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Capítulo 7 - Família imaginária

“Valorize os momentos com as pessoas que se ama. Eles nunca voltam e são únicos. Sendo bons ou ruins nos trazem experiências maravilhosas.”

Sara Aster.

Alguns dias depois...

Apesar de ter que lutar contra os pensamentos e as coisas que sentia por Daniel, tudo estava indo bem. Já tinha me acostumado com minha nova casa e meu celular novo fazia com que as coisas ficassem mais fáceis de se superar. Meu contato com Ana havia diminuído, toda vez que conversávamos ela perguntava sobre Daniel de um jeito mais interessado que o normal. Aquilo me fazia queimar de ciúmes por dentro, o que me deixava com uma sensação de culpa maior que qualquer coisa, principalmente porque Ana não sabia de nada.

Marisa era a mais nova agregada da casa e, por incrível que pareça, conforme fui conseguindo abaixar as barreiras, ela foi se tornando mais próxima, mais... amiga. Ela era incrível! Conseguia me animar nos meu dias mais depressivos. Conversávamos, víamos filmes, jogávamos Twister, uno, Nintendo Wii, cozinhávamos pratos exóticos que só nós éramos capazes de comer. Quer dizer, eu cozinhava, porque ela era um desastre! Definitivamente Marisa era um anjo em minha vida, aquela garota tinha me ajudado a ser uma pessoa mais normal.

Mamãe e Tom estavam se dando muito bem. Cada vez mais tinha certeza de que ele era a pessoa certa pra ela. Todos os dias acordava feliz, estava trabalhando melhor e, principalmente, estávamos nos dando bem, ou qualquer coisa parecida com isso. Ah, como eu era fã do Tom... fora que ele ainda era o pai que eu nunca tive. Adorava conversar com ele, tinha uma mente muito aberta e era muito inteligente.

Daniel estava estudando mais, às vezes era como se me evitasse, mas mesmo assim ainda tínhamos nossos momentos juntos. Ele sempre tinha tempo pra mim. E era tão bom estar ao lado dele. Na maioria das vezes Marisa nos fazia companhia, mas também ficávamos sozinhos; era nessas horas que meu coração batia mais forte.

Naquele dia mamãe e meu irmão iriam ao campus onde Daniel estudava para me matricularem na unidade para ensino médio. Queria ir junto, não aguentava mais ficar naquela casa, mas eles não deixaram que eu os acompanhasse. Morri de raiva, no entanto acabei me conformando e decidi que chamaria Marisa para passar o dia comigo. Peguei o celular e disquei o número da sua casa.

– Residência dos Miler. Bom dia. – disse o mordomo.

– Bom dia. Gostaria de falar com a Marisa, ela se encontra?

– Sim. Quem deseja?

– Sua amiga, Elisa.

– Um momento, por favor.

Esperei alguns segundos e então pude ouvir a voz dela.

– Oi, amiga, e aí? O que conta de novo?

– Quer vir hoje pra cá? Mamãe e Daniel me deixaram moscando nessa casa. Tô sem fazer nada, salve-me dessa solidão!

– Claro que eu salvo, mas só depois do almoço. Tenho que arrumar meu quarto. Tudo bem pra você?

– Claro. – falei meio desanimada. – Vou te esperar.

– Mil beijos. – e então desliguei.

O que eu faria nesse meio tempo em que teria que esperar Marisa? Decidi que era hora de fazer um tour pela casa. Os dias se passavam e eu ainda estava perdida ali dentro!

Fui à cozinha, peguei um pacote de biscoito e comecei a desbravar cada canto da casa. Em menos de um hora eu já sabia onde era cada fresta naquele lugar. Até que não era tão grande quanto eu pensei que fosse. Mas não deixava de ser enorme.

Decidi que tomaria um banho pra refrescar as ideias e ajudar a passar o tempo. Quando Daniel não estava, alguma coisa tirava meu controle e eu começava a imaginar todas as garotas que estariam dando em cima dele. Sentia um ódio enorme e era consumida de dentro para fora aos poucos. E tudo piorava quando aquela vozinha marota chamada consciência me dizia que eu não deveria estar sentindo aquelas coisas pelo meu irmão.

