Início / Romántica / Laços Proibidos / Capítulo 8 - Palavras que não deveriam ser ditas
Capítulo 8 - Palavras que não deveriam ser ditas

 “Algumas coisas são verdadeiras. Acreditando nelas ou não.”

Cidade dos Anjos.

Tiffany me acordou antes mesmo do Sol aparecer. Estava morrendo de sono, e ela não parava de latir e andar por minha barriga. Tirei-a de cima de mim e coloquei-a ao meu lado. Olhei o visor do celular pra saber que horas eu havia sido despertada do meu sono sagrado.

– Seis da manhã? Não podia ser, sei lá... umas sete ou oito horas? Vou te colocar pra dormir com Daniel. – falei para Tiffany e ela simplesmente latiu.

Sabia que não conseguiria voltar a dormir, então decidi levantar e tomar um banho. Não estava afim de ficar me martirizando hoje.

Passei uns trinta minutos debaixo do chuveiro. Cantei várias músicas enquanto me ensaboava, fiz vários penteados com o cabelo cheio de xampu, dancei no meio do Box, enfim, voltei a ser criança. Após terminar o banho, coloquei uma calça jeans pra ficar à vontade já que o tempo estava fresco e uma bata com um decote não muito provocante de um tom rosa escuro. Coloquei a rasteirinha de sempre, penteei os cabelos e ajeitei os últimos detalhes. Após pronta fui arrumar minha bolinha.

Depois de tê-la deixado impecável, desci com ela no colo para a sala de jantar, estava morrendo de fome. Na metade do caminho, escutei mamãe conversar com Tom.

– Ah amor, vamos, vai ser legal! Nós precisamos passar mais tempo juntos e eu preciso fazer compras. – sei... compras.

– Meu amor, eu adoraria acompanhá-la. – principalmente pra controlar os gastos dela. – Mas infelizmente não posso. Hoje terei uma reunião importante, poderei fazer um grande negócio. – que pena. Só espero que ele não sugira o que eu estou pensando. – Mas por que você não chama seus filhos pra irem com você? – ah, ele não fez isso.

– Mas tenho certeza de que eles não iriam querer ir comigo! Ontem a cara do Daniel no shopping dava a intenção de que eu estava torturando-o. – dizia mamãe. Coitado do meu irmão. Ele não merecia isso.

– Deixe de bobeira, querida! Ele devia estar cansado. E agora Elisa irá junto também. Se eles estiverem desanimados um anima o outro. Fora que, até onde eu saiba, Elisa não saiu de casa ainda. Ela precisa conhecer a cidade – não me importo de ficar em casa. É melhor aqui do que lá com ela.

– Certo. Então vou terminar aqui e vou chamar Elisa. Daniel já deve descer então falo com ele logo. – disse Helen, disposta a sair conosco vivos ou mortos. Não me renderia sem lutar. Soltei Tiffany de meus braços, deixei-a no meio do corredor e saí correndo em direção ao segundo andar. Precisava tomar alguma atitude que a fizesse desistir de me levar.

Vocês podem não entender a situação, mas vou explicar pra vocês o motivo de tanto drama:

Minha mãe é estilista e tem sua própria grife. Devo admitir que suas roupas são ótimas, tanto em modelo como em qualidade. Ela é bem conhecida no país e muito respeitada no mundo da moda, pois apesar de suas crises, ela é boa no que faz e tem dom pra isso. Sendo assim, se vestir bem independente do lugar era lei.

Mas nem tudo são flores. E é aí que entra o shopping. Se ela fosse pra lá comprar roupas eu até entenderia. Mas ela vai para ficar vendo a qualidade e o modelo das peças encontradas em lojas de grife. É quando entra a infeliz aqui. Sou obrigada a ir junto e analisar as peças com ela. Passamos horas dentro das lojas. Às vezes Helen ainda consegue arranjar confusão com os vendedores e discute com os gerentes. Pra disfarçar, de vez em quando ela até compra alguma peça de roupa, mas isso não muda o fato de que ficar numa loja por várias horas só olhando é algo constrangedor. Se as pessoas já me achavam estranha normalmente, imagina fazendo esse tipo de coisa!

