— Bom nada. — Disse Celine, revirando os olhos. — Você tá desenhando um mangá de romance puro! Doce, leve, curativo! Se você publicar isso, o site vai ser massacrado pelos leitores! Eu não quero nem saber, se você tá de mau humor, vai dar uma volta, espairecer. Te dou duas semanas de folga. Quando estiver com a cabeça no lugar, você volta e refaz essa história. Pelo tom decidido de Celine, Zara optou por não discutir. Depois de observá-la por um instante, Celine soltou a pergunta que estava entalada: — Tá, mas me conta, por que você e seu marido se divorciaram? Sua vida parecia um sonho! Você tinha tudo: empregada, cartão sem limite, um marido que não te controlava… Isso não era o ideal de vida? Zara ignorou a pergunta e, colocando calmamente um livro na estante, virou-se para Celine. — Você não comeu ainda, né? Vou te levar pra comer alguma coisa. …O Cúpula de Cristal era um dos lugares mais exclusivos da Cidade N, conhecido por ser um verdadeiro reduto de luxo. Somente m
Ninguém respondeu às palavras de Fiona. E, como se quisessem evitar o desconforto, aqueles que mencionaram Evander minutos atrás rapidamente mudaram de assunto. — Quem sabe? Mas isso nem importa. No fim das contas, são só uns figurantes, nada além disso. — Orson, eu te ofereço um brinde. Aquelas palavras, na verdade, eram uma tentativa de se desculpar pela gafe anterior. Afinal, mesmo que Orson não gostasse de Zara, insinuar que Evander poderia estar envolvido na separação dos dois tornava a situação muito mais delicada. Felizmente, Orson não parecia disposto a criar caso. Ele ergueu o copo, brindou com o outro homem e tomou um gole sem hesitar. Após o primeiro gole, o grupo parecia pronto para engatar outra conversa, mas Orson, de repente, se levantou. — Tenho um compromisso. Vou indo. Divirtam-se e coloquem a conta no meu nome. — Ah? Espera, mas... Sem dar chance para protestos, Orson já havia se afastado, deixando o grupo para trás. Fiona, no entanto, não hesitou e
Ele estava parado ali, mas seu olhar não se deteve nela. Era evidente que a presença dela naquele lugar não despertava nenhum interesse. Ele permanecia ali apenas porque estava esperando Fiona. Zara, após apenas um breve olhar, desviou os olhos e perguntou diretamente a Fiona: — O que foi? Fiona, em tom quase suplicante, respondeu: — Irmã, volta pra casa comigo, por favor. Para de brigar com o papai e a mamãe, tá bem? — Desculpa, mas eu não quero voltar. — A resposta de Zara foi curta e direta, sem qualquer hesitação. Fiona, no entanto, não se deixou abater. Virou-se para a outra mulher ao lado de Zara e arriscou: — Você é amiga da minha irmã, né? Será que você pode convencê-la a voltar comigo? A mulher, que até então apenas observava a cena, deu um sorriso sarcástico antes de responder: — Sua irmã já é bem grandinha, não acha? Ela não precisa de babá pra decidir o que faz da vida. O comentário de Celine cortou Fiona como uma faca, mas ela rapidamente se recuperou
Zara voltou rapidamente para sua casa. Assim que entrou, já pensando em tirar a maquiagem, o celular tocou. Era o editor-chefe do site onde ela publicava suas histórias em quadrinhos. Ele foi direto ao ponto: o trabalho dela não estava mais em conformidade com as diretrizes da empresa, e eles haviam decidido encerrar o contrato unilateralmente. Zara franziu as sobrancelhas imediatamente. — O que exatamente não está em conformidade? — Nosso departamento jurídico recebeu uma denúncia de que o protagonista da sua história... Infringe os direitos de imagem de uma pessoa. Ao ouvir isso, Zara entendeu na hora: aquilo era obra de Orson. Ele nunca se importava com o que ela fazia, mas não era completamente alheio. Ele obviamente havia ouvido o que Celine disse na noite anterior e, com um único e despreocupado telefonema, havia acabado com o trabalho dela. Zara respirou fundo e respondeu: — Entendi. Ela desligou o telefone sem prolongar a conversa. A intenção inicial era ligar par
