Com vergonha de ter ficado sabe Deus quantos dias de cama enquanto todos tentavam ser úteis.
Estou me sentindo um pouco tonta ainda, mas esse cheiro está me dando a maior vontade de comer que eu já tive na vida. Olhei para a cozinheira: Mayara que usava o avental quadriculado rosa da minha avó dando a ele um ar totalmente jovial. Suas mechas loiras estavam presas em um raio de cavalo e ela orientava Elton sobre como cortar melhor os vegetais. Quando ouviu meu comentário ergueu os olhos e sorriu para mim bem satisfeito.
Fiz o meu melhor prato porque o Guga disse que você viria comer. Ela piscou para mim.
E também porque sem congelador a carne apodreceria. Acrescentou Elton em tom de brincadeira, mas me olhando com bom humor. Mas você era o segundo motivo com certeza.
O que eu senti em seguida foi gostoso. Um ímpeto forte que eu n
Quando a brisa gélida da noite encontrou meu rosto, senti uma paz absurda. Quase quis manter os olhos fechados para sempre, almejando permanecer naquela doce ilusão. Eventualmente tive de abri-los para me certificar de que Mel não passasse pelo meio das minhas pernas e corresse para o jardim, como ela bem gostava de fazer.Mel, junto… o comando foi baixo, muito baixo do tom de voz que eu usava para ela, mas foi o suficiente para ela. Até mesmo a cachorrinha havia mudado seus hábitos naqueles dias, acostumando-se com o maior silêncio e movimentos mais sutis. Pobre Mel, deveria estar tão confusa quanto eu.Fechei a porta atrás de mim com cuidado colocando meus pés na varanda da minha própria casa, onde fazia tanto tempo que eu não ficava que quase nem parecia mais minha. Em outros tempos, eu e Mel viramos para cá an
Um silêncio caiu sobre nós enquanto eu abaixava para acariciar Mel. Embora tivesse tudo para configurar um momento estranho e não havia sido desconfortável. Cláudio observava as estrelas (mais do que nunca visíveis sobre uma cidade escura) Guga continuavam com o olhar ligeiramente perdido e eu brincava com as orelhas de Mel que estava adorando. Mesmo não gostando do silêncio a brisa era leve e a noite tranquila e eu quase, quase me atrevia a fingir que não haviam zumbis andando logo na rua ao lado.Você já está se sentindo bem? Guga perguntou atraindo a minha atenção.Mandei Mel deitar se e me dirigi para o corrimão contrário ao que Cláudio estava do outro lado da pequena escada que dava para o jardim. Ergui me com os braços sentindo um pouco de de
E mesmo com todo o meu conhecimento semienciclopédico deste tipo de atitude estava funcionando em mim. Eu sabia que seu sorriso deixará de ser somente gentil há algum tempo e agora se tornava aliciador.Apesar de tudo eu não me achava particularmente boa nesse jogo de flerte. Sentia que meu coração batia cada vez mais forte o suficiente para me convencer a descer do corrimão. Meu rosto estava perceptivelmente vermelho e eu não estava confiante para manter o contato visual com ele. E conseguia ver de canto de olho como seu sorriso mantinha se confiante diante dessa realização.Já ao lado de Guga nossas alturas quase parecidas mexi na minha franja de maneira despretensiosa tendo ciência de que aquele movimento não era nem um pouco discreto diante do avanço dele. Pela primeira vez em dias incomodei me com o fato de que a minha aparência n&ati