Normalmente em dias assim eu chego em casa acabada, destruída, destroçada e tudo o que envolva esses adjetivos. Meus pés ficam cheios de bolhas, chega um momento que eu não sinto mais as pernas, a maquiagem já deu tchau há muito tempo, a dor de cabeça aparece devido ao esforço para decifrar etiquetas e observar pequenos detalhes, os braços doem de ficar anotando e segurando papéis e por aí vai. E o melhor de tudo é que eu não posso chamar minha própria mãe de mãe! Para todos os efeitos somos irmãs.

Ao chegar no corredor onde se encontravam os quartos, vi Daniel na metade do caminho indo em direção ao primeiro andar. Não pensei duas vezes. Não podia deixar que ele fosse pego pela mamãe. Comecei a correr, novamente, em direção ao meu quarto. E ao passar por Daniel puxei-o pelo braço sem ao menos deixá-lo terminar de falar bom dia.

Abri a porta rapidamente e entrei trazendo-o comigo. Tranquei-a e relaxei em seu peito. Ele estava de frente pra mim. Tenho certeza que se não estivesse ali eu teria caído no chão de tão exausta que eu fiquei.

– Elisa, o que houve? – perguntou Daniel envolvendo-me em um abraço. Após me recuperar afastei- me dele e comecei a explicar o que estava acontecendo.

– Mamãe quer levar a gente no shopping. Eu não sei se você entende a seriedade do problema, mas tenha em mente que praticamente vamos virar fiscalizadores de lojas.

– Ta falando sério? Nossa, Elisa, nem sei como te agradecer por ter me detido. Sei bem como é. Estava indo de encontro ao meu inferno. Ontem foi horrível! Ela ainda me mandou fingir que éramos namorados!

– Eu ia dizer que ninguém supera o que eu já suportei, mas depois de saber que você teve que fingir ser o namorado dela, acho que o que eu passei não foi nada. – comecei a rir.

– O que vamos fazer? Logo logo Helen virá te acordar. – falou.

Comecei a andar de um lado para o outro. Precisava pensar, realmente ainda não sabia o que faria. Meu instinto foi correr para meu quarto, mas ela logo chegaria ali.

– Vamos fugir. – avisei-o. Foi a primeira coisa que veio na minha cabeça e não podíamos nos dar ao luxo de pensar com calma.

– Elisa, você costuma ter ideias horríveis como essa sempre ou isso é falta de experiência em fugas?

– Por acaso tem alguma ideia melhor? Isso não é comercial da Coca-cola não, meu bem. Você por acaso acha que vai aparecer um esquadrão aqui todo preparado e vai tirar a gente dessa? Milagres acontecem, mas isso é querer de mais, não acha?

– Não tenho ideia ainda, mas como você acha que nós vamos fugir? Não fiz curso de super-herói não, maninha.

– Faremos à moda antiga. Pega os lençóis. Vamos descer pela janela. – dizia começando a tirar o edredom da cama.

Quando terminamos de dar os nós, jogamos a corda janela a baixo e enquanto Daniel amarrava a ponta da corda na cama, ouvimos a voz da mamãe.

– Elisa. – Helen chamou, dando batidinhas na porta.

– Morreu! – em minha defesa, foi automático. Não iria falar isso, ia fingir que estava dormindo ou passando mal, mas a adrenalina foi mais rápida que meu pensamento.

– Ta maluca, garota? Não sou suas coleguinhas pra você falar assim comigo não, tá me ouvindo? – ela rodou a maçaneta e percebeu que a porta estava trancada. Daniel estava terminado de prender a corda.

– Vai, Elisa. – disse meu irmão.

– Daniel? – perguntou.

– Ocupado, tente mais tarde. – disse.

– Não tinha nada melhor pra falar não? – sussurrei.

– Fica quieta que você tá morta. Agora desce logo essa corda.

