KALL..Eu sabia que a conversa com a Ana não iria ser nada fácil, mas eu não esperava que ela fosse reagir de maneira tão drástica.Eu não iria conseguir viver com aquela culpa, eu não teria paz se soubesse que uma criança não teria o amor de um pai por minha causa, a Aysha era da minha família, então a nossa convivência seria inevitável, e todas as vezes que eu olhasse para aquela criança eu iria me sentir culpado.Se eu estava querendo um novo começo, se eu estava querendo fazer a coisa certa, eu teria que começar por aquilo.Eu sabia das reais intenções da Aysha, mas tudo que eu queria era que a Ana tivesse confiança em mim, que ela confiasse no meu sentimento, que ela tivesse a certeza de que eu jamais faria nada que colocasse em risco o nosso relacionamento.Eu segurei a Ana na tentativa de fazer ela me ouvir, no fundo eu acreditava que poderia fazer ela mudar de ideia, mas o olhar dela estava repleto de mágoa, então eu deixei ela ir, sem saber que aquela minha decisão me custa
ANA..Sair daquele lugar sem olhar pra trás foi uma das coisas mais difíceis que eu tive que fazer, e por milésimos de segundos eu pensei se não estaria sendo injusta e egoísta ao deixá-lo pra trás, mas a verdade era que eu estava tentando encontrar justificativas pra ficar, mas não havia nenhuma.— Pra onde você quer ir Ana?O Valente perguntou ao me ver caminhar sem rumo.— Pra minha casa Valente.Respondi tentando conter as lágrimas que estavam caindo sem nenhum controle.— Pra casa que você morou com o Lion?— Sim, por favor.— Tudo bem Ana.Eu tinha um acordo com o meu avô e eu iria cumprir, mas antes de eu sair do país e recomeçar, eu queria sentir pela última vez o cheiro do meu lar, o único lugar em que eu me sentia protegida de tudo e de todos.— Você quer conversar? Talvez eu sirva pra ser mais do que um idiota pra você.— Nenhuma conversa vai amenizar o que eu estou sentindo Valente, e quem poderia me dar um pouco de colo, não está mais aqui.— Eu quero que você me escute
KALL..Eu vi a Ana se afastar e os meus pés travaram, eu fui incapaz de correr atrás dela e segurá-la, eu estava me sentindo perdido no meio de tanta movimentação, além de sentir a tristeza me consumindo por dentro.— Kall, eu preciso que você me acompanhe.Um agente falou e me segurou pelo braço, e eu fui como se eu não tivesse mais forças pra lutar ou debater.— Entre no carro, tem alguém querendo conversar com você.Eu abri a porta e me deparei com o Lion, eu fiquei uns trinta segundos encarando ele, pensando em tudo o que eu gostaria de falar.— Entra Kall, nós temos assuntos pendentes.— Nós temos assuntos pendentes há anos, e só agora você quer conversar sobre eles? Vai se foder Lion.Falei ao fechar a porta do carro com força e saí andando em direção ao meu carro, mas antes que eu pudesse entrar nele, o carro em que o Lion estava, parou do meu lado e baixou os vidros.— Entra nessa porra agora, ou amanhã mesmo você vai estar fazendo companhia ao Daylon na prisão.Eu o encarei
ANA..Eu acordei com o meu pai batendo na porta, e quando eu abri, a minha mãe e a Sam invadiram o meu quarto.— O que vocês estão fazendo aqui? Perguntei surpresa.— Vamos juntas dar nossos depoimentos, o Lion foi buscar a gente na casa do Kall bem cedinho.A minha mãe respondeu.— E vocês dois já fizeram as pazes? Eu perguntei enquanto olhava pro meu pai que foi logo dando as costas e saindo de mansinho.— Eu também não quero fazer as pazes com você seu velho insuportável.A minha mãe falou alto enquanto eu e a Sam começamos a rir.— Essa é a primeira vez que recebo visitas.Falei enchendo os meus olhos de lágrimas.— Se você está chorando agora, imagina depois de ouvir o que temos pra falar.A Sam disse com entusiasmo.— Ah meu Deus, eu tenho até medo de perguntar.— O seu pai falou pra gente te ajudar a escolher o país que você vai querer estudar, a Sam e eu vamos com você.— Vocês estão falando sério?— Claro meu amor, você passou por muita coisa, vai precisar ter uma parte da