— Que nada, imagina! — Disse a cuidadora, sorrindo calorosamente. — Mas me conta, no que você anda tão ocupada? Acho que faz meses que não te vejo, né?— Não foi nada. Daqui para frente, eu venho com mais frequência. — Zara respondeu com um sorriso leve. A cuidadora, à vontade, começou a puxar conversa, falando sobre o dia a dia, o clima e outras trivialidades. Zara ficou ali até o horário do almoço, quando finalmente decidiu ir embora. Para facilitar as visitas ao hospital, ela havia alugado um apartamento nas proximidades. A distância era curta e, como de costume, ela optou por voltar caminhando, com um guarda-chuva na mão. O que ela não esperava era encontrar Vera parada na porta de sua casa. Vera estava visivelmente desconfortável. Era impossível ignorar o olhar de desprezo que ela lançava para o lugar. Suas sobrancelhas estavam franzidas, e ela segurava um lenço cobrindo o nariz e a boca, como se o ar ao redor fosse insuportável. Assim que viu Zara, não perdeu tempo. — F
Vera terminou de falar, e Zara, de repente, ficou em silêncio. O ambiente, já apertado, pareceu ficar ainda mais sufocante com o silêncio repentino. Quando os olhos calmos de Zara pousaram sobre ela, o coração de Vera deu um salto involuntário. Sua expressão endureceu, e as sobrancelhas se franziram de imediato. — Você... — Começou Vera, mas foi interrompida. — Vá embora. — Zara falou de repente. As palavras inesperadas deixaram Vera paralisada no lugar. Ela levou alguns segundos para entender o que tinha acabado de ouvir. — O quê? — Perguntou, incrédula. — Estou pedindo que vá embora. E, por favor, não volte mais. — Zara afirmou com convicção. — Se vocês acham que o que eu disse da última vez não foi claro o suficiente, posso informar os jornalistas, publicar em todos os jornais que eu não tenho mais nenhuma ligação com a família Garcia. Assim, vocês não precisam mais se preocupar com a possibilidade de eu envergonhá-los. Antes mesmo de Zara terminar de falar, Vera lev
Vera respirou fundo, tentando mais uma vez se comunicar com ela. — Você já pensou em como vai ser sua vida daqui para frente? Não vou nem mencionar outras coisas, mas só os custos com medicamentos já seriam suficientes para te esmagar! Seu pai, aquele homem… — Não importa. Eu não vou morrer de fome. — Zara a interrompeu sem rodeios. — Isso não é problema seu. De agora em diante, finja que nunca me encontrou. Sua filha Zara morreu no dia em que se perdeu, aos cinco anos. Sem mais o que dizer, Vera foi embora. Zara ficou sentada no sofá por um tempo, imóvel, encarando o vazio. Depois de alguns minutos em silêncio, pegou sua raquete e se levantou, decidida a sair. Na quadra do ginásio perto da academia, Zara estava jogando com força, batendo a bola com toda a energia que tinha. O ar-condicionado estava ligado, mas o esforço físico intenso fazia o suor escorrer continuamente por seu rosto, molhando os cabelos na testa. Sua visão começava a ficar embaçada. Enquanto ela esperav
Embora tivessem se casado por apenas dois anos, Orson já conhecia Zara havia bem mais tempo. Em suas memórias, Zara sempre foi uma pessoa de emoções controladas, quase frias. A única vez que ele a viu chorar foi no dia em que ela perdeu o bebê. Ele chegou ao hospital tarde da noite, quando a cirurgia já havia terminado. Os familiares de ambos já haviam ido embora, deixando o ambiente em um silêncio quase absoluto. A cuidadora que estava com Zara dormia em uma poltrona ao lado da cama. Zara, por sua vez, estava sentada em silêncio, com o olhar perdido na janela. Não houve gritos, nem soluços. Ela simplesmente deixou que as lágrimas escorressem, uma a uma, sem emitir som algum. E Orson? O que ele fez naquela noite? Ele já não se lembrava. O que restava em sua memória sobre aquele bebê, que existiu por menos de três meses, era vago, quase inexistente. Mas, naquele momento, a imagem de Zara chorando voltou a sua mente com uma clareza assustadora. Ele podia ver cada detalhe, como