Caminhando pelo corredor rumo ao auditório do meugabinete, conversando com meus assessores, relembrandoalgumas coisas que eu fui instruído a dizer, de acordo com possíveisperguntas que seriam feitas.Fui me acomodando no meu lugar, onde a placa com o meunome estava posicionada, estranhando que Isabella ainda nãotivesse chegado. Ela normalmente era um pouco paranoica demaiscom horário, chegando sempre adiantada em todos oscompromissos, o que me deixou preocupado de que estivesse tudobem.Os jornalistas já se encontravam presentes no auditório,aguardando o início da entrevista coletiva. Enquanto eu mepreparava para enfrentar as perguntas, um dos meus assessores seaproximou do púlpito e anunciou:— Boa tarde, senhoras e senhores, a Sra. Walker está acaminho. Deve chegar a qualquer momento — ele falou para opúblico, e alguns dos jornalistas assentiram.Preocupado, me inclinei na direção dele:— Ela avisou alguma coisa? — indaguei, ansioso por saber.— Não. Mas ela é sempre tã
A inquietação fervia dentro de mim enquanto eu andava deum lado para o outro naquela sala privada do clube de Dominic –um local um pouco sombrio, um antro de perversão, comocostumavam chamar, onde casais se uniam para realizar fetiches,principalmente relacionados a BDSM.Era um local conhecido em meio à alta classe de Nova Iorquee de outros estados também. Era bastante exclusivo e você sópodia entrar com um convite. Nunca imaginei que apareceria ali,mas eu sabia que era o ambiente mais discreto e privado quepoderíamos conseguir para conversar sem a sombra de Kenneth.Eu me sentia tão angustiado, que era como se as sombrasdançassem pelas paredes, refletindo minha agonia. Estava há horassem notícias de Isabelle, e por mais que eu ligasse, tanto para ocelular dela quanto para o de Kenneth, nenhum dos dois eraatendido.Minha mente estava repleta de imagens de Isabelle, de suavoz, de seu sorriso, e agora, ela estava nas mãos de um homemperigoso. Sentia-me impotente, como se e
Demorei algum tempo para acordar, mas quando o fiz,percebi que estava deitada, dentro de um quarto desconhecido.Tentei me mover, mas senti um leve desconforto na nuca. Quandoabri os olhos, a fraca e difusa luz no local agravou minha dor decabeça. Minha visão estava turva por um momento, mas conseguifocar no ambiente ao meu redor.Não havia quase nada com exceção da cama de solteiro nocentro do quarto, com lençóis desgastados e uma manta xadrez.Um armário antigo encostado contra a parede parecia gasto eempoeirado, deixando claro não era usado há um bom tempo.As paredes de madeira áspera exalavam o aromacaracterístico do interior de uma cabana, uma mistura de madeiraenvelhecida e terra úmida. Uma única janela pequena permitia quea fraca luz do dia penetrasse no cômodo, lançando sombrasinquietantes pelos cantos. Havia grades nelas, e estas contrastavamcom todo o resto, porque pareciam novas, chegando a brilhar. Ocadeado que as fechava também.Apesar do pouco espaço, eu con
Após o rápido e brutal encerramento do interrogatório,Dominic nos deu um sinal e silenciosamente indicou que era hora deavançar. Movemo-nos com cuidado e precisão, nos aproximandodos capangas restantes e da porra da cabana sinistra.A chuva continuava a cair, mascarando nossos passos eproporcionando uma cobertura adicional à nossa operação deresgate. Eu seguia logo atrás de Dominic, com Zander ao meu lado,meu coração acelerando com cada passo.Nós nos dividimos, com instruções em gestos, então Zanderficou encarregado de cuidar do capanga na porta da frente,enquanto Dominic e eu nos aproximamos silenciosamente doscapangas na parte de trás da cabana. A tensão no ar era palpável,mas estávamos determinados a recuperar Isabelle, não importandoo que encontrássemos pela frente.Dominic fez um sinal discreto, indicando que estava prontopara avançar. Com movimentos coordenados, nos lançamos sobreos capangas, neutralizando-os antes que pudessem oferecerqualquer resistência signifi
