Decidi parar de ouvir e simplesmente deixei que as lágrimas falassem por mim. Ainda paralisado no mesmo lugar, eu apenas olhava para aquela criança que dormia tão tranquilamente e não acreditei no que Kara dizia a mim. — Meu filho? – Certamente minha pergunta poderia ofendê-la – um menino? Os olhos de Kara se estreitaram e ela sorriu. Eu tentei acompanhar o seu ritmo, mas Kara estava visivelmente mais emocionada do que eu. No silêncio, ela apenas balançou a cabeça. Ainda que se esforçasse para dizer algo a mais, ela não conseguiu. Nem mesmo eu sabia o que dizer naquele momento. Kara o entregou para mim e minhas mãos tremulas denunciaram o quanto aquele momento era único em minha vida. — O nome dele é Caleb Henri – ela disse e eu olhei para ela sem acreditar que, mesmo decidindo ter um filho longe de mim, ela havia pensado em absolutamente tudo – e ele nasceu há três dias. Peguei Caleb em meus braços. Jamais negaria que seria meu filho, ele se parecia comigo quando eu era criança.
Kara Jimenez Aquilo era um pesadelo que eu não conseguia acordar. De repente o Gustavo bateu na minha porta, voltou para minha vida e quando descobriu que tivemos um filho juntos ficou com raiva e partiu, me deixando com um nó enorme na garganta cheio de palavras que eu ainda precisava dizer a ele. Observei da janela Afrodite tentar convencê-lo de voltar e terminar nossa conversa. Aliás, foi isso que pedi a ela para que fizesse por mim, já que a ideia brilhante de levar o Gustavo de volta para minha vida havia sido exclusivamente dela. Mas a conversa pareceu não terminar bem. Ele olhou para mim pela última vez e entrou no carro de Afrodite. Meu coração disparou e eu concluí que agora era a vez dele partir da minha vida para sempre. Caleb dormia tranquilamente no berço quando eu o deixei e corri na direção da rua, mas Gustavo já havia partido. — Para onde o Gustavo foi? – temi a resposta, tanto que nem olhei nos olhos de Afrodite. Ela demorou para me responder e até tentou disfa
Gustavo Henri. Os olhos de Kara escureceram. Ela não conseguia entender. Eu imediatamente me culpei por dar uma notícia dessa forma. Não foi assim que planejei e, quando percebi, ela, perdendo as forças, a agarrei, segurando-a com força contra o meu corpo. Silenciosamente, Kara chorou e naquele momento considerei o silêncio minha melhor opção. Eu apenas a segurei em meus braços enquanto permitia que ela colocasse para fora toda a dor. — Como descobriu isso? – ela se afastou e eu lamentei – porque eu não fiquei sabendo… — A notícia estava em todos os jornais da cidade – respondi, mas Kara permanecia de cabeça baixa - não tinha como você ficar sabendo. Lamento muito. Ela permaneceu ali como se estivesse congelada no tempo ou afundada pelas próprias memórias. Percebi então que eu sabia muito pouco sobre esse lado da vida da Kara. Desde quando a conheci, ela nunca gostou muito de falar sobre sua família, seus pais e o relacionamento que havia tido com eles. Era tudo muito vago, aind
Kara Jimenez Meu coração batia descontroladamente dentro do meu peito e isso transparecia em todo o meu corpo. Sei que Sebastian me esperava atrás dessa parede, mas eu não conseguia parar de pensar nas últimas palavras de Gustavo para mim. Sua declaração havia soado tão doce e eu não consegui fazer nada a respeito. Eu saí tão rápido que quase tropecei nas minhas próprias pernas. Parei subitamente a um passo de ver o Sebastian e me acalmei. Estava no momento de resolver aquilo de uma vez por todas. Enchi os pulmões com ar e fechei os olhos antes de dar um passo e ficar de frente com ele. Os dois estavam parados atrás do balcão e os olhares se voltaram para mim. Um sorriso maquiavélico repuxou os lábios de Celeste, mas ela não estava feliz em me ver, aquilo era puro cinismo de alguém que sabia que se daria bem em cima da própria filha. Ouvi um rangido vindo do corredor e girei o pescoço para ver e garanti que não era o Gustavo pronto para estragar tudo. Vi Clemente cruzar a porta e
