Flora não sabia até onde ia sua liberdade, mas estava genuinamente feliz. Seu quarto era grande o suficiente até para dar uma festa, a cama de casal era macia e confortável, os lençóis limpos cheiravam amaciante de roupas. Tinha um banheiro com chuveiro e banheira e um closet vazio. As roupas que trouxe jamais seriam o suficiente para encher o closet, mas no chão estava sua sacola.
Ela retirou os documentos e guardou as roupas no closet, aproveitou para tirar o vestido vermelho que em nada combinava com ela e colocar uma de roupas usuais. Vestiu calça jeans e camiseta rosa, ambas peças que eram de Amanda e ficavam largas, colocou tenis All Star e desceu novamente. Se sentia estranha, não sabia o que fazer, nem mesmo se sentia parte daquele lugar. Não conhecia ninguém, não sabia onde ficavam as coisas e nem o que lhe era permitido fazer. Esperava que Branca pudesse lhe dizer.— Que roupas são essas? — ouviu a voz de Donatello atrás de si e parou de caminhar. Se virou lentamente para encarar o homem.— São minhas.— Vieram direto da caridade? — brincou o homem e Flora baixou a cabeça, olhando para as peças, a calça jeans estava desbotada e a camiseta rosa tinha uma mancha, de fato era fácil dizer que vieram da caridade. — Branca!— a mulher mais velha veio à passos largos ao encontro dos dois. — Acompanhe Flora até o shopping, compre tudo o que ela precisar, vista-a como uma verdadeira senhora Puzzo.— Sim senhor. — sorriu para a moça. — Vamos, querida?Branca e um dos seguranças acompanharam Flora até o shopping, a garota se impressionou com o a variedade de lojas e principalmente de pessoas no local, elas entraram numa loja de grife, as vendedoras olharam com certa discriminação para a garota, mas a presença da mais velha lhes impediu de fazer um péssimo atendimento.Branca, separava as peças enquanto a jovem experimentava e escolhia as que mais gostava. Entraram em várias lojas, compraram roupas, sapatos, cosméticos, perfumes, Flora ganhou algumas dicas de como se maquiar e enfim foram ao salão de beleza.O cabeleireiro lhe disse que seu cabelo era ondulado e que definido e bem cuidado, ficaria mais bonito do que se o alisasse com química, ele foi lhe ensinando a cuidar do cabelo enquanto tratava, depois ganhou um corte em camadas e uma franja, que segundo ele combinava com seu rosto. Saiu com seu cabelo caindo em suas costas em ondas definidas, tinha um certo volume e permanecia comprido. Branca até se assustou ao vê-la tão diferente.— Agora sim parece gente. — comentou a mulher. Flora estava feliz, se sentia bonita pela primeira vez em sua vida e não se importou com o comentário de Branca.Usando suas roupas novas e com o visual novo, Flora se sentia mais confiante em sua nova vida, mas de certa forma, isso não dizia muito sobre o futuro.***Enquanto as duas faziam compras, Donatello foi até seu aeroporto particular receber Carlo Piazzi, seu primo, que avisou horas antes que estava chegando, alegando ir à negócios.— Primo! — cumprimentou Carlo ao ver Donatello, ele era ruivo e alguns centímetros mais baixo, o calor deixava seu rosto vermelho e a cor de seus cabelos escondia que era dois anos mais velho que Donatello. — Não precisava ter vindo até aqui, não sou tão burro a ponto de não saber o caminho até sua casa. — brincou ele.— Claro que não, mas preferi garantir que não ia se perder. — respondeu, não vendo graça no comentário do primo.Os dois homens seguiram para o carro, conversando sobre seus negócios. Donatello gostava do primo, apesar de o considerar imaturo e devasso. Sendo quem era, Don não tinha amigos, apenas alguns aliados, Carlo não era seu aliado, mas ser seu primo por parte de mãe bastava para que o respeitasse.— Vou me casar, primo. Com Flora Callegari. — comentou, sorrindo ao se lembrar que certa vez disse a Carlo que nunca se casaria.— Casamento pode ser bom, desde que ela não descubra as amantes. — Carlo soltou uma risada alta para sua própria piada, mas Donatello não viu graça. Já havia passado pela traição e não achava certo trair alguém a quem jurou lealdade. — Você disse: "Flora Callegari"? Ela não estava morta?Donatello confirmou com um aceno.