Eram seis da tarde quando pegamos o caminho para a casade Amy, para levá-la, depois de uma sessão de fotos que fizemos,para a campanha de doação para o hospital das crianças. O dia foracansativo, porque eu tive também duas reuniões com marcas queme queriam como embaixadora – tudo com a aprovação da equipede Richard.Cheguei a encostar a cabeça no banco e fechar os olhos, nomeio de uma conversa com a minha amiga. Quase peguei no sono.Só acordei de supetão, porque ela tocou o meu braço.— Desculpa — pedi, meio atordoada.— É assim mesmo, miga. — Apontou para a minha barriga,para eu entender do que ela estava falando, já que não queríamosque o motorista ouvisse.Fechei o vidro que separava o banco dele do nosso e meaproximei de Amy, quando ela pediu, parecendo querer compartilharum segredo.— Depois daquela conversa sobre Aurora, jurei que você iriacontar. Mas já tem o quê? Quase um mês?Eu havia conversado com Amy sobre a surpresa que tive coma aproximação de Richard. E faz
RICHARD WALKEREra difícil tirar os olhos dela. Apesar da expressãomelancólica, Isabelle tentava sorrir e ser simpática, enquantopasseávamos pelo salão, de braços entrelaçados.Ela tinha colocado uma echarpe no pescoço, e eu nãocontestei, mas em algum momento precisaria tirar para que o colarfosse exibido.Eu não a tinha presenteado com ele só para mostrar queconsumia algo da marca, mas porque realmente queria vê-lausando. A cor das pedras chamou a minha atenção, de fato meremetendo aos olhos dela.Isabelle optara por um vestido azul-escuro, com um caimentosimples, mas que valorizava as curvas do seu corpo. Eu sabia que aecharpe era parte da peça, mas ainda não entendia o motivo por elatê-la escolhido.Além do mais, eu a sentia muito, muito nervosa.Não consegui falar com John, para tentar descobrir se algotinha acontecido durante a saída que ela dera com Amy, porquetambém tive que me apressar para me arrumar, mas, além disso,não queria ficar tomando conta de sua vida com
Foi uma estupidez tentar esconder o óbvio, mas jurei queRichard não veria a marca que Kenneth causara, ao menos duranteo evento. Quando chegássemos em casa, nós conversaríamos. Eulhe contaria sobre a forma como fui abordada e também sobre oresultado positivo do exame de gravidez.Encerraria todas as nossas pendências e esperaria pelomelhor.Voltamos para casa, com uns dois carros atrás de nós alémdo que fazia nossa segurança, e todos entraram. Eu queria fugirdaquelas pessoas, mesmo que Deanna e Clarisse tivessem sido tãogentis comigo.Mas é claro que Richard não iria permitir.— Você, garota, não vai a lugar algum. — Eu estava decostas, já caminhando em direção às escadas, esperando sair pelatangente, mas a voz grossa e muito profunda de Richard me fezparar. — A gente tem muito o que falar.— Eu só vou trocar de roupa — era mentira, mas achei queconseguiria escapar com aquela desculpa.— Não há nada de errado com essa. Podemos conversarassim mesmo.Ele estava puto. Irrita
ISABELLE WAVERLY-WALKERFoi no meio da madrugada que eu acordei com o estômagorevirando. Não era a primeira vez, provavelmente nem seria aúltima. Era o meu bebê.Ainda era estranho pensar nisso, porque não havia nenhumsinal dele. Nem um resquício de barriga, nenhum chute, nada alémdaqueles enjoos e as vertigens. Eu sentia também um pouco maisde sono, mas não tanto ao ponto de culpar os hormônios.Eu não tinha sequer um exame de sangue para comprovar.Só aquele bastãozinho que ainda estava guardado dentro da minhabolsa, em um saquinho de plástico.Depois da noite que eu e Richard passamos, eu comecei anutrir esperanças diferentes a respeito de como poderia ser a nossarelação. Ele dissera que queria fazer sexo com raiva, mas em todo omomento foi cuidadoso comigo, apesar de intenso, e eu sabia queainda havia sentimento.Foi pensando nisso que me levantei, agarrando o robe deseda de Richard, que estava pendurado em um cabideiro demadeira, no meio do caminho. A noite estava fri
