KALL..O maior desafio da minha vida com toda certeza era estar me envolvendo com uma maluca que achava normal ameaçar arrancar o meu pau.Depois de ter provado um pouco do humor ácido da Ana, eu me retirei do banheiro e me vesti pra finalmente resolver o futuro da nossa vida.Quando eu cheguei na sala, o primeiro lugar que o avô dela olhou, foi pro meu cabelo, ele se inchou todo, ficou parecendo um baiacu.Eu desviei o olhar pro Valente que estava conversando com ele, e não teve jeito, nós dois começamos a rir.— Vocês estão vendo algum palhaço aqui?O avô dela perguntou com raiva aparente.— Não sabia que era proibido rir.Falei ficando sério também, afinal aquele velho já estava me enchendo o saco.— Mantenha sua ferramenta longe da minha neta, garoto, agora vamos.Ele se levantou na poltrona, e eu caminhei atrás dele sem falar mais nenhuma palavra.— Nós vamos interrogar o Félix e o Leonel.O Valente cochichou no meu ouvido e eu apenas balancei a cabeça.Entramos em uma sala com
Quando eu voltei pra casa e vi a Aysha, eu fiquei pensando no que a Ana mandou eu fazer, mas eu não sabia como fazer aquilo com uma das poucas pessoas da família que ainda faziam parte da minha vida.— Onde você estava Kall? Você nunca está aqui quando procuro você.— Eu estava com a Ana.O rosto da Aysha endureceu, mas era necessário deixar claro pra ela a nossa condição, naquele momento da minha vida, ela deveria fazer o papel apenas de prima.— Você disse pra mim que não tinha namorada.— Eu não tenho, mas pretendo mudar esse status em breve, e vou pular a parte do namoro e partir logo pro casamento. Agora boa noite Aysha, já está muito tarde e eu preciso muito descansar.— Espera, você disse casamento? Você está ficando louco?— Louco, porque? — Porque mafiosos não se casam.— Isso não é uma regra.— Porque ela e não eu?Ela se aproximou de mim, e o olhar dela parecia suplicar por uma chance.— Eu não amo você.— Mas você já me amou, eu tenho certeza que esse sentimento ainda est
ANA..No dia seguinte eu acordei com uma movimentação intensa na casa, todos os computadores estavam ligados e havia uma equipe acompanhando o andamento de uma invasão.— Que porra é essa Valente? — Não tenho tempo agora Ana, eu estou de saída.Eu ouvi o som de helicópteros e o Valente correu pra parte externa, o meu avô estava em pé falando ao telefone, e eu ouvi que a invasão seria onde o Daylon estava escondido.A minha avó me puxou pelo braço e me olhou com preocupação.— Ana, fique calma, vamos pra cozinha.— É isso o que eu entendi? Estão se preparando pra invadir a casa do Daylon?— Vão resgatar a sua mãe e a Sam, você precisa confiar no trabalho dos rapazes.— Eu vou matar aquele filho da puta do Kall. Falei caminhando pra parte externa onde vi cinco homens do Kall conversando com o Valente e o Trevis.— Eu vou também.Falei ao me aproximar deles.— Ana, você pode por favor ficar fora disso?— Se vocês não me levarem eu vou dar um jeito de ir sozinha, eu sei muito bem onde
Quando o Valente chegou junto com os outros homens, vieram carregando o Trevis que havia sido atingido no abdômen.— A casa estava sendo vigiada, pensamos ter matado todos, mas o Trevis acabou sendo pego de surpresa por um que havia se escondido, ele perdeu muito sangue.O Valente explicou pro médico e pro meu avô.Levaram ele pro ambulatório, e eu fiquei preocupada com a situação, mas o médico disse que ele ficaria bem.A casa estava uma verdadeira bagunça, tinham pessoas desconhecidas pra todos os lados.Em menos de trinta minutos, vários carros estacionaram em frente a casa com policiais civis, da Pds e agentes da CIA.— Ana, você vai pra casa do Kall agora, mas não vai de helicóptero, pois podemos precisar deles pra coisas emergenciais, você vai voltar de carro com dois dos homens do Kall, a sua mãe e a Sam estão com ele.Disse o Valente.— Ele já tirou a Aysha de lá?— Não, com tudo o que aconteceu, o Kall não teve tempo de fazer isso.— Não teve tempo morando na mesma casa? Ele