— Era isso que pensávamos, mas os LeBlanc a manterem bem escondida… ou quase.— Ela sabe de alguma coisa? — a pergunta de Carlo ia além de mera curiosidade, a resposta poderia ser uma pista para ele.— Era muito nova para se lembrar. — respondeu Don, sem notar o desejo implícito na pergunta.— No fim é só mais uma vítima. — concluiu Carlo. — Você a ama? Ou isso é mera formalidade? — Ele não respondeu, deixou que o silêncio falasse por si. Estava acostumado a não dar respostas diretas e aquela pergunta exigia uma. — O amor é uma fraqueza Don, não esquece disso.— Jante conosco está noite. Dessa forma poderá descansar mais cedo. — Donatello não gostava de receber visitas, menos ainda tendo Flora, mas abriria uma exceção ao primo, pois precisava conversar com ele em particular. Carlo o encarou e abriu um sorriso.— Grazie, primo. Amanhã podemos ir naquele seu clube… estou com saudade das putas que esconde lá.Donatello travou a mandíbula ao ouvir o primo falando daquela maneira sobre as dançarinas de sua boate, a maioria estava lá por não ter melhores opções ou para pagar dívidas de seus maridos ou pais. Mas a verdade é que Don odiava a maneira que seu primo tratava as mulheres, Carlo maltratava sua esposa e a humilhava na frente de todos, fora as traições frequentes. Donatello não pensava em seu casamento com amor, ele não tinha amor para oferecer e não passava de interesse de sua parte e possivelmente da dela, mas esperava uma convivência pacífica e agradável para os dois.Ele abriu a boca para dizer algo, mas mudou de ideia, não valia a pena argumentar com seu primo.— Irei para a capital amanhã a tarde, não poderia te acompanhar.— Ora, então vamos hoje! Melhor ainda! — Donatello queria descobrir o verdadeiro motivo da vinda do primo e se livrar dele o mais rápido possível, então decidiu mudar os planos e ir para a boate naquela noite. Mas antes precisava ir para casa, tomar um banho e verificar se Branca conseguiu transformar sua noiva em alguém apresentável.Flora, Branca e o segurança chegaram cheios de sacolas e as colocaram no quarto de Flora, a jovem queria olhar cada peça novamente, para ter certeza de que não era um sonho. Só ganhava roupas novas no natal e era apenas uma ou duas peças, aquilo até lhe parecia irreal. Eram tantas coisas que nem mesmo tinha certeza se saberia usar. Antes que pudesse levar tudo para o closet, Branca foi até seu quarto.— Seu noivo está chegando e deseja vê-la.— Tudo bem, obrigada. — se levantou deixando tudo ali. — Por favor, peça para não mexerem, quero ver tudo de novo.— Claro querida. — Branca a olhou com certa pena e rapidamente disfarçou.As mulheres desceram as escadas e em poucos minutos os homens entraram. Ao olhos de Flora, Donatello estava ainda mais bonito sem o terno e com as bochechas vermelhas graças ao calor, queria estar tão visualmente bonita quanto ele, esperava agrada-lo com sua nova aparência. Ele por sua vez, gostou de como ela estava, achou que o cabelo combinou com seu rosto, mas ainda era notório que a garota estava magra demais.— Flora, este é Carlo Piazzi, meu primo. Carlo, esta é Flora Callegari, minha noiva. — Flora estendeu a mão ao primo de seu noivo e sorriu, Carlo tomou sua mão e depositou um beijo no dorso. Donatello ficou incomodado com o gesto, mas se conteve.— É belíssima, prima, se parece muito com sua mãe Catarina, lembra-se dela? — a moça negou e ele continuou. — Muitos diziam que a união dos seus pais se tratava de um casamento arranjado, pois além de mais jovem, Catarina era muito bonita para um homem como Leonel. É como se a história se repetisse.Flora entendeu o que o homem queria dizer e olhou rapidamente para Donatello antes de responder algo.— Isso não é um casamento arranjado, se é isso que está supondo. — ela respondeu.