BRIANA
Deixei a minha mãe no portão do sítio gritando e entrem na minha casa.
Foi quando recebi a ligação de um amigo de faculdade.
-Boa tarde Bri!
-Boa tarde Theu!
— Ouvi dizer que você procurou encrenca com gente grande.
— Gente grande, a minha mãe.
— Olha, a sua situação não está fácil, mas tenho uma dica de um trabalho.
— Se for aqui no estado, a pessoa nem vai responder-me.
— Fica tranquila, e do outro lado do país, na fazenda onde o "vaquinha" estava.
-Vixe, mas lá acho que o fazendeiro não vai querer uma veterinária mulher, já que sabemos como o "vaquinha" conseguiu o trabalho.
Falei gargalhando.
— Menina, tudo conversa, a coisa ficou feia com ele, o fazendeiro nunca soube quem ele era, apenas quando pegou ele e a noiva juntos, mandou os dois embora pelados de madrugada.
— Mais uma para a coleção do "vaquinha".
— Olha, eles dão bom salário, moradia, e tudo mais que precisar. Contratação imediata, eles precisam de um veterinário em menos de duas semanas lá.
— Eu chego em uma, passa o contato.
Ficamos a conversar um pouco, e assim que desliguei liguei para o contato do tal fazendeiro.
Mandei o meu currículo, e no dia seguinte, já enviaram um contrato que não poderia recusar, esse fazendeiro deve estar a precisar mesmo, ou é louco, deve ser louco, já que tinha o "vaquinha' na sua fazenda.
Assinei, fiz toda a parte burocrática, agora esse fazendeiro teria os serviços veterinários Shisten.
Fiz uma compra de móveis “online”, já contratando entrega, montagem, decoração, tudo novinho.
Haviam enviado fotos e medidas da casa onde iria morar, nossa, nova, linda, moderna até de mais para uma fazenda no meio do mato.
Eu gosto mais do estilo rústico mesmo, mas comprei a mobília conforme a casa.
Comprei também mantimentos, enxoval, algumas roupas, pois daqui iria levar pouco.
A viagem até lá levaria quatro dias de carro, seria mais rápido de avião, porém, não poderia levar "Precioso', o meu cavalo, e a minha Harley.
Informei o contato do fazendeiro que iria adiantar a minha ida, por isso a mudança já chegaria no outro dia.
Assim despedi de Ana e Damião, coloquei Precioso e a Harley na carretinha adaptada, onde tinha o espaço dela, e dele, garantindo que ele tivesse todo o conforto da viagem.
Conferi os medicamentos dele, um garanhão, totalmente negro, raro, lindo e elegante, o meu xôdo.
Segui viagem, após comprar um novo chip, fazendo paradas em pontos que sabia ter lugar para Precioso andar um pouco.
Foi uma viagem divertida, pude aproveitar o som alto da minha F1000, para pensar.
Lembrei-me do meu pai, da morte repentina dele.
Um assalto, nunca encontraram os bandidos, o que eles levaram, nada.
Tio Damião, até hoje diz ter dúvidas, eu também, mas a polícia não foi atrás.
O meu pai dizia que não fui uma filha difícil de criar, não fazia bagunça na escola, nunca quebrei nada, não era namoradora.
Um dia antes de morrer ele esteve no alojamento, e toda a vez que ele aparecia era uma festa, todos lá gostavam dele.
Mas, nesse dia ele perguntou se eu namorava, e não nunca namorei sério, um beijo aqui, outro ali, mas nem mão boba eu deixava rolar, não precisava de homem do meu lado para me divertir, foi assim que estou com os meus vinte e quatro anos virgem.
Quis saber por que ele queria saber se eu namorava, ele respondeu que havia visto o meu pretendente uma semana atrás, e como logo faria dezoito anos, iria nos apresentar.
Nunca conheci o tal rapaz, na verdade, papai disse que conhecia sim.
Mas, isso só papai poderia explicar-me.
Cheguei numa cidadezinha, município que ficava a fazenda, dei uma volta, achei o lugar lindo, parei numa venda.
Comprei legumes, verduras, e algumas besteiras que não havia levado, consegui chegar dois dias antes no lugar.
Fui informada que até a fazenda era mais uma hora de viagem, então segui.
Quando cheguei na entrada da fazenda, parei a camionete, subi no capô, olhando longe, o lugar era um paraíso, vi as casas da colônia, a mangueira grande, uma casa grande, e do lado uma casa queimada, achei estranho, só não vi a casa da foto, será que é a queimada, ria da minha sorte.
Descia quando um senhor de uns cinquenta anos, chegou perto de cavalo.
— Boa tarde menina, está perdida? — Ele falou sério olhando tudo, percebi que estava armado, então levantei as minhas mãos.
-Boa tarde senhor. Acredito que não esteja perdida se essa for a fazenda do senhor Nikolay Petronovsc.
— O que a moça deseja aqui na fazenda?
— Vim apresentar-me ao trabalho, sei que deveria chegar apenas daqui dois dias, mas adiantei-me.
— Trabalho? — Ele olhava para mim, sem acreditar o que ia fazer ali.