Quando comecei a me preparar pra descer, a porta se abriu. Como Helen tinha aberto aquela porta? Comecei a gritar e abracei Daniel. Ela foi até onde estávamos e nos puxou pela orelha.

– Ai ai ai ai. – reclamávamos.

– Nada de ai! Pensaram que iriam escapar? Só por causa disso agora vocês vão pro shopping comigo querendo ou não!

– Como se a gente tivesse tido escolha alguma vez. – Helen nunca aceitava “nãos” como respostas, principalmente de nós, seus filhos.

– Vocês não vão morrer por acompanharem a mãe de vocês em um passeio.

– Ainda não porque somos jovens, mas não duvido muito que eu vá parar na emergência qualquer hora dessas. – retruquei.

– Como você conseguiu abrir a porta? – perguntou Daniel que só resolveu dizer algo agora.

– Bom, eu sabia que vocês não viriam nunca por livre e espontânea vontade, então pedi a chave mestra ao Tom. – bom saber, providenciarei um trinco para a porta do meu quarto.

Mamãe nos levou até o carro dela. Nos jogou no banco de trás e foi para o do motorista. Enquanto dirigia eu e Daniel nos ajeitávamos, pois parecia que havíamos brigado feio um com o outro. Não sabia que um puxão de orelha era capaz de fazer isso. Nos arrumamos e ficamos de cara emburrada a viagem toda. Os dois olhando a paisagem através da janela, esperando pelo que aconteceria nas próximas horas.

Chegamos no shopping e mamãe teve que puxar a gente pra fora do carro. Ah tá, que eu ia sair de lá por pura e espontânea vontade. Ao entrarmos, Helen parecia uma barata tonta. Não sabia em qual loja ir primeiro. Passamos uma hora e meia na primeira loja, três horas na segunda, duas horas na terceira e duas e meia na quarta. E isso por que éramos três e as lojas eram menores que o normal. Na quarta loja, eu e Daniel estávamos quase ficando malucos. Parecíamos dois drogados com efeito depressor. Eu já não raciocinava mais, se alguém me dissesse que dois mais dois é igual a cinco eu acreditava. Eu topava qualquer coisa por uma cadeira. Nem a presença de Daniel e nossas conversas me faziam esquecer a dor que eu sentia. E não podia parar de conferir, se Helen visse a gente parado lançava um olhar “Para que eu te mato”. Nunca pensei que ir ao shopping fosse algo tão torturante.

– Já podemos participar de provas de resistência. Se a gente perder... ou melhor, não tem como a gente perder. Depois dessa nunca mais venho em shoppings. – Daniel falava já com cara de tédio ao extremo.

– E isso porque ainda são cinco da tarde! Relaxa que depois piora. Ainda preciso comprar meu material escolar. – suspirei.

– Por que você não disse isso antes? Você sabe que poderíamos estar livres dessa prisão? – ele estava inconformado.

– Como assim?

– Observe. – ele me puxou pela mão e fomos em direção à mamãe. Daniel chamou-a. – Helen, não poderemos ficar com você. Elisa precisa comprar o material escolar e se você acompanhar a gente não vai poder fazer suas compras. Estamos indo para adiantar o seu lado. A gente se encontra daqui a quatro horas na porta do cinema. Tudo bem?

– Tudo, né? Não tenho escolha, preciso deixar vocês irem. Odeio fazer compras escolares e não abro mão das minhas lojas por nada. – dizia voltando-se para as roupas que analisava.

Saímos de dentro da loja o mais depressa possível. Assim que estávamos a uma distância segura da mamãe, começamos a andar mais devagar.

– Nem acredito que pela primeira vez na minha vida consegui escapar das compras com a Helen! – estava ofegante de tanto que havia corrido.

– Poderíamos ter nos livrado dela antes, mas você não disse nada sobre seu material. – Daniel estava calmo, sua postura e aparência estavam voltando ao normal. Um sorriso já começava a aparecer em seu rosto.

– Como sabia que ela liberaria a gente? – precisava saber o segredo, poderia me livrar das próximas intimações.