Aquela manhã parecia quase um lapso do que era a vida normal. Claro com pessoas que em outras circunstâncias nunca estariam em minha casa, mas dessa vez me permiti sentir o doce gosto da ilusão de que o mundo não caminhará para seu fim.Quando acordei desfrutei de uma café da manhã que me lembrava meus tempos de crianças quando viajava para o interior com a minha avó a fim de visitar sua família. Sempre havia uma mesa cheia de comida não porque havia particular fartura, mas sim para alimentar a todos os meus parentes. Aos finais de semana fazíamos um enorme café da manhã na casa onde a minha bisavó morava onde todos os tios e primos reuniam se para confraternizar.Novamente aquele café da manhã nada mais era do que uma lembrança ilusória, mas suficiente para acalentar meu coração. Não estávamos diante de nenhuma
Coloquei mais duas ameixas no cesto de vime que usávamos como fruteira e limpei o suor da testa com as costas da mão. O sol de abril estava implacável e sinalizei com a cabeça para a sombra onde Mel estava, a fim de conversamos lá. Elton me seguiu. Mel imediatamente veio tentar filar mais uma ameixa, mas afastei o seu focinho da cesta.Cachorro guloso! Sentei-me sob a sombra e Elton sentou ao meu lado, chamando Mel para que pudesse fazer carinho nela. Não consegui segurar um sorriso. Que bom que ela gostou de todos vocês.Elton brincava com as orelhas do Pastor a sua frente, mas agora o seu rosto não parecia particularmente alegre, somente enevoado. Na verdade aquele tipo de expressão não era nada nova em seu rosto, porém na atual situação em que ele viera até mim para conv
Vi que Guga se movimentou, aproximando-se de nós. Mel também havia ficado em pé, visivelmente apreensiva, sem entender se eu estava ou não em perigo. Ignorei ambos.Qual é a minha diferença da Mayara? Da Valentina? Da Anny? Só porque eu, movida por um impulso que nem mesmo sei o que foi, peguei nessa merda de barra de ferro e acertei a cabeça de um zumbi antes delas você acha que eu estou preparada? Que eu genuinamente tenho mais chances de sair viva daqui? Porque eu acho que não. Eu acho que não porque há menos de cinco dias eu estava certa de que poderia pegar a arma do Elton e atirar na minha própria cabeça. Enquanto isso a Mayara, uma pessoa não preparada me manteve a salvo, matou a própria amiga para nos proteger e não hesitou quando encontrou uma dificuldade? Me enfiei n
Ah não! Falei alto, fazendo das orelhas de Mel levantarem. Estávamos sentadas no piso da parte de trás da minha casa. Ela ficou apreensiva com a minha voz os olhos grudados em mim.Eu não aguento mais essa barriguinha tão gostosa! Agarrei minha cachorra com força puxando-a para o meu colo. Entendendo que não era uma repreensão, mas que eu somente queria brincar, Mel deitou-se com a barriga para cima, desajeitadamente. Seu rabo balançava com força. Eu vou ter que fazer cosquinha nessa barriguinha. Minha voz soava idiota e eu passava as unhas de leve na barriga de Mel, fazendo sua pata bater com força. Eu vou ter que comer essa cachorrinha inteira! Aproximei o rosto de sua barriga, fazendo um som alto de “nhom nhom nhom” enquanto continuava a cosquinha.Completamente doida, Mel se remexeu violentamente no meu colo se
Por isso foi fácil não hesitar quando abracei a segunda ideia que me apareceu, sentindo genuíno prazer por ter de recorrer a ela. Fechei o meu punho, cravando as unhas em minha pele para ajudar a suportar o ódio. Trouxe o meu braço para trás da melhor maneira que pude disparei-o para frente com força, sentido o contato macio com a sua pele, afundando-a na altura do estômago. Nem batendo em zumbis eu estava usando tanta força. Uma lufada de ar entrou na minha boca conforme o mesmo ar escapava de seus pulmões. Cláudio fraquejou, finalmente me libertando do peso do seu corpo. Levou suas duas mãos para barriga e curvou o corpo, arfando em choque.Qual é o seu problema?! Vomitei as palavras com desprezo, ainda sem conseguir acreditar plenamente no que acontecerá. Limpei minha boca com as costas do braço, tentando afastar qualquer resquício del