— Não… isso me parece mais interesse mútuo. — o ruivo sorriu. — Cuide-se senhorita Callegari.Carlo a olhava com interesse, afinal, eram poucos os que sabiam da existência da jovem e era essencial saber de que lado ela estava. Estaria Flora enganado Donatello? Carlo pensava, se fosse isso, então o jogo estava finalmente começando.Os homens subiram as escadas para o segundo andar e Flora esperou que eles sumissem de sua vista antes de subir também e terminar o que tinha começado.A noite, Donatello e Carlo subiam as escadas para entrar na Oásis, a boate que era um dos poucos negócios legítimos que Puzzo administrava. O lugar era um ponto de encontro para homens em busca de prazer e mulheres dispostas a oferecer isso em troca de presentes caros, todos sabiam que qualquer mulher que frequentasse o Oásis podia ser comprada.Ao ver as mesas cheias de homens bêbados, com duas ou três mulheres os acompanhando, Don imediatamente pensou que Flora jamais colocaria os pés naquele lugar. Ninguém notou a presença dos homens e eles subiram até a área VIP. — Me surpreende você continuar mantendo sua identidade em segredo. Eu no seu lugar já teria espalhado por todos os lados que sou dom da maior máfia italiana. — Carlo comentou erguendo os braços ao falar sobre a organização. — E é por isso que você não duraria um mês. Sabe que o negócios mudaram. — ponderou, tentando manter-se tranquilo com o primo, não queria que ele o visse como inimigo. — Falando em negócios, te chame
Flora jantava sozinha na enorme mesa de jantar farta de opções, ela tentava não demonstrar sua decepção por estar jantando sozinha, esperava poder conhecer melhor o homem com quem ia se casar, ele era um enigma para ela, que ainda não sabia dizer se aceitar aquele casamento foi uma boa ideia. Se sentia aliviada por não ter mais que sofrer nas mãos da família, porém e se seu marido fosse pior do que eles? A garota terminou de jantar e subiu para seu quarto, parecia grande demais para uma pessoa só, foi até a janela e se debruçou no peitoril, deixou que lágrimas silenciosas lavassem seu rosto e sua alma. Seu marido não deixaria que eles a humilhasse e ela mesma não se permitiria ser fraca novamente. Só precisava ser cautelosa em sua nova vida, talvez se escolhesse as palavras certa e seguisse as ordens do marido, ele lhe desse liberdades. Se isso não acontecesse, ela fugiria, daria seu jeito, mas jamais viveria presa. No dia seguinte, Flora seguiu sua rotina matinal, não viu seu futur
Donatello calculou o ângulo, a mão esquerda do soldado lhe daria milésimos de segundos a mais para desviar da bala caso ele atirasse, então não precisava atrair a atenção para Marconi. Num movimento rápido, ele desviou seu alvo atingindo os dois tiros em Carlo, exatamente como deveria, um no coração e um na testa. O ruído das armas sendo engatilhadas foi o único som restante. Don abaixou a arma e cuidadosamente a guardou, ignorando as cinco armas apontadas para sua cabeça. — Pode explicar o que foi isso? — Savoia foi o primeiro a abaixar a arma e perguntar, perplexo com o que tinha acontecido. Dario olhou surpreso para si mesmo, não era aquilo que esperava da morte e demorou a perceber que não foi atingido. — O acordo era que eu devia matar o mandante do assassinato de Rute Osório. Foi isso que eu fiz. — respondeu calmamente. — Rute descobriu que a filha e Piazzi estavam tendo um caso. Se Ângelo descobrisse, mandaria matar os dois, então Carlo precisava se livrar de Rute. — Quem me
— Você me assustou. — disse ela com a voz falha e as mãos tremendo. — O que deseja? Donatello estudou a mulher na cama, usando uma camisola fina e quase transparente, seu rosto confuso por algum motivo lhe parecia mais belo. Talvez fosse algum tipo de feitiço, pois Flora estava deliciosamente desejável para ele. Tinha ido com o propósito de confrontá-la sobre o passado, mas não conseguiria resistir. Ele se levantou e se deitou ao lado de Flora apoiando os cotovelo na cama. Ela pacientemente esperava e se surpreendeu quando Donatello tocou seu rosto e a puxou para um beijo. Ele a beijou lentamente, queria sentir seu gosto, sua textura e Flora retribuía com devoção, aprendendo com ele, seguindo seu ritmo. Don levou a mão até a coxa de sua noiva e deslizou por seu corpo, sentindo e adorando o contato em sua pele e parou nos seios, que ele apertou e esfregou o mamilo fazendo Flora soltar um gemido em sua boca. Ele gostou do som. Tirou sua mão dali às pressas para enfiá-la por debaixo da
