Eu entrei no carro e olhei pra Ana que estava sentada do meu lado, ela estava olhando pela janela do carro evitando fazer contato visual comigo.— Valente, use o carro do Félix pra ir com os outros, eu vou sozinho nesse com a Ana.— Tudo bem.Quando o Valente se distanciou, eu voltei a olhar pra ela.— Você está bem?Ela balançou a cabeça, mas continuava sem olhar pra mim.— Você quer olhar pra mim, por favor?— Eu acho bom a gente sair logo daqui.— Olha pra mim, Ana.Ela finalmente olhou, e os olhos dela estavam vermelhos, como se ela estivesse tentando segurar as lágrimas a todo custo.— Eles te machucaram?— Não mais do que você.— Você acha que está sendo fácil pra mim descobrir que fui enganado por pessoas que eu tinha toda a confiança? E que você preferiu fugir a ser sincera comigo? Eu fico me perguntando até que ponto você sabe Ana, porque eu estou lutando contra um dever meu por você, se você fizesse isso com qualquer outro mafioso, você estaria morta.— E qual é a diferença
KALL..Eu não poderia mais fugir das mentiras que me cercavam, eu estava diante da única pessoa que eu fui capaz de amar na vida, e ela não poderia estar mentindo pra mim, não quando o olhar dela revelava que ela também nutria sentimentos por mim, aquele olhar revelava o que a boca dela ainda não havia sido capaz de admitir, alguém que não nutria nenhum sentimento por mim, jamais ficaria tão magoada com a possibilidade de eu ter transado com alguém, então qualquer coisa que ela falasse pra mim, eu tinha certeza que era real, talvez fosse esse o meu receio, de perguntar tudo o que eu não sabia, e receber uma pancada tão forte que me deixasse incapaz de levantar, mas mesmo correndo o risco, eu tinha que perguntar, eu precisava ouvir da boca dela todas as mentiras que me cercavam.— Porquê você está falando assim do meu pai? Que tipo de mentira ele contou? Qual a história que te contaram que te fez falar isso com tanta convicção?Em uma questão de segundos, a tensão entre nós multiplic
ANA..Eu pensei que ver o Kall fosse um delírio, mas quando senti os braços do Valente me segurando, eu percebi que os dois realmente estavam lá.Eu olhei pro lado e vi o Kall esmurrando o empresário, e o Valente gritando pra ele parar, ele estava furioso.— Ana, peça pra ele parar, nós precisamos dele vivo, ele tem informações importantes.Mesmo sem forças, eu pedi, e como num passe de mágica, ele parou.Talvez o Valente tivesse razão quando escolheu a mim pra contar toda a verdade, pois eu vi com os meus próprios olhos o quanto eu tinha influência sobre as atitudes do Kall.Quando já estávamos no carro, o Kall pediu pro Valente e os outros irem em outro carro, e logo eu entendi que ele queria ficar sozinho comigo.Apesar dele ter me salvado, eu não conseguia olhar pra ele, tudo o que eu conseguia pensar era que ele havia trepado com outra no meu quarto, na minha cama, e nem ao menos havia pensado no quanto aquilo iria me afetar.Com a insistência dele, eu o encarei, sem conseguir
Antes daquele encontro, quando eu soube que tinha um avô, senti uma mistura de emoção e raiva, emoção por ter alguém por mim, e raiva por ter permitido que o meu pai passasse boa parte da vida se sacrificando pra prender bandidos que nunca foram encontrados, afinal a intenção era encontrar os cabeças da rede de tráfico.Eu me aproximei aos poucos, passando na cabeça todas as coisas que eu gostaria de falar, mas antes de pronunciar a primeira palavra, ele falou comigo.— Ana, minha adorável Ana.Eu olhei pro chão e fiquei pensando se eu deveria dizer que eu não tinha nada de adorável, mas ele segurou pelo o meu queixo e me fez olhá-lo, e o olhar dele com vestígios de lágrimas me fizeram amolecer, foi algo totalmente fora do meu controle.— Eu sinto muito por tudo o que você está passando, Ana, e por todos os anos em que você não pôde fazer coisas que garotas da sua idade gostam de fazer, e eu espero que um dia você possa me perdoar.Sem dizer nenhuma palavra eu o abracei, e pela primei
