— Oi, Pati. — A médica recebeu a amiga com a porta aberta e um abraço apertado.— Amiga, como você está? E o seu pai?Elas entraram, Pati colocou a bolsa sobre o sofá e entregou a amiga um embrulho de uma pâtisserie que ficava no caminho com cannolis recheados de baunilha, os preferidos de Glauco.— Será que ele vai gostar? Cannolis, do jeito que seu Glauco adora, fresquinhos.— Ela vai amar, bom que veio, ele está bem emotivo, fico com o coração apertadinho. Mas é um alívio, amiga. O susto foi grande.— E você, tem se cuidado, se alimentado? Está abatida, Mand.— Com um namorado chamado Raul e seus pais como sogros, o que mais tenho feito é me alimentar. Raul tem sido meu braço direito, esquerdo, nem sei como aguentaria o tranco. E a Léia e o Senhor José, uns fofos, visitaram papai todos os dias e levavam para mim e para a minha mãe, coisas deliciosas.— Fico feliz em saber, você merece esse homem.Amanda anuiu.— Quer ver o doentinho? — A ortopedista brincou com a amiga.— Vim espec
O nefasto sorria diante do espelho enquanto fazia a barba. O barbeador elétrico aparava os poucos pelos que tinha na face, deixando-o o mais vistoso possível. André queria parecer bem e bonito diante de Amanda. Não queria que ela se assustasse com sua aparência cadavérica, ele sabia que havia emagrecido, todos ao seu redor haviam notado e, assim como respondeu aos enxeridos catalogados por sua mente perversa, falaria o mesmo a ex-namorada caso fosse necessário. Desculpas esfarrapadas ele as tinha aos montes e por ser livre de qualquer suspeita, ter a crença das pessoas em si, isso enaltecia demasiadamente seu ego.De dia um homem bom, à noite uma fera com sede de sangue.— Você está ótimo, meu caro.Mostrando ao espelho os dentes perfeitamente alinhados e brancos, deixou o aparelho de barbear sobre o lavatório de mármore travertino e deu dois sutis tapinhas em seu rosto.André era egocêntrico, desde criança o narcisismo estava imbuído nele. Sempre gostou de ser o centro das atenções,
As horas se passaram, a doutora Amanda atendeu a todos como de costume, dando a atenção devida e sanando as eventuais dúvidas caso surgissem. E desejando acabar logo com esse episódio desagradável ligou para a recepção e pediu para que André entrasse.Ao contrário do que fazia, ela não o recebeu na porta com um aperto de mão, ou com um largo sorriso, a médica recebeu seu ex sentada atrás de sua mesa. O inconveniente, vibrando por dentro e atuando, parou na entrada do consultório e deu um sorriso discreto.— Boa noite.Em tom baixo e parecendo um ser digno de pena, entrou.— Perdão por vir sem avisar e de última hora, eu me machuquei ontem à noite numa partida de futsal.Amanda retribuiu o sorriso com outro falso e achou estranho ele ter se machucado jogando futebol, o homem sempre odiou qualquer tipo de esporte. Dizendo um boa-noite sem muita empolgação, ela apontou a cadeira à sua frente.— Você caiu, torceu? Como foi? — A médica sendo profissional, questionou olhando para seu monito
Após uma noite tórrida de prazer e dormir agarrada ao homem que amava, a médica iniciou seu dia com uma cirurgia agendada, ela higienizava as mãos quando uma das enfermeiras entrou.— Bom dia, doutora.— Oi, bom dia. Nossa, com tudo que tem acontecido, fiquei de perguntar sobre aquela moça que foi agredida por um cliente e deu entrada no hospital em que você dava plantão e acabei me esquecendo, como ela está?— Ela faleceu, judiação. Não aguentou.— Lamento saber. Que triste. — Amanda, apesar da casca dura que, às vezes, a envolvia no ambiente de trabalho, era solidária e se apiedava das pessoas. — Espero que o agressor seja punido, ou continuará atacando, quem faz uma, faz duas e não para nunca, infelizmente. Que a justiça seja feita.— Eu espero, doutora. Independente do que ela fazia para ganhar a vida, não merecia uma morte assim.— De forma alguma, foi mais uma vítima dentre tantas nos país. Quando mulheres não morrem nas mãos dos companheiros, sejam ex ou não, morrem nas mãos de
