A voz de Natália soou aguda, carregando uma determinação que Zara nunca havia visto antes. Nem ela, nem Orson esperavam uma reação como aquela. Zara ficou paralisada por um instante, mas logo deu um passo à frente. — Nati... — Eu não quero vê-lo, mamãe! Manda ele sair, manda ele ir embora! — Gritou Natália, enquanto se encolhia no colo de Zara. Os pequenos braços da menina se apertaram ao redor da mãe, mas o movimento brusco fez com que a agulha do soro em sua mão se deslocasse. O sangue começou a voltar rapidamente pelo tubo. Zara, temendo que ela se machucasse, segurou firmemente a mão da filha e respondeu com calma, tentando tranquilizá-la: — Tudo bem, meu amor. Se você não quer vê-lo, então não vai vê-lo. Fique tranquila, está tudo bem. Enquanto falava, Zara levantou os olhos para Orson. Ele estava parado ali, com os lábios comprimidos, sem dizer uma única palavra. Zara achou que precisaria dizer algo para ele, mas, para sua surpresa, Orson virou-se e saiu sem que e
Naquele momento, Zara não explicou muito para Natália. Ela apenas seguiu o fluxo da conversa, concordando com o que a menina dizia para acalmá-la. Natália, como esperado, ficou mais animada. Depois disso, começou a contar com entusiasmo todos os planos que tinha para quando saísse do hospital. Zara apenas ficou sentada ao lado dela, ouvindo em silêncio, até que a enfermeira entrou com os medicamentos. Natália, então, parou de falar e, obediente, tomou os remédios sem reclamar. Os efeitos colaterais das medicações logo começaram a incomodá-la, deixando-a desconfortável. Deitada na cama, Natália segurou a mão de Zara com força, sem querer soltá-la. Zara, pacientemente, acariciou o ombro da filha e começou a cantar uma canção de ninar para confortá-la. A posição em que estava não era nada confortável, mas ela não ousou se mover. Sabia que Natália estava extremamente insegura ultimamente. Cada vez que acordava e não via Zara, ou quando tinha um sono agitado, ela começava a chorar o
As palavras de Orson demoraram alguns segundos para serem completamente assimiladas por Zara. Quando finalmente entendeu o significado do que ele havia dito, seu rosto mudou de expressão imediatamente. — Orson, o que você quer dizer com isso? — Perguntou ela, com a voz tensa. — Exatamente o que você ouviu. — Respondeu Orson, com um tom frio, quase desdenhoso. — Eu vi o nome que você deu para a nossa filha. Não me importo que ela tenha o seu sobrenome, afinal, ela é tanto sua quanto minha. Mas deixá-la chamar outro homem de pai? Isso é algo que eu jamais vou permitir. Claro, você ainda é jovem. Se você não consegue ficar sozinha e quiser se casar de novo, eu não vou te impedir. Mas levar minha filha para essa nova família? Isso não vai acontecer. Entendeu? Quando ele terminou de falar, Zara ficou completamente em silêncio. Ela apenas permaneceu ali, estática, encarando-o com os lábios apertados. Orson a conhecia bem o suficiente para perceber o que estava acontecendo. Seu olhar
Foi nesse momento que Orson pareceu finalmente entender por que Zara, em vez de demonstrar raiva, havia se desculpado com ele mais cedo. — Você está com medo de que eu não faça a cirurgia? — Perguntou ele, com o olhar fixo nela. Zara não respondeu, mas o silêncio dela foi suficiente para confirmar tudo. O rosto de Orson ficou ainda mais sombrio. Ele pressionou os lábios com tanta força que parecia prestes a partir os próprios dentes. Na visão dela, o que ele era, afinal? Um homem tão frio e insensível que seria capaz de negar ajuda à própria filha? Será que, aos olhos dela, ele era alguém tão cruel que precisava ser agradado e manipulado para cumprir seu papel como pai? Orson a encarou por alguns segundos, mas, de repente, relaxou os ombros e soltou um suspiro contido. Ele não disse mais nada. Apenas virou-se e continuou andando. Dessa vez, seus passos eram lentos, quase arrastados, como se cada movimento exigisse um esforço imenso. Ele queria que Zara o chamasse, que dis
