Capítulo 5

— Hoje mesmo? – arregalei os olhos até ele sem acreditar no que ele dizia – eu não posso, senhor. Olha o modo como eu estou vestida.  

— Então quer desistir do emprego? – o homem me olhou dos pés à cabeça, começou a suar e eu vi o desespero estampado no rosto rechonchudo dele – o patrão precisa de uma babá o mais rápido possível.  

Patrão? Eu fiz uma careta. Eu trabalharia para um homem que eu nem conhecia. E se ele fosse um arrogante mesquinho como o meu padrasto, ou um velho abusador? Eu não sabia por que minha mente me levava para o lado mais obscuro das pessoas, mas eu já não conseguia confiar em ninguém.  

— Eu não estou desistindo – soltei um longo e pesado suspiro, enquanto encarava os olhos aliviados do homem – estou apenas dizendo que eu não devo chegar em um estado tão reprovável no meu primeiro dia de trabalho.  

— Isso não é importante – ele ignorou completamente o meu estado – o importante é saber se você consegue cuidar de um bebê recém-nascido.  

Eu franzi a testa e o tempo que levei para responder a isso foi como uma eternidade. Não era nenhum problema, para mim, cuidar de uma criança recém-nascida, o que me incomodava realmente era não saber a verdadeira identidade do homem que me contratava.  

— Eu consigo cuidar de um recém-nascido com toda a certeza – abri um amplo sorriso a ele, mas meu coração estava afundado no medo – mas eu posso saber o nome do seu patrão? Não gosto de trabalhar para pessoas anônimas.  

— Não será anônimo, posso lhe garantir – ele retirou um pequeno lenço do paletó e enxugou o rosto, mas não respondeu a minha pergunta – posso levá-la agora mesmo para conhecê-lo. Só preciso realizar uma ligação.  

Meu corpo estremeceu. Vi o homem gorducho virar as costas e voltar para dentro do prédio. Eu nem conhecia o meu novo patrão e já temia ele. Passei a mão sobre o meu rosto ainda molhado. Minhas roupas sujas e encharcadas ainda pesavam sobre o meu corpo e os meus joelhos ralados ardiam devido à água da chuva. Eu corria um sério risco de infeccioná-los, seria outro grande problema para mim, ficar doente no meu primeiro dia de trabalho.  

Vi o homem voltar com um sorriso no rosto enquanto um vento gelado ia ao encontro do meu corpo, me fazendo estremecer. A chuva não dava uma trégua, as ruas estavam alagadas e eu não sabia se aquilo era um bom sinal.  

— O meu nome é Alexandre, sou advogado do… – ele se calou quando percebeu estar ao ponto de revelar o nome do homem a qual eu iria trabalhar – o patrão pediu para que eu a levasse até a mansão dele.  

Mansão? Minha boca estava entreaberta. Rosa tinha toda a razão quando presumiu que eu trabalharia para uma pessoa importante e muito rica.   

— Sou a Kara Jimenez – estendi a mão pálida e enrugada até ele. Ele a apertou com entusiasmo – vamos logo conhecer o seu patrão.   

O homem sorriu para mim. Alexandre parecia realmente entusiasmado com a minha presença. Entrei no carro luxuoso dele, sabendo que molharia todo o seu estofado.  

— Não se preocupe com isso, Kara – ele me observava e percebeu certamente o quanto eu havia ficado constrangida – depois levo o veículo até à lava jato e resolvemos isso.  

Alexandre era um advogado humilde e aparentemente de bom coração. Sorri para ele, embora sentisse minhas bochechas queimando de vergonha.   

— Por que tanta pressa em contratar uma babá?  

A minha indagação fez Alexandre mudar de cor. O homem estava pálido, como se sua vida dependesse daquela resposta.  

— O patrão viaja muito a trabalho e a mãe da criança, infelizmente, não pode cuidar dela – eu o percebi engolindo a seco e deixando uma enorme incógnita na sua resposta. Alguma coisa não se encaixava – hoje mesmo ele precisa viajar e como mora sozinho, não tem com quem deixar a criança.  

