Zara odiava hospitais. O cheiro constante de desinfetante parecia impregnar o ar, e, a cada passo, ela cruzava com rostos marcados pela tristeza e pelo desespero. A enfermeira finalmente saiu do quarto. As veias de Natália eram muito finas, e ela precisou de várias picadas para conseguir. Natália havia tentado ser forte, permanecendo em silêncio no início, mas, no final, acabou chorando e dizendo para Zara que estava doendo muito. Zara não disse nada. Ela apenas segurou firme a outra mão da filha. Finalmente, o soro foi conectado. Depois de fungar algumas vezes, Natália fechou os olhos. — Nati, dorme um pouquinho. — Zara disse em voz baixa, acariciando os cabelos da menina. — Mamãe está aqui com você. Natália resmungou um "uhum", mas, pouco depois, abriu os olhos novamente. Zara forçou um sorriso. — O que foi, meu amor? — Mamãe, você não vai chorar, né? — Natália perguntou, com os olhos brilhando. A pergunta pegou Zara de surpresa. Por um momento, ela não soube o qu
Os procedimentos para a transferência de Natália foram concluídos rapidamente. Quando o avião pousou em Cidade N, Zara ainda estava um pouco atordoada. Afinal, ao sair daquela cidade anos atrás, ela acreditou que nunca mais voltaria. Agora, observando a cidade novamente, parecia que nada havia mudado. O mesmo cenário movimentado, os mesmos arranha-céus imponentes e as mesmas pessoas apressadas caminhando pelas ruas. Para Zara, aquele era um lugar que carregava memórias dolorosas, um lugar de onde ela havia decidido fugir. Mas, para Natália, era uma terra desconhecida, sua cidade natal, onde ela nunca havia estado antes. A menina estava animada naquele dia. Ela se debruçava sobre a janela do carro, curiosa, observando tudo ao seu redor. Quem dirigia era o motorista da família de Melissa, enquanto Melissa estava sentada no banco do passageiro. Depois de olhar para a estrada à frente, Melissa virou-se para Zara e perguntou: — Você já ligou para ele? Da última vez que Mel
— Claro que não! — Gisele tentou se defender, mas Melissa a interrompia a cada frase. Desesperada, Gisele perdeu a paciência, tapou a boca da filha com a mão e continuou. — Dessa vez, quem eu quero que você conheça é o presidente do Grupo Harris! Melissa, que já estava prestes a arrancar a mão da mãe à força, congelou ao ouvir essas palavras. Ela olhou para Gisele com uma expressão de surpresa, tentando processar a informação. Demorou alguns instantes para que ela finalmente reagisse. Quando Gisele tirou a mão da sua boca, Melissa balançou a cabeça, incrédula, e perguntou: — Quem você disse? Qual presidente do Grupo Harris? — Quem mais seria? O atual presidente do Grupo Harris, o Orson Harris! — Gisele revirou os olhos com impaciência. — O Percival, irmão dele, não foi mandado para fora do país há uns anos? Orson disse que era para ele ganhar experiência, mas todo mundo sabe que foi quase um exílio. Ele é realmente um cara implacável, até com o próprio irmão. Não é à toa que se
Após uma noite inteira para refletir, Melissa acabou se acalmando. Ela começou a pensar que toda aquela situação poderia ser uma armação de Orson. Mesmo que ele quisesse se casar, em uma cidade como Cidade N, cheia de mulheres ricas e influentes, por que ele teria escolhido justamente ela? Orson sabia muito bem que ela era amiga de Zara. Então, será que ele estava tentando usar aquele encontro para provocar Zara? Talvez ele quisesse que ela ficasse com ciúmes ou magoada. Quanto mais Melissa pensava nisso, mais acreditava nessa possibilidade. Por causa disso, sua raiva de Orson foi aos poucos desaparecendo. Na manhã seguinte, ela se arrumou com calma e foi até o café onde o encontro havia sido marcado. No entanto, no momento em que seus olhos encontraram os de Orson, ela percebeu que havia superestimado aquele homem. Quando Orson a viu, ficou claramente surpreso. Era evidente que ele não esperava encontrá-la ali e que não sabia que Melissa seria a pessoa com quem ele teria o
