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Instantâneo l
Instantâneo l
Por: Amanda Freire
A contratação

Toscana — Itália, dezembro, 2020

Prólogo

Dominic Rizzo

Sobressalto assustado com o despertador tocando como um louco, desligo-o e, ao me preparar para sair da cama, uma mão delicada pousa em meu abdômen. 

— Dove stai andando? Fique qui — Bella diz, se aconchegando.

— Infelizmente não posso ficar. Meu voo para o Brasil sai em poucas horas — levanto e beijo sua têmpora.

— Creo que non o verei mais — reclama.

— Por que diz isso?

— Sabe que mi piaci davvero — responde, dizendo gostar de mim.

— E eu de você, Bella! Mas temos um acordo, nada de se apaixonar — estamos saindo há algum tempo, ela é incrível, linda e sensual, porém, após o fim do meu noivado, não quis mais saber de compromisso. 

Quero apenas aproveitar ao máximo.

— Si, io sei, io sei! Mas tu é um uomo meraviglioso, fica difícil… — suspira.

— E você é incrível e sinto muito por isso, mas, se chegamos até aqui, precisamos parar de nos ver — falo cautelosamente, não gosto de magoar as mulheres e Bella é uma pessoa maravilhosa, merece alguém melhor, alguém que dê tudo a ela, tudo que eu não posso dar. 

— Si, lo sei — sai da cama e caminha até o banheiro. — Ainda temos tempo per dire addio?

— Uma despedida não irá nos matar! 

Por causa de Bella uma hora se foi, e agora corro risco de perder o voo se não agilizar. Já tinha previsto que coisas assim poderiam acontecer, especialmente porque se trata de uma mulher como ela, portanto, trouxe minha bagagem para sua casa.

Visto meu terno rapidamente e, depois de pronto, pego minhas malas e a vejo encostada no batente da porta do banheiro. 

— Isso é um addio? — indaga.

— Não, volto antes do Natal, no máximo Réveillon — coloco meus óculos escuros.

Não passar o Natal com a minha família é uma opção descartada, mamma me mata se eu ficar mais um longe.

Ela assente.

— Certo, so non ti innamorare di una ragazza brasiliana — pede para que eu não me apaixone por uma brasileira. 

Viro para ela, sorrindo.

— Isso não vai acontecer!

Com certeza eu não me apaixonaria mais.

Emanuele

Me despeço e corro para o aeroporto.Dois dias após a loucura das compras, recebo a ligação de Dante, marcando uma reunião em um café bem badalado do Rio.

Chego cedo e me sento tensa, embora já tenha feito isso outras vezes. Estou muito nervosa, afinal, o cara é um gato e meio que fez questão de me contratar sem mesmo me conhecer, espero que não seja nenhum tipo de assassino em série que mata ruivas.

Estremeço ao lembrar do livro, O Escaravelho do Diabo.

Logo percebo que ele chegou, pois algumas mulheres encaram fixamente a entrada da cafeteria. Acompanho os olhares e me deparo com aquele exemplar de perfeição, ao menos para mim e para elas, claro! Ele está simples, veste jeans e camisa básica azul, que ressalta os olhos verdes.

— Emanuele Velasquez — ele se senta com dois cafés e croissants.

— Dante Alvarenga — repito seu tom.

— Achei que não viria — diz, empurrando um café para mim.

— E por que não?

— Não sei, um estranho que queria roubar sua boneca te convida para trabalhar para ele — dá de ombros. — Parece esquisito e, por falar nisso — ele pega uma sacola de uma loja de brinquedos que desconheço e me entrega. 

Abro e arfo.

— Meu Deus, você encontrou a boneca! Já tinha desanimado de procurar — revelo. — Quanto preciso te dar? Deve ter custado uma fortuna, levando em conta que deveria ser uma das últimas.

— Não foi nada. Pedi ao meu irmão que trouxesse da Itália. Segundo ele, as crianças de lá não ligam muito para esse modelo.

— Imagina, não posso aceitar. Por favor, me diga quanto custou — insisto.

— Vamos fazer o seguinte: você faz um novo design para meu cartão e ficamos quites — oferece.

— Não parece justo, mas ok. Olha, minha agência é pequena, devo dizer antes que me contrate. Trabalho para pequenos empresários e autônomos, não tenho grandes clientes — me empenho a explicar, muitas pessoas declinam quando percebem que minha agência ainda é nova no mercado.

— Isso é perfeito, assim, terá mais tempo para mim! — lança um sorriso lindo e falto derreter.

Começamos a conversar e definimos um início, inclusive, eu me tornaria sua paciente, já que estou sem um dentista oficial.

E assim começou minha amizade com Dante.

Era para ser algo profissional, porém, quando dei por mim, já estávamos almoçando juntos, tomando café em nossa cafeteria favorita — sim, ela se tornou nosso ponto oficial —, falando sobre a vida e o jantar lamentável que tivemos em minha casa com toda minha família reunida, que insistiu que deveríamos nos casar. Definitivamente eu me mudaria, amo minha família, mas não tenho privacidade.

