A primeira coisa que percebi é que não havia paz após a morte.
Somente dor e medo.
A segunda foi que aquela não era a morte.
Afinal nem mesmo ela seria capaz de ser tão horrenda.
Quando abri os olhos deparei me com um quarto familiar embora de um ângulo novo para mim. Não porque eu nunca havia estão deitada naquela cama porém aquele era o lado da cama que a minha avó costumava dormir. Então quando as minhas pálpebras permitiram que minha íris encontrassem a luz estas estavam viradas para uma das paredes amarelos claros com rodapés floridos que reconheci imediatamente porém a estranheza de estar no lado da cama menos familiar me confundiu um pouco.
A outra visão reconfortante era a de um Pastor Alemão enrolado em torno de si mesmo no chão dormindo tranquilamente ao meu lado.
Eu queria mover para abraçá-la,
Ela me ofereceu comida que recusei sem me preocupar em ser muito educada. Meu estômago estava completamente vazio e doía de fome porém a simples ideia de colocar qualquer tipo de comida na minha boca já fazia todo o meu ser se embrulhar. A sensação era péssima.Ela compreendeu e disse que me daria um tempo, mas que ainda hoje eu precisaria comer algo para recuperar a força. Por fim, Val trouxe o potencial de ração de Mel para dentro do quarto e me deu mais algumas horas de paz para que eu voltasse a encarar o teto em completo vazio. Inevitavelmente a garota voltou. Ainda gentil porém mais insistente disse que agora não teria jeito e que eu precisaria comer.Toda a experiência foi terrível, mas Valentina foi calma e paciente. Ajudou me a sentar o que já me causará terríveis dores e ofereceu ajuda para dar
Oi, Rute! Uma voz animada chegou aos meus ouvidos, não sendo a responsável por me acordar somente por ter chegado alguns segundos depois do peso no outro lado da cama de casal. Quando abri os olhos, desinteressada, deparei-me com pedras de jade que eram os olhos de Guga. Ele tinha um sorriso quase bobo no rosto, parecendo uma criança.Guga estava completamente sujo de terra e poeira, os cabelos bagunçados seco em várias partes do seu corpo. O odor de ferro me fez franzir o nariz, mas, no fundo, foi bem-vindo: eu mesma deveria estar em um estado deplorável, sem tomar banho há alguns dias.Minhas pálpebras pensavam, mas tentei manter-me focada em seu rosto, um pouco confusa diante de toda a sua animação. Só então lembrei que ele e Elton saíram para buscar comida naquele dia. Eu nem mesmo sabia que horas eram.<
Com vergonha de ter ficado sabe Deus quantos dias de cama enquanto todos tentavam ser úteis.Estou me sentindo um pouco tonta ainda, mas esse cheiro está me dando a maior vontade de comer que eu já tive na vida. Olhei para a cozinheira: Mayara que usava o avental quadriculado rosa da minha avó dando a ele um ar totalmente jovial. Suas mechas loiras estavam presas em um raio de cavalo e ela orientava Elton sobre como cortar melhor os vegetais. Quando ouviu meu comentário ergueu os olhos e sorriu para mim bem satisfeito.Fiz o meu melhor prato porque o Guga disse que você viria comer. Ela piscou para mim.E também porque sem congelador a carne apodreceria. Acrescentou Elton em tom de brincadeira, mas me olhando com bom humor. Mas você era o segundo motivo com certeza.O que eu senti em seguida foi gostoso. Um ímpeto forte que eu n
Quando a brisa gélida da noite encontrou meu rosto, senti uma paz absurda. Quase quis manter os olhos fechados para sempre, almejando permanecer naquela doce ilusão. Eventualmente tive de abri-los para me certificar de que Mel não passasse pelo meio das minhas pernas e corresse para o jardim, como ela bem gostava de fazer.Mel, junto… o comando foi baixo, muito baixo do tom de voz que eu usava para ela, mas foi o suficiente para ela. Até mesmo a cachorrinha havia mudado seus hábitos naqueles dias, acostumando-se com o maior silêncio e movimentos mais sutis. Pobre Mel, deveria estar tão confusa quanto eu.Fechei a porta atrás de mim com cuidado colocando meus pés na varanda da minha própria casa, onde fazia tanto tempo que eu não ficava que quase nem parecia mais minha. Em outros tempos, eu e Mel viramos para cá an
Um silêncio caiu sobre nós enquanto eu abaixava para acariciar Mel. Embora tivesse tudo para configurar um momento estranho e não havia sido desconfortável. Cláudio observava as estrelas (mais do que nunca visíveis sobre uma cidade escura) Guga continuavam com o olhar ligeiramente perdido e eu brincava com as orelhas de Mel que estava adorando. Mesmo não gostando do silêncio a brisa era leve e a noite tranquila e eu quase, quase me atrevia a fingir que não haviam zumbis andando logo na rua ao lado.Você já está se sentindo bem? Guga perguntou atraindo a minha atenção.Mandei Mel deitar se e me dirigi para o corrimão contrário ao que Cláudio estava do outro lado da pequena escada que dava para o jardim. Ergui me com os braços sentindo um pouco de de
E mesmo com todo o meu conhecimento semienciclopédico deste tipo de atitude estava funcionando em mim. Eu sabia que seu sorriso deixará de ser somente gentil há algum tempo e agora se tornava aliciador.Apesar de tudo eu não me achava particularmente boa nesse jogo de flerte. Sentia que meu coração batia cada vez mais forte o suficiente para me convencer a descer do corrimão. Meu rosto estava perceptivelmente vermelho e eu não estava confiante para manter o contato visual com ele. E conseguia ver de canto de olho como seu sorriso mantinha se confiante diante dessa realização.Já ao lado de Guga nossas alturas quase parecidas mexi na minha franja de maneira despretensiosa tendo ciência de que aquele movimento não era nem um pouco discreto diante do avanço dele. Pela primeira vez em dias incomodei me com o fato de que a minha aparência n&ati
Aquela manhã parecia quase um lapso do que era a vida normal. Claro com pessoas que em outras circunstâncias nunca estariam em minha casa, mas dessa vez me permiti sentir o doce gosto da ilusão de que o mundo não caminhará para seu fim.Quando acordei desfrutei de uma café da manhã que me lembrava meus tempos de crianças quando viajava para o interior com a minha avó a fim de visitar sua família. Sempre havia uma mesa cheia de comida não porque havia particular fartura, mas sim para alimentar a todos os meus parentes. Aos finais de semana fazíamos um enorme café da manhã na casa onde a minha bisavó morava onde todos os tios e primos reuniam se para confraternizar.Novamente aquele café da manhã nada mais era do que uma lembrança ilusória, mas suficiente para acalentar meu coração. Não estávamos diante de nenhuma
Coloquei mais duas ameixas no cesto de vime que usávamos como fruteira e limpei o suor da testa com as costas da mão. O sol de abril estava implacável e sinalizei com a cabeça para a sombra onde Mel estava, a fim de conversamos lá. Elton me seguiu. Mel imediatamente veio tentar filar mais uma ameixa, mas afastei o seu focinho da cesta.Cachorro guloso! Sentei-me sob a sombra e Elton sentou ao meu lado, chamando Mel para que pudesse fazer carinho nela. Não consegui segurar um sorriso. Que bom que ela gostou de todos vocês.Elton brincava com as orelhas do Pastor a sua frente, mas agora o seu rosto não parecia particularmente alegre, somente enevoado. Na verdade aquele tipo de expressão não era nada nova em seu rosto, porém na atual situação em que ele viera até mim para conv