DOMINIC:Com um pouco de incentivo esse filho da puta vai falando.Quer vir? Quer que eu continue? O que faremos?Eu queria ir. Aquele homem tinha feito muito mal a mim e a Isabelle. Eu queria ver de perto seu sofrimento.O que isso dizia sobre mim?Liguei para Amy, pedindo que fosse ficar com Isabelle, e só saí quando ela chegou, com o bebê a tiracolo, sabendo que as duas ficariam seguras.Peguei meu carro, sem seguranças, sem motorista, partindo para o endereço que Dominic me passou.Tudo o que eu queria era justiça. Mas o quanto isso era diferente de vingança?***ISABELLE WAVERLY-WALKEREstava tudo bem com o meu bebê, e isso sem dúvidas era mais do que eu poderia desejar, mas comigo as coisas eram um pouco diferentes.Não se saía de uma situação de sequestro, com ameaças como as que eu recebi, sem sentir a cabeça um pouco zoada. Sem ter a certeza de que iria se afundar em um mar de depressão e medo.Eu sabia que Kenneth estava morto. Richard não precisava me dizer isso para que eu
RICHARD WALKERMeses depoisCom um sorriso no rosto, eu e minha família posamos para fotos. Eram muitos jornalistas querendo imagens de nós quatro – de mim, Isabelle, Aurora e do nosso filhinho de dois meses, Lyon. Meu pai também estava do nosso lado, dando ainda mais poder à cena.Muitas coisas tinham acontecido naquele meio tempo, e algumas delas foram direto para as notícias. Obviamente eu ter desistido da candidatura à presidência fora uma delas. As especulações foram muitas, até mesmo depois da coletiva que me fez explicar os motivos e anunciar a gravidez de Isabelle, além da adoção de Aurora – o que, é claro, se tornou notícia também.Ainda assim, segui firme com a minha decisão. Não era definitiva. Em algum momento eu iria chegar à Casa Branca, mas estando mais preparado e sem sentir que estaria abandonando ou negligenciando a minha família.Meu pai apoiou a minha decisão, embora tivesse ficado um pouco decepcionado. Mas a chegada do neto e o encanto que ele sentiu por Aurora p
A cena seguinte acontece algum tempo depois do livro de Richard e Isabelle, e faz parte do livro II***OWEN PARKEREu conhecia Willow há algum tempo. Nós nos tornamos amigos, depois amantes, depois estranhos um para o outro. Nesta ordem.Ela despertou o melhor em mim. Eu era o homem que me tornei, porque aquela garota entrou na minha vida, quando tinha apenas dezoito anos – uma menina ainda –, o que me fez relutar muito nos meus sentimentos.Nós fomos separados, e na época acreditei que pudesse ser um sinal do destino. Uma prova de que não daria certo, porque tínhamos idades muito diferentes.Além disso, eu era um vagabundo. Um zé ninguém. Um pobretão que queria ser grande, que só tivera oportunidades pelos esforços da minha mãe. Willow merecia mais.Só que mesmo assim, eu não conseguia deixar de cuidar dela. Nem mesmo depois que apareceu como parte de uma família.Casada. Grávida.Isso foi há quatro anos, mas eu ainda cuidava dela.Sabia que tinha algo de errado com seu casamento de
A porta do elevador parou e eu sabia que alguém tinha entrado, mas não ergui os olhos, presos ao celular nas minhas mãos.Eram oito horas de um sábado, e eu definitivamente não deveria estar respondendo mensagens de trabalho, muito menos enquanto seguia para a cobertura de um prédio extremamente luxuoso em Manhattan.Eu trabalhava como assessor de um Deputado Federal e levava meu trabalho muito a sério. Não importava a hora, mas quando algo importante aparecia, não era uma festa de aniversário, que eu nem estava interessado em ir, que iria me impedir.Nem mesmo se a festa de aniversário fosse da filha do meu patrão.A proposta de lei para educaçãoantirracista tinha sido apresentada aoComitê de Educação há um mês e foraencaminhada ao senado. Era ideia minha;um esboço que fora feito há muitos anos, emcompanhia do meu pai, que sempre foi umidealista.Nunca pensamos que sequer conseguiríamos colocá-la em prática, até que conhecemos Reginald Welsh o homem para quem eu trabalhava.Est