Terminei meu banho e fui almoçar. Mercedes havia feito carne assada, um dos pratos que eu mais gostava. Após terminar o almoço escovei os dentes e fiquei ajudando Mercedes com os afazeres da casa. E então Marisa chegou.

– Amiga, cheguei! – disse abraçando-me.

– Graças a Deus! Já estava ficando maluca!

– Imagino...E aí? O que você quer fazer?

– Que tal treinarmos esgrima? – Marisa e eu praticávamos escondido de Daniel para que um dia eu pudesse desafiá-lo e ganhar.

– Você quem sabe. Dessa vez não vou pegar leve. – dizia ela enquanto me puxava pela mão em direção ao salão de esportes.

– Sério? Porque podia jurar que das outras vezes você penou antes de ganhar. – ri.

– Isso não vem ao caso.

Passamos horas treinando, a cada dia eu estava melhor.

– Tempo, tô morrendo. – dizia Marisa ofegando ao se jogar no chão.

– Só você? –me joguei ao seu lado.

– Cara, acho que perdi no mínimo uns dois quilos. Meu corpo só pede cama.

– O meu nem na cama consegue chegar. – brinquei – Bom, tudo que é bom dura pouco. Preciso tomar um banho. Tô toda suada, mamãe me mata se me vir assim quando chegar. – disse me levantando. Cada parte do meu corpo doía. Parecia ter levado uma surra.

– Eu também quero tomar banho. - disse fazendo biquinho.

– Sinta-se à vontade. A casa também é sua. Vai tomando banho que eu te empresto uma roupa.

– Não é necessário. – disse sorrindo. – Eu vim precavida. – então começou a rir.

Tomamos banho, cada uma em sua suíte. Marisa ficou no quarto de hóspedes que praticamente era seu. Depois que estávamos prontas, fomos para a sala e começamos a assistir A Noiva de Chucky, mas apenas começamos, porque acabamos pegando no sono. Só acordamos ao ouvir a porta bater, indicando que alguém havia chegado.

Nós duas estávamos completamente descabeladas. Começamos a rir uma da cara da outra. E então mamãe e Daniel apareceram na porta da sala.

– Marisa? O que faz aqui? – perguntava Daniel surpreso.

– Vim fazer companhia a sua irmã. Coisa que você devia fazer. – disse se levantando.

– Elisa não é criança, tenho certeza de que consegue se virar por um dia.

– Helen! – Marisa ignorou-o.

– Olá, querida. Como vai? Se divertiram? Quando iremos ao shopping?

– Desculpe por tê-la feito ficar sozinha e entediada o dia todo, Elisa. Mas foi por um bom motivo. – falou ao se aproximar. Seu sorriso era tão encantador que meus olhos brilhavam.

– Desta vez está perdoado. Mas não pense que será sempre assim. – disse cutucando-o com o dedo. Era impressionante o que a presença de Daniel fazia comigo. Bastava vê-lo, nem que fosse a um quilômetro de distância, e meu dia se tornava mais feliz. Fora que o frio na barriga nunca me abandonava. Toda vez que ele chegava perto e me tocava, eu ficava arrepiada e sentia o bendito frio.

– Venha. Quero te mostrar uma coisa. – dizia enquanto me puxava pela mão. Daniel me levou até a cozinha e pôs uma caixa de presente de tamanho médio em cima da bancada.

– O que é?

- Bom, o único motivo por eu ter acompanhado a mamãe naquela visão do inferno que foi a fila pra matricular você e ter ido ao shopping com ela, foi por causa disso.

Ele tirou a tampa da caixa de presente e de dentro dela uma bolinha de pelo apareceu, apoiando as patinhas na borda da caixa. Era tão linda, tão perfeita, tão fofa aquela coisa na minha frente. Foi amor à primeira vista.

– Daniel... é lindo! – estava sem fala. Pulei em seu pescoço e o abracei. Ele retribuiu o abraço envolvendo as mãos em minha cintura. – Obrigada. – disse em seu ouvido.