RICHARD WALKEREram quase seis da manhã quando me peguei saindo de ummercado vinte e quatro horas, usando um boné e óculos escuros eme dirigindo ao estacionamento. Era a minha segunda ida à loja, eeu já tinha bebido quatro garrafas de cerveja, além de algumasdoses de uísque sozinho. Sem comer há um tempo, com umpéssimo humor? Eu já me sentia bêbado. Cambaleante.Saí de casa direto para lá, ficando no estacionamentomesmo, bebendo dentro do carro. Era uma merda ter um rostoconhecido da mídia e não poder fazer como qualquer ser humanonormal e simplesmente me enfiar em um bar, pedindo rodadas erodadas de variados drinques, caindo de cara em um balcão esendo expulso quando o dono já não aguentava mais.Nunca pude fazer isso. Antes de ser o Senador Walker,candidato à presidência, eu era filho de Thomas Walker. Meu rostosempre estampou jornais e nunca me permitiu ficar incógnito.Sempre jurei que não me incomodava, mas naquele momento eramentira.Enquanto caminhava de maneira in
A repercussão da notícia do rompante de Richard foi tãogrande quanto esperávamos. Nós dois, na segunda-feira pelamanhã, começamos a acompanhar tudo o que saía, e as opiniõesestavam divididas.Muitos pintavam a história como sendo a de um homemapaixonado, disposto a tudo para proteger sua esposa. Outros, quejá estavam mais dispostos a se opor a ele politicamente,comentavam sobre ser um ato de violência que evidenciava apersonalidade perigosa de Richard.Combinamos de participar de uma entrevista coletiva naquelatarde, para explicarmos tudo, mas, para ser sincera, minhaansiedade estava completamente focada no fato de que estávamosvoltando do primeiro exame de ultrassom, que consegui marcarmesmo em cima da hora. Não foi necessário muito esforço para queme dessem preferência, embora eu nem tivesse pedido. A médicairia abrir um horário extra, depois de seu expediente normal,encaixando-me antes do almoço.Eram as facilidades de ser uma Walker.Uma investigação tinha se iniciad
Caminhando pelo corredor rumo ao auditório do meugabinete, conversando com meus assessores, relembrandoalgumas coisas que eu fui instruído a dizer, de acordo com possíveisperguntas que seriam feitas.Fui me acomodando no meu lugar, onde a placa com o meunome estava posicionada, estranhando que Isabella ainda nãotivesse chegado. Ela normalmente era um pouco paranoica demaiscom horário, chegando sempre adiantada em todos oscompromissos, o que me deixou preocupado de que estivesse tudobem.Os jornalistas já se encontravam presentes no auditório,aguardando o início da entrevista coletiva. Enquanto eu mepreparava para enfrentar as perguntas, um dos meus assessores seaproximou do púlpito e anunciou:— Boa tarde, senhoras e senhores, a Sra. Walker está acaminho. Deve chegar a qualquer momento — ele falou para opúblico, e alguns dos jornalistas assentiram.Preocupado, me inclinei na direção dele:— Ela avisou alguma coisa? — indaguei, ansioso por saber.— Não. Mas ela é sempre tã
A inquietação fervia dentro de mim enquanto eu andava deum lado para o outro naquela sala privada do clube de Dominic –um local um pouco sombrio, um antro de perversão, comocostumavam chamar, onde casais se uniam para realizar fetiches,principalmente relacionados a BDSM.Era um local conhecido em meio à alta classe de Nova Iorquee de outros estados também. Era bastante exclusivo e você sópodia entrar com um convite. Nunca imaginei que apareceria ali,mas eu sabia que era o ambiente mais discreto e privado quepoderíamos conseguir para conversar sem a sombra de Kenneth.Eu me sentia tão angustiado, que era como se as sombrasdançassem pelas paredes, refletindo minha agonia. Estava há horassem notícias de Isabelle, e por mais que eu ligasse, tanto para ocelular dela quanto para o de Kenneth, nenhum dos dois eraatendido.Minha mente estava repleta de imagens de Isabelle, de suavoz, de seu sorriso, e agora, ela estava nas mãos de um homemperigoso. Sentia-me impotente, como se e