Pela primeira vez Endy percebeu algo na voz, tinha um ar de fraqueza, de convicção mesclada a uma infantilidade que beirava o egocentrismo, mas também o imaginou dizendo com lágrimas descendo o rosto, com um suspiro exausto de uma alma cansada de lutar, de perder, de nunca desistir. Pela primeira vez seu caçador deixava o plano das deidades, das pessoas que não se quebravam pra revelar os mais sutis traços humanos, a fragilidade e a dúvida. Era só mais um menino correndo atrás de um sonho, um bebê tentando tocar a lua do seu pequeno berço sem de dar conta da distância que havia entre eles, um desejo condenando a não se realizar, a falhar todas as vezes.
- Faz parte do meu sonho. – Continuo ele a fitando, enquanto seus olhos ganhavam uma nova audácia, uma versão dupla e reforçada da convicção que já estiveram entre as ires sem vida, mas agora estavam mais fortes, renovadas pelo constante desgaste. Então devolveu com a mesma coragem que respondeu, com um novo ânimo. P
Devia ser cedo, a luz do sol nascente mal invadia o quarto através da cortina e tudo que ouvia pela janela aberta era o som estridente de água caindo. Foi a curiosidade que a levou a desvendar o mistério do que havia lá fora? O que fazia aquele barulho? O que ou quem estava acordado, aquelas hora? Por isso esgueirou os olhos pelo tecido ao vento, enquanto aos poucos observava os fatos solucionando o intrigante caso que estava em sua mente. Os cabelos curtos ganhavam tons mais escuros conforme a água passava por eles, e ao fitar as costas, expostas, cheias de cicatrizes perguntas se formavam questionando qual seria as histórias por trás delas? Mas não era esse o foco, não naquele momento. Ao lado dele uma tocha presa ao poço fornecia a pouca luz que corroía o delicado véu do que restava da noite. O balde foi julgado no poço e depois de alguns segundos água despencava a partir da cabeça levando toda a sujeira do corpo embora.Conforme acordava perguntas surgiam e as i
Ailyn saiu do quarto de Aylilins, mas antes fitou o cômodo e por um momento se perdeu no seu próprio reflexo, nos olhos cristalinos azuis que tinham um toque incontido, como as ondas do mar tentando tomar a praia, onda a pôs onda, o queixo levemente quadrado dava uma certa elegância aos traços finos e concretos do rosto, já os lábios finos e rosados se destacavam na pele de porcelana, enquanto o nariz suavemente sardado harmonizava cada minúsculo detalhe da face em uma obra de arte completa. Mas não foi isso que parou, que o fez pensar ou o prendeu frente ao grande espelho embutido na cômoda repleto de joias, pendentes e cosméticos, mas o reflexo da cama que preenchia o imenso quarto.- Uma hora vão te
O rei Kripnor notou o movimento, os olhos atentos de seu sobrinho na vasta sala e a expressão confusa a cada novo fato revelado na luxuosa câmara. Por um momento ele invejou seu irmão, por toda a eternidade desejaria que Ailyn fosse seu filho e não dele. A riqueza, a fama, ou as mulheres dentre a nobreza não conseguiam atrair ou manchar aquele cabelos dourados e envolver como altivas ires azuladas com a cobiça, com como armações e como luxúrias palacianas. Aos olhos esverdeadas do imperador aquela criança deveria herdar o reino, necessária governar o trono, a todo custo, e se fosse necessário a força. Mas sabia que como seu pai ele não o faria, era um cão tão leal que mesmo oprimido voltaria sorrindo ao seu dono, era esse tip
- Então é possível!? – Questionou Kripnor levando uma das mãos ao queixo do lobo negro. – Escriba redija. – O governante se pôs de pé alçando seu cetro real ao peito continuo. - Eu, Kripnor Obverkes Alkis Terceiro, incluo a cláusula que o direito de ensino nas escolas mágicas pode ser negados aos novos e velhos estandartes nobres que faltarem com desrespeito as suas autoridades Mors. – Proclamou o rei assentando em seu trono. – Segundo este novo adendo eu Imperador Kripnor restrinjo o direito do Príncipe Ailyn de estudar magia pela a forma descortês de se portar a corte, sobre o crime de invadir a sala do trono e de se dirigir ao imperador de forma desrespeitosa. E até que de case com a filha da condessa Obnurs como forma de retratação pública estará plenamente com este direito suspenso.- Você não fez isso?! – Disse o príncipe duvidando do que estava ouvindo e mantendo um pensamento em mente. O príncipe respirou fundo e recuou o passo que havia dado sup