Detalhe sobre mim, tenho bem medidos um metro e cinquenta e dois centímetros, mas sempre estou de saltos, por isso parece que tenho um e sessenta.
— Sou Briana Shisten, a nova veterinária, estou com a cópia do contrato aqui.
— Veterinária? A menina que é o senhor Shisten?
— Sou a veterinária, sim, senhor Shisten, era o meu pai, eu posso chamar-me Briana, Ana, Bri, você, ou pode continuar com menina mesmo, acho que irei acostumar-me com esse apelido.
Ele parecia não saber o que fazer, foi quando Precioso fez barulho na carretinha.
-Calma Precioso! Senhor, preciso descer o meu cavalo, a viagem foi longa, disseram-me que teria um lugar para ele.
-O seu calavo chama Precioso?
— Sim, e se o senhor deixar a gente entrar, logo vai conhecê-lo, pois está impaciente para sair daqui.
— A moça pode seguir-me.
Ele abriu a porteira, e foi à frente, falando no rádio, com certeza com o patrão.
Parou ao lado do curral, eu desliguei o carro, fiz a minha oração de agradecimento, e já fui tirar Precioso.
Ali já tinham chegado outros peões, e até algumas mulheres.
Conforme o meu cavalo ia saindo, comecei a escutar "Preciosa! Preciosa! Preciosa!" Resolvi já esclarecer.
— Boa tarde, falei olhando para todos, é PreciosO!
Todos me olharam ainda mais assustados, o que será que viram.
BRIANAEstá já incomodada com aquele povo olhando para o cavalo, e para mim também, então escutei.— Lúcio, porque Preciosa está aqui fora, Niko, não havia levado ela.— Senhora Tatiana, ele levou, esse é o Precioso, da menina Briana, a nova veterinária.A mulher lançou um sorriso cativante na minha direção. Depois começou a gargalhar.Qual a graça? Eu perguntei na minha cabeça. Enquanto ela caminhava na minha direção.-Bem vinda Briana. Mas, todos aqui esperávamos um tal senhor Shistens. A mulherada até especulava se seria novo velho, bonito, solteiro, casado. Então aparece uma menina linda, que ainda traz um cavalo que é a cópia da égua de estimação do meu neto Nikolay, e para ficar mais divertido, o nome é do seu cavalo é Precioso, a égua é Preciosa. Eu sou Tatiana, mas pode chamar-me vovó Tati.— Obrigada por esclarecer vovó Tati, Shistens, é o meu sobrenome, acho que acabei atrapalhando você chegando antes.— De forma nem uma, agora vamos colocar o Precioso, onde possa descansar
BRIANANaquela primeira noite na fazenda não dormi, busquei nas minhas coisas um café solúvel, energético, e me coloquei a trabalhar.Primeiro problemas, o esperto do "vaquinha" havia recebido um aviso de vistoria, que ia acontecer em dois dias. Por que isso é problema? Simples, aqui não tem nada certo, se os fiscais virem isso além de uma multa grande a fazenda vai entrar em quarentena, sem poder vendar nada.Segundo problema, as notas dos medicamentos veterinários, eram falsas, nem precisava ser um génio para descobrir isso, ou seja, ele comprou de contrabando, mas as notas originais estavam ali, ele comprava e vendia os legais, e para uso da fazenda usava os falsos.Os medicamentos eram falsos, com datas de validade vencidas, frascos m@l armazenados.Os kits do laboratório também estavam na mesma situação.Tabelas com a vacinação do rebanho, desatualizada, era impossível saber o que era certo, ou errado ali, sem falar que se receberam vacinação falsa, precisariam receber uma dose d
BRIANAO meu pai sempre dizia que o importante era saber quem sabe, não apenas saber tudo. Ter influência, conhecer pessoas, ajuda muito em situações como a de agora. Eu conheço pessoas, não terei vergonha de pedir ajuda.Com esse pensamento, resolvi ligar para um conhecido.Ele era o maior fornecedor de produtos veterinários desse estado.Estava no último ano da faculdade, quando eu estava no segundo e conhecemos.Nunca gostei do papo dele, que sempre me cortejou, mas nem um beijo ganhou o coitado, ainda mais quando a namorada apareceu gravida, ai que não quis saber dele.Para a sorte dele, o sogro era representante de produtos veterinários, e trouxe ele para cuidar dos negócios.Porém, todas as vezes que ia visitar a família na nossa cidade, sempre achava um jeito de me ver.— Bom dia Otávio!-Bom dia Briana! Como é bom ouvir a sua voz.— Ainda descubro para quantas você fala isso.— Apenas para você. Diz o que você quer, que eu providencio.— Otávio, estou a tentar arrumar a bagunç