KALL..Eu ainda não havia encontrado o meu propósito de vida, pra alguém que viveu anos pensando apenas em vingança, era difícil chegar a uma conclusão da noite pro dia.Tudo aquilo era somente pela Ana e a vontade de ficar com ela? Ou era também a vontade de provar pra mim mesmo que eu era capaz de fazer escolhas pensando na minha própria vida?Eu tive muito pouco tempo pra planejar uma invasão em que poderia custar a minha vida e a de outros, os homens que estavam comigo surpreendentemente estavam bem preparados, eles tinham escuta, localizador, tinham tudo, eles estavam esperando por aquele momento a bastante tempo, e somente eu não sabia do plano.Era perca de tempo lembrar novamente a mim mesmo o quanto eu havia sido idiota, naquele momento não dava mais pra se prender a esses detalhes.Quando os meus homens chegaram até o Valente, eu e os que ficaram comigo seguimos com o plano, eu sabia que naquele momento haviam pessoas importantes ouvindo exatamente tudo o que acontecia, e
ANA..Desde que o meu pai se foi eu andei tendo muitas conversas difíceis, eu não imaginei que iria viver em pouco tempo tudo que eu deixei de viver durante a minha vida.Tudo parecia tão surreal, e ter que contar para minha mãe e pra minha melhor amiga tudo que eu tinha ouvido do meu avô e do Valente, parecia coisa de filme, mas era uma realidade bem presente.Eu não conhecia o mundo da forma como ele realmente era, eu fui privada o tempo todo de conhecer de perto a maldade humana, e eu fiquei me perguntando se isso era motivo para agradecer.A verdade era que eu estava prestes a começar a viver, e enxergar a dor no olhar daquelas duas, fez eu pensar um pouco melhor na vida, eu não queria mais me enganar, eu queria ter uma vida diferente, eu queria voltar a sonhar, terminar o meu curso e investir o meu tempo em uma geração que acreditava no poder da educação.— Eu estou me sentindo usada e suja, eu acreditei estar ajudando o meu pai a combater o crime, e ele era o criminoso? Eu fui
KALL..Eu sabia que a conversa com a Ana não iria ser nada fácil, mas eu não esperava que ela fosse reagir de maneira tão drástica.Eu não iria conseguir viver com aquela culpa, eu não teria paz se soubesse que uma criança não teria o amor de um pai por minha causa, a Aysha era da minha família, então a nossa convivência seria inevitável, e todas as vezes que eu olhasse para aquela criança eu iria me sentir culpado.Se eu estava querendo um novo começo, se eu estava querendo fazer a coisa certa, eu teria que começar por aquilo.Eu sabia das reais intenções da Aysha, mas tudo que eu queria era que a Ana tivesse confiança em mim, que ela confiasse no meu sentimento, que ela tivesse a certeza de que eu jamais faria nada que colocasse em risco o nosso relacionamento.Eu segurei a Ana na tentativa de fazer ela me ouvir, no fundo eu acreditava que poderia fazer ela mudar de ideia, mas o olhar dela estava repleto de mágoa, então eu deixei ela ir, sem saber que aquela minha decisão me custa
ANA..Sair daquele lugar sem olhar pra trás foi uma das coisas mais difíceis que eu tive que fazer, e por milésimos de segundos eu pensei se não estaria sendo injusta e egoísta ao deixá-lo pra trás, mas a verdade era que eu estava tentando encontrar justificativas pra ficar, mas não havia nenhuma.— Pra onde você quer ir Ana?O Valente perguntou ao me ver caminhar sem rumo.— Pra minha casa Valente.Respondi tentando conter as lágrimas que estavam caindo sem nenhum controle.— Pra casa que você morou com o Lion?— Sim, por favor.— Tudo bem Ana.Eu tinha um acordo com o meu avô e eu iria cumprir, mas antes de eu sair do país e recomeçar, eu queria sentir pela última vez o cheiro do meu lar, o único lugar em que eu me sentia protegida de tudo e de todos.— Você quer conversar? Talvez eu sirva pra ser mais do que um idiota pra você.— Nenhuma conversa vai amenizar o que eu estou sentindo Valente, e quem poderia me dar um pouco de colo, não está mais aqui.— Eu quero que você me escute