Mel é minha cachorrinha. Guga falou uma voz caricaturada extremamente fina que não se parecia em nada com a minha, embora eu soubesse que repetia a frase que eu lhe falará no bosque da escola. Nesse momento, Mel cheirava a sua mão e ele parecia um pouco assustado, provavelmente pelo tamanho dela. Ainda assim ele tentou sorrir para mim.
Parecia ser bobo, mas o clima parecia estranhamente mais suave conforme Mel cheirava um a um, recebendo afagos e comprimentos. Um sorriso se desenhou pelo meu rosto. Não me sentia feliz assim em dias e pensei que poderia ficar ali para sempre, sentada na grama, amada e segura. Pela primeira vez, desde o começo daquele terrível apocalipse eu me sentia bem.
Finalmente estava em casa...
Vó? Vó Aline? Falei algumas vezes após empurrar a porta que dava acesso à sala de estar. Assim que abri uma pequena fresta, Mel adentrou atropelando uma de minhas pernas e começando a cheirar cada canto daquela casa. Meus chamados eram somente para desencargo de consciência, pois sabia que minha avó não estava lá. Quando encontrei uma bacia de água cheia até que quase a boca e o saco de 20 kg de ração cuidadosamente rasgado de modo que a ração continuasse a cair conforme fosse consumida, tive certeza que vovó preparará tudo para ficar longe de casa deixando um plano B para Mel caso tudo desse errado. O portão meio aberto deu-me essa certeza. Mel entrou em cada um dos três quartos, banheiro e circundou duas vezes a mesa da cozinha antes de voltar e parar sentada em minha frente, servindo como testemunha de que não havia ninguém. Acariciei a sua cabeça sentindo seus pelos macios. Deixei a porta da fren
Era surpreendente como estava sendo fácil nosso trio mostrando se coordenado e confiantes uns nos outros. Era estranho pois fazia somente três dias que estávamos juntos, mas era evidente como já estávamos alinhados, inclusive na rápida aceitação de me seguirem em minha missão egoísta e maluca. Eu também era sortuda por tê-los ao meu lado ficando evidente como conseguíamos agir tão bem juntos. Caso tudo desse errado também tinha certeza que poderia contar com eles para qhe saíssemos vivos. Rápido como os experts que não éramos viramos a última esquina avançando rapidamente para o nosso destino. Haviam mais isso era evidente. Talvez 7 ou 8 talvez mais. Durante todo o percurso evitei cultivar pensamentos blasfemos em minha cabeça, como terrível ideia de chegar até a casa de Maria e encontrar a minha avó morta ou até mesmo não encontrá-la. Mesmo lutando contra aquelas ideias sempre havia no fundo do meu cérebro um eco da minha imagem adentrando naquela casa e me deparando com o
Eu quis chorar, mas até isso doía. Quando me vi sozinha totalmente e coberta de sangue em meio a um mar de corpos destruídos não sento a satisfação que me iludira a fazer aquilo. Parada entre tantos desejos dentre eles até mesmo a minha querida avó senti somente a solidão.O mundo havia acabado e meu corpo permanecia vagando por ele decompondo se lentamente em uma assustadora semelhança com aquelas criaturas.Rute... uma voz familiar recobrou um pouco de consciência em mim. Não estava mais alarmada, tampouco arfante como a minha certamente estaria se a minha garganta não estivesse destruída demais para falar. Só havia um sentimento que eu podia compartilhar naquela voz baixa: dor.Quando virei a minha cabeça sentindo meus cabelos pesados por estarem úmidos e vermelhos quis ver os olhos verdes que me dariam alguma segurança
