Zara ligou para Orson, mas ele estava em outra ligação o tempo todo. Sem alternativa, ela decidiu entrar em contato com Michel. — O Sr. Orson ainda está em reunião, mas hoje ele provavelmente não terá tempo para vê-la. Talvez… — Michel tentou soar delicado, mas Zara entendeu de imediato o que ele queria dizer. Como assim Orson não tinha tempo para vê-la? Zara se lembrou de como ele costumava estar ocupado semanas atrás, mas, mesmo assim, sempre encontrava tempo para vê-la. Não importava o quão atarefado estivesse, ele dava um jeito. Havia vezes em que, mesmo depois de um longo voo de madrugada, ele ia direto para o apartamento dela. Agora, porém, nem mesmo um telefonema parecia ser possível. Pensamentos confusos agitavam-se na mente de Zara, mas ela decidiu não confrontar Michel. Apenas respondeu: — Entendi. Depois de desligar, ela se virou para sair. No entanto, quando o motorista do táxi perguntou o endereço, ela mudou de ideia. — Condomínio Oásis. Já fazia muito te
As palavras de Orson deixaram Zara em um silêncio prolongado. A porta atrás dela ainda estava aberta, permitindo que o vento frio entrasse e contrastasse com o calor acolhedor do ambiente interno. Zara não conseguia distinguir se o que sentia naquele momento era frio ou calor. Apenas sabia que sua mente estava completamente vazia. Demorou alguns instantes até que ela finalmente encontrasse sua voz. — Então, você nem quer ouvir minha explicação? — Ela perguntou, com a voz fraca, mas firme. Orson a olhou com indiferença e respondeu: — Zara, neste mundo, muitas coisas só dependem do resultado. Ao ouvir isso, Zara abaixou a cabeça e soltou uma risada curta e amarga. Resultado? O que era o resultado? O resultado era que a mãe dele estava agora em um hospital, inconsciente. O resultado era que aquela carta de despedida havia passado pelas mãos dela antes de chegar às mãos dele. O resultado era que ele acabara de dizer que não havia mais razão para se verem, nem mesmo se d
Ao tocar seus lábios, a acidez parecia infinita, ainda pior do que o primeiro gole. Ele não conseguiu evitar franzir a testa.Foi então que ele viu aquela figura branca.De onde estava, no alto do prédio, tudo no andar térreo não passava de pontos desfocados e indistintos. Mas, mesmo assim, Orson a reconheceu de imediato. Ele a viu claramente ao lado de uma lixeira, jogando algo dentro dela.Os dedos de Orson apertaram com força a taça de vinho. Somente após alguns segundos ele conseguiu relaxar novamente.Orson sabia que nunca fora alguém de grandes emoções, uma característica que vinha da criação rígida de sua mãe. Ao se lembrar dela, a primeira coisa que lhe vinha à mente era sua voz tranquila e um sorriso que parecia nunca ultrapassar a superfície.Orson sempre acreditou que não sentia nada por sua mãe.Foi apenas no momento em que ela sofreu o acidente que ele percebeu o quanto ela era, de todas as pessoas no mundo, aquela com quem ele tinha o laço mais profundo. Ele já havia habi
Orson sabia exatamente de quem eles estavam falando quando usavam aquela palavra ofensiva. Foi a primeira vez que ele ordenou diretamente à segurança do hospital que expulsasse os dois idosos. Os dois, que aparentavam ser frágeis, foram arrastados para fora enquanto gritavam com uma força surpreendente, prometendo chamar a imprensa e contar ao mundo que o filho deles havia sido destruído pela família Harris. Naquele momento, Orson respondeu com frieza: — Podem procurar quem quiserem. A atitude dele, tão calma e arrogante, era de gelar qualquer um. Mas Orson sequer olhou para eles novamente. Pouco tempo depois, Michel chegou ao hospital e informou que os pertences do apartamento Zara tinham sido transportados para o Condomínio Oásis. Orson respondeu apenas com um breve: — Hum. Michel hesitou, mas continuou: — Hoje vi a Sra. Harris… Ah, desculpe, quero dizer, a Sra. Zara. Ela parecia indisposta, talvez esteja doente. Orson permaneceu em silêncio. Michel respirou fundo e
