Melissa segurou a mão de Zara com delicadeza, interrompendo o movimento nervoso dela. — Você não precisa se culpar. No fundo, tudo o que você está fazendo é pelo futuro dela. De qualquer forma, eu não tenho nada para fazer mesmo. Assim que a Nati melhorar, eu levo ela para Cidade N e fico na casa dos meus pais. Eles vivem pedindo um neto, tenho certeza de que vão adorar ter a Natália por lá. Pode ficar tranquila. Zara não respondeu. Melissa sabia que ela provavelmente não concordava com a ideia, mas decidiu não insistir. Também não exigiu que Zara desse uma resposta imediata. — Vamos deixar assim por enquanto. Você está exausta. Hoje à noite eu fico com ela. Você volta para casa e descansa um pouco. — Não precisa. Pode ir. Eu fico aqui. — Zara disse, firme. — Mas... — Melissa tentou argumentar. — Você acha mesmo que eu vou conseguir dormir agora, se eu for para casa? — Zara rebateu, olhando diretamente para ela. A pergunta de Zara fez Melissa ficar sem palavras. Depois
Nos dois anos e quatro meses que haviam se passado, Zara já tinha imaginado inúmeras vezes como seria reencontrá-lo. Mas, sempre que esses pensamentos surgiam, ela os afastava imediatamente. Ela sabia que o mundo era grande, que agora eles pertenciam a universos completamente diferentes. Ele estava cercado por champanhe e flores, enquanto ela era apenas mais uma pessoa comum, vivendo dia após dia da maneira que podia. Eles eram como duas linhas paralelas, destinadas a nunca mais se cruzarem. Mas, naquele momento, a aparição dele desmoronava todas essas certezas que ela havia construído. Natália ainda estava em seus braços. Quando a menina percebeu que Zara estava olhando fixamente para aquele homem, perguntou, curiosa: — Mamãe, você conhece aquele moço? A voz de Natália trouxe Zara de volta à realidade. Ela piscou, retomando a consciência, e respondeu rapidamente: — Não, eu não conheço. Orson, que já havia dado um passo em sua direção, parou no mesmo instante ao ouvir a
Essa foi a primeira vez que Orson viu a filha deles pessoalmente. Não era através de fotos borradas ou de ângulos mal tirados. A pequena olhava diretamente para ele, com aqueles olhos grandes e brilhantes, cheios de curiosidade e uma pitada de avaliação. Mas, antes que Orson pudesse observá-la por mais alguns segundos, alguém ao lado dele o chamou, com um tom cuidadoso. Logo em seguida, a multidão ao redor se movimentou, bloqueando completamente a visão que ele tinha de Zara e da menina. Quando percebeu, elas já haviam desaparecido. Orson demorou alguns instantes para se virar, ainda preso naquela cena. Só então respondeu: — O que foi? Ele trocou de expressão rapidamente, mas sua voz ainda carregava um leve tom de tensão. …Naquela noite, como era de se esperar, Orson não conseguiu dormir. Ele ficou rolando na cama até o amanhecer, quando finalmente se rendeu e tomou um comprimido para insônia. Dessa vez, ele conseguiu dormir. No entanto, o sono foi inquieto, e ele acab
Como uma das grandes produções do ano, as gravações daquela série estavam acontecendo em um set completamente isolado. No entanto, mesmo com toda a segurança, era impossível evitar completamente os fotógrafos clandestinos. Assim que Orson desceu do carro, ele avistou uma mulher agachada ao lado de um toldo azul, com uma câmera apontada para o interior do estúdio. Ele franziu a testa. Embora o setor audiovisual não fosse o foco principal do Grupo Harris, Orson já havia feito diversos investimentos em produções cinematográficas ao longo dos anos. Com o peso de seu nome, ninguém jamais ousaria barrá-lo ali. Inicialmente, ele pensou em entrar diretamente no set, mas, no momento em que deu o primeiro passo, hesitou. Ele se deu conta de que não tinha um motivo claro para estar ali. O que diria se alguém o questionasse? Que estava apenas passeando e resolveu dar uma olhada? Com isso, ele permaneceu parado no mesmo lugar. Foi então que ele notou algo peculiar. A câmera da mulher nã
