Capítulo 3 - Valentina

Apenas com uma mochila nas costa e um sonho sigo para a rodoviária, no caminho decido pegar um ônibus para São Paulo, pesquiso por pensões e acho uma que julgo ser boa e segura, a viagem será longa e terei tempo para pensar o que fazer da minha vida.

É nessas horas que penso nos meus pais, quem são eles? será que ainda estão vivos? por que eles me abandonaram? são tantas perguntas que possívelmente nunca saberei a resposta. Costumo falar que sou filha de chocadeira, por conta desse detalhe. Bom, mas a males que vem para o bem, se meus genitores não tivessem me abandonado quando criança não teria conhecido Juliete a mulher me criou, ela sim foi uma mãe de verdade, foi uma pena ela ter me deixado tão cedo.

Juliete morreu aos 45 anos devido a um câncer de mama, por muitos anos lutamos contra, porém ele venceu, minha mãe se foi quando havia acabo de completar 18 anos, erámos apenas nós duas, foi uma época muito dificil, não tínhamos muitas condições e esperar pelo governo era ainda mais difícil, conciliar estudo, trabalho e cuidar da minha mãe era muito exaustivo, mas nunca reclamei, sempre agradeci pela oportunidade de tê-la mais um dia viva.

Para ela também era exaustivo, ela já não estava mais aguentando todo o processo do tratamento, era doloroso demais vê-la tão debilitada depois de uma sessão de quimeo, ela apenas desistiu, no inicio fiquei revoltada, não entendia por que ela não queria mais lutar, disse que ela era egoísta, mas na verdade quem estava sendo egoísta era eu, eu que não queria ficar sozinha, não permitia que ela me deixasse.

Até que ela se foi deixando um vazio tão grande dentro de mim. Mas hoje entendo que foi melhor assim, ela estava sofrendo, ao lembrar de Juliete deixo uma lágrima cair, minha mãezinha agora está em paz e olhando por mim.

Durante a viagem tento dormir um pouco, falta um pouco mais de 3 horas para chegarmos a rodoviária Tietê, já tenho um lugar para ir, achei uma pensão na Liberdade ótima e com um bom preço, vou poder ficar lá por um tempo, até arrumar um emprego.

Logo chegamos e com a grande esperança de uma vida melhor desço do ônibus, toda dolorida, porém feliz. Chamo o Uber e sigo direto para o bairro da Liberdade, que por sinal é maravilhoso. Ao chegar sou bem recebida.

- Boa tarde, sou Valentina Salazar, tenho uma reserva.

- Oh, sim! - a moça muito simpática diz sorrindo - seja bem-vinda, aqui diz que você irá ficar por tempo indeterminado - ela diz verificando algo em seu computador.

- Sim, é isso mesmo - digo e ela sorrir.

- Veio a trabalho? - pergunta.

- Na verdade, vir atrás de um trabalho, estou vindo do interior de minas, e vim pra ficar, mas por enquanto não tenho muito dinheiro para comprar movéis, por isso optei por ficar em uma pensão - explico.

- Sim, entendi, posso então fazer um pacote para você - diz -  você paga um valor mensal até você conseguir um trabalho e se ajeitar por aqui o que acha? - fico surpresa com a oferta.

- E qual seria esse valor mensal?

- 700 reais fica bom pra você? - fico impressionada com a ajuda, pois pagaria na diária 80 reais.

- Por mim está ótimo - digo feliz.

- Ok então, seus documentos por favor.

Passo para ela RG E CPF enqunto ela faz o processo de entrada, conversamos e me identifiquei muito com ela, descobrir que ela é filha da proprietária, temos a mesma idade, ela se chama Carol e está fazendo faculdade de gastronomia, sei até seu signo virgem, como ela mesmo disse, é somente o signo.

- Obrigada pela ajuda - agradeço de coração.

- Não por isso, agora somo melhores amigas - diz se agarrando a meu braço - Luiz - grita alta, coloco as mãos no ouvido - desculpa - pede sem graça.

- Oi carol - um rapaz alto e bem bonito sai de algum lugar.

- Fica aqui rapinho enquanto vou levar minha amiga até o quarto dela por favorzinho - pede quase emplorando, o rapaz me olha e assente.

- Não demora, tenho o que fazer - diz meio emburrado.

- Valeu, depois te pago um açai - diz e sai me puxando, ela é bem maluquinha - então... - diz e se cala, espero ela terminar de falar, porém ela se cala.

- Então o que? - pergunto sem entender.

- Oh mulher, então... me fala sobre você - pede.

- Uai, como já disse sou do interior de minas, e vir para São Paulo tentar a vida - digo.

- Só isso - diz e sorrio.

- Sim, não tenho muito o que falar de mim não - digo.

- Entendi, esse é seu quarto, pega sua chave - ela abre a porta e o quarto é enorme, tem uma varanda e banheiro, lindo demais.

- Nossa que lindo - digo e ela sorrir.

- Minha mãe é demais, ela pensa em cada detalhe - diz orgulhosa.

- Realmente muito lindo, amei tudo.

- Bom vou te deixar descansar, o jantar é servido das 19 as 21 horas.

- Ok, mais uma vez obrigada - agradeço novamente.

- Te desejo boa sorte nessa nova etapa de sua vida - Carol diz e me abraça.

- Obrigada.

Carol se vai me deixando sozinha no meu mais novo lar, pelo menos por enquanto, ainda estou impactada com o luxo do quarto, há uma tv acoplada na parede daquelas fininhas, tenho até medo de chegar perto e derepente ela cair, nunca se sabe né, o banheiro é tão grande quanto o quarto, começo então minha arrumação, coloco o pouco de roupas que trouxe comigo, guardo tudo, no banheito há um roupão e toalhas.

Tomo um longo banho e deito-me, cansada adormeço. Acordo com batidas na porta.

- Oi - digo ao abrir.

- Mulher, como você não desceu para o jantar, trouxe pra você - Carol diz ao entrar com uma bandeja na mão.

- Meu Deus acho que dormir demais - digo bocejando.

- Percebe-se - diz rindo - já são quase 23 horas, come logo - me entrega a bandeja.

Abro e cheiro faz meu estômago roncar, Carol se j**a na minha cama e boceja.

- Ja pensou no que quer trabalhar? - pergunta.

- Na verdade não - digo e como ao mesmo tempo - não tive oportunidade de me qualificar, tenho apenas o ensino médio, mas trabalhei desde muito cedo na roça, e meu último trabalho durou quatro anos na fazendo céu azul - explico.

- Então qualquer serviço que aparecer você topa? - pergunta e assinto com a cabeça - minha mãe ela tem muitas conhecidas, amigas que são governantas em casas de famílias ricas e sempre alguma pede indicação a ela, se aparecer alguma coisa posso te indicar? - essa Carol foi um anjo que apareceu na minha vida.

- Sim com certeza.

- o que você sabe fazer?

- Sei limpar, cozinhar, cuidar de animais, já trabelhei bem pesado, pra mim qualquer coisa já é lucro.

- Então tá, assim que aparecer alguma coisa te aviso.

- Tudo bem -  diz ao se levantar - agora vou parar de encher teu saco - diz rindo.

Carol vai embora e antes de sair fala.

- Vou te levar pra conhecer a cidade, se prepara.

- Agora? - me espanto.

- Não né, no fim de semana - avisa.

- Tá bom.

Carol se vai e continuo comendo, e agradecendo mentalmente a Deus por colocar pessoas boas em meu caminho.

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