O doutor Nilton colocou Amanda a par de todo quadro clínico de Raul e sentada ela estava e sentada continuou ouvindo tudo calada, mas extremamente feliz e esperançosa, seu amado iria se recuperar e ela ficaria ao lado dele. Trocar de lugar com ele seria impossível, mas se pudesse o faria sem pestanejar. Porque o fato era, a médica se sentia culpada.O fardo de tudo que aconteceu estava pesando e muito em suas costas. Chegou a passar pela cabeça dela que, se talvez não tivesse se envolvido com o homem que tanto amava, ele não estaria lutando pela vida nesse momento.Romper com André, foi apenas a ponta do iceberg, o psicopata nunca foi o ser mais agradável do mundo, mas virar um assassino frio, isso foi muito para a cabeça dela.A culpa era um doce amargo e estava difícil de ser digerido. Entretanto, pensaria no assunto mais tarde, nada mais importava, nem mesmo o sentimento de responsabilidade corroendo suas entranhas, o primordial em sua vida era ver Raul, tocá-lo, senti-lo vivo, res
— Você é Amanda? — Um homem alto, com cara de poucos amigos, acompanhado de uma mulher aproximou-se deles.— Eu mesma, por quê?— Somos os investigadores, poderíamos conversar?— Com certeza. — Amanda foi categórica. — Poderiam apenas me dar um minuto, por favor? — ela pediu e os policiais se afastaram.— Eu não contei esse detalhe a eles, filha — Glauco informou e tanto a esposa quanto José e Léia o confrontaram através do olhar.— Tudo bem, pai. Não existe uma forma moderada de dizer. — Amanda fechou os olhos por um instante e, ao abri-los, foi relatando: — Não sofremos um assalto, não foi isso que aconteceu, na verdade, o André, meu ex-namorado, foi o culpado. — Eles a olharam boquiabertos. — Aquele desgraçado é um assassino, ele confessou ter sabotado o carro do papai, ter atropelado o Chico e... — O rosto dele veio em sua mente causando nela uma enorme repulsa. — Chegou a regozijar-se relatando que matou prostitutas. Ele estava nos seguindo, colocou rastreadores no meu e no carro
O cientista político passou quase duas semanas internado. Após seis dias na UTI, ele foi transferido para o quarto e naquela tarde removido para o Hospital Santo Agnelo, o mesmo em que Amanda trabalhava. Ela optou em transferi-lo para que Raul tivesse todo apoio e assistência do corpo clínico que conhecia como a palma de sua mão, embora o hospital público para onde foram levados tivesse atendido e cuidado dele com excelência.A médica como prometido, não saiu de ambos os hospitais, permaneceu todos os dias ao lado de seu amado, que, apesar da perda de peso, um quadro febril nos primeiros dois dias após a cirurgia, recuperou-se muito bem.Quanto ao André, a polícia ainda continuava à procura dele, dois meses haviam se passado, coisas horrendas foram descobertas, como o quarto improvisado com as paredes repletas de fotos de Amanda e Raul anexadas por toda parte, tal qual sua coleção de armas de fogo, vídeos terrificantes de mulheres sendo agredidas e abusadas, perucas, bigodes, lentes d
O persistente sol teimava em passar por entre as nuvens naquela manhã. Amanda acordara esgotada principalmente após a longa e fatídica conversa da noite anterior com seu então ex-namorado.André era um homem bonito, charmoso, bem-sucedido e extremamente controlador. Os três anos que passaram juntos foram bons, mas também tóxicos e, se a balança dos relacionamentos de fato existisse, penderia para os momentos mais enfadonhos do que os prazerosos. Amanda cansou-se de relevar, de passar panos quentes; na verdade ela se cansou de tudo nele, até mesmo no que a atraía com o passar dos anos tornou-se indesejável e dispensável. O rompimento não fora doloroso pelo menos para ela, a médica ortopedista de 31 anos sabia o que desejava numa relação e passar o resto da vida em negação e pisando em ovos não fazia parte dos seus planos.André não era agressivo, embora fosse muitíssimo ciumento, porém gostava de controlar tudo e todos a sua volta, e o que mais a irritava era a maneira absurda que tinha
