ANA..Eu pensei que ver o Kall fosse um delírio, mas quando senti os braços do Valente me segurando, eu percebi que os dois realmente estavam lá.Eu olhei pro lado e vi o Kall esmurrando o empresário, e o Valente gritando pra ele parar, ele estava furioso.— Ana, peça pra ele parar, nós precisamos dele vivo, ele tem informações importantes.Mesmo sem forças, eu pedi, e como num passe de mágica, ele parou.Talvez o Valente tivesse razão quando escolheu a mim pra contar toda a verdade, pois eu vi com os meus próprios olhos o quanto eu tinha influência sobre as atitudes do Kall.Quando já estávamos no carro, o Kall pediu pro Valente e os outros irem em outro carro, e logo eu entendi que ele queria ficar sozinho comigo.Apesar dele ter me salvado, eu não conseguia olhar pra ele, tudo o que eu conseguia pensar era que ele havia trepado com outra no meu quarto, na minha cama, e nem ao menos havia pensado no quanto aquilo iria me afetar.Com a insistência dele, eu o encarei, sem conseguir
Antes daquele encontro, quando eu soube que tinha um avô, senti uma mistura de emoção e raiva, emoção por ter alguém por mim, e raiva por ter permitido que o meu pai passasse boa parte da vida se sacrificando pra prender bandidos que nunca foram encontrados, afinal a intenção era encontrar os cabeças da rede de tráfico.Eu me aproximei aos poucos, passando na cabeça todas as coisas que eu gostaria de falar, mas antes de pronunciar a primeira palavra, ele falou comigo.— Ana, minha adorável Ana.Eu olhei pro chão e fiquei pensando se eu deveria dizer que eu não tinha nada de adorável, mas ele segurou pelo o meu queixo e me fez olhá-lo, e o olhar dele com vestígios de lágrimas me fizeram amolecer, foi algo totalmente fora do meu controle.— Eu sinto muito por tudo o que você está passando, Ana, e por todos os anos em que você não pôde fazer coisas que garotas da sua idade gostam de fazer, e eu espero que um dia você possa me perdoar.Sem dizer nenhuma palavra eu o abracei, e pela primei
KAL..Talvez eu tivesse tido uma vida melhor se a minha mãe não tivesse sido morta tão covardemente, talvez eu fosse uma boa pessoa e tivesse sonhos possíveis de realizar, talvez eu não precisasse me esconder e tivesse uma vida normal, talvez eu pudesse ir pras festas e pudesse sair com uma garota legal, sem me preocupar com o que poderia acontecer, talvez em vez de ter o título de mafioso mas temido da Itália, eu tivesse o título de melhor aluno, ou de melhor funcionário, ou de melhor empresário, talvez eu tivesse dignidade o suficiente pra ter um filho e servir de exemplo pra ele, e talvez eu pudesse ser feliz de verdade.Passar horas dentro de um carro repassando todas as informações que eu ouvi da Ana, me fez pensar mais na vida, do que todos os anos em que estive na mira dos meus inimigos, nada me motivou tanto a pensar no que eu queria ser de verdade.Antes de ir pra casa, eu parei em um lugar de festas noturnas, eu nunca havia ido em um lugar como aquele, eu entrei e olhei pr
A resposta do Valente fez com que todas as minhas reações fizessem uma longa pausa, eu parei literalmente de pensar em todas as outras coisas e me prendi a um único pensamento.— Lion? Não, não pode ser. Como?Receber uma ligação do inferno não era algo possível, eu apenas ironizei algo que parecia ter sido um sonho, quando na verdade tinha tudo pra ser real.De repente todas as lembranças da doença do Lion e da rapidez que ele morreu começaram a se amontoar na minha mente, e exatamente nada se encaixava.— Que porra está acontecendo caralho?Perguntei a mim mesmo ao perceber que quanto mais eu buscava por respostas, mas suja aquela história ficava.Eu saí do quarto e procurei o Rony, que estava cuidando de uma entrega.— Rony?— Sim senhor.— Preciso que traga pra mim os homens que trabalhavam diretamente com o Lion.— Os que levavam a Ana pra universidade?— Sim.Ele se retirou, e eu fiquei aguardando no gramado na parte externa da casa.— Tá faltando um senhor.— E onde ele está?—