Segui com vovó na moto para a cidade, exatos vinte cinco minutos até a entrada da cidade.Já na cidade seguimos direto para o cartório.O advogado estacionava, então parei ao lado dele, vovó já foi a cumprimentar animada.-Quase chegamos antes de você.— Tatiana, você veio de moto? Nikolay irá ficar uma fera.— Vai não, sei que logo o meu neto vai estar e domado e mansinho.Ela olhou para mim, que não entendi nada.Depois das apresentações seguimos para assinar a papelada.O cartório fechou as portas, mas continuamos ali dentro.Os donos eram conhecidos de dona Tatiana, deixaram que terminássemos tudo.Saindo dali seguimos para o escritório do doutor Osvaldo.— Senhorita Briana você sabe que os produtos precisam estar na fazenda amanhã.-Eles estarão! -Falei com firmeza passando tranquilidade.— O pessoal que pode fornecer tudo isso e difícil de lidar. Gostam de prazos.— Pode ficar tranquilo. Já enviei por email tudo que eles precisam. Já recebi a confirmação.— Tatiana se essa moça
BRIANASeguimos para a pista.O avião já havia pousado, vi de longe Otávio descendo, assim que me viu ficou a acenar com a mão.— Bom tarde homem de palavra.— Bom tarde, mulher linda.Ele caminhou até onde estava, Precioso recuou.— Esse cavalo tem uma personalidade forte. Só não mais forte que a dona.Ele era patético, ficava a fazer sorrisinhos, piadinhas com um olhar falso de apaixonado.Para me salvar vovó chegou sorridente.— Boa tarde doutor Otávio.-Boa tarde dona Tatiana. Prazer em conhecê-la. Onde está Nikolay?— Surgiu uma emergência na fazenda Floresta. Ele precisou ir às pressas para lá. Mas deixou a nossa Briana cuidando de tudo.Lúcio chegou com o caminhão para buscar toda a encomenda.Deixamos ele ali e seguimos para a sede da fazenda, Otávio foi com vovó Tatiana, eu lembrei que ele sempre falava da lembrança de infância quando andava de charrete com os avôs.Chegando na sede uma bela mesa de café da tarde esperava por nós.-Briana linda, você é uma bruxinha. Está a qu
BRIANAVoltamos para a mangueira, pedi que vovó ficasse para estar presente nas primeiras vacinas, pedi que me esperassem.Fui ao meu quartinho tirei a minha roupa de "piriguete boiadeira", coloquei a roupa de trabalho e já voltei com os meus ajudantes e todo material para vacinação.Meire ficaria responsável por registar alguns momentos, fiz todos assinarem termos de autorização de imagem, na verdade, ficaram animados em saber que iríamos filmar eles trabalhando, e iriam para as redes sociais.Pedi que toda a equipe ficasse ao fundo, Lúcio e Vovó ao meu lado e pedi que Meire começasse a filmar.Suspirei e já fui a começar a falar."Olá, estamos aqui na Fazenda "DOM MIRA", ou "CASA DA PAZ', de propriedade de Nikolay Petronovsc, que vai estar com a equipe logo, mas deixou aqui a sua simpática avó dona Tatiana Petronovsc, a matriarca da família. Também o administrador dessa fazenda o senhor Lúcio, e parte da equipe da fazenda, diz um oi aí pessoal...."Fui a falar sobre o trabalho que e
BRIANAEstou nervosa, sim, muito, mas agora era hora de colocar a confiança como mascara, pois o pessoal da fazenda sabe bem o que essa fiscalização significa.Acordei cedo como sempre, e fui buscar o meu leite, o seu "Papinho", quem tira para mim, os outros falam que ele tem muita conversa e pouca ação na lida, mas gosto da conversa dele riu sempre com a suas histórias, a esposa dele, dona Rebeca, hoje mandou doce de goiaba para mim.Segui para casa de vovó, irei tomar o café mais cedo.Assim fazemos, m@l o sol nasceu, já estamos com gado na mangueira, já começando a vacinação, registro de cada animal da fazenda.Fiz questão de instalar um equipamento que já vai a esterilizar os animais na entrada da mangueira e na saída, assim não corremos o risco de contaminação.Na página na ‘internet’, fiz questão de mencionar o @ de cada marca de produto usado aqui, e também o nosso fornecedor.Que já mandou dizer que assim que o "meu namorado" voltar ele quer um vídeo dele também, e que tem uma
BRIANAUma hora depois eles chegaram, eu havia ficado para o último turno de almoço, já para atende-los.Fui até onde estavam.O rosto dos dois quando escutaram o meu cumprimento foi um espanto só.— Bom dia mestra Dolores! Bom dia colega Pablo! Fizeram uma boa viagem até aqui.-Briana, você veio longe para se livrar da sua mãe. Fico feliz em poder avaliar-lhe mais uma vez.Dolores falou tirando o jeito durona e vindo abraçar-me.— Queria estar lá para dar uns tapas em Laura, ela perdeu todo o juízo de vez.— Queria que estivesse.-Briana, minha diva, olha onde estamos.Ele fez uma pequena reverência na minha frente, pegou a minha mão depositando um beijo molhado de mais, mas agora não ia poder limpar a mão como já fiz no passado.— Olha, acho que ganhei um ponto, ela não limpou.— Acho que o único ponto que você tem aqui e por ser um dos avaliadores dela, apenas isso. Mas Briana, limpe logo, esta dando para ver a baba dele daqui.Nem pensei duas vezes, joguei álcool na minha mão, tir