Era aniversário de Glauco e ela tinha muito por fazer, não seria uma festa grande, algo íntimo, mas não menos glamoroso, na lista amigos e parentes mais próximos, incluindo os familiares de Raul. O salão de festa do condomínio fora locado com antecedência, assim como o buffet de massas, o que ficou por conta do casal foram as decorações.O trajeto fora tranquilo e logo estacionavam na frente do prédio. Eles desceram e Chico todo faceiro caminhou ao lado deles. O trio estava feliz, o casal de mãos dadas e o pug levado sem guia acompanhando-os e ciente de que, em breve, ganharia um petisco de Estela, que havia se afeiçoado ao cão tanto quanto a filha. Eles passaram pela portaria e André, que havia os seguido até lá, deu seta e saiu sem chamar a atenção.Saco de pulgas, miserável, logo você será apenas uma lembrança triste. Principalmente para esses dois imbecis. Tragou seu cigarro e descartou a bituca na rua, enquanto dirigia.O impiedoso estava decidido, mataria Chico e depois daria c
Mais de um mês havia se passado desde que André decidiu acabar com a vida do cão, e, para não levantar suspeita de espécie alguma, ele comprou uma moto, não nova, muito menos imponente, adquiriu uma usada, com muitos quilômetros rodados. O malévolo tinha habilitação, porém não a usava há mais de seis anos, nem mesmo Amanda sabia que o ex-namorado quando jovem gostava de se aventurar sobre duas rodas.Como sempre, sua mente perversa pensava em tudo e, desta vez, não foi diferente, André optou em usar uma motocicleta para atropelar Chico, usando um capacete discreto e básico, passou a montar guarda à espera de uma oportunidade, e essa ocasião chegou.Era sábado à noite, o céu estava parcialmente nublado e raios riscavam as nuvens escuras, indicando que muito em breve cairia uma forte chuva, trajando um jeans básico e um corta-vento preto e parado com sua moto a alguns metros do prédio de Raul, próximo a uma árvore de tronco largo, André esbravejou, quando um trovão lhe tirou a concentraç
Os risos não cessavam, André estava inquieto, mas feliz. Andando de um lado ao outro do seu covil, torcendo para que, ao menos desta vez, algo de muito ruim tivesse acontecido. Almejava que o cão estivesse morto. Seria o suprassumo da noite. Para comemorar o feito, serviu-se de um copo duplo de uísque e acendeu um cigarro e, enquanto baforava e vertia a bebida, ria da cena gravada em sua mente. O desespero da Amanda era sua parte preferida.— Vadia, aquele saco de pulgas deve estar destroçado. Gostaria de ser uma mosca para ver a cara dos dois. — Gargalhou e perdigotos misturados com o álcool pularam de sua boca. — A próxima será a sua mãe, afinal mãe de vadia, vadia é. — Riu com gosto mais uma vez, ajeitou-se na poltrona e colocou os pés sobre um engradado velho de cervejas. Ora rindo, ora quieto, mas curtindo a batalha que supôs ter ganhado.***O perfume de flores frescas invadiu sua narina. Amanda ergueu a cabeça e sorriu ao ver meia dúzia de rosas vermelhas depositadas sobre a fr
Após o almoço o casal decidiu ir ao cinema, afinal há tempos não saíam, deixaram Chico na casa dos pais do Raul e seguiram para o shopping que ficava no caminho. Seria um momento natural, se... se André, com sua audácia, não aparecesse na sessão e sentasse a alguns metros do casal. Ele sabia que a ex gostava de se sentar nas fileiras do meio, então estrategicamente comprou um assento na última.O insano obtinha o controle da situação. Os carros de Raul e Amanda continuavam com os rastreadores e, a não ser que ambos precisassem de manutenção, o dispositivo jamais seria descoberto. Dentre tantas outras vezes, ele os seguiu, ficou à espreita e, quando os namorados entraram na sala cinco, André aguardou pacientemente que as luzes fossem apagadas e deleitando-se com o frisson que a situação lhe causava, passou por eles escondendo-se atrás de um balde grande de pipoca com manteiga. A penumbra o encobria, porém não queria correr o risco de ser notado.A médica e o namorado, focados nos trail
