Melissa havia arranjado uma casa para Zara que realmente ficava muito perto do hospital, mas o imóvel era antigo. Enquanto esperava o elevador, Zara podia ouvir o rangido metálico vindo de dentro, como se o equipamento estivesse prestes a desabar. Ela já havia limpado o sangue que escorria por sua perna, mas, sem o disfarce do vermelho, o corte agora parecia ainda mais assustador. Era como um rosto sem olhos, sem nariz, reduzido apenas a uma boca aberta, rasgada. Quando o elevador finalmente alcançou o quinto andar, Zara entrou em casa e tratou de cuidar do ferimento de forma improvisada. Para evitar que Natália percebesse, ela trocou de roupa e vestiu um vestido longo. Mesmo assim, o modo como ela andava denunciava que algo estava errado. Zara não conseguia disfarçar. E enquanto procurava o pequeno leão de pelúcia que Natália tanto queria, ela deu várias voltas pelo apartamento, mas não conseguiu encontrá-lo. Na terceira tentativa de revirar uma das caixas, Zara começou a se s
O tom ríspido e direto de Zara era a última resposta que Orson esperava. O rosto dele escureceu imediatamente, a expressão ficando sombria e rígida. Foi então que o celular de Zara tocou. Ela parou de revirar as caixas por um instante e estendeu a mão para pegar o aparelho. No entanto, antes que seus dedos alcançassem o celular, Orson deu dois passos rápidos na direção dela e segurou sua mão com força. O celular escapou de sua mão e caiu no chão, virado para cima. A tela acesa exibia claramente o nome de quem estava ligando: Melissa. Ao ver o nome, o sorriso sarcástico de Orson se aprofundou. — Você e Melissa parecem estar se dando muito bem agora, né? Se eu não estou errado, foi ela quem te arranjou este lugar para morar, certo? Zara, o que aconteceu com você para estar vivendo assim? — Ele fez uma pausa e riu com desdém. — Eu, pelo menos, achei que, quando você me deixou, seria para encontrar algum homem melhor. Um homem com uma condição muito superior à minha. Ah, sim, s
Assim que Zara entrou no quarto do hospital, Melissa percebeu algo estranho em sua perna. No entanto, na frente de Natália, ela preferiu não comentar. Apenas disse: — A Nati acordou agora há pouco e não te viu, então resolvi te ligar. — Eu vi a ligação, mas não consegui atender na hora. — Respondeu Zara, enquanto se sentava ao lado da cama de Natália. Em seguida, olhou para a filha e perguntou com um sorriso. — O que foi, Nati? Estava com saudades da mamãe? Natália assentiu com a cabeça, mas logo direcionou o olhar para as mãos de Zara. — E o meu leãozinho? Ela parecia ter chorado há pouco, pois seus olhos estavam vermelhos e sua voz rouca. Zara ficou momentaneamente imóvel, mordendo os lábios antes de responder: — Me desculpe, Nati... Eu não consegui encontrar o leãozinho. Mas que tal se eu comprar um novo para você? — O novo vai ser igual ao meu leãozinho antigo? — A pergunta de Natália pegou Zara de surpresa. Antes que Zara pudesse responder, Natália abaixou os olh
No momento em que saíram do hospital, Natália não disse nenhuma palavra, mas Zara podia sentir claramente a alegria que transbordava da filha. Durante todo o caminho, Natália andava pulando, com as mãozinhas agarradas firmemente à de Zara. De vez em quando, ela se virava para olhar a mãe, com um sorriso radiante no rosto. Zara passou a mão pelos cabelos da menina e perguntou, com um olhar carinhoso: — Minha princesa, o que você quer comer hoje? — Quero comer aquele bacalhau cremoso que a mamãe faz! — Combinado. Que tal irmos juntas ao mercado comprar os ingredientes? Natália balançou a cabeça animada, concordando. — Quero ir no carrinho de compras! Natália ainda estava magra, mas cabia confortavelmente no assento do carrinho. Sob as luzes do supermercado, seu rosto parecia mais corado, com um tom de vida que Zara não via há muito tempo. Zara sorriu, sentindo-se aliviada. Para ela, naquele momento, nada mais importava. O que realmente importava era que sua filha estive
As palavras de Orson fizeram Zara se lembrar de situações do passado. Inúmeras vezes, entre ela e Fiona, ele a forçava a pedir desculpas, exatamente como estava fazendo agora com Natália. Zara sentiu sua mão se fechar em um punho, mas, ainda assim, sua voz permaneceu fria e controlada: — Eu já pedi desculpas. O que mais você quer? Orson manteve o rosto impassível. — Quem errou não foi você. — Eu sou a mãe dela. Pedir desculpas por ela tem algo de errado? — Você pretende assumir as responsabilidades dela a vida inteira? — Você está me dando uma lição de moral sobre como ser uma mãe? Pois fique sabendo que eu não preciso que você me ensine absolutamente nada! A tensão entre os dois crescia a olhos vistos. A mulher ao lado de Orson começou a ficar visivelmente desconfortável. Ela puxou o braço dele suavemente e sugeriu, hesitante: — Melhor deixar isso pra lá... Mas Orson sequer olhou para ela. Ele apenas deu uma risada fria. — Eu não estou tentando te ensinar nada.
