Mas, ao ouvir Melissa mencionar essa memória, Natália pareceu hesitar por um instante, como se não tivesse tanta certeza assim. Ela olhou para Zara e, depois de pensar um pouco, acabou balançando a cabeça. — Eu quero dormir com a mamãe. Diante da resposta, Zara não insistiu. Melissa, percebendo a situação, mudou rapidamente de assunto: — Falando nisso, por que você não foi encontrar o homem que te apresentei da última vez? — Por que você mesma não foi encontrar? — Zara devolveu a pergunta. — Eu... Eu não estou interessada em casamento agora. — Melissa respondeu, tentando desconversar. — E você acha que eu estou? — Retrucou Zara. A resposta curta de Zara deixou Melissa sem palavras por um momento. No fim, ela suspirou e disse: — Eu só queria te ajudar, sabe? Fico pensando que cuidar da Natália sozinha deve ser muito cansativo. Como da última vez, quando ela teve febre no meio da noite e você ficou segurando ela por horas, a noite toda, quase doze horas seguidas. Nem ti
O local de gravação da nova adaptação de Zara era em Cidade F. Não era a primeira vez que uma obra sua era transformada em série, mas, dessa vez, ela havia sido convidada para integrar a equipe de roteiristas. O roteiro ainda estava em processo de revisão, mas as gravações já tinham começado. Afinal, o cronograma era apertado, e a produtora queria aproveitar o sucesso estrondoso que o mangá ainda estava fazendo para lançar a série o quanto antes. Zara já havia visitado sets de gravação antes, mas essa era a primeira vez que acompanhava todo o processo de perto. Ela, é claro, levou Natália junto. No entanto, preocupada com a possibilidade de não conseguir dar atenção suficiente à filha, Zara contratou uma babá para ajudar nos momentos em que estivesse ocupada. Mesmo assim, Zara subestimou a demanda do trabalho. A rotina do set era extremamente caótica, e, como se tratava de uma grande produção, o elenco principal era composto por atores populares e muito requisitados. Os pro
No meio de tanta gente no set, ninguém parecia reconhecer Natália. Ao ver a garotinha tão bonita, todos pensaram que ela fosse uma pequena atriz mirim do elenco. Alguns até estavam prestes a chamar o assistente de direção quando Natália, com a cabeça erguida, simplesmente deu meia-volta e começou a andar na direção contrária. Com as mãos fechadas em punho e as duas marias-chiquinhas balançando de um lado para o outro, ela parecia uma pequena guerreira, determinada como um galo pronto para brigar. Zara, que ainda estava discutindo um trecho do roteiro com outras pessoas, foi pega de surpresa ao ver Natália voltando com aquela expressão zangada. — O que aconteceu, meu amor? — Zara perguntou, sem esconder a surpresa no rosto. Natália não respondeu. Ela simplesmente se jogou ao lado da mãe, sentou-se e começou a tomar água de seu copo com grandes goles, como se estivesse tentando se acalmar. Zara lançou um olhar de desculpas para as pessoas com quem conversava e se agachou ao l
— Titia, você tem que me ajudar a encontrar alguém mais bonito, mil vezes mais bonito que o Benício, para ser meu pai! Dentro da lanchonete, Natália falava com toda seriedade enquanto comia batatas fritas, olhando para Melissa como se fosse uma missão de vida ou morte. Melissa, que tinha corrido até ali pensando que algo grave tinha acontecido, suspirou ao perceber que era sobre isso que Natália queria falar. Ela balançou a cabeça, um tanto exasperada: — Mas essas coisas que você ouviu não têm nada a ver com ele. E, sinceramente, eu acho que o Benício gosta, sim, da sua mãe. Natália, no entanto, sacudiu a cabeça com firmeza. — Não. Ele não serve para ser meu pai. Melissa ficou sem saber o que responder dessa vez. Ela apenas riu, achando graça da teimosia da menina. Natália continuou comendo suas batatas fritas tranquilamente até sentir algo gelado escorrendo pelo canto da boca. Ela, instintivamente, passou os dedos no local, achando que era ketchup. Mas, antes que pud