Gustavo Henri O tom frio e a voz triste da Kara fazem meu coração se afundar dentro do meu peito. Eu a observei virar as costas e entrar indo na direção do Caleb. Acompanhei os policiais para fora para prestar o meu depoimento, mas o que eu queria era ficar com a Kara, não havia ninguém que precisava de mim mais do que ela. Afrodite veio buscá-la e já era tarde da noite em Nova Iorque. Eu estava na delegacia quando Alexandre ligou para mim. Ainda era madrugada e eu me assustei com a urgência da ligação. — A audiência da guarda da Jasmim acontecerá amanhã – meu coração se descontrolou – precisa voltar para o Brasil imediatamente. Meu mundo desmoronou mais uma vez. Eu ainda não podia voltar, precisava resolver as coisas entre mim e a Kara. Prometi a Olivia que traria sua irmã de volta, como eu chegaria no Brasil sem a Kara ao meu lado? Eu apenas concordei com as orientações do Alexandre e pedi para que Afrodite fosse me buscar. Amanhecia e o céu ganhava tons alaranjados com os pr
Kara Jimenez Quando meus pés pisaram em solo brasileiro, meu coração afundou. Eu tentei decifrar o que eu sentia por estar de volta, mas a felicidade de estar ao lado das pessoas que eu amava sempre iria prevalecer. Avistei de longe aquela garotinha dos cabelos dourados. Estava de costas para mim ao lado de Alexandre. Ele indicou para ela onde eu estava e Olivia correu ao meu encontro. Ela estava eufórica e, ao mesmo tempo, emocionada. Me segurava com tanta força que achei que nunca iria me soltar. Olhei para os olhos dela, cheios de lágrimas, o rosto vermelho, como se tivesse feito muita força e se cansado rapidamente. Com muita dor em meu coração, eu lhe disse: — Sinto muito ter abandonado você – acariciei seu rosto e limpei suas lagrimas. — O tio Gustavo cuidou muito bem de mim – ela sorriu convicta do que estava falando – e cumpriu a promessa de trazer você de volta. O Gustavo se aproximou com Caleb nos braços e eu fiquei observando qual seria a reação de Olivia ao receber
Gustavo Henri Eu havia esquecido minhas chuteiras da sorte em casa e já estava alguns quilômetros longe, quando fiz o retorno. Eu não estava disposto a jogar aquela noite sem o meu amuleto da sorte e embora eu soubesse que chegaria ao treino atrasado, voltei para casa. Quando estacionei o carro avistei um veículo estranho na porta da minha mansão. Me questionei se a Bruna, minha esposa, estaria recebendo visitas. Bem provável que não. Ainda assim não dei muita importância. Subi as escadas rapidamente, enquanto ouvia risos, vindo da suíte, e quando abri a porta, me deparei com os olhos de Bruna arregalados, como se tivesse visto um fantasma. Ela pulou da cama, puxando os lençóis e cobrindo sua nudez, enquanto Donovan se erguia, ficando frente a frente comigo. — Gustavo – a voz dela estava tremula – o que você está fazendo aqui? Cerrei os punhos, mas não tentei acalmar meus nervos. As coisas ficaram ainda pior quando vi minha filha dormindo tranquilamente, no mesmo quarto q
Kara Jimenez Já havia se passado cinco minutos desde que o Gustavo entrou no carro e partiu, ainda assim eu continuava parada no mesmo lugar, olhando para o dinheiro que ele fez questão de jogar no meu rosto. Eu abaixei com dificuldade para pegar o dinheiro que o vento quase levou embora. Depois da humilhação que ele me fez passar e das feridas nos meus dois joelhos, pagar um táxi era o mínimo que ele poderia fazer. Me ergui e olhei para dentro do centro de treinamento. Os meus joelhos nem se comparavam ao meu coração estraçalhado. Gustavo não estava mais ali, me provando que ele não havia se importado com os ferimentos que causou em mim. Um suspiro longo e profundo escapou dos meus pulmões quando me lembrei o quanto eu o admirava antes mesmo de o conhecer. Embora a sede do clube estivesse vazia, eu sabia que os imperadores fariam um jogo importante naquela noite, e eu queria estar ali para passar eles toda a minha energia positiva. Acho que estou exagerando um pouco, na