– Já estava pensando há um tempo em lhe fazer essa surpresa. Você andava tão tristonha, e de vez em quando ainda fica, que pensei que você precisava de alguém que pudesse te animar em tempo integral. – ouvia enquanto pegava o cachorrinho no colo. – Então, aproveitei a ocasião e fui com a mamãe até o shopping pra comprar um filhotinho pra você.

– Ele é lindo! – dizia enquanto o acariciava. – Agora, o que achou da experiência de ir ao shopping com a mamãe? – perguntei em meio aos risos.

– Prefiro não comentar. Fazer compras de qualquer gênero com ela é o tipo de coisa que é pra ser feita uma vez na vida. Era para estarmos em casa desde uma hora da tarde. Isso se ela não tivesse insistido em dar uma olhada nas lojas. Cara, juro, acho que paguei todos os pecados que cometi até hoje e os que eu ainda vou cometer. – riu.

– Bom, agora precisamos dar um nome a ele. – disse.

–Na verdade é ela. – sorriu sem graça.

– Certo, papai. Qual nome o senhor sugere? – brinquei.

– P- p - p- papai? – ri com a sua reação.

– Exatamente, papai. Ou você acha que vou criá-la sozinha? – disse sorrindo. – Seremos os pais dessa coisinha perfeita.

– Por que eu? – perguntou.

– Por que você comprou, ué! Mas agora chega de discussões sobre a paternidade de nossa filha. – eu estava adorando aquela brincadeira. – Qual nome você sugere?

– Você é a mãe, você que escolhe. – pelo visto Daniel havia entrado no clima.

– Certo. Deixe-me ver...hum...seu nome será... Tiffany! – disse por fim.

– Tiffany? – perguntou Daniel incrédulo.

– Isso mesmo, Tiffany. – falei firmemente.

– De onde você tirou esse nome? – perguntou.

– Do filme. – comecei a rir.

– Que filme, Elisa?

- A Noiva do Chucky.

- Quer dizer que a cachorra é uma boneca assassina?

- Não. Ela é uma cachorra, não uma boneca. Assassina duvido muito. – tentei conter o riso. - Mas Tiffany me lembra nome de cachorrinho de paty. Tecnicamente eu não sou paty. Mas isso não quer dizer que nossa filha não será mimada! – pisquei pra ele.

– Duvido que você não a torne mimada. Duvido muito. – começou a rir.

– Verdade. – concordei. Tiffany começou a latir.

Mamãe e Marisa foram para a cozinha averiguar os latidos. Ao ver meu bebê em meus braços Marisa ficou que nem uma retardada. Tirou a Tiffany de meus braços e pegou-a no colo.

– Qual é o nome dessa coisinha fofa? – perguntou.

– Tiffany. – Daniel falou. – Gostou da nossa filha?

– Como assim? – Marisa estava confusa.

– Eu e Daniel somos os pais. – expliquei.

– Então Helen é a avó. – deduziu.

– Eu não. Sou jovem demais pra ser avó. – disse saindo da cozinha. – Vou me retirar. Preciso do meu sono de beleza. Querida, suas aulas começam daqui a dois dias. E aqui está seu uniforme. – avisou- me jogando uma sacola em cima da bancada. Após isso foi para o quarto.

– Posso ser a madrinha? – perguntava Marisa.

– O que acha, Daniel?

– Contanto que ela não desvirtue nossa filha, por mim tudo bem.

– Certo. Parabéns, Marisa! A partir de agora você é a madrinha do nosso bebê.

Ficamos conversando até altas horas da noite. Daniel cozinhou algo pra nós, e então fizemos um lanche. Marisa foi embora logo após terminarmos de comer. Daniel e eu ficamos mais um tempo na cozinha conversando. Sozinhos. Estávamos cansados, então subimos para nossos quartos. Nos cumprimentamos com tanta educação que cheguei a pensar que ele estava me evitando. Fui para meu quarto, ajeitei a caminha de Tiffany que Daniel havia comprado e fui dormir. Ou pelo menos tentei. Como sempre. Essa deveria ser algum tipo punição por aqueles sentimentos.

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