Eu observava o rosto dele, tentando ligar os pontos, mas nada parecia fazer sentido para mim.  

— Não acha que ele vai se incomodar com o modo como eu estou vestida? – Alexandre desviou o olhar até mim e pelo modo como me encarou eu percebi que eu realmente estava em um estado lastimoso.  

— Ele entenderá as circunstâncias – ofereceu um sorriso forçado até mim – além disso, foi ele quem me autorizou a contratar a primeira candidata que aparecesse.  

Cada vez mais a história parecia ficar sinistra. Como um pai contrataria qualquer pessoa para cuidar da sua filha recém-nascida sem nem ao menos conhecer os seus antecedentes criminais.  

— E se essa pessoa fosse uma criminosa? – minha pergunta fez Alexandre sorri – e quando o seu patrão chegasse de viagem a filha dele estivesse morta? Você como advogado sabe que essa ideia é arriscada demais.  

— Você não tem jeito para ser uma criminosa, Kara – ele sorriu – afinal, eu reconheceria um de longe.   

— Reconheceria e o contrataria ainda assim?  

— Eu mentiria ao patrão e diria que ninguém apareceu – foi sincero – mas por favor, jamais conte isso a ele.  

Ele havia quebrado toda a tensão que havia sobre os meus ombros. Quando o carro entrou no condomínio e estacionou em frente a bela mansão, eu já não estava tão apreensiva como no começo. Desci do carro admirando cada pedacinho daquele paraíso. Indaguei como alguém conseguia viver em uma casa enorme como aquela, sozinho.  

Alexandre me conduziu até a entrada principal. A casa estava silenciosa.  

— Eu esqueci minha pasta no carro – ele disse e nessa hora meu coração disparou de ansiedade – vou buscá-lo e não demoro. O patrão já deve chagar para conhecê-la.  

Fiquei paralisada com a boca aberta sem conseguir dizer nada. Olhei apreensiva para os lados, temendo que o homem misterioso aparecesse a qualquer momento sem que Alexandre estivesse ao meu lado. Caminhei lentamente até a sala, enquanto os meus olhos brilhavam com a beleza daquele lugar. Mal percebi que os meus tênis sujavam a casa, deixando um rastro de lama logo atrás de mim.  

Ouvi um choro de criança e passos vindo em minha direção. Quando me virei para olhar, me deparei com o homem que jurei que nunca mais queria ver em toda a minha vida.   

O olhar furioso dele causou um enorme arrepio em mim.  

— O que você faz na minha casa? – Gustavo me reconheceu imediatamente e eu até abrir os meus lábios para respondê-lo, quando ele avançou na minha direção e agarrou o meu braço com força.  

— Voltou aqui para se vingar de mim? – ele me apertava com força e eu não conseguia emitir nenhum som além do gemido de dor – diga logo garota, o que você está fazendo na minha casa?  

Gustavo estava tão transtornado que acreditava que eu invadiria a sua casa, que eu nem fazia ideia de onde ficava, para me vingar dele? Que tipo de pessoa Gustava achava que eu era?  

— Já que não quer me responder, vou arrastá-la para fora daqui – ele saiu me compelindo, quando nossos corpos foram acometidos pela chuva. Um filme passou pela minha cabeça naquela hora, mas eu não conseguia sequer me defender – vai embora imediatamente da minha casa.  

Gustavo já estava pronto para me lançar no meio da rua, quando Alexandre veio correndo e interveio. O homem gorducho tinha dificuldades até mesmo para falar, mas conseguiu impedir Gustavo de cometer outra loucura.  

— Não faça isso, senhor – Alexandre conseguiu fazê-lo parar e olhar para ele – essa moça é Kara Jimenez, a babá que o senhor contratou.  

Aquilo não podia ser verdade. Gustavo me olhou sem acreditar e eu fique paralisada de horror em saber que Gustavo Henri seria o meu novo patrão.  

  

   

  

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