Roma

Flora jantava sozinha na enorme mesa de jantar farta de opções, ela tentava não demonstrar sua decepção por estar jantando sozinha, esperava poder conhecer melhor o homem com quem ia se casar, ele era um enigma para ela, que ainda não sabia dizer se aceitar aquele casamento foi uma boa ideia. Se sentia aliviada por não ter mais que sofrer nas mãos da família, porém e se seu marido fosse pior do que eles?

A garota terminou de jantar e subiu para seu quarto, parecia grande demais para uma pessoa só, foi até a janela e se debruçou no peitoril, deixou que lágrimas silenciosas lavassem seu rosto e sua alma. Seu marido não deixaria que eles a humilhasse e ela mesma não se permitiria ser fraca novamente. Só precisava ser cautelosa em sua nova vida, talvez se escolhesse as palavras certa e seguisse as ordens do marido, ele lhe desse liberdades. Se isso não acontecesse, ela fugiria, daria seu jeito, mas jamais viveria presa.

No dia seguinte, Flora seguiu sua rotina matinal, não viu seu futuro marido e imaginou que ele não dormiu em casa. Mais tarde, ela foi fazer os exames conforme solicitado por Donatello e voltou para casa apreensiva, com medo dele mandá-la embora caso desse algo ruim nos exames. Flora agora sabia que a casa em que morou boa parte de sua vida era sua, mas como poderia mantê-la? Ela se sentiu insignificante ao pensar nisso, não era nada, seu futuro era ser uma esposa parideira e o que ela faria para mudar isso?

Nada.

Se lembrava bem das palavras de Donatello, ele era um homem perigoso e ela não desejava descobrir esse lado na própria pele.

No fim da tarde, Branca a chamou, avisando que o motorista a levaria novamente para a clínica para saber o resultado dos exames. Flora estava apreensiva enquanto aguardava na recepção, apertava os dedos e balançava os pés para cima e para baixo repetidas vezes, pensando em todas as piores doenças possíveis, coisas que ela até mesmo sabia ser impossível que tivesse.

— Tem algo a temer, Flora? — ouviu a voz de Donatello ao seu lado e ele se sentou.

— Não… — respondeu ela um pouco incerta.

— Sua atitude demonstra o contrário. — falou, tocando sua perna e Flora parou de balançar os pés.

Os dois foram chamados na sala do médico e se sentaram de frente para o homem de meia idade, cabelos grisalhos e olhos claros sob os óculos de grau. O homem segurava os papéis com o resultado dos exames e os Analisava mais uma vez.

— Certo… — começou deixando os papéis na mesa e encarando o casal. — Está quase tudo certo com os exames da senhorita Callegari, o problema são os baixos níveis de ferro no sangue, teremos que suplementar o mineral e terei que recomendar um contraceptivo diário até que se normalize os níveis de ferro no seu sangue. Quando isso acontecer, você estará pronta para ter uma gravidez saudável.

— Quanto tempo até normalizar? — Donatello perguntou.

— Cerca de dois meses.

— Ótimo, mais alguma coisa?

— Apenas as recomendações normais, beba bastante água, pratique exercícios físicos, tenha boas noites de sono e se alimente corretamente. — o médico respondeu enquanto escrevia a receita com os remédios que Flora devia tomar. Donatello se levantou e cumprimentou o homem, Flora fez o mesmo e pegou a receita.

Saíram de lá à passos largos, Donatello a todo momento conferia o relógio, pois estava quase atrasado para pegar o vôo até a capital.

— Esqueça o noivado, vou viajar essa semana e vamos nos casar assim que eu retornar. Branca te ajudará com os preparativos. — Flora concordou.

Assim que chegaram no térreo, o carro com o motorista já os esperava. Primeiro deixou Donatello no aeroporto e depois seguiu para a imponente mansão. Flora não sabia se ficava feliz por passar uma semana longe daquele homem, ou se ficava triste por ser a última semana de liberdade que teria.

Donatello chegou em Roma à noite, tinha poucos minutos para chegar até o local indicado por Santini. Ao seu lado no carro estavam dois de seus homens de confiança, que assumiram cargos de capos, a presença deles era importante para enfatizar que o comportamento de Marconi não iria se repetir, mas também para proteção do próprio dom.

Puzzo não acreditava que Santini deixaria de participar do evento a menos que houvesse algo a mais. Ambos concordaram em ir à Roma por não estar sob o domínio de nenhum dos dois, então Santini não devia ter o que temer, mas Carlo havia dito que Angelo mandou ele em seu lugar.