O resultado do teste de compatibilidade de Orson saiu rapidamente. Quando Zara viu que era compatível, ela não sentiu o alívio que esperava. O motivo era simples: a conversa que ela teve com Orson no dia anterior não havia terminado bem. Ele tinha saído visivelmente irritado e, até aquele momento, não havia feito nenhum contato. Os médicos, que pareciam ter uma relação melhor com ele, certamente já tinham informado Orson sobre o resultado. Mas, mesmo assim, ele não havia procurado Zara. Ela segurou o celular nas mãos, hesitando por um longo momento. No fim, acabou decidindo ligar para ele. O toque do outro lado soou por muito tempo, o suficiente para que Zara começasse a pensar que ele não atenderia. Mas, quando ela estava prestes a desistir, ouviu a voz dele: — Alô. Por algum motivo, uma voz que ela conhecia tão bem agora fez com que seu corpo tremesse levemente. Zara apertou o celular com mais força e, depois de mover os lábios algumas vezes sem conseguir falar, finalm
Aquele andar era claramente reservado para as suítes presidenciais, e o silêncio no corredor era quase opressor. Depois de tocar a campainha, Zara abaixou a cabeça e ficou olhando para os próprios pés. Ela vinha passando tanto tempo no hospital que nem havia notado o estado dos seus tênis brancos. Agora, estavam manchados com um pouco de sujeira, destoando completamente do luxuoso carpete marrom do chão. Era como se ela, com sua simplicidade e desgaste, não pertencesse àquele lugar — como se aquele mundo nunca tivesse sido, de fato, o seu. Zara não sabia quanto tempo havia passado enquanto esperava. Talvez apenas alguns segundos, talvez longos minutos. Para ela, parecia que um século inteiro havia se arrastado ali. Foi só quando suas mãos e pés começaram a ficar dormentes que a porta finalmente se abriu. Mas, ao ver quem estava do outro lado, a vontade de virar e ir embora imediatamente cresceu ainda mais dentro dela. Zara apertou as mãos ao lado do corpo e arregalou os olhos
Um cigarro foi rapidamente consumido, e Orson, após um longo suspiro, acendeu outro. No entanto, conforme o tempo passava, sua irritação parecia crescer. Ele olhou para a porta do banheiro, de onde o som constante da água continuava, como se Zara estivesse deliberadamente ocupando mais tempo do que o necessário. Incapaz de conter sua impaciência, ele apagou o cigarro no cinzeiro e caminhou a passos largos até a porta, batendo com os dedos de forma firme e precisa. — Eu te dou cinco minutos. Saia. Depois de falar, Orson voltou para o quarto e sentou-se na cama. Seu olhar permaneceu fixo na porta do banheiro, como se estivesse disposto a esperar até que o tempo acabasse. Finalmente, o som da água cessou. E, como se estivesse marcando os segundos, Zara abriu a porta quando faltavam apenas poucos instantes para o prazo terminar. Ao vê-la sair, envolta em um roupão grosso e completamente fechada, Orson não conseguiu evitar uma risada. — Isso é realmente necessário? — Perguntou e
Ela sabia que Orson nunca esteve cercado por falta de admiradoras. No passado, Zara já tinha visto muitas mulheres belas ao lado dele. Até pouco tempo atrás, ele não estava no supermercado com outra mulher? Se Orson quisesse, sempre haveria uma fila de mulheres dispostas a fazer qualquer coisa para se aproximar dele, para dividir a cama com ele. Ele tinha muitas opções. E Zara sabia que ela nunca seria a “melhor” escolha, nem antes, muito menos agora. Naquele momento, ela sentiu com clareza a rigidez no corpo de Orson e o olhar dele pousado diretamente em sua cicatriz. Zara sentiu vontade de rir. Ela deixou escapar um leve sorriso irônico e disse: — Então, Orson, você tem certeza que ainda quer continuar? Quando ela terminou de falar, Orson levantou os olhos para encará-la. O olhar dele continuava profundo e indecifrável, como sempre. Zara estava prestes a dizer algo mais, mas, antes que pudesse continuar, ele abaixou a cabeça. No instante seguinte, os lábios de Orson toc