O quarto do hospital estava preenchido pela voz suave de Zara. Apesar do evidente cansaço estampado em seu rosto, o olhar que ela lançava para Natália continuava carregado de ternura, acompanhado por um leve sorriso nos lábios. Natália estava concentrada em seu livro de histórias. Ela também havia emagrecido um pouco nos últimos tempos, o que fazia seus olhos parecerem ainda maiores. Sua pele pálida dava a ela uma aparência delicada, quase como a de uma boneca de porcelana. Ao ouvir um som, Natália levantou a cabeça rapidamente. Quando viu Melissa, sua voz ganhou um tom de alegria: — Titia! Em outros tempos, Melissa teria respondido com entusiasmo, mas o encontro com Orson naquele dia a havia deixado completamente desanimada. Zara já tinha falado com ela sobre algumas coisas do passado. Naquela época, quando Zara decidiu ir embora, qualquer um poderia pensar que ela o fez porque Orson estava prestes a perder o cargo de presidente. Parecia que ela não quis esperar para ver o q
Quando Melissa não respondeu, Zara imediatamente entendeu a resposta. Após uma breve pausa, Zara soltou uma risada leve: — É, tá tudo bem assim. — O que tá tudo bem? Melissa não queria entrar em detalhes. Afinal, cutucar feridas antigas nunca era algo agradável, e estava claro que Zara não queria falar mais sobre Orson. Mas ao ver a aparente indiferença de Zara, Melissa não conseguiu se segurar: — Você sabe onde eu o encontrei? Ele estava indo para um encontro! E ainda teve a cara de pau de me dizer que era para “começar uma nova vida”! Como ele pode ser tão... Tão frio? Melissa pensou muito, mas no fim só conseguiu encontrar aquela palavra para descrever Orson. Zara hesitou por um instante, depois baixou os olhos lentamente, sem dizer nada. — Deixa isso pra lá. — Melissa disse, tentando mudar o tom. — Ele é um lixo, Zara. A gente joga no lixo e segue em frente. Fica tranquila, ainda vamos encontrar homens melhores! Zara apenas sorriu em silêncio e, em seguida, pass
— Você é... — O homem começou a falar. — O senhor disse que já chamou a polícia, não foi? Então por que está demorando tanto? Que tal eu ligar também e pedir as imagens das câmeras de segurança? — Michel interrompeu, com a calma que lhe era característica. — Não precisa! Deixa pra lá, vou considerar que hoje foi meu dia de azar! — O homem respondeu, irritado, antes de girar nos calcanhares e ir embora apressado. Michel não o impediu, mas, com discrição, pegou o celular e tirou uma foto da placa do carro do sujeito. Em seguida, ele se virou para Zara e perguntou com preocupação: — Sra. Zara, está tudo bem? A senhora precisa ir ao hospital? — Não, obrigada. — Zara respondeu, mantendo o tom firme. Depois disso, ela deu meia-volta e começou a caminhar. A dor em sua perna continuava latejando, mas Zara não permitiu que isso desacelerasse seus passos. Ela saiu mancando, desaparecendo rapidamente da vista de todos. Quando chegou a um lugar mais tranquilo, onde ninguém poderia
Melissa havia arranjado uma casa para Zara que realmente ficava muito perto do hospital, mas o imóvel era antigo. Enquanto esperava o elevador, Zara podia ouvir o rangido metálico vindo de dentro, como se o equipamento estivesse prestes a desabar. Ela já havia limpado o sangue que escorria por sua perna, mas, sem o disfarce do vermelho, o corte agora parecia ainda mais assustador. Era como um rosto sem olhos, sem nariz, reduzido apenas a uma boca aberta, rasgada. Quando o elevador finalmente alcançou o quinto andar, Zara entrou em casa e tratou de cuidar do ferimento de forma improvisada. Para evitar que Natália percebesse, ela trocou de roupa e vestiu um vestido longo. Mesmo assim, o modo como ela andava denunciava que algo estava errado. Zara não conseguia disfarçar. E enquanto procurava o pequeno leão de pelúcia que Natália tanto queria, ela deu várias voltas pelo apartamento, mas não conseguiu encontrá-lo. Na terceira tentativa de revirar uma das caixas, Zara começou a se s