BRIANA
Naquela primeira noite na fazenda não dormi, busquei nas minhas coisas um café solúvel, energético, e me coloquei a trabalhar.
Primeiro problemas, o esperto do "vaquinha" havia recebido um aviso de vistoria, que ia acontecer em dois dias. Por que isso é problema? Simples, aqui não tem nada certo, se os fiscais virem isso além de uma multa grande a fazenda vai entrar em quarentena, sem poder vendar nada.
Segundo problema, as notas dos medicamentos veterinários, eram falsas, nem precisava ser um génio para descobrir isso, ou seja, ele comprou de contrabando, mas as notas originais estavam ali, ele comprava e vendia os legais, e para uso da fazenda usava os falsos.
Os medicamentos eram falsos, com datas de validade vencidas, frascos m@l armazenados.
Os kits do laboratório também estavam na mesma situação.
Tabelas com a vacinação do rebanho, desatualizada, era impossível saber o que era certo, ou errado ali, sem falar que se receberam vacinação falsa, precisariam receber uma dose de reforço de tudo com uma urgência enorme.
Passei a noite em claro, analisando tudo, procurando soluções. Não queria mostrar apenas os erros ali, mas já ter em mãos algumas alternativas para resolver.
Às cinco da manhã, escutei o barulho dos peões no curral tirando o leite.
Preparei mais um café solúvel na minha garrafinha, e fui até lá, eles se assustaram quando me viram.
-Bom dia gente!
— BOM DIA MOÇA!
— Algum de vocês poderia tirar o leite aqui na minha garrafa de café.
— Já vamos levar o leite para Joana preparar o café da manhã lá na casa.
— Não irei à casa agora de manhã, preciso terminar um serviço.
— A moça não liga de tomar o leite direto da t*** da vaca não? — Um meio duvidoso perguntou.
— Cresci bebendo leite só assim. Na verdade, acho que não deu certo, porque não cresci.
Tirei risada de todos.
— Essa é das nossas, daqui que vou tirar o leite para a menina, vai dizer que também coloca um conhaque junto?
— Hoje não, o meu acabou. Então vai ter que servir o whisky mesmo.
Enquanto o moço tirava o leite, falei com Lúcio:
— Senhor Lúcio, por favor, avise a vovó que não ire tomar café, mas que ela assim que possível venha até aqui, e o senhor também.
— A menina acordou cedo.
— Na verdade, nem dormi, e talvez na próxima noite, nem vocês consigam dormir também.
Voltei para a farmácia, fui já elaborando algumas sugestões para resolver os problemas.
Era oito horas quando vovó chegou, com o meu café da manhã.
— Bom dia Bri, deve ser muito sério o que tem para falar, mas me recuso a escutar, sem antes ver você comer tudo isso, quero você saudável.
— Bom dia vovó, a sua bênção!
Falei tirando um sorriso dela, apenas fiz por respeito, e bênção sempre é bom.
— Deus te abençoe a minha neta, verdade que você não dormiu.
— Verdade, quis adiantar algumas coisas, precisamos resolver algumas situações.
Comi o saboroso café da manhã, e Lúcio chegou para conversarmos.
— Bem em primeiro lugar, não sei como vocês aceitaram o "vaquinha" aqui.
-QUEM?
— O antigo veterinário, o Rubens, na faculdade ele tem o apelido de "vaquinha"
— Não sei se irei querer saber o porquê? — O senhor Lúcio falou com uma cara feia.
— Eu que não ia ter coragem de contar. Mas, o que vale e que ele tem uma ficha grande de coisa errada.
Então comecei a explicar toda a bagunça que Rubens havia deixado.
Vovó até chorou nervosa. Aquilo doeu-me.
Quando terminei Lúcio fez a pergunta chave:
— Isso pode dar problemas para o patrão?
— Muitos, e para mim também se não fizer a denúncia.
— O que iremos fazer? Niko está sem comunicação.
— Na ausência dele quem assina os documentos?
-Sou eu.
— Tenho algumas soluções.
— Por favor, a minha neta pode falar.
— A primeira seria abrir uma ocorrência, com testemunhas, vamos conseguir colocar toda a culpa em Rubens. No muito o seu neto ficará com uma multa muito alta. Sem falar que ficará no mínimo dois anos sem poder comercializar o rebanho, o que vai ser um grande prejuízo.
-Isso seria terrivel. Tem outra saída.
— Tem, não é legal. Porém, se apenas nós três soubermos vai dar certo.
— Qual séria menina?
-Voces colocaram fogo na casa onde Rubens morava?
-Sim.
— Os entulhos continuam lá?
— Sim, vamos limpar quando Nikolay voltar.