— Fiquem de olhos bem abertos, não confio em Santini. — alertou seus comparsas.

— Vai mesmo fazer isso Don? Todos sabem que Angelo insistirá na vendetta, é assim que ele age. — perguntou Roman, o homem mais velho que trabalhava para a família muito antes de Donatello assumir.

— Se o acordo for cumprido ele perderá o direito de vingança, Roman. — o homem sorriu, satisfeito com a resposta de Donatello. — É por isso que não tenho certeza se ele cumprirá o acordo.

— Faz anos que estamos em paz, dificilmente Santini conseguirá apoio. — comentou Isaac, o outro associado.

— Esse é o problema Isaac, é muito tempo de paz. — respondeu, nesse momento o carro parou, os três saíram, todos atentos à qualquer movimento suspeito.

Puzzo ia no meio dos dois homens até o subsolo, no local onde ficavam as lixeiras. O prédio empresarial já estava fechado, apenas alguns homens de Savoia faziam a guarda do local. Donatello olhou para seu relógio, estava na hora exata, ele odiava atrasos e Ângelo sabia disso. Como se tivesse feito apenas para provocar, dois minutos depois, Piazzi, Santini, Marconi e um guarda de Santini entraram no local por outra porta.

Marconi estava com as mãos amarradas e olhos vendados, permaneceu num silêncio sepulcral, ciente de seu destino e da responsabilidade que seu chefe tinha, de nada adiatava implorar, a decisão já tinha sido tomada. Marconi, se despediu de sua esposa e filhas dois dias antes, quando sabia que seria capturado pelos homens de Santini. Quando sua venda foi retirada, ele permaneceu de cabeça baixa, não queria olhar para o chefe para não ter que encarar seu desprezo, ele não sabia que Donatello acreditava em sua inocência.

Donatello ajustou o chapéu, para mostrar o mínimo possível de seu rosto. Gostava de discrição e era cauteloso sempre que precisava sair de casa, mesmo que isso o fizesse parecer um personagem de filme dos anos 50. Em seguida deu um passo à frente para cumprimentar Santini.

— Donatello Puzzo… quase me esqueci o quanto sua presença soa intimidadora e misteriosa. — comentou Santini, exibindo os dentes, entre eles um de outro.

— Ângelo Santini, é um prazer revê-lo. — respondeu somente.

Ferdinando Savoia entrou juntamente com dois homens, ajeitou o terno e estendeu a mão para Donatello.

— Senhores, perdoem o atraso, problemas familiares. — o homem na faixa do quarenta anos tinha uma filha jovem, que costumava lhe dar trabalho com sua rebeldia. Ele cumprimentou todos e se virou para Dontello. — Quero aproveitar para lhe desejar os parabéns pelo noivado, Don.

— Obrigado, Nando.

— É verdade que trata-se de Flora Callegari? A garota que foi declarada morta juntamente com a família? — Ângelo perguntou, com um certo sarcasmo na voz.

— Sim, é verdade Ângelo. Eu a libertei do cárcere que vivia na casa do seu amigo LeBlanc. — Don provocou e viu um lampejo de raiva trespassar nos olhos de Santini. Donatello tinha uma carta valiosa em mãos.

— Senhores… podemos começar o que viemos fazer? — Donatello e Ângelo deram um passo para trás, aproximando-se de seus homens.

Pela primeira vez, Puzzo encarou seu primo, Carlo parecia despreocupado, como se tivesse tudo sob controle e nada com o que se preocupar. O outro homem de Santini também tinha o mesmo posicionamento, mas permanecia alerta e com a mão esquerda próxima de sua arma. Era canhoto. Fato que fez Donatello recalcular os planos.

— De um lado, Ângelo Santini acusa Dario Marconi de ser o mandante do assassinato de Rute Osório, sogra do acusador. De outro, Donatello Puzzo, chefe de Marconi, se responsabilizou em aplicar a pena em seu subordinado, para garantir a paz entre as família Puzzo e Santini. — iniciou Ferdinando. — Sr. Puzzo, foi requerido, como parte fundamental do cumprimento desse acordo, que o senhor use sua própria arma para acertar dois tiros em Marconi, assim como Rute Osório recebeu, um no coração e outro na testa.

Donatello empunhou sua arma prateada e mirou em Marconi. Todos os homens estavam atentos, com as mãos próximas de suas armas, preparados para qualquer desvio.

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