Ao abrir as cortinas de seu quarto, Flora se deparou com a bela vista do mar mediterrâneo. Ouvia as ondas se quebrando contra as rochas e sentia o vento salgado tocar seu rosto, o sol iluminava as águas azuis e refletia um brilho prateado. Era um belo dia para um casamento. Tentou manter-se otimista, a noite passada lhe provou que nem tudo estava perdido. Descobriu que era mais forte do que imaginava e percebeu que Donatello tinha uma fraqueza: ela. Se não fosse isso, por que ainda estava viva? Uma equipe chegou para arrumá-la, seu vestido foi posto num manequim à sua vista e todas as vezes que o olhava, pensava em fugir pela incerteza do futuro, tinha a palavra de Donatello, mas isso não a protegeria, isso não era amor. Mas para onde iria? Se jogaria no mar? Não, ela faria aquilo, mas teria que ser forte e não se deixar abalar por nada. Quando terminaram, ficou boquiaberta ao se olhar no espelho, estava verdadeiramente linda, a maquiagem sem exageros apenas realçou sua beleza natura
Pela manhã tomaram juntos o café da manhã e depois desceram para a praia, Donatello estava despreocupado, mas dois homens faziam a segurança deles a distância. Enquanto Flora se apaixonou pela praia, amou o vento salgado em sua pele, o som das ondas se quebrando, a areia quente e macia em seus pés. Don não gostou muito do biquíni que ela usava, mas não disse nada, não iria estragar o dia por ciúmes. Flora se divertia na água quando ele recebeu uma ligação, era Enzo com a notícia que ele estava esperando, finalizou a ligação e ligou para Ferdinando. Quando terminou, Flora estava ao seu lado. — Pensei que ficaria longe dos negócios hoje. — ela comentou e se sentou na cadeira ao lado dele. — Desculpe, era importante. — ela o encarou, cobrindo os olhos para evitar o sol. — Vai me contar com o que trabalha? — ela sabia que não era dentro da lei, mas queria ver até onde podia confiar nele. — Tenho algumas empresas espalhadas pelo país. — ela riu da resposta. — Acha que sou tão boba as
Assim que colocou os pés em Roma, Donatello recebeu uma ligação de um número desconhecido, pensou em não atender, mas o fez, ouvia ruídos ao fundo e não tinha certeza se tinha alguém na linha, até que ouviu:— Escolheu a mulher errada, senhor Puzzo. — disse uma voz feminina, que Don não reconheceu e desligou em seguida. Estava ciente em tempo real da ameaça que aconteceu em seu casamento, estava preparado, assim como sabia que quem estava atrás da Flora não iria desistir. Entregou o aparelho para um de seus seguranças e pediu que o destruísse e comprasse outro, se aquela pessoa tinha seu número, poderia conseguir outras informações. Lembrou-se de Flora e pediu que comprasse dois aparelhos. Chegou no local marcado por Ferdinando, uma praça pública movimentada, era um dia quente, muitos turistas visitavam a cidade e ele se adaptou, vestiu uma bermuda e camisa polo, colocou óculos escuros e fingiu estar admirando a paisagem romana até que um carro parou do seu lado. Savoia estava ali,
Flora subiu para o seu quarto, pretendia tomar um banho e desde já se arrumar para o jantar com Donatello, mas antes que pudesse pôr seu plano em prática, bateram à porta de seu quarto. Era Branca, que entrou sem ao menos pedir licença. — Precisamos ter uma conversa séria, criança. — iniciou a mais velha. Flora concordou, mas desde que chegou naquela casa não se sentia à vontade com aquela mulher. — Tudo bem, sente-se. — apontou para a cama. A mulher hesitou, mas se sentou na beira da cama e Flora a acompanhou. — Precisa estar ciente de algumas coisas sobre seu marido. — o início daquela conversa despertou uma memória, do dia que reencontrou Donatello ao se passar por sua prima, por isso Flora não ficou confortável. — Já ouviu falar sobre a máfia italiana? Seu marido é chefe da maior delas, praticamente comanda toda a Itália, tem o governo e a polícia nas mãos. Não deve confiar nele, tampouco desobedecê-lo…— Olha, Branca, eu e Donatello estamos bem, mas agradeço seu conselho. — a