– Simples, ela odeia comprar material escolar. Ela mesmo disse, não prestou atenção? E também, você acha mesmo que ela iria trocar seu mundo de roupas por papal e caneta?

– Realmente. – concordei. – Ela não perderia seu tempo com coisas inúteis.

– Fico me perguntando como algo tão idiota como acompanhá-la no shopping pode ser tão estressante. Se contássemos a alguém, com certeza achariam que estamos exagerando, mas duvido que suportariam metade do tempo que passamos com ela. – era totalmente verdade o que Daniel dizia. Contando não tem nada de muito torturante, mas quando é você que está na situação, perdendo a oportunidade de fazer algo ou de estar com quem se quer, aquilo acabava se tornando algo torturante.

– Fora que qualquer coisa é mais divertida do que ter que esperá-la. E em pé ainda por cima. Meus pés já estão me matando. – reclamei. - Na pressa nem pude trocar a sandália.

– Se você quiser a gente para numa loja e compra algo mais confortável pra você calçar. – ele parou de andar e virou-se pra mim ao dizer. Pude perceber que ele estava muito preocupado.

– Não tem problema! Eu estou bem. É normal que nós mulheres fiquemos com os pés doendo. Já estou acostumada. – confortei-o. – Vamos logo comprar meu material. A hora passa rápido. Daqui a pouco já teremos que nos encontrar com Helen.

– E você acha mesmo que ela vai estar lá na hora marcada? Provavelmente ela já esqueceu que viemos com ela. – ele sorria enquanto falava. Era um sorriso maravilhoso. Fiquei que nem uma retardada olhando para Daniel. – Elisa, você está bem? – perguntou despertando-me de meu transe.

– Estou sim. – falei sacudindo a cabeça para voltar ao meu mundo. – Vamos?

– Mas é claro! – sorriu novamente.

Entramos em uma papelaria da vida e decidimos que compraríamos tudo ali mesmo. A loja era enorme, tinha dois andares. No primeiro andar ficavam os livros, folhas, lápis, canetas e etc. No segundo andar ficavam as mochilas, merendeiras e fichários.

Pegamos tanta coisa que nosso carrinho já não cabia nem mais um lápis. Metade do que estava ali era material de pintura, pegamos uns três blocos de folha pra fichário, um estojo enorme, que particularmente acho que não tinha necessidade. Peguei uma pasta de couro preta com alguns detalhes cinzas.

Após terminarmos de pegar tudo o que eu precisava, pagamos as coisas e resolvemos comer algo. Estávamos morrendo de fome. Devido a termos sido puxados pela orelha para o carro, não deu tempo de tomar café. Com as compras do material acabamos esquecendo, até que nossos estômagos começaram a roncar. Fomos para a praça de alimentação e decidimos comer no Spoleto.

Entramos no restaurante cheios de bolsas, foi até engraçado quando passamos pela porta. Por pouco não ficamos entalados por causa das sacolas. Sentamos na mesa mais afastada possível das outras pessoas, olhamos o cardápio e Daniel foi fazer o pedido. Eu escolhi um ravióli de queijo e presunto e Daniel um Capelletti de carne. Ficamos conversando enquanto esperávamos nosso prato chegar.

– Gostou das suas compras? – me encarou.

– Gostei, mas estou cansada demais pra parecer satisfeita. Falta muito pra nos encontrarmos com a mamãe? – perguntei.

– Já quer ir embora? Pensei que tivesse gostado do dia. Ainda falta duas horas e meia.

– Não, não é isso. – tentei me explicar.

– Então é o quê? Não gostou de ficar comigo? – senti que Daniel estava brincando. Acho que o que eu mais gostava nele é que estava sempre sorrindo, e para mim. Ficar a sós com ele me fazia imaginar coisas do tipo sermos um casal e estarmos num encontro. Uma parte minha ficava feliz enquanto a outra me corroía por dentro.

Fiquei olhando pra ele tentando pensar em algo para dizer, até que fui salva pelo aviso de que nossos pedidos estavam prontos. A comida estava com aparência, cheiro e gosto ótimos. Comemos em silêncio assistindo ao que se passava na TV, ou pelo menos fingindo.

