DOIS MESES DEPOIS
Toda animação de quando cheguei a cidade grande, se foi. Não imaginava que poderia ser tão dificil arrumar um emprego, mesmo com a Carol me ajudando, ainda assim o negócio tá osso, ter apenas o ensino médio não está ajudando, Carol me disse pra fazer algum curso profissionalizante, iria ajudar muito no meu curriculo, e é isso que estou fazendo nesse exato momento.
Saio do cursinho de cara no chão com os preços, está totalmente fora dos meus reursos pagar uma mensalidade de quase quinhentos reais e por doze meses ainda por cima, e fora que ainda preciso pagar setecentos reais do quarto e me manter.
Me sinto totalmente desanimada, volto para a pensão triste, ao chegar encontro uma Carol super feliz.]
- Amigaaaaa - grita assim que passo pelo portão - você não vai acreditar, que cara é essa, sorria - diz me abraçando - senta - pede - hoje uma amiga da minha mãe ligou, e pediu uma indicação e ela indicou você - diz empolgada.
- Sério - levanto-me mais que depressa.
- Sérissimo!
- Obrigada - a abraço apertado, já estava perdendo as esperanças.
- Vamos vá se arrumar, Maria quer que você vá ainda hoje fazer a entrevista.
- É pra já!
Saio correndo e acabo escorregando no tapete, a gargalhada de Carol me faz gargalhar também, levanta-me depressa e sigo para meu quarto, tomo uma ducha rápida e me arrumo, coloco uma calça jeans confortável e uma camisa polo feminina, calço o tênis e já estou pronta.
- Estou pronta - digo ao me aproximar de Carol.
- Aqui está o endereço - diz ao me entregar o papel.
- Obrigada amiga - agradeço mais uma vez.
- Não por isso, está levando seus documentos? ao chegar na portaria liga para esse número e avisa que está aguardando.
- Ok.
- Boa sorte.
- Obrigada.
Ao sair verifico o endereço, Jardim Europa, bairro nobre, chamo o uber, não quero correr o risco de pegar o ônibus errado, vou gastar um pouquinho, mas vai valer a pena. No caminho até o endereço vou rezando em silêncio, percebo que o motorista me observa pela retrovisor, o que me deixa muito desconfortável, verifico se ainda está longe e agradeço a Deus que não, em menos de cinco minutos chegamos, como já havia pago online não perco tempo, saio depressa.
Me aproximo da portaria, e ligo para o número que Carol me deu e aviso que cheguei, logo sou autorizada a entrar, a mulher que atendeu a ligação pede para esperar na portaria que alguém irá me buscar, pois a casa é longe. Enquanto aguardo um dos seguranças puxa conversa.
- Então você vai para a casa do Collins? - pergunta mesmo sabendo que é.
- Sim, tenho uma entrevista com a senhora Maria - respondo educadamente.
- Maria é uma boa pessoa - diz.
Logo o motorista chega.
- Valentina? - pergunta.
- Sim.
- Sou José e vim lhe buscar.
- Obrigada - agradeço.
Realmente a casa é longe da entrada, é praticamente a última casa do condomínio, e com certeza é a maior de todas elas, minha boca se abre com a beleza da entrada.
- Quantas pessoas moram aqui? - pergunto ainda de boca aberta.
- Apenas um e alguns funcionários - seu José responde rindo, quando viro-me minha cabeça quem nem a menina do exorcista.
- Tudo isso apenas para uma pessoa? - pergunto perplexa.
- Sim, vamos vou lhe levar até a Maria.
- Ok.
Sigo José pela lateral da enorme casa, entramos em uma espécie de sala.
- Aguarde aqui, Maria já virá.
- Ok, e obrigada - agradeço.
Sento-me no sofá e aguardo por longos minutos a pessoa aparecer, os minutos se tornam hora, e depois de quase duas horas aguardando, uma senhora elegante aparece.
- Desculpe a demora - pede ao se sentar a minha frente.
- Sem problemas - digo sorrindo.
- Então Valentina, me fale um pouco sobre você - pede e isso me surpreende, pois estava esperando ela pedir meu curriculo e fazer algumas perguntas que com certeza não saberia responder.
- Bom, me chamo Valentina Salazar, tenho vinte e quatro anos, venho do interior de Minas, trabalhei minha vida toda na roça, sei cozinhar, limpar, também posso cuidar do jardim - falo e ela me observa.
- Sabe cozinhar, o que você sabe de cozinha?