O persistente sol teimava em passar por entre as nuvens naquela manhã. Amanda acordara esgotada principalmente após a longa e fatídica conversa da noite anterior com seu então ex-namorado.André era um homem bonito, charmoso, bem-sucedido e extremamente controlador. Os três anos que passaram juntos foram bons, mas também tóxicos e, se a balança dos relacionamentos de fato existisse, penderia para os momentos mais enfadonhos do que os prazerosos. Amanda cansou-se de relevar, de passar panos quentes; na verdade ela se cansou de tudo nele, até mesmo no que a atraía com o passar dos anos tornou-se indesejável e dispensável. O rompimento não fora doloroso pelo menos para ela, a médica ortopedista de 31 anos sabia o que desejava numa relação e passar o resto da vida em negação e pisando em ovos não fazia parte dos seus planos.André não era agressivo, embora fosse muitíssimo ciumento, porém gostava de controlar tudo e todos a sua volta, e o que mais a irritava era a maneira absurda que tinha
Duas semanas se passaram até que Amanda conseguisse uma folga no hospital e com a ajuda de sua recepcionista remanejasse as consultas agendadas em seu consultório. Ela passou dias tentada em aceitar de prontidão a dica da amiga e após muitas reflexões, acertos aqui e ali, a cirurgiã ortopédica conseguiu dez dias para curtir a natureza, relaxar numa rede ao som das ondas arrebentando nas pedras, o cantar dos pássaros, tudo que fosse possível para recarregar as baterias e voltar disposta a seguir adiante com alguns planos que, por falta de entusiasmo, foram adiados.Assim que ela cruzou a porta do quarto onde passaria os próximos dias, soltou um longo suspiro. Amanda estava convicta de que tomara a decisão mais assertiva após dar um basta em seu romance nada romântico. Tomada por uma força interior capaz de fazê-la derrubar solidificadas barreiras, ajeitou seus pertences no armário de carvalho que ficava ao lado oposto da cama king size, que fora escolhida propositalmente como um teste d
Como de costume, Raul acordou antes das seis, frequentador assíduo da academia de seu condomínio resolveu se exercitar correndo pela orla marítima. Ao contrário do dia anterior, o sol começava a despontar e com a energia saltando pelos poros, correu por quase duas horas, retornando à pousada com a regata ensopada de suor e gotículas deixando sua pele ainda mais chamativa.Ao cruzar pela recepção esticou os ombros olhando precisamente em direção ao refeitório tentando encontrar a mulher com quem se esbarrara no dia anterior. Sua especulação foi em vão, Amanda ainda dormia, e dormia como uma pedra, e quando ela acordou e abriu a porta balcão da sacada, amou ver que o dia prometia. Rapidamente tomou um banho, se recompôs e desceu para tomar o café da manhã.Se servia de uma fatia de queijo branco, no instante em que o homem e seu cão adentraram o ambiente.Os olhos de Raul chamuscaram e os de Amanda fingiram indiferença.— Bom dia — Raul cumprimentou de modo geral, no entanto, olhando fix
Raul se balançava na rede quando ouviu a voz da Amanda soando um tanto irritada do outro lado. Disposto a descobrir o que de fato estava acontecendo, saiu de seu quarto com o Chico na guia e aproximou-se da porta do quarto da sua vizinha preferida.— André, por favor, não temos mais nada para conversar. Saí alguns dias justamente porque precisava descansar.Amanda falava e caminhava de um lado para o outro, impaciente e completamente encolerizada, com a insistência do ex.— Não, de forma alguma. Não vou te passar endereço nenhum. Naquela noite coloquei um ponto final no nosso relacionamento, supus que tinha compreendido, já que sumiu. Mas estou vendo que as coisas nunca mudam, e você continua o mesmo de sempre.O homem disse algo que a deixou ainda mais furiosa.— Isso não te diz respeito, André... — Ele cortou sua frase e continuou falando num tom arrogante. — André, segue a sua vida.Raul impaciente do outro lado, deu dois toques na porta. Amanda girou a maçaneta e, séria, deu um mei