Por quê? Na adolescência, quando Zara havia acabado de voltar para aquela casa, essa era a pergunta que mais rondava sua mente. Naquela época, tudo o que Fiona fazia para agradá-los, Zara também se esforçava para fazer. Mas, por algum motivo, eles simplesmente não gostavam dela. Até que um dia, Zara preparou pessoalmente um chá de limão para sua mãe. Vera agradeceu com um sorriso superficial, apenas para, logo depois, virar-se e despejar o chá num vaso de plantas. Naquela mesma noite, Zara, sem querer, ouviu uma conversa entre os pais. Era Vera perguntando a Carlos se não seria melhor levar Zara para fazer um exame de HIV. Naquele momento, Zara não sabia o que era HIV. Só mais tarde, já mais velha, ela entendeu. Era… AIDS. Tudo porque, no passado, Zara quase havia sido abusada por seu pai adotivo. Embora nada realmente tivesse acontecido, para os olhos deles, aquilo já era uma mancha irreparável, uma vergonha. Um motivo suficiente para que ela não fosse mais digna de ser ch
Quando Ivone estava prestes a impedi-la, o som de um motor de carro vindo de fora chamou sua atenção. Ela desceu correndo até a porta. — Sr. Orson, venha rápido! A Sra. Harris está com as malas prontas, parece que vai embora de casa de novo! Orson, no entanto, não demonstrou surpresa. Ele apenas ergueu o olhar lentamente. Zara estava descendo as escadas com suas coisas. Primeiro, ele observou a bagagem dela. Depois, seus olhos se fixaram em sua face, onde ainda era possível ver claramente a marca de um tapa. Zara não desviou o olhar. Foi direta: — Quando vamos resolver o divórcio? — Já chamei o advogado. — Respondeu Orson, desviando o olhar e caminhando em direção à escada. — Não precisa. Eu não quero nada. — Disse Zara, com firmeza. Ele já estava no segundo degrau quando parou ao ouvir aquelas palavras. Virando-se, ele respondeu com calma: — Mesmo que você saia de mãos vazias, o acordo de divórcio precisa ser assinado. Zara entendeu o recado e decidiu não insis
Zara ainda se lembrava do dia em que se casou com Orson. Apesar de não ser bem-vista pela família Garcia, ainda assim, ela era a filha mais velha, a herdeira da família. Por isso, o casamento foi grandioso. Foram meses de preparação. O noivado aconteceu com antecedência, seguido pela escolha do vestido de noiva, sessões de fotos e a definição da data para a cerimônia. Durante esse período, Zara colocou sua vida inteira em pausa. Tudo girava em torno do casamento. Agora, no entanto, o divórcio não exigia mais do que algumas palavras e menos de meia hora para ser resolvido. O advogado de Orson era eficiente. Eles sequer precisaram passar pelo período de "reflexão" que algumas separações exigiam. Em pouco tempo, dois certificados de divórcio estavam sobre a mesa, prontos para serem assinados. Orson, como sempre, parecia ocupado. Desde que haviam chegado, ele não parava de atender ligações. Assim que pegou o certificado em mãos, saiu imediatamente, com o celular ainda colado ao o
— Bom nada. — Disse Celine, revirando os olhos. — Você tá desenhando um mangá de romance puro! Doce, leve, curativo! Se você publicar isso, o site vai ser massacrado pelos leitores! Eu não quero nem saber, se você tá de mau humor, vai dar uma volta, espairecer. Te dou duas semanas de folga. Quando estiver com a cabeça no lugar, você volta e refaz essa história. Pelo tom decidido de Celine, Zara optou por não discutir. Depois de observá-la por um instante, Celine soltou a pergunta que estava entalada: — Tá, mas me conta, por que você e seu marido se divorciaram? Sua vida parecia um sonho! Você tinha tudo: empregada, cartão sem limite, um marido que não te controlava… Isso não era o ideal de vida? Zara ignorou a pergunta e, colocando calmamente um livro na estante, virou-se para Celine. — Você não comeu ainda, né? Vou te levar pra comer alguma coisa. …O Cúpula de Cristal era um dos lugares mais exclusivos da Cidade N, conhecido por ser um verdadeiro reduto de luxo. Somente m