Após terminarmos de comer ficamos conversando. Era tão bom estar com Daniel, mas ao mesmo tempo tão ruim. E isso tudo porque a cada dia aquele sentimento horrível parecia tomar um espaço maior dentro de mim. Sua companhia me fazia bem, sempre ficava mais feliz quando estava com ele.

– Seu ravióli estava bom? – Daniel tentou puxar assunto.

– Estava ótimo. – foi a única coisa que pude dizer.

Ficamos em silêncio. Acho que o meu constrangimento estava deixando-o constrangido.

– Por que parece que a maré nunca está ao nosso favor? – comecei a falar, eu precisava falar. Não importa se meu irmão entenderia ou não.

– Boa pergunta. Parece que o homem tem tendência a querer o que não pode ter. – deu um sorriso.

– Eu sei. Às vezes queremos fazer muitas coisas, mas não podemos. Algo sempre nos impede. Mas sabe, me pergunto por que temos desejo de fazer coisas que sabemos que são erradas. Isso seria a tentação? Querer mas não poder? – pensava alto.

– Acho que depende do tipo de tentação. Em relação a quê, por exemplo?

– No amor.

– Bom, em relação ao amor acho que nem tudo o que achamos proibido é. Pode ser errado, as pessoas podem achar errado, mas não sei se seria. Quem sou eu pra falar!

– Então você acha que trair, por exemplo, não é errado?

– Não disse isso. Digo em casos como por exemplo amar alguém que esteja namorando. Eu não diria que é errado você amar a pessoa.

– Mas e em casos que é errado você amar certa pessoa e acaba acontecendo justamente de você descobrir que a ama?

Ele ficou pensativo e então falou:

– Acho que depende. Muitas pessoas confundem amor com paixão. Amar é muito mais sério, muito mais intenso, mais verdadeiro. Paixão pode durar um dia, um mês ou um ano, mas é uma coisa passageira. Mas se o cidadão tiver certeza que é amor, não diria que é errado. O amor é algo puro, algo meio que predestinado. Eu creio na hipótese de pertencermos à pessoa amada desde que nascemos. Não importa o que aconteça. Creio que se fosse errado, se fosse pecado, o sentimento não surgiria. – ele olhava fixamente pra mim.

– Mas e nos casos em que o amor é possessivo demais. Que você não pode respirar sem que o companheiro permita?

– Elisa, isso não é amor, isso é doença. Digamos... carência em excesso. Amar é justamente querer a felicidade da pessoa amada, é estar feliz com cada conquista e chorar com cada perda. – De onde ele tirava tantas palavras lindas? Quase perguntei de qual livro ele decorava aquilo tudo, mas fiquei com medo de estragar um momento tão agradável.

– Por que o amor é tão complicado? – suspirei.

– Não há nada de complicado no amor, minha querida. – falou, colocando o dedo em meu queixo, levantando minha face que estava abaixada há poucos segundos. – Na verdade é mais simples do que imaginamos. Nós é que colocamos problema em tudo, e com isso acaba se tornando algo sofrido. – sorriu pra mim.

Sorri de volta. Segurei sua mão que estava em meu queixo e a beijei. Ele sorriu.

– Então era isso que afligia minha irmãzinha? Tão cedo e já sofrendo por amor.

Sorri com sua mão em meu rosto e disse:

– Obrigada por ser um anjo na minha vida.

Daniel

Meu dia começou meio agitado, ficou meio filme de terror e depois melhorou um pouco. Somente quando pude ficar a sós com Elisa me senti melhor. O clima estava um pouco tenso, quase não falávamos até que ela começou a desabafar.

– Por que o amor é tão complicado?

Fiquei pensando comigo mesmo: Será que ela ama alguém? Será que ela está apaixonada por alguém que era comprometido? Será que algum cara estava ameaçando ela? Estava aflito, mas ao mesmo tempo triste. Triste por querer que nenhum cara tocasse nela, triste por estar triste por querer isso, e triste por simplesmente ser triste. Me tranquilizei ao perceber que ela parecia estar melhor consigo mesma. Fiquei feliz por poder tê-la ajudado.