A coisa mais difícil de fazer foi apagar tudo ao seu redor quando anos de treinamento diziam o contrário, nada devia passar despercebido. Parecia uma ordem louca e desnaturada ir a um lugar que houvesse água, árvores e vista para o céu simplesmente para cruzar as pernas. Era insensato, era inconcebível ao menino ignorar ou seus instintos, tudo que seus olhos e ouvidos demoraram tanto para aprender devia ser ignorado pra que pudesse meditar, sentir o fluxo da mana e se conectar a natureza. Eram conceitos novos que só podiam ser loucura, mas mesmo que fosse Orion não contrariaria seu mentor, se chegou tão longe e se teve alguma maneira de fracassar foi porque Raydon mostrou um meio à ser tentando. O erro e a falha vinham da sua falta de perícia, de estratégia e força, e não do homem que deu um meio de se aproximar do que queria.Foi por isso que trocou de roupa, vesti
As mãos estavam sobre o corpo deitado de Orion que se iluminou quando terminou de dizer suas palavras. Era um brilho verde, uma transição mágica que lhe estraçalhava o corpo de dentro pra fora, podia sentir o corpo arder, a pele sendo retorcida e a alma gritando, enquanto seus olhos ficavam fosco. Mas não podia se dar luxo de desmaiar, que seu menino sentisse a dor que estava tomando pra ele, não podia ceder, não agora. Havia muito a ser feito ainda.Devoção. Devoção... Devoção! Era o que ecoava em seus ouvidos, que fazia o gosto de sangue invadir o fundo da boca, e lembrava a Raydon de quem era e o que já foi, do que já tinha feito em nome dessa palavra. Mas ao que era devoto agora? Se não aos caprichos, aos desejos de um homem que não queria ficar só, e ao medo de perder mais alguém. Agora, por aquele momento, não, foi antes, quanto estava prestes, a ceder, a decidir quebrar uma das suas promessas. Mas esperou, prorrogou o quanto pode até que seu coração d
Raydon ficou em silêncio e ouvindo os próprios pensamentos apenas para perceber, que havia falado demais e, que devia ficar calado. Não houve muitas perguntas ainda que ele conseguisse ver a inquietude de Endelina, o quanto estava lutando contra a sua natureza inquisidora e curiosa. Mas não respondeu a nem uma delas. Talvez como ela ele ainda não houvesse superado o abandono, ainda fosse uma ferida em sua alma rígida. Talvez por isso continuo na sala, para impedir que fosse assolado pelo completo pelo caos de sua mente, ou porque tinha medo de ter o mesmo sonho pela terceira noite. Tinha o receio que assim que fechasse os olhos a voz familiar estivesse lá, o aceitando de volta e reivindicando algo que estimava mais que a si mesmos. Por isso estava bebendo vorazmente, os bêbados esquecem, não sonham, e só acordam pra realidade pra se deliciar com a ressaca e não com seus pesadelos. Ao menos era o que pensava. O comandante precisava de algo mais forte, mas não queria voltar ao ciclo v
“Tudo era escuro, sombrio e opaco e de alguma maneira a luz surgia, como pequenos traços, dando vida a um mundo negro e azul. Sem pressa, um ponto se ligava a outro dando origem as linhas que quando fitava com atenção formavam contornos. Era um mundo estático, mas tão vibrante que parecia vivo e em movimento. Era estranho o silêncio e até a forma de enxergar, em alguns momentos nada parecia ter profundidade, e em outros momentos que só haviam os passos dissonantes sobre os traços.”Foi quando Orion recordou que já esteve nesse lugar uma vez, mas não entrou porque quis, quando estava encantando a última flecha havia convertido até mesmo a última gota de magia em encantamento, e quando desmaiou de “exaustão manéra” viu este lugar. Mas agora era diferente, a visão era mais nítida e de alguma forma ele se sentia parte de algo imenso, onde sua existência não maior que ele, o garoto era uma pequena gota em um imenso oceano.O caçador observou ao seu r