Ninguém respondeu às palavras de Fiona. E, como se quisessem evitar o desconforto, aqueles que mencionaram Evander minutos atrás rapidamente mudaram de assunto. — Quem sabe? Mas isso nem importa. No fim das contas, são só uns figurantes, nada além disso. — Orson, eu te ofereço um brinde. Aquelas palavras, na verdade, eram uma tentativa de se desculpar pela gafe anterior. Afinal, mesmo que Orson não gostasse de Zara, insinuar que Evander poderia estar envolvido na separação dos dois tornava a situação muito mais delicada. Felizmente, Orson não parecia disposto a criar caso. Ele ergueu o copo, brindou com o outro homem e tomou um gole sem hesitar. Após o primeiro gole, o grupo parecia pronto para engatar outra conversa, mas Orson, de repente, se levantou. — Tenho um compromisso. Vou indo. Divirtam-se e coloquem a conta no meu nome. — Ah? Espera, mas... Sem dar chance para protestos, Orson já havia se afastado, deixando o grupo para trás. Fiona, no entanto, não hesitou e
Ele estava parado ali, mas seu olhar não se deteve nela. Era evidente que a presença dela naquele lugar não despertava nenhum interesse. Ele permanecia ali apenas porque estava esperando Fiona. Zara, após apenas um breve olhar, desviou os olhos e perguntou diretamente a Fiona: — O que foi? Fiona, em tom quase suplicante, respondeu: — Irmã, volta pra casa comigo, por favor. Para de brigar com o papai e a mamãe, tá bem? — Desculpa, mas eu não quero voltar. — A resposta de Zara foi curta e direta, sem qualquer hesitação. Fiona, no entanto, não se deixou abater. Virou-se para a outra mulher ao lado de Zara e arriscou: — Você é amiga da minha irmã, né? Será que você pode convencê-la a voltar comigo? A mulher, que até então apenas observava a cena, deu um sorriso sarcástico antes de responder: — Sua irmã já é bem grandinha, não acha? Ela não precisa de babá pra decidir o que faz da vida. O comentário de Celine cortou Fiona como uma faca, mas ela rapidamente se recuperou
Zara voltou rapidamente para sua casa. Assim que entrou, já pensando em tirar a maquiagem, o celular tocou. Era o editor-chefe do site onde ela publicava suas histórias em quadrinhos. Ele foi direto ao ponto: o trabalho dela não estava mais em conformidade com as diretrizes da empresa, e eles haviam decidido encerrar o contrato unilateralmente. Zara franziu as sobrancelhas imediatamente. — O que exatamente não está em conformidade? — Nosso departamento jurídico recebeu uma denúncia de que o protagonista da sua história... Infringe os direitos de imagem de uma pessoa. Ao ouvir isso, Zara entendeu na hora: aquilo era obra de Orson. Ele nunca se importava com o que ela fazia, mas não era completamente alheio. Ele obviamente havia ouvido o que Celine disse na noite anterior e, com um único e despreocupado telefonema, havia acabado com o trabalho dela. Zara respirou fundo e respondeu: — Entendi. Ela desligou o telefone sem prolongar a conversa. A intenção inicial era ligar par
— Que nada, imagina! — Disse a cuidadora, sorrindo calorosamente. — Mas me conta, no que você anda tão ocupada? Acho que faz meses que não te vejo, né?— Não foi nada. Daqui para frente, eu venho com mais frequência. — Zara respondeu com um sorriso leve. A cuidadora, à vontade, começou a puxar conversa, falando sobre o dia a dia, o clima e outras trivialidades. Zara ficou ali até o horário do almoço, quando finalmente decidiu ir embora. Para facilitar as visitas ao hospital, ela havia alugado um apartamento nas proximidades. A distância era curta e, como de costume, ela optou por voltar caminhando, com um guarda-chuva na mão. O que ela não esperava era encontrar Vera parada na porta de sua casa. Vera estava visivelmente desconfortável. Era impossível ignorar o olhar de desprezo que ela lançava para o lugar. Suas sobrancelhas estavam franzidas, e ela segurava um lenço cobrindo o nariz e a boca, como se o ar ao redor fosse insuportável. Assim que viu Zara, não perdeu tempo. — F