Logo, o legista chegou ao local.- Você é da família da vítima?Aline, agarrando-se ao corpo que gradualmente se tornava frio e rígido, olhou para cima hesitante e atordoada.Vítima?- Minha mãe não está morta, ela só está dormindo. Doutor, por favor, salve-a... Ela já ficou em coma antes, por muitos anos, mas depois acordou, então... ela vai acordar de novo.O legista, acostumado com cenas de separação entre vida e morte, suspirou.- Desculpe, eu não sou médico que salva vidas, sou o legista que examina corpos. A vítima se chama Maria?Aline, abraçada a Maria, parecia não ouvir nada do que acontecia ao seu redor; ela só sabia que Maria não estava morta, ela precisava levar Maria ao médico...Ou talvez não precisasse levar ao médico, ela queria levar Maria para casa...Ela tentou levantar Maria, mas sozinha não conseguiu.- Senhorita, sua mãe teve uma morte não natural, precisamos examinar a causa da morte, você pode soltá-la, por favor?Aline, imóvel e com o rosto entorpecido, se recu
- Desculpa, minha mãe tem problemas mentais, não está lúcida.Vitor não queria deixar passar nenhuma pista, então perguntou:- Me disseram que sua mãe tinha problemas com a vítima antes, chegou até a agredi-la. Isso é verdade?Mateus não negou:- É verdade, ela, por não estar lúcida, frequentemente confunde pessoas e teve pequenos atritos com vários pacientes do sanatório.A resposta foi sem falhas.Depois de ouvir, Vitor sorriu levemente, seu olhar astuto e penetrante se fixou em Laura, que estava atrás de Mateus.Ao ser observada, Laura começou a tremer:- Eu não a empurrei... não fui eu... ela... ela caiu sozinha... eu realmente não a empurrei...- Você viu ela caindo com seus próprios olhos?Vitor de repente se aproximou de Laura, pressionando-a.Isso assustou Laura consideravelmente.Ela se recusou a falar novamente, apenas balançava a cabeça.Nesse momento, Vitor sugeriu:- Verifiquem no sanatório se alguém tinha problemas com a vítima ou algum ressentimento desconhecido.O olhar
Aline pegou o cartão e disse:- Obrigada, Vitor.O diretor do sanatório disse:- Vocês ajudem Aline, e chamem um carro fúnebre para levá-las para casa.Rapidamente, Aline e alguns cuidadores transportaram o corpo de Maria.Quando ela passou por Mateus, ignorou-o completamente e continuou seu caminho.Mas Mateus segurou seu braço. Aline forçou um sorriso e disse:- Sr. Mateus, estou coberta de sangue, vou sujar sua mão.Entre eles, parecia haver uma barreira invisível, separando-os em dois mundos. Essa barreira, transparente, intocável e invisível, mas inquebrável. Ela se soltou de sua mão e passou por ele sem olhar para trás.Mateus ficou parado, sentindo suas mãos frias e entorpecidas. Seu coração parecia ter perdido um pedaço naquele instante....O corpo de Maria foi levado para um quarto. Aline fechou a porta, pegou uma toalha limpa, molhou-a em água morna e cuidadosamente limpou o corpo de Maria. Ela encontrou no armário um vestido bordado com flores de lótus, o favorito de M
- Aline... sei que tá difícil, deixa rolar se sentir vontade de chorar.Olhando para o rosto dela, excessivamente tranquilo, Antônia sentiu um frio na espinha.O olhar de Aline estava vazio, sem vida, um retrato da derrota e do desalento.Dizem que, antes da morte, as pessoas exalam um ar de decadência.E era esse exato ar de morte que parecia envolver Aline.Antônia abriu a porta pra ela.Aline entrou carregando a urna funerária.Colocou a urna cuidadosamente sobre a mesa e, de repente, perguntou:- Antônia, você pode me ajudar a encontrar um cemitério? Quero enterrar minha mãe amanhã cedo.Ela estava anormalmente calma, a mente, cristalina.As instruções dela eram claras e organizadas.Antônia, por um momento, ficou sem reação, mas logo disse:- Claro, vou ver isso agora mesmo.Depois de um tempo, Antônia voltou:- Conversei com uns amigos e achei o Cemitério de Santarém. O lugar é bonito e fica a uma distância boa daqui. O que você acha?- Ótimo, também ouvi falar bem do Cemitério d
