Quando virei os olhos, em desespero, consegui ver que Mel caminhava para trás, ops olhos fixos numa das criaturas que se aproximava. Ela se movia rápido, mas o zumbi era incessante, como eu bem sabia. Senti o meu coração congelar e, em seguida queimar conforme a criatura tentava avançar para cima de Mel, que devidamente moveu-se depressa para escapar.
Minhas mãos, que tremiam com violência, não me impediram de puxar o bastão para trás, acertando um golpe com toda minha força no rosto da criatura profana que tentava se aproximar do meu cachorro. Sangue e mais lascas de madeiras voaram, a criatura sendo atirada para trás com um som oco, não sem antes oferecer a resistência de uma parede contra o meu golpe, eletrocutando os meus braços com uma dor intensa.
Meu Deus, Rute! Uma voz fina, seguida de um baque forte, empurrou
O ar chegava aos meus pulmões em lufadas desesperadas e cruelmente espaçadas. Se que eu percebesse, as vezes trancava a minha respiração, tentando suportar a ansiedade, que se refletia em uma taquicardia a qual eu só saberia nomear por já ter estudado sobre nas aulas de ciências. Era assim que Guga se sentia quando sua ansiedade atacava, então?Eu queria virar para trás, queria ver que meus amigos estavam vivos. Eu nem ligaria se também estivessem correndo por suas vidas como eu estava, apenas queria saber que havia vida pela qual correr. Mas sabia que seria somente um autoflagelação, pois atrás de mim só havia desesperança.Mel estava a alguns passos de distância, sua velocidade de cachorro nos ultrapassando com facilidade. Ainda assim, seus olhos estavam focados em mim, atentos, esperando por um comando. Somente então
Mayara caminhou até a porta do motorista. Olhei para Guga, que estava um pouco afastado de nós, a mão pousada sobre o peito. Seu rosto estava coberto de suor e ele respirava com velocidade, mas parecia estar bem no geral. Quando finalmente achei que poderia tentar acalmar meu coração, um grito agudo chegou aos meus ouvidos, fazendo Mel latir.Como se fossemos invocados pelo som, Guga e eu aceleramos na direção da porta do motorista que não estava em nossa linha de visão. Chegando lá em frações de segundos, exasperados, mas parecia que todo o percurso de menos de 4 metros tinha durado anos, o temor imaginar, depois de tudo aquilo, Mayara ferida.A primeira vista a garota loira aparecia bem, mas algo estava errado. Suas costas tava colada ao muro da casa, os olhos arregalados em terror, seu corpo todo esp
Guga me passou uma vasilha de cerâmica fumegante e cheirosa, e só então eu percebi o tamanho da fome que eu sentia.Mayara encontrara alguns saquinhos de sopa pronta na casa e os cozinhou com macarrão para que jantarmos. Tínhamos também um pacote de torradas cheio. Aquela era a refeição mais completa que caiamos há dias. Provavelmente os antigos moradores não tinham cães, pois não havia nenhum saco de ração na casa. Eu ainda estava com um pequeno na minha mochila, mas achei melhor guardá-lo e, ao invés disso, dividimos a nossa própria comida com Mel, com um adicional generoso de torradas. Ela não pareceu se importar.Duas velas iluminavam a sala de estar pequena e simples da casa, onde nos reuníamos, em volta de uma mesa baixa de centro. Achamos uma lanterna pequena na gaveta da cozinha, m
No fim, devido à exaustão e ao medo, achamos melhor discutir esse tipo de coisa no dia seguinte. Também, por isso, não trouxe aquele assunto à tona. O que não impediu que Guga o trouxesse:Acho que a melhor forma de saímos vai ser pela parte de trás, para o jardim da outra casa. A gente pode levar à mesa da cozinha até lá para Mel conseguir pular, mas no pior dos casos, eu pulo, e você ergue ela no colo para mim . Ele olhava para mim. Se ela me morder, tudo bem, não é como se tivesse outra forma mesmo.Mel não te morderia, mesmo odiando colo. Falei, deixando meu desânimo evidente. Todas as ruas devem estar infectadas.Mayara pousou a mão com suavidade no meu cabelo, fazendo carinho. Assim que Mel terminou de comer, um pouco afastada de nós
A primeira realização que eu tive era de que, na verdade, eu não conseguia ver tanto quanto eu esperava que conseguiria. Era um pouco mais fácil enxergar as ruas mais próximas, porém a escuridão implacável da noite de lua coberta escondia os segredos daquela cidade. Os gemidos muitos deles denunciavam a presença das coisas. De infinitas delas. Eu também estendia a nitidez, para entender quantos exatamente eram. Ao meu ver, parecia somente uma enchente de escuridão que se concentrava em frente ao portão da frente.Virei a cabeça, olhando para o outro lado, tentando enxergar como estaria a rua atrás da cada vizinha. Precisei franzir os olhos e fazer muito esforço, ainda assim pouco consegui distinguir. Somente a realização de que não parecia que um oceano preto se estendia pela rua me fazia ter esperança de que, havendo ou não, pelo menos a
Não estávamos tão errados em pensar que havia esperança, afinal.No dia seguinte (que na verdade não parecia um dia seguinte para mim, já que mal havia dormido) estávamos calmos e era mais fácil pensar sem dezenas de zumbis ao nosso encalço. Antes de descer, eu pude perceber que o telhado nos dava um acesso fácil a qualquer uma das casas ao redor. Além de, claro, nos dar a real situação das ruas, que com toda a certeza não era nada boa.A maré de corpos que se espremia nos muros altos da casa era assustadora, completamente maior do que quer outra que havíamos visto da televisão. Praticamente toda a rua em frente a casa estava ocupada por zumbis e não havia a menor possibilidade de saímos por ali.Mas havia verdade naquilo que Mayara dissera no dia anterior: nas ruas paralelas, embora fossem igualmente mortais, habi
Mayara, por outro lado, atirou-se sobre o garoto de cabelos levemente acobreados, histérica, plantando-lhe beijos nas bochechas. Elton não conseguia segurar o riso, abraçando-a de volta.Logo, a felicidade se esvaiu conforme a única pergunta possível invadiu meu cérebro como um tiro. Quem a externou, porém, foi Mayara:Meu Deus, e os outros? Eles estão bem? Ela agarrou os ombros de Elton, suas unhas curtas, mas pintadas de cor-de-rosa (cortesia dos dias a toa em minha casa, onde ela também pintara as minhas e de Valentina), cravando-se em sua jaqueta.Estão.... vivos. Ele hesitou e, por um momento, achei que meu coração pararia. Conseguimos fugir ontem, assim que perdemos vocês de vista e vimos que não tinha como lutar contra tantos. A gente não sabia bem para onde ir e eles não paravam
O machucado de Cláudio era bem sério.Quando entramos na casa, iluminada pela luz natural que entrava por todas as janelas abertas, Valentina e Amanda correram em nossa direção e abraçaram cada um de nós com fervor. Quando a abracei, tive a impressão de que Valentina estava um tantinho mais encorpada do que quando tudo começou.Cláudio não veio até nós, mesmo que a sua expressão parecesse genuinamente contente ao nos ver. Ele estava deitado no sofá preto da sala, um cobertor preguiçosamente jogado sobre seu corpo. Mesmo sob a luz, era possível ver que a sua pele, normalmente com um brilho saudável, estava pálida, quase acinzentada.Quando ele tentou se erguer-se para nós cumprimentar, o cobertor escorregou e pudemos ter uma ideia das extensõ