- Como sou mineira, tudo da culinária mineira sei fazer, e o que não souber, posso aprender - digo confiante.
- Ok, vamos lá - diz e me ajeito no sofá aguardando - estou precisando de uma pessoa de confiança, como já temos cozinheira, o que preciso de você é na limpeza, não na pesada, pois para isso trabalho com uma equipe profissional que vem uma vez na semana, no caso você apenas iria manter limpo - balanço a cabeça concordando - você tem disponibilidade para morar? - pergunta.
- Sim.
- Ok, leia com atenção - pede ao me entregar alguns papeis - leve o tempo necessário - assinto e começo a ler.
Me assusto com o valor do sálario $3.963,12, minha boca se abre, fora todos os benefícios, férias, plano de saúde e ainda vou ter onde morar, sem pensar duas vezes, assino o contrato e entrego.
- Quando começo? - pergunto e Maria sorrir.
- Hoje você pode fazer sua mudança, começamos amanhã.
- Não tenho muita coisa, apenas uma mochila com algumas roupas - digo.
- Se você quiser José pode lhe deixar lá e aguardar você pegar suas coisas - oferece.
- Vou aceitar - digo rapidamente.
Logo e eu estamos a caminho da pensão, no caminho troco mensagem com Carol, que manda vários emojis de choro, sorrio.
- Você vai gostar de trabalhar conosco - José diz.
- Tenho certeza que sim - digo, lembro-me que Maria não falou nada sobre o patrão, então decido pergutar a José - Seu José e como é o patrão? - pergunto.
- Aparência? - devolve a pergunta.
- Não, digo o jeito, se ele é exigente, bravo, geralmente gente rica é arrogante - digo sem pensar.
- Na verdade seu James é um bom patrão apesar do jeitão dele - diz e se cala.
Jeitão? fico com essa pergunta na cabeça.
- Chegamos - avisa.
- Não vou demorar - digo.
- Leve o tempo que precisar.
- Ok.
Respondo, mais é óbvio que não vou abusar da boa votande, por isso pedir para Carol arrumar minha mochila, quando entrei ela já estava me esperando na recepção com os olhos cheios de lágrimas.
- Não chora - aviso, já chorando também - obrigada amiga por tudo o que fez por mim até aqui, você foi um anjo que Deus colocou na minha vida - digo chorando - agradeçe sua mãe por mim.
- Não esquece que aqui você sempre será bem vinda, se não der certo lá, corre pra cá - diz.
Nós abraçamos forte e nos despedimos aos prantos. José sorrir gentilmente quando entro no carro.
- Vocês são muito ligadas não é.
- Sim, somos.
Durante o trajeto até o Jardim Europa, rezo em silêncio, peço a Deus que essa nova jornada da minha vida dê certo.
Assim que passo pela porta sou abordado por Maria.- Senhor, a moça já foi contratada, aqui está o curriculo dela - entrega-me um papel, nem me dou ao trabalho de olhar.- Tudo bem Maria - digo ao devolver o papel a ela - só peça que fique fora do meu caminho - digo.- Sim, claro.- Vou só tomar um banho e já desço para o jantar.- Sim.Subo para meu quarto e já percebo algo diferente, a arrumação está diferente, não dou muita bola para isso, e sigo para o banheiro, levo um susto quando abro a porta e vejo uma bunda perfeitamente redonda de quatro praticamente dentro do armário de toalhas, preciso afrouxar a graveta com a visão.A moça ainda me percebeu minha presença, preciso pigarrear para que ela ouça.- Ai - diz ao bater a cabeça na porta, devido ao susto - caraca.Levanta devagar com a mão na cabeça, só então me ver e se assusta ainda mais.- Desculpe senhor - diz e abaixa a cabeça.Passa por mim mais que depressa e acaba escorregando no tapete - sem querer acabo sorrindo.- Ai j
Sério, não sei qual é meu problema, desde que pisei nesta casa está acontecendo desastre atrás de desastre e olha que nem completei uma semana que estou aqui, não consigo nem olhar para a cara do meu chefe de tanta vergonha, não depois de ter o visto pelado e com uma mulher com a boca naquela monstruosidade que ele tem no meio das pernas.Meus Deus só de pensar, meu rosto esquenta. Calma Valentina respira, puxo a respiração, prendo e solto, faço isso algumas vezes, tentando me acalmar, tudo em vão.- Oi.- Aí jesus! - me assusto com seu James na porta do quarto.- Está doendo? - pergunta ainda na porta.- Um pouco - respondo.- Aqui está os rémedio que você tem que tomar - ao entrar me entrega uma sacola.- Obrigada e mais uma vez, me desculpe - peço realmente arrependida de ter invadido a privacidade do meu chefe, pois ele já havia pedido para não zanzar pela casa - olha se o senhor quiser me despedir por justa causa, não irei me opor - digo enverhonhada, não consigo nem olhá-lo.Por
