Ele estava parado ali, mas seu olhar não se deteve nela. Era evidente que a presença dela naquele lugar não despertava nenhum interesse. Ele permanecia ali apenas porque estava esperando Fiona. Zara, após apenas um breve olhar, desviou os olhos e perguntou diretamente a Fiona: — O que foi? Fiona, em tom quase suplicante, respondeu: — Irmã, volta pra casa comigo, por favor. Para de brigar com o papai e a mamãe, tá bem? — Desculpa, mas eu não quero voltar. — A resposta de Zara foi curta e direta, sem qualquer hesitação. Fiona, no entanto, não se deixou abater. Virou-se para a outra mulher ao lado de Zara e arriscou: — Você é amiga da minha irmã, né? Será que você pode convencê-la a voltar comigo? A mulher, que até então apenas observava a cena, deu um sorriso sarcástico antes de responder: — Sua irmã já é bem grandinha, não acha? Ela não precisa de babá pra decidir o que faz da vida. O comentário de Celine cortou Fiona como uma faca, mas ela rapidamente se recuperou
Zara voltou rapidamente para sua casa. Assim que entrou, já pensando em tirar a maquiagem, o celular tocou. Era o editor-chefe do site onde ela publicava suas histórias em quadrinhos. Ele foi direto ao ponto: o trabalho dela não estava mais em conformidade com as diretrizes da empresa, e eles haviam decidido encerrar o contrato unilateralmente. Zara franziu as sobrancelhas imediatamente. — O que exatamente não está em conformidade? — Nosso departamento jurídico recebeu uma denúncia de que o protagonista da sua história... Infringe os direitos de imagem de uma pessoa. Ao ouvir isso, Zara entendeu na hora: aquilo era obra de Orson. Ele nunca se importava com o que ela fazia, mas não era completamente alheio. Ele obviamente havia ouvido o que Celine disse na noite anterior e, com um único e despreocupado telefonema, havia acabado com o trabalho dela. Zara respirou fundo e respondeu: — Entendi. Ela desligou o telefone sem prolongar a conversa. A intenção inicial era ligar par
— Que nada, imagina! — Disse a cuidadora, sorrindo calorosamente. — Mas me conta, no que você anda tão ocupada? Acho que faz meses que não te vejo, né?— Não foi nada. Daqui para frente, eu venho com mais frequência. — Zara respondeu com um sorriso leve. A cuidadora, à vontade, começou a puxar conversa, falando sobre o dia a dia, o clima e outras trivialidades. Zara ficou ali até o horário do almoço, quando finalmente decidiu ir embora. Para facilitar as visitas ao hospital, ela havia alugado um apartamento nas proximidades. A distância era curta e, como de costume, ela optou por voltar caminhando, com um guarda-chuva na mão. O que ela não esperava era encontrar Vera parada na porta de sua casa. Vera estava visivelmente desconfortável. Era impossível ignorar o olhar de desprezo que ela lançava para o lugar. Suas sobrancelhas estavam franzidas, e ela segurava um lenço cobrindo o nariz e a boca, como se o ar ao redor fosse insuportável. Assim que viu Zara, não perdeu tempo. — F
Vera terminou de falar, e Zara, de repente, ficou em silêncio. O ambiente, já apertado, pareceu ficar ainda mais sufocante com o silêncio repentino. Quando os olhos calmos de Zara pousaram sobre ela, o coração de Vera deu um salto involuntário. Sua expressão endureceu, e as sobrancelhas se franziram de imediato. — Você... — Começou Vera, mas foi interrompida. — Vá embora. — Zara falou de repente. As palavras inesperadas deixaram Vera paralisada no lugar. Ela levou alguns segundos para entender o que tinha acabado de ouvir. — O quê? — Perguntou, incrédula. — Estou pedindo que vá embora. E, por favor, não volte mais. — Zara afirmou com convicção. — Se vocês acham que o que eu disse da última vez não foi claro o suficiente, posso informar os jornalistas, publicar em todos os jornais que eu não tenho mais nenhuma ligação com a família Garcia. Assim, vocês não precisam mais se preocupar com a possibilidade de eu envergonhá-los. Antes mesmo de Zara terminar de falar, Vera lev