A primeira coisa que percebi é que não havia paz após a morte.Somente dor e medo.A segunda foi que aquela não era a morte.Afinal nem mesmo ela seria capaz de ser tão horrenda.Quando abri os olhos deparei me com um quarto familiar embora de um ângulo novo para mim. Não porque eu nunca havia estão deitada naquela cama porém aquele era o lado da cama que a minha avó costumava dormir. Então quando as minhas pálpebras permitiram que minha íris encontrassem a luz estas estavam viradas para uma das paredes amarelos claros com rodapés floridos que reconheci imediatamente porém a estranheza de estar no lado da cama menos familiar me confundiu um pouco.A outra visão reconfortante era a de um Pastor Alemão enrolado em torno de si mesmo no chão dormindo tranquilamente ao meu lado.Eu queria mover para abraçá-la,
Ela me ofereceu comida que recusei sem me preocupar em ser muito educada. Meu estômago estava completamente vazio e doía de fome porém a simples ideia de colocar qualquer tipo de comida na minha boca já fazia todo o meu ser se embrulhar. A sensação era péssima.Ela compreendeu e disse que me daria um tempo, mas que ainda hoje eu precisaria comer algo para recuperar a força. Por fim, Val trouxe o potencial de ração de Mel para dentro do quarto e me deu mais algumas horas de paz para que eu voltasse a encarar o teto em completo vazio. Inevitavelmente a garota voltou. Ainda gentil porém mais insistente disse que agora não teria jeito e que eu precisaria comer.Toda a experiência foi terrível, mas Valentina foi calma e paciente. Ajudou me a sentar o que já me causará terríveis dores e ofereceu ajuda para dar
Oi, Rute! Uma voz animada chegou aos meus ouvidos, não sendo a responsável por me acordar somente por ter chegado alguns segundos depois do peso no outro lado da cama de casal. Quando abri os olhos, desinteressada, deparei-me com pedras de jade que eram os olhos de Guga. Ele tinha um sorriso quase bobo no rosto, parecendo uma criança.Guga estava completamente sujo de terra e poeira, os cabelos bagunçados seco em várias partes do seu corpo. O odor de ferro me fez franzir o nariz, mas, no fundo, foi bem-vindo: eu mesma deveria estar em um estado deplorável, sem tomar banho há alguns dias.Minhas pálpebras pensavam, mas tentei manter-me focada em seu rosto, um pouco confusa diante de toda a sua animação. Só então lembrei que ele e Elton saíram para buscar comida naquele dia. Eu nem mesmo sabia que horas eram.<
Com vergonha de ter ficado sabe Deus quantos dias de cama enquanto todos tentavam ser úteis.Estou me sentindo um pouco tonta ainda, mas esse cheiro está me dando a maior vontade de comer que eu já tive na vida. Olhei para a cozinheira: Mayara que usava o avental quadriculado rosa da minha avó dando a ele um ar totalmente jovial. Suas mechas loiras estavam presas em um raio de cavalo e ela orientava Elton sobre como cortar melhor os vegetais. Quando ouviu meu comentário ergueu os olhos e sorriu para mim bem satisfeito.Fiz o meu melhor prato porque o Guga disse que você viria comer. Ela piscou para mim.E também porque sem congelador a carne apodreceria. Acrescentou Elton em tom de brincadeira, mas me olhando com bom humor. Mas você era o segundo motivo com certeza.O que eu senti em seguida foi gostoso. Um ímpeto forte que eu n
Quando a brisa gélida da noite encontrou meu rosto, senti uma paz absurda. Quase quis manter os olhos fechados para sempre, almejando permanecer naquela doce ilusão. Eventualmente tive de abri-los para me certificar de que Mel não passasse pelo meio das minhas pernas e corresse para o jardim, como ela bem gostava de fazer.Mel, junto… o comando foi baixo, muito baixo do tom de voz que eu usava para ela, mas foi o suficiente para ela. Até mesmo a cachorrinha havia mudado seus hábitos naqueles dias, acostumando-se com o maior silêncio e movimentos mais sutis. Pobre Mel, deveria estar tão confusa quanto eu.Fechei a porta atrás de mim com cuidado colocando meus pés na varanda da minha própria casa, onde fazia tanto tempo que eu não ficava que quase nem parecia mais minha. Em outros tempos, eu e Mel viramos para cá an