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O Crush que não é mais crush

Dezembro, atualmente… 2020 (dois anos depois de conhecer Dante)

Aguardo pela minha vez no consultório de Dante.

É dia 16 de dezembro, plena quarta-feira e isso está o caos. Tudo bem que seu consultório está sempre cheio, e não é apenas porque ele é um ótimo dentista. Dante continua um gato, daqueles que você olha e diz: “Deus deve ter gastado uma semana nessa maravilha!''. Hoje trouxe minha amiga que, de tanto ouvir falar do dentista dos sonhos, resolveu vir comigo. Não que Caroline precise, já que ela é linda e perfeita, mas como ela passava muito tempo com seu ex-noivo, nunca conheceu Dante pessoalmente.

— Nossa, eu achei que você estava exagerando, Manu, mas dou o braço a torcer. Parece que você não é a única a nutrir um crush pelo dentista! — se senta ao meu lado no instante que vaga um lugar.

— Não sei por que pensou que fosse exagero — abro um panfleto promocional que peguei no balcão.

— Emanuele, você é a pessoa mais exagerada que conheço! — bufa e sorri. 

— Uau! Mui amiga és tu — ironizo.

— Eu te amo, sabe disso. E sabe que falo a verdade — ela passa o braço ao meu redor.

— Também amo você e, sim, é possível que eu tenha tendências grandiosas, porém, não precisa dizer em voz alta — respondo e ela ri. 

Caroline e eu somos amigas desde a infância, crescemos e estudamos juntas, moramos na mesma vizinhança desde sempre, inclusive, consegui comprar meu apartamento no mesmo bairro, graças a Deus, estava enlouquecendo com minha família no meu pé, embora tivessem motivos! Ficamos um tempo afastadas, mas as circunstâncias a trouxeram de volta.

— Será que o seu doutor tem um irmão? — ela pergunta, de repente.

— Tem sim, mas acho que tem namorada, é noivo ou algo assim, por quê? — levanto a sobrancelha.

— Ah, depois que o Ricardo terminou o noivado, minha mãe tem me alugado, diz que já estou velha demais para morar com ela, aquele velho blá blá blá que você conhece — suspira, cansada.

Caroline era noiva do Ricardo Ferraz, um empresário do ramo de automóveis. Acontece que o cara é um tremendo galinha e como as redes sociais não deixam mais nada na obscuridade, ela encontrou uma foto bem comprometedora dele em uma boate em São Paulo, eles discutiram feio e, bem, para sair por cima, o idiota terminou o noivado, não que ela fosse continuar com ele, no entanto, o cretino deu no pé. O problema é que minha amiga e ele já estavam com o enxoval completo, apartamento comprado, Caroline, inclusive, morava lá e, com o término, teve que sair e está aguardando a venda do imóvel para resgatar seu investimento, já que ela pagou a metade. Com tudo isso, minha amiga voltou a morar com a mãe dela, que não é uma pessoa muito fácil de conviver, não com Caroline.

— Já te convidei para ficar comigo lá no meu apartamento, Carol. Tem um quarto extra, poderia se mudar ainda esse ano, assim, eu diria para minha família que vamos passar o Natal da solteirice juntas! — falo, empolgada.

— Natal da solteirice? — faz uma careta.

— É, ué! Tenho 34 anos e você 33, somos lindas, solteiras e já estou farta de ver Fabrícia chegar todos os anos com aquelas crianças perfeitas e fofas que amo, o marido perfeito, para falar da vida perfeita… além do mais, a Evelyn vai para lá com o noivo e você sabe, mesmo depois do que me aconteceu, vão me julgar por eu estar solteira — desabafo.

Fabrícia é minha prima, amo os filhos dela, são crianças incríveis, apesar de tudo, temos uma pequena rivalidade, a qual não entendo como começou. Ela agarrou um americano, casou logo e agora tem uma vida de sonhos em Boston. Todos os anos tenho que ouvir piadas sobre o fato de estar solteira. E Evelyn é minha irmã mais nova que, sim, está noiva de um rapaz muito bonito e gentil, o Fernando, adoro aquele menino.

— Hum… sinto muito, amiga. Mas não acho que pegam tanto no seu pé ou se pegam, é exatamente pelo que aconteceu, além disso, eu gosto muito de passar o Natal com sua família, nunca tive nada assim — seu olhar vaga para longe.