Zara, naquele momento, não conseguiu dizer nada. Ela queria explicar que simplesmente não sabia como começar a falar. Mas, quando as palavras chegaram à boca, ela as engoliu silenciosamente. Orson provavelmente já havia esquecido de tudo aquilo. Caso contrário, ele nunca teria sugerido viajar para o País D. Zara sabia que aquele sentimento "intenso" entre eles era uma mentira. Porque, se ele realmente gostasse dela, ele não esqueceria algo assim. Era como ela, que, quando estava apaixonada por ele, desejava gravar cada momento e detalhe dos dois em sua memória. Mas ele não fazia isso. Ele não a amava. Para ele, escolher Zara tinha mais a ver com a compatibilidade física entre eles do que com qualquer sentimento verdadeiro. Desta vez, Zara foi sozinha ao País D, mas foi bem preparada. Ela pesquisou tudo com antecedência e até contratou uma guia local profissional, uma estudante universitária com uma personalidade vibrante e cabelo curto e moderno. — Você é a Zara? — Perguntou
— Aquela pessoa era seu ex-namorado? — Assim que entraram no reservado, Melissa perguntou diretamente para Zara. Zara ficou surpresa por um momento, mas depois balançou a cabeça. — Não era? Mas eu achei que vocês... — Ele é meu ex-marido. — Respondeu Zara. A voz de Melissa ficou presa na garganta. Depois de um instante, ela bateu as mãos juntas, como se algo finalmente fizesse sentido. — Já sei! Ele é o presidente do Grupo Harris, lá de Cidade N? — Você conhece ele? — Perguntou Zara. — Hum... Dá pra dizer que sim. Já vi notícias sobre ele, sabe? Comparado com aqueles outros presidentes carecas e barrigudos das grandes empresas, ele realmente se destaca. Zara deu um leve sorriso. — E aquela mulher que estava com ele? Quem era? Por que ela te chamou de irmã? — Ela é a filha adotiva dos meus pais. A resposta de Zara carregava tanta informação que a boca de Melissa foi se abrindo devagar, até atingir um tamanho que parecia capaz de engolir um ovo inteiro. Zara não c
Zara tinha o rosto levemente corado por causa do álcool. Seus olhos estavam úmidos e enevoados, como se ela não tivesse certeza do que estava vendo. Ela balançou a cabeça, incrédula, e, ao confirmar que não estava enganada, chamou por ele: — Orson. Ele não respondeu. O olhar que ele lançou sobre ela não carregava nenhuma emoção, exatamente como o que ele tinha enquanto a observava no restaurante. — Está nevando. — Disse Zara, parecendo não se importar com a indiferença dele. Ela apontou para o céu, com um pequeno sorriso. — Olha só, quanta neve! Você tinha razão, a neve daqui é mesmo mais bonita do que a de Cidade N. Mas eu ainda prefiro a de Cidade N. Zara continuou falando sozinha, com o corpo vacilante. Se Orson não estivesse segurando firme o braço dela, ela já teria caído no chão. — Mas Cidade N é fria demais. — Ela riu baixinho, olhando para o chão. — Claro, aqui também é frio. Esse inverno... Parece que nunca vai acabar. Sua voz foi diminuindo aos poucos, até desapar
Zara ainda não gostava do País D. Mesmo que o lugar recebesse uma quantidade interminável de turistas todos os anos, e mesmo que as paisagens fossem realmente bonitas, Zara simplesmente não conseguia gostar dali. Naquele momento, tudo o que ela queria era voltar para Cidade N e para o pequeno apartamento alugado onde vivia sozinha. No entanto, assim que o avião pousou, os membros da família Garcia apareceram em sua porta. Vera estava em estado crítico. Apesar de Carlos ter se esforçado para encontrar um rim compatível para o transplante, até aquele momento ele não havia conseguido. Além disso, Zara era filha biológica de Vera e, do ponto de vista médico, era a melhor opção para a cirurgia. Zara foi praticamente forçada a entrar no carro. Quando viu Carlos, ela soltou uma risada fria: — O que foi? Vocês estão pensando em me amarrar na mesa de cirurgia? Carlos olhou para ela por um instante antes de acenar para que os outros saíssem da sala. Depois de ficarem sozinhos, ele