– Obrigada por ser um anjo na minha vida. – disse Elisa. Seu toque me fazia estremecer, mas naquele momento eu me sentia mais como demônio do que como anjo.

- Trabalhamos também com relacionamentos interpessoais e intrapessoais. – ela riu.

Acho que aquela foi a primeira conversa séria que tivemos, o que por sinal me fez ficar ainda mais encantado por Elisa. Ela não era mais uma criança. Podia agir às vezes como uma, mas pensava como mulher. Tão pouco tempo e suas perguntas já me deixavam encurralado na parede. Precisava pensar bem no que falar. Tinha que tomar cuidado para não dizer nada comprometedor.

Ficamos nos olhando por alguns momentos, até que meu telefone tocou. Era Helen.

– Preciso atender. – falei. Elisa assentiu.

– Oi, Helen. Algum problema? – disse friamente. Também pudera, justo naquele momento o telefone toca! Pelo menos agora já sei que quando estiver a sós com Elisa o celular tem que se manter morto.

– Sim. Preciso falar com sua irmã. É questão de vida ou morte. – ela parecia histérica. Olhei para Elisa que brincava com meus dedos e parecia não estar nem um pouco interessada em falar com a mamãe.

– Elisa. – chamei. Ela levantou o rosto com uma expressão vazia. Parecia estar pensando em algo. – Helen quer falar com você. – estiquei o braço passando o celular pra ela.

– Oi, mãe. Qual o problema dessa vez? Esqueceu como se paga com cartão? – riu. Provavelmente mamãe deveria estar dando um fora nela. – Você me ligou pra isso? – ela respirou fundo e passou a mão nos cabelos como se estivesse pensando no que dizer após Helen calar a boca. – O preto. Preto combina com tudo e se sujar não aparece muito. Só isso? – parecia estar irritada. – Ok, então tchau.

– ela encerrou a ligação e me entregou o celular. – Ela queria saber qual vestido comprava para ir num coquetel que o Tom vai fazer para os sócios. – explicou.

Conversamos mais um pouco sobre todo tipo de assunto, comemos mais alguma coisa e fomos para o lugar onde marcamos de nos encontrar com Helen. Eu não acreditava que ela fosse estar lá na hora marcada, mas por incrível que pareça ela estava lá nos esperando, impaciente por sinal.

Voltamos pra casa e cada um foi para seus quartos. Elisa foi para o quarto tomar um banho, eu simplesmente precisa relaxar depois daquele dia e Helen, bom, ela não disse o que faria, mas Tom estava no quarto, então deixo por conta da imaginação de vocês.

O resto do dia foi normal. Jantamos, vimos um filme em família. Foi até engraçada a experiência. Tinha muita tortura, mutilação e suspense, então Helen e Elisa gritaram praticamente o filme todo. Quando os créditos começaram a subir elas estavam abraçadas uma na outra com o edredom cobrindo o rosto. Eu ri muito. Ver a cara das duas não tinha preço.

– Quem foi que escolheu mesmo esse filme? – disse Elisa.

– Vocês duas. – disse Tom em meio aos risos.

Estava cansado, decidi subir e dormir. Elisa me acompanhou. Ao chegarmos na porta de nossos quartos ela me chamou:

– D-Daniel.

– Sim.

Ela se virou para mim e me abraçou. Correspondi seu abraço aproveitando o momento para guardar seu cheiro e o calor de seu corpo.

– Boa noite. – disse depois de alguns segundos. – E-E-Eu amo você.

– Eu também te amo, Elisa. – sorri ao dizer. Eu não sabia que tipo de amor era aquele que eu dizia ter e isso me assustou. E muito.

Elisa me deu um beijo no rosto e foi dormir. Eu tentei, bem que eu queria dormir, e precisava. Mas não consegui. Elisa não saía dos meus pensamentos. Eu precisava tê-la ao meu lado, mas sabia que seria impossível.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo