5-NOVO RUMO

BRIANA

Deixei a minha mãe no portão do sítio gritando e entrem na minha casa.

Foi quando recebi a ligação de um amigo de faculdade.

-Boa tarde Bri!

-Boa tarde Theu!

— Ouvi dizer que você procurou encrenca com gente grande.

— Gente grande, a minha mãe.

— Olha, a sua situação não está fácil, mas tenho uma dica de um trabalho.

— Se for aqui no estado, a pessoa nem vai responder-me.

— Fica tranquila, e do outro lado do país, na fazenda onde o "vaquinha" estava.

-Vixe, mas lá acho que o fazendeiro não vai querer uma veterinária mulher, já que sabemos como o "vaquinha" conseguiu o trabalho.

Falei gargalhando.

— Menina, tudo conversa, a coisa ficou feia com ele, o fazendeiro nunca soube quem ele era, apenas quando pegou ele e a noiva juntos, mandou os dois embora pelados de madrugada.

— Mais uma para a coleção do "vaquinha".

— Olha, eles dão bom salário, moradia, e tudo mais que precisar. Contratação imediata, eles precisam de um veterinário em menos de duas semanas lá.

— Eu chego em uma, passa o contato.

Ficamos a conversar um pouco, e assim que desliguei liguei para o contato do tal fazendeiro.

Mandei o meu currículo, e no dia seguinte, já enviaram um contrato que não poderia recusar, esse fazendeiro deve estar a precisar mesmo, ou é louco, deve ser louco, já que tinha o "vaquinha' na sua fazenda.

Assinei, fiz toda a parte burocrática, agora esse fazendeiro teria os serviços veterinários Shisten.

Fiz uma compra de móveis “online”, já contratando entrega, montagem, decoração, tudo novinho.

Haviam enviado fotos e medidas da casa onde iria morar, nossa, nova, linda, moderna até de mais para uma fazenda no meio do mato.

Eu gosto mais do estilo rústico mesmo, mas comprei a mobília conforme a casa.

Comprei também mantimentos, enxoval, algumas roupas, pois daqui iria levar pouco.

A viagem até lá levaria quatro dias de carro, seria mais rápido de avião, porém, não poderia levar "Precioso', o meu cavalo, e a minha Harley.

Informei o contato do fazendeiro que iria adiantar a minha ida, por isso a mudança já chegaria no outro dia.

Assim despedi de Ana e Damião, coloquei Precioso e a Harley na carretinha adaptada, onde tinha o espaço dela, e dele, garantindo que ele tivesse todo o conforto da viagem.

Conferi os medicamentos dele, um garanhão, totalmente negro, raro, lindo e elegante, o meu xôdo.

Segui viagem, após comprar um novo chip, fazendo paradas em pontos que sabia ter lugar para Precioso andar um pouco.

Foi uma viagem divertida, pude aproveitar o som alto da minha F1000, para pensar.

Lembrei-me do meu pai, da morte repentina dele.

Um assalto, nunca encontraram os bandidos, o que eles levaram, nada.

Tio Damião, até hoje diz ter dúvidas, eu também, mas a polícia não foi atrás.

O meu pai dizia que não fui uma filha difícil de criar, não fazia bagunça na escola, nunca quebrei nada, não era namoradora.

Um dia antes de morrer ele esteve no alojamento, e toda a vez que ele aparecia era uma festa, todos lá gostavam dele.

Mas, nesse dia ele perguntou se eu namorava, e não nunca namorei sério, um beijo aqui, outro ali, mas nem mão boba eu deixava rolar, não precisava de homem do meu lado para me divertir, foi assim que estou com os meus vinte e quatro anos virgem.

Quis saber por que ele queria saber se eu namorava, ele respondeu que havia visto o meu pretendente uma semana atrás, e como logo faria dezoito anos, iria nos apresentar.

Nunca conheci o tal rapaz, na verdade, papai disse que conhecia sim.

Mas, isso só papai poderia explicar-me.

Cheguei numa cidadezinha, município que ficava a fazenda, dei uma volta, achei o lugar lindo, parei numa venda.

Comprei legumes, verduras, e algumas besteiras que não havia levado, consegui chegar dois dias antes no lugar.

Fui informada que até a fazenda era mais uma hora de viagem, então segui.

Quando cheguei na entrada da fazenda, parei a camionete, subi no capô, olhando longe, o lugar era um paraíso, vi as casas da colônia, a mangueira grande, uma casa grande, e do lado uma casa queimada, achei estranho, só não vi a casa da foto, será que é a queimada, ria da minha sorte.

Descia quando um senhor de uns cinquenta anos, chegou perto de cavalo.

— Boa tarde menina, está perdida? — Ele falou sério olhando tudo, percebi que estava armado, então levantei as minhas mãos.

-Boa tarde senhor. Acredito que não esteja perdida se essa for a fazenda do senhor Nikolay Petronovsc.

— O que a moça deseja aqui na fazenda?

— Vim apresentar-me ao trabalho, sei que deveria chegar apenas daqui dois dias, mas adiantei-me.

— Trabalho? — Ele olhava para mim, sem acreditar o que ia fazer ali.

Detalhe sobre mim, tenho bem medidos um metro e cinquenta e dois centímetros, mas sempre estou de saltos, por isso parece que tenho um e sessenta.

— Sou Briana Shisten, a nova veterinária, estou com a cópia do contrato aqui.

— Veterinária? A menina que é o senhor Shisten?

— Sou a veterinária, sim, senhor Shisten, era o meu pai, eu posso chamar-me Briana, Ana, Bri, você, ou pode continuar com menina mesmo, acho que irei acostumar-me com esse apelido.

Ele parecia não saber o que fazer, foi quando Precioso fez barulho na carretinha.

-Calma Precioso! Senhor, preciso descer o meu cavalo, a viagem foi longa, disseram-me que teria um lugar para ele.

-O seu calavo chama Precioso?

— Sim, e se o senhor deixar a gente entrar, logo vai conhecê-lo, pois está impaciente para sair daqui.

— A moça pode seguir-me.

Ele abriu a porteira, e foi à frente, falando no rádio, com certeza com o patrão.

Parou ao lado do curral, eu desliguei o carro, fiz a minha oração de agradecimento, e já fui tirar Precioso.

Ali já tinham chegado outros peões, e até algumas mulheres.

Conforme o meu cavalo ia saindo, comecei a escutar "Preciosa! Preciosa! Preciosa!" Resolvi já esclarecer.

— Boa tarde, falei olhando para todos, é PreciosO!

Todos me olharam ainda mais assustados, o que será que viram.

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