— Dante me perdoe, minha avó é meio intrometida, então, desculpe pelos comentários sem noção dela — afundo na cadeira e ele ri.

— Relaxa, Manu! Minha família é bem sem noção às vezes, e eu gostei da sua. Lembra muito a casa da minha mãe, poderíamos ir lá qualquer dia desses, eles adorariam conhecer você, principalmente minha mãe, ela gosta de ruivos — seu tom é animado e sinto um calorzinho bom no peito.

Com a profundidade da nossa amizade, acabo sabendo de detalhes os quais não gosto, tipo, como era beijar tal mulher, o que elas tinham que não o agradava, essas coisas, e ele me deixou bem confusa ao soltar em alto e bom tom:

— Se a Graci fosse como você, Manu, eu me casaria… — E, com isso, ele fundiu a minha mente e comecei a sonhar acordada.

Será que ele sente algo por mim?

Pois, às vezes, dá a entender que ele quer algo além da amizade, no entanto, ele sempre aparece com alguma paquera e j**a na minha cara. Ninguém sério, apenas casos. Casos suficientes para me manter afastada nesse sentido.

Certa noite, ele me ligou e me chamou para sair. Era um barzinho conhecido, infelizmente, foi onde conheci o Gilberto, meu ex. Aceitei, Dante não me deixaria em paz se recusasse. Meia hora depois, estava ele no carro estacionado em frente ao meu apartamento.

— Você está linda, Manu! — fala no instante que entro. 

Sinto meu rosto pegar fogo, como uma adolescente.

— Obrigada, você está lindo também.

Com isso, partimos para lá. O lugar é muito agradável e gostoso de ficar, faz tempo que não venho aqui. A música é ao vivo e ambiente, nada exagerado, está movimentado e animado.

Escolhemos uma mesa e nos sentamos juntos, ele de frente para mim.

— Então, o que quer beber?

— Vou ficar com uma tônica mesmo.

— Certo, ainda é quinta, vou te acompanhar — ele chama o garçom e faz o pedido de duas tônicas e batatas fritas.

Dante passa alguns segundos me encarando, e me sinto desconfortável.

— Como uma mulher igual a você fica solteira? — balança a cabeça.

— Por muitos motivos, acredite. Hoje em dia, são poucos os homens que querem compromisso sério — dou de ombros.

— Está certo, eu sou um deles, ao menos eu acho — sorri e, meu Deus… que gato! — Mas se encontrasse uma mulher linda, engraçada, gentil e parceira, eu me casaria. Sabe, uma como você! — dá uma piscadinha.

— Não entendo o que quer dizer com isso — murmuro, confusa.

— Acredita que nem eu? Não sei se conseguiria ficar com alguém por tanto tempo, temo começar algo mais sério e estragar as coisas, sei lá — a mirada é significativa. 

Será que está falando de nós dois? Ele quer acabar com a minha sanidade, isso sim!

Comemos a batata que chegou rápido, e ele muda de assunto. Tudo está muito agradável até uma de suas conquistas surgir do nada.

— Ai meu Deus, Dante Alvarenga! — a morena fitness, com roupa de academia, dá um gritinho.

— Oi, Paloma, tá sumida… — Dante fala em tom sedutor. 

Ai, já vi tudo! 

— Eu continuo no mesmo lugar, você quem não me procurou mais — ela faz queixa, com a voz melosa.

— Podemos resolver isso agora mesmo — ele pisca para ela. 

— Hum, adorei a ideia — ela sorri.

Afundo na cadeira, totalmente invisível ali. Melhor assim, passar por isso me ajuda a manter o foco de ficar longe dele. Entre nós, apenas uma amizade aconteceria.

— Manu, quer uma carona para casa? — Dante indaga sem tirar os olhos da tal Paloma.

— Não, obrigada, peço um carro pelo app. — Respondo, já solicitando. Dante pede a conta e se levanta. 

— Depois te digo como foi — beija o alto de minha cabeça e parte, sem nem olhar para trás.

— Ok — sussurro, me sentindo humilhada. Sei que ele não fez por mal, mas doeu. Definitivamente, não fomos feitos um para o outro…

Em alguns meses, a amizade que começou rápida, esfriou rápido também. Continuamos conversando, porém, reduzimos os almoços e cafés, a agência começou a ter um volume maior de clientes e o consultório dele também, o irmão mais velho de Dante o ajudou a abrir mais dois.

Além disso, minha amiga sofreu uma decepção com seu noivo e terminaram, então, durante as minhas folgas, passo mais tempo com Carol e falo com Dante apenas o básico, o que acabou sendo bom, pois ele ainda ocupa muitas partes e horas dos meus pensamentos.

E isso não é nada saudável.

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