asim que ela sai, Jim se aproxima sentando na mesa. - já falou com a Mary ? - pergunta Jim um pouco ofegante - sim…. Tá tudo bem ? - Está, talvez eu vou ter que ir a capital. Estamos com um problema na matriz. - disse, tentando parecer tranquilo - Ah entendi. Mas é grave ? - pergunto curiosamente - não.