ISABELLE WAVERLY-WALKERFoi no meio da madrugada que eu acordei com o estômagorevirando. Não era a primeira vez, provavelmente nem seria aúltima. Era o meu bebê.Ainda era estranho pensar nisso, porque não havia nenhumsinal dele. Nem um resquício de barriga, nenhum chute, nada alémdaqueles enjoos e as vertigens. Eu sentia também um pouco maisde sono, mas não tanto ao ponto de culpar os hormônios.Eu não tinha sequer um exame de sangue para comprovar.Só aquele bastãozinho que ainda estava guardado dentro da minhabolsa, em um saquinho de plástico.Depois da noite que eu e Richard passamos, eu comecei anutrir esperanças diferentes a respeito de como poderia ser a nossarelação. Ele dissera que queria fazer sexo com raiva, mas em todo omomento foi cuidadoso comigo, apesar de intenso, e eu sabia queainda havia sentimento.Foi pensando nisso que me levantei, agarrando o robe deseda de Richard, que estava pendurado em um cabideiro demadeira, no meio do caminho. A noite estava fri
RICHARD WALKEREram quase seis da manhã quando me peguei saindo de ummercado vinte e quatro horas, usando um boné e óculos escuros eme dirigindo ao estacionamento. Era a minha segunda ida à loja, eeu já tinha bebido quatro garrafas de cerveja, além de algumasdoses de uísque sozinho. Sem comer há um tempo, com umpéssimo humor? Eu já me sentia bêbado. Cambaleante.Saí de casa direto para lá, ficando no estacionamentomesmo, bebendo dentro do carro. Era uma merda ter um rostoconhecido da mídia e não poder fazer como qualquer ser humanonormal e simplesmente me enfiar em um bar, pedindo rodadas erodadas de variados drinques, caindo de cara em um balcão esendo expulso quando o dono já não aguentava mais.Nunca pude fazer isso. Antes de ser o Senador Walker,candidato à presidência, eu era filho de Thomas Walker. Meu rostosempre estampou jornais e nunca me permitiu ficar incógnito.Sempre jurei que não me incomodava, mas naquele momento eramentira.Enquanto caminhava de maneira in
A repercussão da notícia do rompante de Richard foi tãogrande quanto esperávamos. Nós dois, na segunda-feira pelamanhã, começamos a acompanhar tudo o que saía, e as opiniõesestavam divididas.Muitos pintavam a história como sendo a de um homemapaixonado, disposto a tudo para proteger sua esposa. Outros, quejá estavam mais dispostos a se opor a ele politicamente,comentavam sobre ser um ato de violência que evidenciava apersonalidade perigosa de Richard.Combinamos de participar de uma entrevista coletiva naquelatarde, para explicarmos tudo, mas, para ser sincera, minhaansiedade estava completamente focada no fato de que estávamosvoltando do primeiro exame de ultrassom, que consegui marcarmesmo em cima da hora. Não foi necessário muito esforço para queme dessem preferência, embora eu nem tivesse pedido. A médicairia abrir um horário extra, depois de seu expediente normal,encaixando-me antes do almoço.Eram as facilidades de ser uma Walker.Uma investigação tinha se iniciad
Caminhando pelo corredor rumo ao auditório do meugabinete, conversando com meus assessores, relembrandoalgumas coisas que eu fui instruído a dizer, de acordo com possíveisperguntas que seriam feitas.Fui me acomodando no meu lugar, onde a placa com o meunome estava posicionada, estranhando que Isabella ainda nãotivesse chegado. Ela normalmente era um pouco paranoica demaiscom horário, chegando sempre adiantada em todos oscompromissos, o que me deixou preocupado de que estivesse tudobem.Os jornalistas já se encontravam presentes no auditório,aguardando o início da entrevista coletiva. Enquanto eu mepreparava para enfrentar as perguntas, um dos meus assessores seaproximou do púlpito e anunciou:— Boa tarde, senhoras e senhores, a Sra. Walker está acaminho. Deve chegar a qualquer momento — ele falou para opúblico, e alguns dos jornalistas assentiram.Preocupado, me inclinei na direção dele:— Ela avisou alguma coisa? — indaguei, ansioso por saber.— Não. Mas ela é sempre tã