— Eu… Eu não empurrei com força… — Murmurou a mulher, ainda atônita. Mas, antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, Orson pareceu despertar de repente. Sem responder, ele correu para fora do supermercado, seguindo apressadamente na direção que Zara havia ido. No entanto, ao sair, ele não encontrou nenhum sinal dela. Orson franziu a testa, claramente irritado. Olhou rapidamente ao redor e, ao avistar uma placa de trânsito indicando o caminho para o hospital mais próximo, entrou no carro e dirigiu diretamente para lá. — Orson, onde você está indo? — Gritou a mulher, tentando alcançá-lo. Mas ele já estava longe, acelerando sem olhar para trás. Pouco tempo depois, ele chegou ao hospital. Foi direto para a recepção do setor de emergência, mas não encontrou Zara ou Natália por lá. Sua expressão ficou ainda mais sombria. Ele não perdeu tempo e abordou uma das enfermeiras: — Alguém acabou de trazer uma garotinha aqui? Ela tem uns dois anos, estava com sangramento no nariz. A m
Melissa chegou rapidamente ao hospital, com o rosto cheio de preocupação. — O que aconteceu? A Nati não tinha acabado de receber alta hoje de manhã? Como é que... Ela estava prestes a fazer mais perguntas, mas ao ver os olhos vermelhos de Zara, sua voz se silenciou instantaneamente. — Foi culpa minha. — Disse Zara em um tom baixo, quase sussurrado. — Eu não deveria tê-la levado ao supermercado, não deveria ter discutido com eles. Se naquele momento eu tivesse... Zara parou de falar. Seus lábios estavam firmemente cerrados, e suas mãos, fechadas em punhos, tremiam. As unhas já haviam se cravado na carne de sua palma. Melissa percebeu aquilo e imediatamente segurou as mãos dela, tentando acalmá-la. — Zara, para com isso! Não pense dessa forma! Isso não foi sua culpa! Eu sei que você faria qualquer coisa para evitar que a Natália se machucasse! Zara continuou em silêncio, mas seu semblante parecia ainda mais assustador. Melissa abriu a boca para dizer algo mais, mas antes
Orson estava parado do lado de fora. Ao cruzar o olhar com ele, Melissa soltou uma risada irônica. — Ora, ora, não é o Sr. Orson? O que foi? Achou que já não tinha feito o suficiente e veio aqui continuar seu papel de educador? Orson ignorou completamente o comentário dela. Seus olhos estavam fixos em Zara. — Eu preciso falar com você. — Disse ele, direto. Antes que Zara pudesse responder, Melissa interveio, cruzando os braços. — E você acha que pode falar com ela desse jeito? Quem você pensa que é? Orson ficou em silêncio, imóvel, sem sequer lançar um olhar para Melissa. Aquela indiferença fez o sangue dela ferver, e Melissa estava prestes a continuar quando Zara se levantou. — Pode cuidar da Nati por mim? — Perguntou Zara, em um tom baixo. Melissa hesitou, mordendo os lábios, mas acabou assentindo. Zara passou por ela sem olhar para Orson, andando na direção do corredor. Antes de segui-la, Orson lançou um último olhar para a menina no leito. Seus olhos observara