-Ótimo! Primeiro passo seria jogar todos os remédios e equipamentos lá, e colocar fogo novamente. Faço um relatório, pedindo urgência de tudo que precisa aqui, dizendo que o material que tinha foi destruído na casa queimada, pois o Rubens pretendia roubar como fazia sempre. Vou mandar esse relatório de compra de emergência para um fornecedor que conheço, e fará a entrega até amanhã a tarde. Para isso precisamos de um documento com tudo que precisa, e também um boletim de ocorrência do sumiço dos produtos. Farei aos órgãos competentes um requerimento de vacinar todo o rebanho novamente. Farei isso, e assim amanhã quando chegar os produtos já iniciamos a vacinação. Essa precisa ser feita com certeza. Pois não sabemos o que o gado recebeu anteriormente.
— Você faria isso por nós?
— Claro, o que vocês tiveram aqui foi roubo, gostaria de o "vaquinha' preso, mas isso irá prejudicar ainda mais vocês.
— Não tem outro jeito, precisa comprar tudo realmente, e precisa fazer a vacinação. O que estaremos a omitir do fiscal será sobre esses remédios aqui.
— Então quando podemos tirar as coisas daqui.
— Agora, eu vou arrumar a parte burocrática, por favor passe o contato do advogado de vocês, se ele for rápido ainda hoje poderemos pedir os produtos.
Assim, vovó e Lúcio começaram tirar tudo e colocar numa camionete, para levar até a casa que iria ser incendiada pela segunda vez.
O que aconteceu nessa fazenda foi uma injustiça, o fazendeiro confiou em Rubens, mas esse usou o nome e prestígio de Nikolay apenas para ganhar dinheiro. Vou ajudá-los.
BRIANAO meu pai sempre dizia que o importante era saber quem sabe, não apenas saber tudo. Ter influência, conhecer pessoas, ajuda muito em situações como a de agora. Eu conheço pessoas, não terei vergonha de pedir ajuda.Com esse pensamento, resolvi ligar para um conhecido.Ele era o maior fornecedor de produtos veterinários desse estado.Estava no último ano da faculdade, quando eu estava no segundo e conhecemos.Nunca gostei do papo dele, que sempre me cortejou, mas nem um beijo ganhou o coitado, ainda mais quando a namorada apareceu gravida, ai que não quis saber dele.Para a sorte dele, o sogro era representante de produtos veterinários, e trouxe ele para cuidar dos negócios.Porém, todas as vezes que ia visitar a família na nossa cidade, sempre achava um jeito de me ver.— Bom dia Otávio!-Bom dia Briana! Como é bom ouvir a sua voz.— Ainda descubro para quantas você fala isso.— Apenas para você. Diz o que você quer, que eu providencio.— Otávio, estou a tentar arrumar a bagunç
Segui com vovó na moto para a cidade, exatos vinte cinco minutos até a entrada da cidade.Já na cidade seguimos direto para o cartório.O advogado estacionava, então parei ao lado dele, vovó já foi a cumprimentar animada.-Quase chegamos antes de você.— Tatiana, você veio de moto? Nikolay irá ficar uma fera.— Vai não, sei que logo o meu neto vai estar e domado e mansinho.Ela olhou para mim, que não entendi nada.Depois das apresentações seguimos para assinar a papelada.O cartório fechou as portas, mas continuamos ali dentro.Os donos eram conhecidos de dona Tatiana, deixaram que terminássemos tudo.Saindo dali seguimos para o escritório do doutor Osvaldo.— Senhorita Briana você sabe que os produtos precisam estar na fazenda amanhã.-Eles estarão! -Falei com firmeza passando tranquilidade.— O pessoal que pode fornecer tudo isso e difícil de lidar. Gostam de prazos.— Pode ficar tranquilo. Já enviei por email tudo que eles precisam. Já recebi a confirmação.— Tatiana se essa moça
BRIANASeguimos para a pista.O avião já havia pousado, vi de longe Otávio descendo, assim que me viu ficou a acenar com a mão.— Bom tarde homem de palavra.— Bom tarde, mulher linda.Ele caminhou até onde estava, Precioso recuou.— Esse cavalo tem uma personalidade forte. Só não mais forte que a dona.Ele era patético, ficava a fazer sorrisinhos, piadinhas com um olhar falso de apaixonado.Para me salvar vovó chegou sorridente.— Boa tarde doutor Otávio.-Boa tarde dona Tatiana. Prazer em conhecê-la. Onde está Nikolay?— Surgiu uma emergência na fazenda Floresta. Ele precisou ir às pressas para lá. Mas deixou a nossa Briana cuidando de tudo.Lúcio chegou com o caminhão para buscar toda a encomenda.Deixamos ele ali e seguimos para a sede da fazenda, Otávio foi com vovó Tatiana, eu lembrei que ele sempre falava da lembrança de infância quando andava de charrete com os avôs.Chegando na sede uma bela mesa de café da tarde esperava por nós.-Briana linda, você é uma bruxinha. Está a qu