A inquietação fervia dentro de mim enquanto eu andava deum lado para o outro naquela sala privada do clube de Dominic –um local um pouco sombrio, um antro de perversão, comocostumavam chamar, onde casais se uniam para realizar fetiches,principalmente relacionados a BDSM.Era um local conhecido em meio à alta classe de Nova Iorquee de outros estados também. Era bastante exclusivo e você sópodia entrar com um convite. Nunca imaginei que apareceria ali,mas eu sabia que era o ambiente mais discreto e privado quepoderíamos conseguir para conversar sem a sombra de Kenneth.Eu me sentia tão angustiado, que era como se as sombrasdançassem pelas paredes, refletindo minha agonia. Estava há horassem notícias de Isabelle, e por mais que eu ligasse, tanto para ocelular dela quanto para o de Kenneth, nenhum dos dois eraatendido.Minha mente estava repleta de imagens de Isabelle, de suavoz, de seu sorriso, e agora, ela estava nas mãos de um homemperigoso. Sentia-me impotente, como se e
Demorei algum tempo para acordar, mas quando o fiz,percebi que estava deitada, dentro de um quarto desconhecido.Tentei me mover, mas senti um leve desconforto na nuca. Quandoabri os olhos, a fraca e difusa luz no local agravou minha dor decabeça. Minha visão estava turva por um momento, mas conseguifocar no ambiente ao meu redor.Não havia quase nada com exceção da cama de solteiro nocentro do quarto, com lençóis desgastados e uma manta xadrez.Um armário antigo encostado contra a parede parecia gasto eempoeirado, deixando claro não era usado há um bom tempo.As paredes de madeira áspera exalavam o aromacaracterístico do interior de uma cabana, uma mistura de madeiraenvelhecida e terra úmida. Uma única janela pequena permitia quea fraca luz do dia penetrasse no cômodo, lançando sombrasinquietantes pelos cantos. Havia grades nelas, e estas contrastavamcom todo o resto, porque pareciam novas, chegando a brilhar. Ocadeado que as fechava também.Apesar do pouco espaço, eu con
Após o rápido e brutal encerramento do interrogatório,Dominic nos deu um sinal e silenciosamente indicou que era hora deavançar. Movemo-nos com cuidado e precisão, nos aproximandodos capangas restantes e da porra da cabana sinistra.A chuva continuava a cair, mascarando nossos passos eproporcionando uma cobertura adicional à nossa operação deresgate. Eu seguia logo atrás de Dominic, com Zander ao meu lado,meu coração acelerando com cada passo.Nós nos dividimos, com instruções em gestos, então Zanderficou encarregado de cuidar do capanga na porta da frente,enquanto Dominic e eu nos aproximamos silenciosamente doscapangas na parte de trás da cabana. A tensão no ar era palpável,mas estávamos determinados a recuperar Isabelle, não importandoo que encontrássemos pela frente.Dominic fez um sinal discreto, indicando que estava prontopara avançar. Com movimentos coordenados, nos lançamos sobreos capangas, neutralizando-os antes que pudessem oferecerqualquer resistência signifi
DOMINIC:Com um pouco de incentivo esse filho da puta vai falando.Quer vir? Quer que eu continue? O que faremos?Eu queria ir. Aquele homem tinha feito muito mal a mim e a Isabelle. Eu queria ver de perto seu sofrimento.O que isso dizia sobre mim?Liguei para Amy, pedindo que fosse ficar com Isabelle, e só saí quando ela chegou, com o bebê a tiracolo, sabendo que as duas ficariam seguras.Peguei meu carro, sem seguranças, sem motorista, partindo para o endereço que Dominic me passou.Tudo o que eu queria era justiça. Mas o quanto isso era diferente de vingança?***ISABELLE WAVERLY-WALKEREstava tudo bem com o meu bebê, e isso sem dúvidas era mais do que eu poderia desejar, mas comigo as coisas eram um pouco diferentes.Não se saía de uma situação de sequestro, com ameaças como as que eu recebi, sem sentir a cabeça um pouco zoada. Sem ter a certeza de que iria se afundar em um mar de depressão e medo.Eu sabia que Kenneth estava morto. Richard não precisava me dizer isso para que eu