Mais uma mulher tinha sido vítima de André, sua loucura desmedida estava fugindo do controle, após cometer o ato, deixar a moça ferida e nua, jogada numa caçamba de lixo, ele dirigiu até um terreno baldio que ficava do outro lado da cidade, e que havia descoberto durante uma de suas andanças, em busca de lugares ocultos para cometer suas atrocidades. O local era malcheiroso, ali, além de descarte de lixos, havia também cadáveres de animais em decomposição. André levou a mão sobre a boca e nariz, para tentar conter o fedor que vinha de uma carcaça de cavalo.Caminhando por entre a sujeira, ele tirou de uma sacola plástica o par de luvas que havia usado, o moletom que estava com respingos de sangue e a camisinha ainda com seu sêmen e com um pequeno nó na ponta. Primeiro ele desfez o nó, descartou o gozo, num amontoado de terra, e cavando um pequeno buraco com um graveto que encontrou, ele enterrou o preservativo. Posteriormente, deu uma olhada ao redor para se certificar de que não havia
— O André consegue te tirar do sério como nunca vi ninguém conseguir essa proeza.— Ele tem o dom, vê se pode aparecer lá, sem marcar horário e detalhe, pela segunda vez, e ciente que poderia ter me enviado o laudo, link seja o que for pelo e-mail da clínica. É um sádico, que sente prazer em aporrinhar os outros, isso é o que ele é e ama fazer. — Amanda soltou um longo suspiro.— Vem aqui, bravinha, — Raul a abraçou enquanto caminhavam pelos corredores do shopping. — Você está corada, mas prefiro que core quando estou dentro de você e te falando umas sacanagens. — Ele a beijou com carinho.— Eu também. — Amanda encostou a cabeça no ombro do namorado e Chico latiu. — Tudo isso é ciúmes, Chico? — O casal se entreolhou e caíram na risada.— Ciúmes de você, pode apostar. Meu cão é um traidor, sem sombra de dúvidas.— Vixe, cãozinho, seu dono está dizendo que você é um traíra, e agora? Quer ir morar comigo? — Amanda piscou para Raul e afagou o cão.— Desde que eu vá junto, fechamos o acord
Era aniversário de Glauco e ela tinha muito por fazer, não seria uma festa grande, algo íntimo, mas não menos glamoroso, na lista amigos e parentes mais próximos, incluindo os familiares de Raul. O salão de festa do condomínio fora locado com antecedência, assim como o buffet de massas, o que ficou por conta do casal foram as decorações.O trajeto fora tranquilo e logo estacionavam na frente do prédio. Eles desceram e Chico todo faceiro caminhou ao lado deles. O trio estava feliz, o casal de mãos dadas e o pug levado sem guia acompanhando-os e ciente de que, em breve, ganharia um petisco de Estela, que havia se afeiçoado ao cão tanto quanto a filha. Eles passaram pela portaria e André, que havia os seguido até lá, deu seta e saiu sem chamar a atenção.Saco de pulgas, miserável, logo você será apenas uma lembrança triste. Principalmente para esses dois imbecis. Tragou seu cigarro e descartou a bituca na rua, enquanto dirigia.O impiedoso estava decidido, mataria Chico e depois daria c
Mais de um mês havia se passado desde que André decidiu acabar com a vida do cão, e, para não levantar suspeita de espécie alguma, ele comprou uma moto, não nova, muito menos imponente, adquiriu uma usada, com muitos quilômetros rodados. O malévolo tinha habilitação, porém não a usava há mais de seis anos, nem mesmo Amanda sabia que o ex-namorado quando jovem gostava de se aventurar sobre duas rodas.Como sempre, sua mente perversa pensava em tudo e, desta vez, não foi diferente, André optou em usar uma motocicleta para atropelar Chico, usando um capacete discreto e básico, passou a montar guarda à espera de uma oportunidade, e essa ocasião chegou.Era sábado à noite, o céu estava parcialmente nublado e raios riscavam as nuvens escuras, indicando que muito em breve cairia uma forte chuva, trajando um jeans básico e um corta-vento preto e parado com sua moto a alguns metros do prédio de Raul, próximo a uma árvore de tronco largo, André esbravejou, quando um trovão lhe tirou a concentraç