BRIANAVoltamos para a mangueira, pedi que vovó ficasse para estar presente nas primeiras vacinas, pedi que me esperassem.Fui ao meu quartinho tirei a minha roupa de "piriguete boiadeira", coloquei a roupa de trabalho e já voltei com os meus ajudantes e todo material para vacinação.Meire ficaria responsável por registar alguns momentos, fiz todos assinarem termos de autorização de imagem, na verdade, ficaram animados em saber que iríamos filmar eles trabalhando, e iriam para as redes sociais.Pedi que toda a equipe ficasse ao fundo, Lúcio e Vovó ao meu lado e pedi que Meire começasse a filmar.Suspirei e já fui a começar a falar."Olá, estamos aqui na Fazenda "DOM MIRA", ou "CASA DA PAZ', de propriedade de Nikolay Petronovsc, que vai estar com a equipe logo, mas deixou aqui a sua simpática avó dona Tatiana Petronovsc, a matriarca da família. Também o administrador dessa fazenda o senhor Lúcio, e parte da equipe da fazenda, diz um oi aí pessoal...."Fui a falar sobre o trabalho que e
BRIANAEstou nervosa, sim, muito, mas agora era hora de colocar a confiança como mascara, pois o pessoal da fazenda sabe bem o que essa fiscalização significa.Acordei cedo como sempre, e fui buscar o meu leite, o seu "Papinho", quem tira para mim, os outros falam que ele tem muita conversa e pouca ação na lida, mas gosto da conversa dele riu sempre com a suas histórias, a esposa dele, dona Rebeca, hoje mandou doce de goiaba para mim.Segui para casa de vovó, irei tomar o café mais cedo.Assim fazemos, m@l o sol nasceu, já estamos com gado na mangueira, já começando a vacinação, registro de cada animal da fazenda.Fiz questão de instalar um equipamento que já vai a esterilizar os animais na entrada da mangueira e na saída, assim não corremos o risco de contaminação.Na página na ‘internet’, fiz questão de mencionar o @ de cada marca de produto usado aqui, e também o nosso fornecedor.Que já mandou dizer que assim que o "meu namorado" voltar ele quer um vídeo dele também, e que tem uma
BRIANAUma hora depois eles chegaram, eu havia ficado para o último turno de almoço, já para atende-los.Fui até onde estavam.O rosto dos dois quando escutaram o meu cumprimento foi um espanto só.— Bom dia mestra Dolores! Bom dia colega Pablo! Fizeram uma boa viagem até aqui.-Briana, você veio longe para se livrar da sua mãe. Fico feliz em poder avaliar-lhe mais uma vez.Dolores falou tirando o jeito durona e vindo abraçar-me.— Queria estar lá para dar uns tapas em Laura, ela perdeu todo o juízo de vez.— Queria que estivesse.-Briana, minha diva, olha onde estamos.Ele fez uma pequena reverência na minha frente, pegou a minha mão depositando um beijo molhado de mais, mas agora não ia poder limpar a mão como já fiz no passado.— Olha, acho que ganhei um ponto, ela não limpou.— Acho que o único ponto que você tem aqui e por ser um dos avaliadores dela, apenas isso. Mas Briana, limpe logo, esta dando para ver a baba dele daqui.Nem pensei duas vezes, joguei álcool na minha mão, tir
NIKOLAYAcho que pisei em rabo de cobra, muita tempestade ao mesmo tempo.Ser traído, por ele que acreditava ser meu amigo.Ela nunca foi nada para mim, ia casar por conta da besteira que achava ter feito.Ai, precisei contratar um veterinário que nem conheço, espero que esteja tudo certo na fazenda.Para ajudar a minha fazenda nova, sofreu muito por culpa de proprietários sem consciência ecológica.O vizinho tinha uma barragem ilegal, que rompeu invadindo várias outras propriedades, entre elas a minha.Toda a região ficou no escuro, perdi parte do rebanho.Casas dos trabalhadores destruídas.Juntei alguns homens e viemos para ca.Sem comunicação por mais de dez dias.Porém, já conseguimos reorganizar o gado, consertar algumas casas.Comprei móveis novos para todos os funcionários prejudicados. Dei uma bonificação em dinheiro também.Sei que vou precisar voltar logo aqui, com o veterinário, quero deixar tudo organizado.Estamos agora voltando para o lugar onde chamo lar.Estamos no ca
NIKOLAYQuando ela chega mais próximo, percebo que ela é um mulher linda do c*****, com aquele queixo empinado, jeito de quem não aceita ordens, nunca foi domada, dá-me umas coisas, que me preciso controlar, pois a minha vontade era já pegar naquele queixo e dar um beijo naquela boca.-Nikolay querido, essa é a veterinária Briana Shistens! — Vovó fala com um sorriso largo de mais, para o meu gosto.A pequena me estende a mão, que olho sem ainda acreditar, como assim? Veterinária, essa menina.— Boa noite, senhor Nikolay!Pego aquela mão pequena e macia, já imaginei ela segurando outra parte do meu corpo, para Nikolay, virou um tarado agora, nunca foi assim.— Boa noite! Mas?Ela solta a minha mão, olhou para minha avó:— Vovó, não irei jantar, ganhei um pão e doce de Rebeca, e preciso terminar uns relatórios, sem falar que isso vai ser bom, pois acredito que precisa tirar algumas dúvidas do lobisomem aqui, quer dizer do seu neto. Boa noite para vocês!Vovó riu da fala dela, que saiu r