KAL..Talvez eu tivesse tido uma vida melhor se a minha mãe não tivesse sido morta tão covardemente, talvez eu fosse uma boa pessoa e tivesse sonhos possíveis de realizar, talvez eu não precisasse me esconder e tivesse uma vida normal, talvez eu pudesse ir pras festas e pudesse sair com uma garota legal, sem me preocupar com o que poderia acontecer, talvez em vez de ter o título de mafioso mas temido da Itália, eu tivesse o título de melhor aluno, ou de melhor funcionário, ou de melhor empresário, talvez eu tivesse dignidade o suficiente pra ter um filho e servir de exemplo pra ele, e talvez eu pudesse ser feliz de verdade.Passar horas dentro de um carro repassando todas as informações que eu ouvi da Ana, me fez pensar mais na vida, do que todos os anos em que estive na mira dos meus inimigos, nada me motivou tanto a pensar no que eu queria ser de verdade.Antes de ir pra casa, eu parei em um lugar de festas noturnas, eu nunca havia ido em um lugar como aquele, eu entrei e olhei pr
A resposta do Valente fez com que todas as minhas reações fizessem uma longa pausa, eu parei literalmente de pensar em todas as outras coisas e me prendi a um único pensamento.— Lion? Não, não pode ser. Como?Receber uma ligação do inferno não era algo possível, eu apenas ironizei algo que parecia ter sido um sonho, quando na verdade tinha tudo pra ser real.De repente todas as lembranças da doença do Lion e da rapidez que ele morreu começaram a se amontoar na minha mente, e exatamente nada se encaixava.— Que porra está acontecendo caralho?Perguntei a mim mesmo ao perceber que quanto mais eu buscava por respostas, mas suja aquela história ficava.Eu saí do quarto e procurei o Rony, que estava cuidando de uma entrega.— Rony?— Sim senhor.— Preciso que traga pra mim os homens que trabalhavam diretamente com o Lion.— Os que levavam a Ana pra universidade?— Sim.Ele se retirou, e eu fiquei aguardando no gramado na parte externa da casa.— Tá faltando um senhor.— E onde ele está?—
Pedir desculpas por toda a minha covardia era o mínimo que eu podia fazer, eu finalmente entendi que eu não era o único que estava sofrendo com toda aquela situação, a Ana também estava, no entanto ela estava se mantendo forte, e eu precisava me manter também.— Me perdoa Ana.Ela me abraçou mais forte, e ficou um bom tempo assim até que eu estivesse completamente calmo.Nós dois nos olhamos, e eu queria contar sobre o pai dela, mas pelo o que entendi, aquele não era o momento pra revelar nada.— Você consegue entender o quanto isso é perigoso?— Sim, mas foi a minha família quem começou tudo isso, e eu vou colocar um ponto final.— O meu avô falou pra resgatar a minha mãe e a Sam?— Falou, e amanhã mesmo eu farei isso.— Eu vou com você.— Não vai não.Eu me levantei do chão de forma brusca, e ela se levantou logo em seguida e me encarou com aquele olhar desafiador.— Eu vou sim.— Por favor, Ana, não é o momento pra teimosia.— Então eu vou e não se fala mais nisso.— Olha como está
ANA..Aquela sensação e aquele ambiente tão acolhedor, aquele cheiro de torradas e de café recém saído do fogo fez os meus olhos ficarem marejados, eu cheguei na porta da cozinha e vi aquela senhora preparando a mesa calmamente e pensei: " Então é essa a sensação de ter uma avó"...Pra alguém que nunca teve aquilo, era natural se emocionar.O sorriso e o olhar amoroso dela quando me viu me desmontou inteira, e algumas lágrimas furtivas acabaram escorrendo pelos meus olhos.— Que bom que você acordou meu amor, venha tomar o seu café da manhã.Eu caminhei em direção a ela, e beijei a mão dela pedindo sua benção, e ela acabou reparando nas lágrimas.— Porque você está chorando? — A senhora promete viver por mais uns 100 anos pra gente aproveitar o tempo perdido?— Eu prometo que vou me esforçar meu amor.Ela falou me dando um abraço com aqueles braços pequenos que mal me cabiam dentro, mas foi o suficiente pra me preencher por completo.Como eu pude sentir tanta saudade do que eu nunc