Pedir desculpas por toda a minha covardia era o mínimo que eu podia fazer, eu finalmente entendi que eu não era o único que estava sofrendo com toda aquela situação, a Ana também estava, no entanto ela estava se mantendo forte, e eu precisava me manter também.— Me perdoa Ana.Ela me abraçou mais forte, e ficou um bom tempo assim até que eu estivesse completamente calmo.Nós dois nos olhamos, e eu queria contar sobre o pai dela, mas pelo o que entendi, aquele não era o momento pra revelar nada.— Você consegue entender o quanto isso é perigoso?— Sim, mas foi a minha família quem começou tudo isso, e eu vou colocar um ponto final.— O meu avô falou pra resgatar a minha mãe e a Sam?— Falou, e amanhã mesmo eu farei isso.— Eu vou com você.— Não vai não.Eu me levantei do chão de forma brusca, e ela se levantou logo em seguida e me encarou com aquele olhar desafiador.— Eu vou sim.— Por favor, Ana, não é o momento pra teimosia.— Então eu vou e não se fala mais nisso.— Olha como está
ANA..Aquela sensação e aquele ambiente tão acolhedor, aquele cheiro de torradas e de café recém saído do fogo fez os meus olhos ficarem marejados, eu cheguei na porta da cozinha e vi aquela senhora preparando a mesa calmamente e pensei: " Então é essa a sensação de ter uma avó"...Pra alguém que nunca teve aquilo, era natural se emocionar.O sorriso e o olhar amoroso dela quando me viu me desmontou inteira, e algumas lágrimas furtivas acabaram escorrendo pelos meus olhos.— Que bom que você acordou meu amor, venha tomar o seu café da manhã.Eu caminhei em direção a ela, e beijei a mão dela pedindo sua benção, e ela acabou reparando nas lágrimas.— Porque você está chorando? — A senhora promete viver por mais uns 100 anos pra gente aproveitar o tempo perdido?— Eu prometo que vou me esforçar meu amor.Ela falou me dando um abraço com aqueles braços pequenos que mal me cabiam dentro, mas foi o suficiente pra me preencher por completo.Como eu pude sentir tanta saudade do que eu nunc
Como um abraço se transformou em sexo?Como a emoção se transformou em tesão? Ou melhor, como a raiva e o confronto terminou com nós dois pelados na cama, e eu soltando gemidos contidos enquanto ele me devorava de todas as formas possíveis.Eu odiava o fato de ter que admitir pra mim mesma que a minha força e agressividade não serviam de nada diante de um Kall terrivelmente tarado.— Oh droga, você é uma fraca Ana.Falei baixinho dentro do banheiro.Eu saí do quarto confiante de que ele me deixaria ir com ele quando ele fosse resgatar a minha mãe e a Sam, e ele não seria louco de me deixar pra trás, e ainda existia o problema com a Aysha.Sim, ela era um problema.Se tudo o que ele havia me falado era verdade, então a permanência dela na casa dele era algo impossível de manter.Quem seria louca de deixar uma ex- namorada claramente obsessiva dentro da casa do namorado?Bom, teoricamente ele não era o meu namorado, mas eu não iria compartilhá-lo com ninguém.Eu tinha algumas ideias em
KALL..O maior desafio da minha vida com toda certeza era estar me envolvendo com uma maluca que achava normal ameaçar arrancar o meu pau.Depois de ter provado um pouco do humor ácido da Ana, eu me retirei do banheiro e me vesti pra finalmente resolver o futuro da nossa vida.Quando eu cheguei na sala, o primeiro lugar que o avô dela olhou, foi pro meu cabelo, ele se inchou todo, ficou parecendo um baiacu.Eu desviei o olhar pro Valente que estava conversando com ele, e não teve jeito, nós dois começamos a rir.— Vocês estão vendo algum palhaço aqui?O avô dela perguntou com raiva aparente.— Não sabia que era proibido rir.Falei ficando sério também, afinal aquele velho já estava me enchendo o saco.— Mantenha sua ferramenta longe da minha neta, garoto, agora vamos.Ele se levantou na poltrona, e eu caminhei atrás dele sem falar mais nenhuma palavra.— Nós vamos interrogar o Félix e o Leonel.O Valente cochichou no meu ouvido e eu apenas balancei a cabeça.Entramos em uma sala com