Minha amiga tem uma vida familiar difícil, o pai dela abandonou a família quando Caroline ainda era adolescente, ele foi embora com uma secretária do trabalho, pois é, esse é um daqueles clichês que não desejamos ver na realidade, entretanto, acontece. Desde então, a mãe dela mudou radicalmente, é uma pessoa fria e um tanto depressiva.

— Ah, Carol! Sabe, você é uma pessoa boa, é linda. Vai encontrar a felicidade em breve e vai esfregar na cara da sociedade! — Tento animá-la e ela gargalha.

— Só você mesmo, Emanuele! E já estou ficando passada, sabe, não estou mais tão bonita quanto antes… — reclama e antes que eu responda, somos interrompidas.

— Eu discordo! — A voz aveludada do homem mais gato que conheço ecoa à nossa frente. Olho para cima e aí está o lindo e perfeito Dante, de jaleco branco, sorriso de comercial de creme dental e um pacote de algum restaurante na mão, provavelmente foi pegar seu almoço. — Embora nunca tenha visto você antes! Como vai, Manu? — ele estende a mão para mim, mas seus olhos estão em Carol, que retribui. 

Traidora!

— Ah, oi, Dante! — respondo sem jeito. — Estou bem, obrigada! Essa é minha amiga, Caroline, eu a trouxe para uma consulta experimental — empurro minha amiga para frente e ambos se cumprimentam.

— Duvido que precise de muita coisa, Caroline! — ele sorri e minhas pernas ficam bambas com esse sorriso. Carol dá uma risadinha tímida e mexe nos longos cabelos lisos e negros. 

Minha amiga é, de fato, uma beldade, tem pele clara e olhos verdes impressionantes que contrastam com seus cabelos, além do corpo esguio.

— Obrigada, Dante! — responde com charme e ambos se encaram por longos segundos. 

Ótimo, me senti um personagem secundário de comédia romântica. 

— Eu… é… Manu — Dante finalmente olha para mim, mas ainda desvia a atenção para ela. — Eu quero te agradecer pela arte que fez para o consultório, ficou incrível e meu irmão aprovou.

— Que maravilha, então posso mandar finalizar todo o projeto? — pergunto animada. Desde que comecei a trabalhar com Dante tenho recebido muitos projetos, e contratei mais duas pessoas, o Rafa e a Valquíria, ambos são ótimos, uma equipe perfeita.

— Ainda não, ele tem algumas ideias que quer discutir comigo, aí passo para você, nós vamos nos encontrar hoje no fim do dia, te ligo depois que fechar com ele.

— Claro, sem problemas.

— Vou voltar, chamarei vocês logo — dá uma piscadela antes de entrar em sua sala.

Minha amiga acena com cara de boba e eu me jogo na cadeira. Só me faltava essa, minha melhor amiga se apaixonar por meu crush eterno…

Esperamos mais alguns minutos em silêncio e a secretária me chama. Entro e me sento na cadeira de sempre. 

— E, então, não lembro de ter procedimentos para fazer, quer algo específico para o Natal? — ele pergunta, avaliando minha boca aberta.

— Gão que eu congueça alhum procedimendo.

— O quê? — ele ri. — Desculpe, pode fechar a boca.

— Não que eu conheça algum procedimento para isso — movimento o maxilar.

— Ah, agora entendi — continua sorrindo. — Seu sorriso segue perfeito Manu, você é uma das pacientes mais cuidadosas que tenho e tem dentes lindos, você é linda — elogia e se levanta, meu coração palpita ansioso. — Vou pedir para daqui a dois meses algumas radiografias, mas só para controle, nada demais.

— Tudo bem — respondo.

— A sua amiga, a Caroline… — começa sem me encarar e digita algo em seu laptop, mas é tão rápido que nem parece ter escrito algo ali. 

— O que tem ela?

— Ela tem namorado? — J**a de uma vez e sinto um peso afundando o meu coração.

— Não, não tem — falo seca e sua sobrancelha se ergue.

— Que surpresa! — me olha finalmente.

— É, você nem imagina… — murmuro baixo enquanto ele escreve.

— Aqui estão os exames. Foi bom te ver Manu, te ligo depois que falar com o meu irmão, vamos ver se tomamos aquele café, já faz tempo que não comemos lá — me entrega as folhas, balanço a cabeça e saio sem dizer nada. 

Não consegui.

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