Como essa garota pode ser puro desastre, fico imaginando como sobreviveu até agora. A observo ir para seu quarto se segurando pelas paredes, poderia ajudá-la? sim poderia, no entanto prefiro me manter onde estou, ela segue firme, será um desafio descer as escadas, se me importo? depois de atrapalhar minha foda, e acabar com meu fim de semana... provalvemente não!Continuo com o que estou fazendo, estudo cautelosamente um documento importante que preciso enviar para Adalberto Vale meu estimado advogado, reviso mais uma vez e envio. Pelo tempo devo imaginar que a garota já deva ter chegado em seu quarto, olho para a mesinha de cabeceira e vejo todos os rémedios dela lá.- Droga! - resmungo apanhando todos - agora vou ter que descer!Chateado desço para entregar os rémedios a Valentina, sua porta está entre aberta e a vejo apenas de roupas íntimas, congelo! deveria dar meia volta, e é isso que faço, mas quando estou no meio da sala, ouço um xingamento.- Puta que pariu! - paro no pé da e
Desde que nasci sei o que é rejeição, fui abandonado ainda preso a placenta, jogado em uma caixa como se fosse um bicho morto, por pouco não conheci a morte, um segurança que passava pela rua deserta onde me encontrava ouviu meu lamento baixinho, a principio o homem ficou assustado, porém logo agiu me enrolando em sua blusa, fui levado para um hospital meu estado não era dos melhores, virei notícia nacional, ''Homem encontra bebê ainda preso a placenta dentro de uma caixa'' depois da alta fui entregue para o estado, passei por vários orfanatos até por fim ser adotado aos 6 anos pelos Collins, um casal americano que veio em busca de uma criança no Brasil.Antes da adoção passei por muitos maltratos mesmo sendo muito pequeno, aprendi a me defender na raça, sei o que é dormir com fome e frio. Minha vida se transformou com a chegada de Louis e Mary Collins, tive dificuldade em confiar, para mim eles iriam fazer o mesmo que os outros faziam, demorou muito para que baixasse a guarda e os d
Estou quase fritando debaixo desse sol escaldante, hoje o sol nascecu com ódio, limpo o suor da testa e continuo com a lida, trabalhar na roça não é pra qualquer um não, no meu caso é a única opção que tenho, pelo menos por enquanto, pois estou juntando dinheiro para tentar a vida na cidade grande, ainda não tenho o suficiente, mas logo terei, já são quatro anos trabalhando de sol a sol desde que me formei no ensino médio.Não gosto nem um pouco do patrão, percebo o jeito que me olha, até a esposa dele já percebeu, e graças a Deus ela não me culpa pela falta de caráter do marido, falando no diabo.- Princesa - o velho barrigudo diz ao se aproximar, reviro os olhos.- Acho que o senhor me confundiu - digo seca.- Tenho algo para você - ignora o que acabei de dizer e retira um pacote do bolso, não dou confiança e continuo o que estou fazendo - aqui tem milzinho, é seu se me deixa apenas sentir o cheiro do seu mel.Fico totalmente perplexa com o que acabei de ouvir, realmente não acredit
Apenas com uma mochila nas costa e um sonho sigo para a rodoviária, no caminho decido pegar um ônibus para São Paulo, pesquiso por pensões e acho uma que julgo ser boa e segura, a viagem será longa e terei tempo para pensar o que fazer da minha vida.É nessas horas que penso nos meus pais, quem são eles? será que ainda estão vivos? por que eles me abandonaram? são tantas perguntas que possívelmente nunca saberei a resposta. Costumo falar que sou filha de chocadeira, por conta desse detalhe. Bom, mas a males que vem para o bem, se meus genitores não tivessem me abandonado quando criança não teria conhecido Juliete a mulher me criou, ela sim foi uma mãe de verdade, foi uma pena ela ter me deixado tão cedo.Juliete morreu aos 45 anos devido a um câncer de mama, por muitos anos lutamos contra, porém ele venceu, minha mãe se foi quando havia acabo de completar 18 anos, erámos apenas nós duas, foi uma época muito dificil, não tínhamos muitas condições e esperar pelo governo era ainda mais d