Vera respirou fundo, tentando mais uma vez se comunicar com ela. — Você já pensou em como vai ser sua vida daqui para frente? Não vou nem mencionar outras coisas, mas só os custos com medicamentos já seriam suficientes para te esmagar! Seu pai, aquele homem… — Não importa. Eu não vou morrer de fome. — Zara a interrompeu sem rodeios. — Isso não é problema seu. De agora em diante, finja que nunca me encontrou. Sua filha Zara morreu no dia em que se perdeu, aos cinco anos. Sem mais o que dizer, Vera foi embora. Zara ficou sentada no sofá por um tempo, imóvel, encarando o vazio. Depois de alguns minutos em silêncio, pegou sua raquete e se levantou, decidida a sair. Na quadra do ginásio perto da academia, Zara estava jogando com força, batendo a bola com toda a energia que tinha. O ar-condicionado estava ligado, mas o esforço físico intenso fazia o suor escorrer continuamente por seu rosto, molhando os cabelos na testa. Sua visão começava a ficar embaçada. Enquanto ela esperav
Embora tivessem se casado por apenas dois anos, Orson já conhecia Zara havia bem mais tempo. Em suas memórias, Zara sempre foi uma pessoa de emoções controladas, quase frias. A única vez que ele a viu chorar foi no dia em que ela perdeu o bebê. Ele chegou ao hospital tarde da noite, quando a cirurgia já havia terminado. Os familiares de ambos já haviam ido embora, deixando o ambiente em um silêncio quase absoluto. A cuidadora que estava com Zara dormia em uma poltrona ao lado da cama. Zara, por sua vez, estava sentada em silêncio, com o olhar perdido na janela. Não houve gritos, nem soluços. Ela simplesmente deixou que as lágrimas escorressem, uma a uma, sem emitir som algum. E Orson? O que ele fez naquela noite? Ele já não se lembrava. O que restava em sua memória sobre aquele bebê, que existiu por menos de três meses, era vago, quase inexistente. Mas, naquele momento, a imagem de Zara chorando voltou a sua mente com uma clareza assustadora. Ele podia ver cada detalhe, como
Evander: [Está acordada?] Evander: [Comprei umas coisas pra você. Deixei na porta, não esqueça de pegar.] As outras mensagens eram de Celine. Ela dizia que havia discutido com o editor-chefe e, mesmo assim, não conseguiu garantir a continuidade do contrato para o mangá de Zara. No final, ainda se desculpava por não ter conseguido ajudá-la. Enquanto respondia às mensagens de Celine, Zara foi até a porta. Ao abrir, viu um bolo pendurado na maçaneta. A cobertura era de chocolate, o seu sabor favorito. Enquanto ela olhava para o bolo, meio perdida, o celular tocou. Evander. — Está acordada? — Estou. — Pegou o que deixei pra você? — Peguei. — Coloque na geladeira. Estou indo aí agora, e a gente come juntos… — Evander. — Zara o interrompeu. — Obrigada por tudo hoje, mas eu já estou bem. Você não precisa fazer mais isso por mim. Evander soltou uma risada suave. — O que foi? Vai tentar manter distância de novo? Antes você dizia que era casada e que eu não podia me apr
Zara e Vera tinham uma relação distante, mas com seu pai, Carlos, a conexão era praticamente inexistente. Como chefe de família e presidente do grupo empresarial, Carlos trazia para casa o mesmo comportamento que tinha no trabalho: autoritário, intransigente, inalcançável. Se Vera passava para Zara a sensação de favoritismo absoluto por Fiona, Carlos representava o oposto: frieza. Ele quase nunca estava em casa, e, nas memórias de Zara, jamais havia cumprido o papel de pai. Ainda assim, não permitia que ninguém questionasse sua autoridade como "chefe da família". Já fazia muitos anos que Zara havia retornado, mas aquela era a primeira vez que os dois jantavam a sós. Quando Zara chegou ao restaurante combinado, Carlos já estava esperando na sala privativa. Ele olhava para o relógio com uma expressão de impaciência. — Desculpe pelo atraso. — Disse Zara. Carlos não se irritou. Apenas levantou os olhos e, com um gesto simples, apontou para uma cadeira: — Sente-se. Zara pe