A mulher, ouvindo o que Orson estava dizendo ao telefone, pareceu entender tudo de repente. — Ah, já sei. Você é amigo daquela vadia, né? Orson ainda estava falando com o advogado, mas, ao ouvir o insulto, sua voz parou imediatamente. Ele levantou os olhos para encará-la, com o olhar frio. A mulher continuou, soltando uma risada cheia de desprezo: — Não, espera... Você é um reserva, né? Um daqueles que ela deixa em stand-by. Ela é esperta, vou dar o crédito. Consegue manipular vários homens ao mesmo tempo. Essa tal de “deusa dos quadrinhos” não passa de uma farsa bem vendida! Aposto que tem muitos homens como você sustentando ela por trás, né? Enquanto falava, a mulher olhou para Orson de cima a baixo. Ela tinha uma boa noção de luxo, graças à sua vida confortável e os anos como fã de celebridades. Apenas um olhar foi suficiente para reconhecer o valor exorbitante do terno que ele vestia e do relógio em seu pulso. Imediatamente, ela ficou ainda mais convencida de sua teor
— Zara, deu problema. A ligação chegou enquanto Zara estava no hotel, organizando as malas. O roteiro já estava praticamente finalizado, e Zara planejava voltar para casa com Natália. Embora tivessem ficado apenas dois meses no hotel, a quantidade de bagagem era considerável, e ela já estava pensando em contratar um pequeno caminhão para levar tudo de volta. Quando atendeu ao celular, Zara ficou confusa. — O que aconteceu? — Você não viu as notícias? — Que notícias? — Você conhece alguém chamada Emanuele? Zara continuou sem entender, franzindo a testa. Mas a pessoa do outro lado não perdeu tempo explicando. — Dá uma olhada nas notícias agora! Essa mulher está dizendo que trabalhou na mesma empresa que você e que "Brumas da Manhã" na verdade era uma ideia dela. Ela afirmou que o editor repassou o material para você para te promover e depois rescindiu o contrato com ela. Isso já está causando um escândalo! Liga o celular e veja na internet! A pessoa falava rápido, qua
Zara segurava o celular nas mãos, mas os nós de seus dedos já estavam ficando brancos. Natália permanecia sentada ao lado dela, quieta, esperando por uma resposta. — Eu… — Zara respirou fundo, tentando encontrar sua voz. — Nati, por enquanto, a gente não vai poder ir embora. — Por quê? Não vamos mais voltar para casa? — O rostinho de Natália imediatamente se contraiu em uma expressão de descontentamento, claramente aborrecida. — Mas você disse que a gente ia voltar hoje! Eu quero ir pra casa, quero brincar com o Felipe! — Desculpa, meu amor. A culpa é da mamãe. — Zara acariciou os cabelos da filha, tentando tranquilizá-la. — Mas aconteceu um problema. Vamos ficar aqui mais alguns dias, tudo bem? Eu prometo que, assim que resolver tudo, a gente volta pra casa. Natália não respondeu, mas Zara percebeu que a menina continuava chateada. No entanto, ela não tinha tempo para lidar com isso agora. A essa altura, o telefone de Zara não parava de tocar. Primeiro, era a produtora da
Zara voltou para casa de madrugada. Natália já estava dormindo, e seu corpinho estava apoiado no ombro da mãe. Ela parecia exausta, com a respiração pesada e irregular. Zara a segurava com um braço enquanto, com a outra mão, tentava abrir a porta. Assim que conseguiu entrar, ela não perdeu tempo. Colocou Natália cuidadosamente na cama, ajeitou o cobertor sobre ela e fechou a porta do quarto com cuidado antes de voltar para a sala. A luz do abajur ao lado ainda estava acesa, iluminando a estante que Zara não tivera tempo de organizar antes de sair. O móvel estava cheio de seus rascunhos, páginas de desenhos e até alguns esboços de storyboard que ela mesma havia criado. Agora, tudo aquilo parecia zombar dela. Zara sabia muito bem como funcionava o mercado em que trabalhava. Autores como ela eram tratados como se fossem estrelas, mas, na verdade, estavam na base da pirâmide. O marketing dependia da empresa. As negociações e colaborações eram conduzidas pela empresa. A ela cabi