.Nessa noite, Antônia não saiu. Com medo de Aline se machucar, decidiu ficar e fazer companhia.O celular de Aline não parava, mas ela mesma não tinha cabeça pra lidar com isso, então foi Antônia quem atendeu as ligações.Entre os que ligaram estavam Rui e Francisco.Depois de falar com eles, Antônia disse a Aline:- Rui e Francisco queriam vir aqui, mas eu disse pra não virem.Aline concordou com um aceno.- Tá bom. Eu não quero ver eles.O que ela queria era ficar sozinha, velando Maria, em silêncio, por toda a noite.- Eu pedi pra eles irem cedo ao Cemitério de Santarém amanhã. No funeral da sua mãe, é bom que algumas pessoas venham prestar suas condolências. Ah, e o sanatório ligou. O diretor disse que vai levar algumas pessoas ao cemitério para prestar homenagem e trazer os pertences da sua mãe pra você.Aline não contestou.- Tá nas suas mãos.- Aline, você quase não comeu hoje. Vou pedir uma canja pra você, tenta comer um pouco.Aline não recusou.- Tá bom.Antônia não sabia exp
- Francisco, o que foi?Francisco deu uma olhada no relógio e perguntou:- Onde você estava? Já é tarde pra voltar pra casa.- Eu... Eu fui tomar uns drinks com uns amigos, qual o problema?Ela tentou manter a leveza enquanto entrava e jogava sua bolsa no sofá.Francisco não deixou de repreendê-la:- Sara, você é uma moça, não fica bem ficar indo ao bar beber toda hora. Já são dez horas, se algo acontecesse com você na rua, se encontrasse algum bandido, sua vida poderia ser arruinada!- Vivemos em uma sociedade de leis, não tem tantos bandidos assim na rua. Mas sei que você diz isso porque se preocupa, obrigada.Sara correu até ele e abraçou seu braço, fazendo manha.Francisco não estava no clima para brincadeiras e se soltou:- A mãe da Aline faleceu. Tenho que ir fazer uma homenagem amanhã de manhã. Fique tranquila em casa, tá?Sara fingiu surpresa:- A mãe da Aline? O que... o que aconteceu?- Parece que foi um acidente, mas não sei os detalhes. Amanhã cedo vou lá para saber mais.-
Aline permaneceu ajoelhada em frente ao altar durante toda a noite, em um estado quase trance.Julieta a acompanhava, também ajoelhada.Ela estava exausta, mas resistia ao sono.Temia que, se adormecesse, sua mãe a deixaria para se juntar à avó em um lugar melhor....Lá embaixo, dentro de um carro preto Maybach.Mateus sentado no carro, remexeu no porta-luvas e tirou um celular antigo.Era um modelo de casal.O dele era preto o de Aline, branco.Até os números de telefone dos dois celulares eram sequenciais.Esse número havia sido desativado por três anos.Depois que ele saiu da prisão, por algum impulso, recarregou o telefone e manteve o número.Ele nem sabia por que fazia isso.A razão dizia que era inútil, uma baixeza, um delírio que não deveria existir.Mas os sentimentos são selvagens, selvagens o suficiente para fazer perder o controle.E Aline, como um pedaço de agarwood, inicialmente não parece intoxicante, até mesmo fazendo-o acreditar que tudo estava sob controle, que podia
Aline colocou cuidadosamente a urna funerária na cova.- Mãe, descanse em paz.O encarregado do sepultamento perguntou:- Tem mais alguma coisa para colocar? Se não, vou fechar agora.Aline assentiu.- Pode fechar.O encarregado encaixou a tampa com precisão, selando a sepultura.Aline, vestida de preto, parou diante do túmulo e se inclinou profundamente.Em seguida, os demais presentes também se aproximaram para prestar suas homenagens.Mateus estava um pouco afastado, observando tudo calmamente.Julieta virou-se e viu o pai.Ele estava sozinho, parecendo bastante solitário.Ela correu até Mateus, segurando sua mão.- Pai, vem se despedir da vovó conosco. Ela nem sabia que eu tenho um pai tão bonito!Julieta, ainda ingênua sobre toda a situação, puxou Mateus para mais perto.Mateus parecia relutante.De fato, ele não tinha o direito de estar ali, muito menos de prestar homenagens a Maria.Mas Aline não o repeliu, sua reação à presença de Mateus foi surpreendentemente tranquila.Tranqu