Melissa segurou a mão de Zara com delicadeza, interrompendo o movimento nervoso dela. — Você não precisa se culpar. No fundo, tudo o que você está fazendo é pelo futuro dela. De qualquer forma, eu não tenho nada para fazer mesmo. Assim que a Nati melhorar, eu levo ela para Cidade N e fico na casa dos meus pais. Eles vivem pedindo um neto, tenho certeza de que vão adorar ter a Natália por lá. Pode ficar tranquila. Zara não respondeu. Melissa sabia que ela provavelmente não concordava com a ideia, mas decidiu não insistir. Também não exigiu que Zara desse uma resposta imediata. — Vamos deixar assim por enquanto. Você está exausta. Hoje à noite eu fico com ela. Você volta para casa e descansa um pouco. — Não precisa. Pode ir. Eu fico aqui. — Zara disse, firme. — Mas... — Melissa tentou argumentar. — Você acha mesmo que eu vou conseguir dormir agora, se eu for para casa? — Zara rebateu, olhando diretamente para ela. A pergunta de Zara fez Melissa ficar sem palavras. Depois
Nos dois anos e quatro meses que haviam se passado, Zara já tinha imaginado inúmeras vezes como seria reencontrá-lo. Mas, sempre que esses pensamentos surgiam, ela os afastava imediatamente. Ela sabia que o mundo era grande, que agora eles pertenciam a universos completamente diferentes. Ele estava cercado por champanhe e flores, enquanto ela era apenas mais uma pessoa comum, vivendo dia após dia da maneira que podia. Eles eram como duas linhas paralelas, destinadas a nunca mais se cruzarem. Mas, naquele momento, a aparição dele desmoronava todas essas certezas que ela havia construído. Natália ainda estava em seus braços. Quando a menina percebeu que Zara estava olhando fixamente para aquele homem, perguntou, curiosa: — Mamãe, você conhece aquele moço? A voz de Natália trouxe Zara de volta à realidade. Ela piscou, retomando a consciência, e respondeu rapidamente: — Não, eu não conheço. Orson, que já havia dado um passo em sua direção, parou no mesmo instante ao ouvir a
Essa foi a primeira vez que Orson viu a filha deles pessoalmente. Não era através de fotos borradas ou de ângulos mal tirados. A pequena olhava diretamente para ele, com aqueles olhos grandes e brilhantes, cheios de curiosidade e uma pitada de avaliação. Mas, antes que Orson pudesse observá-la por mais alguns segundos, alguém ao lado dele o chamou, com um tom cuidadoso. Logo em seguida, a multidão ao redor se movimentou, bloqueando completamente a visão que ele tinha de Zara e da menina. Quando percebeu, elas já haviam desaparecido. Orson demorou alguns instantes para se virar, ainda preso naquela cena. Só então respondeu: — O que foi? Ele trocou de expressão rapidamente, mas sua voz ainda carregava um leve tom de tensão. …Naquela noite, como era de se esperar, Orson não conseguiu dormir. Ele ficou rolando na cama até o amanhecer, quando finalmente se rendeu e tomou um comprimido para insônia. Dessa vez, ele conseguiu dormir. No entanto, o sono foi inquieto, e ele acab
Como uma das grandes produções do ano, as gravações daquela série estavam acontecendo em um set completamente isolado. No entanto, mesmo com toda a segurança, era impossível evitar completamente os fotógrafos clandestinos. Assim que Orson desceu do carro, ele avistou uma mulher agachada ao lado de um toldo azul, com uma câmera apontada para o interior do estúdio. Ele franziu a testa. Embora o setor audiovisual não fosse o foco principal do Grupo Harris, Orson já havia feito diversos investimentos em produções cinematográficas ao longo dos anos. Com o peso de seu nome, ninguém jamais ousaria barrá-lo ali. Inicialmente, ele pensou em entrar diretamente no set, mas, no momento em que deu o primeiro passo, hesitou. Ele se deu conta de que não tinha um motivo claro para estar ali. O que diria se alguém o questionasse? Que estava apenas passeando e resolveu dar uma olhada? Com isso, ele permaneceu parado no mesmo lugar. Foi então que ele notou algo peculiar. A câmera da mulher nã