Duas semanas se passaram até que Amanda conseguisse uma folga no hospital e com a ajuda de sua recepcionista remanejasse as consultas agendadas em seu consultório. Ela passou dias tentada em aceitar de prontidão a dica da amiga e após muitas reflexões, acertos aqui e ali, a cirurgiã ortopédica conseguiu dez dias para curtir a natureza, relaxar numa rede ao som das ondas arrebentando nas pedras, o cantar dos pássaros, tudo que fosse possível para recarregar as baterias e voltar disposta a seguir adiante com alguns planos que, por falta de entusiasmo, foram adiados.Assim que ela cruzou a porta do quarto onde passaria os próximos dias, soltou um longo suspiro. Amanda estava convicta de que tomara a decisão mais assertiva após dar um basta em seu romance nada romântico. Tomada por uma força interior capaz de fazê-la derrubar solidificadas barreiras, ajeitou seus pertences no armário de carvalho que ficava ao lado oposto da cama king size, que fora escolhida propositalmente como um teste d
Como de costume, Raul acordou antes das seis, frequentador assíduo da academia de seu condomínio resolveu se exercitar correndo pela orla marítima. Ao contrário do dia anterior, o sol começava a despontar e com a energia saltando pelos poros, correu por quase duas horas, retornando à pousada com a regata ensopada de suor e gotículas deixando sua pele ainda mais chamativa.Ao cruzar pela recepção esticou os ombros olhando precisamente em direção ao refeitório tentando encontrar a mulher com quem se esbarrara no dia anterior. Sua especulação foi em vão, Amanda ainda dormia, e dormia como uma pedra, e quando ela acordou e abriu a porta balcão da sacada, amou ver que o dia prometia. Rapidamente tomou um banho, se recompôs e desceu para tomar o café da manhã.Se servia de uma fatia de queijo branco, no instante em que o homem e seu cão adentraram o ambiente.Os olhos de Raul chamuscaram e os de Amanda fingiram indiferença.— Bom dia — Raul cumprimentou de modo geral, no entanto, olhando fix
Raul se balançava na rede quando ouviu a voz da Amanda soando um tanto irritada do outro lado. Disposto a descobrir o que de fato estava acontecendo, saiu de seu quarto com o Chico na guia e aproximou-se da porta do quarto da sua vizinha preferida.— André, por favor, não temos mais nada para conversar. Saí alguns dias justamente porque precisava descansar.Amanda falava e caminhava de um lado para o outro, impaciente e completamente encolerizada, com a insistência do ex.— Não, de forma alguma. Não vou te passar endereço nenhum. Naquela noite coloquei um ponto final no nosso relacionamento, supus que tinha compreendido, já que sumiu. Mas estou vendo que as coisas nunca mudam, e você continua o mesmo de sempre.O homem disse algo que a deixou ainda mais furiosa.— Isso não te diz respeito, André... — Ele cortou sua frase e continuou falando num tom arrogante. — André, segue a sua vida.Raul impaciente do outro lado, deu dois toques na porta. Amanda girou a maçaneta e, séria, deu um mei
Os dias que se seguiram foram exatamente iguais, o recente casal nem sequer conseguia disfarçar o quanto estavam envolvidos, embora o beijo fosse cada vez mais ardente, os carinhos mais ousados, eles continuavam prudentes. Amanda desejava, claro que o queria, no entanto, estava sendo racional, nem sempre o desejo da carne deveria vir em primeiro lugar.Ela estava feliz, muito mais do que gostaria e isso também era um problema, e o mesmo acontecia com Raul. O homem foi pego de jeito, estava louco por ela. A cada encontro a conhecia melhor e sua fascinação aumentava à medida que Amanda se revelava.O cientista político só não estava totalmente ciente do rompimento dela, isso a médica ocultava, e ele não era curioso ao extremo para questioná-la e ela não se sentia segura para colocá-lo a par de toda a situação.Deixaram esses pormenores de lado e seguiram aproveitando cada segundo que a vida lhes proporcionava.— Meus amigos chegam amanhã — Raul comentou enquanto caminhavam no calçadão ap