KALL..Cinco meses se passaram desde a última vez que eu vi a Ana, os dias foram difíceis e sombrios, e não houve nenhum dia que eu não pensasse nela.Antes do depoimento, o Lion e o Valente foram buscar a Alice e a Sam, e o Valente prometeu que entregaria o celular pra Ana, eles saíram, e uma hora depois eu liguei pro número dela na esperança de marcar de conversar com ela após o depoimento, mas ela não atendeu.Quando cheguei no local do depoimento, eles já estavam indo embora.A Aysha estava comigo, pois ela também precisava depor e me ligou pra que eu fosse buscá-la no hotel, eu fui, mas nada aconteceu entre eu e ela, nem mesmo uma conversa, e embora ela tenha tentado conversar comigo o caminho inteiro, eu me mantive calado pensando no que eu falaria pra Ana.Quando a Ana me viu com a Aysha, o semblante dela endurecido deixou claro que não haveria nenhum acordo ou entendimento entre nós, e a última frase que eu disse pra ela era que eu não iria desistir dela.A Ana foi embora le
ANA..Quando coloquei os meus pés em solo espanhol, eu parei e pensei: Esse lugar tem a minha cara.Mas era só uma forma de eu convencer a mim mesma que eu estava feliz, afinal eu precisava acreditar nisso.Quando saí da Itália, tentei me apegar ao fato de que aquela decisão estava inteiramente ligada a realidade de ter sido trocada por outra mulher, e que o amor que o Kall sentia por mim era apenas fruto da minha imaginação, foi exatamente isso que me manteve em pé por longos meses.Mas o Kall não tornou esse período nada fácil pra mim, por alguma razão o meu pai não trocou o número do meu celular, e ele sempre mudava de assunto nas vezes que questionei o motivo, mas no fundo eu sabia que era só mais uma forma de fazer eu me entender com o Kall.Meu pai gostava dele, ele idealizou um relacionamento entre a gente, e embora ele dissesse que estava do meu lado, eu sabia realmente o que ele queria, ele não sabia mentir pra mim.O meu celular já acumulava centenas de mensagens do Kall,
KALL..Faltando 5 minutos pras 20:00 horas, eu fui pra parte externa do hotel e olhei pra imensa praça que havia em frente, eu atravessei a pista e fui até lá, e sentei nos bancos.Nesse mesmo momento, um táxi parou, e eu vi a Ana descer e me procurar em volta, eu me levantei e ela me viu.Ela estava linda como sempre, tudo naquela garota me fazia suspirar.O meu coração estava agitado, a minha garganta estava seca, era como se eu esperasse o pior daquela conversa.Quando ela se aproximou de mim, não pude decifrar o olhar dela, parecia que ela havia aprendido a não demonstrar o que ela realmente estava sentindo.— Eu tive medo que não viesse.— Eu pensei em não vir.— Porque marcou aqui?— Eu costumo vir aqui quando quero pensar, o lugar é calmo, bonito e rodeado pela natureza, totalmente o oposto do que acontece dentro de mim a meses.Ela falou com o olhar fixo nos meus.— O lugar é lindo, mas gostaria de conversar com você em um lugar mais reservado.— Que lugar seria esse?— No h
ANA..Eu nunca me achei uma pessoa manipulável, embora durante a minha vida eu tenha passado por um processo de manipulação.Quando eu vi o Kall totalmente despido do ego, com a voz calma, totalmente diferente de quando eu o vi mais cedo, eu senti a imensa necessidade de devolver para ele a mesma calma.No fundo eu sabia onde aquela conversa daria, mas vê-lo me ouvir atentamente, levando em consideração tudo o que eu sentia, me fez ter um pouco de esperança, eu não consegui conter as minhas lágrimas porque eu segurei elas dentro de mim por muito tempo, eu tentei ficar bem e reprimi tudo que eu tava sentindo, pra não demonstrar pras pessoas a minha volta o quanto eu estava sofrendo, mas naquele momento na frente dele, eu não vi mais necessidade de esconder, ele precisava entender o que tudo aquilo estava causando em mim e finalmente ele compreendeu.Ter as mãos dele em volta do meu corpo fez eu reviver sentimentos que estavam adormecidos, mas foi a melhor sensação do mundo, era como