Alexa encarava Ana cúmplice, e Ana tentava de todas as formas fugir daquele olhar.
— Amiga! Sei que já disse isso um milhão de vezes, mas vou dizer uma vez mais. Você sempre foi apaixonada pelo Theo, mas guardou seus sentimentos a sete chaves, por que é teimosa demais. Não acha que já é hora de dar uma chance para esse casamento dar certo? — Dar uma chance? Eu não posso fazer isso... Simplesmente não dá! — É claro que pode, amiga! — Não, Alexa! Não posso! Sofri demais com esse casamento. Sabe o que é ter o pavor de andar sozinha na rua, mesmo que em plena luz do dia? E a sensação de que a qualquer momento posso ser levada novamente e passar por aquele mesmo tormento que passei? Ter medo de ser presa dentro de uma camisa de força, tendo alguém ao lado dizendo repetidas vezes que vai te mandar para um lugar onde jamais poderá ser livre? Me sinto ainda dentro daquela camisa de força, lutando pra ser liberta. Acha mesmo que consigo ignorar tudo isso e viver uma vida feliz ao lado do dele? Sem que a todo momento que eu olhar para ele, enxergar Gabriel nele? — Ana, o Theo não tem culpa dos erros do pai. — Eu também não. Eu não fiz nada de errado pra ter tido um tratamento de mer*da como o que tive. Era doloroso ver seus amigos sofrerem, e Alexa era o tipo de pessoa que não sossega enquanto não consegue ajudar. Mas como ajudar uma pessoa quebrada? — Ana, eu mais que ninguém entendo você! Mas vamos ser racionais por um momento, tá bem? Você está sofrendo! Mas e quanto ao Theo? Sabe o quanto ele vem sofrendo todo esse tempo? Mesmo não sendo o culpado, ele se sente assim. Theo vem se martirizando dia após dia, por conta da escolha que o pai fez, sem contar com a sua indiferença... Não acha que está mais do que na hora de dar um basta em tanto sofrimento? Acredito que tanto você, quanto o Theo, precisam se apoiar um ao outro. E eu acho que vocês precisam de ajuda pra isso. — Que tipo de ajuda? — Sem muita emoção na voz, Ana fez a pergunta. Mas, no fundo, já sabia a que tipo de ajuda sua amiga se referia. Bárbara já lhe havia feito tal sugestão. — Vocês precisam de ajuda profissional. — Psiquiatra!? — Deduziu Ana, encarando Alexa de forma não muito relaxada. Alexa a olhou perplexa. — Você já tinha pensado a respeito? — Não! Mas a Bá já tinha me dado essa ideia... Acha mesmo que preciso disso? — Me responda você. Acha que está na hora de se curar dos traumas do passado? De ter uma vida tranquila e feliz? A resposta não veio, mas Alexa notou que Ana estava pensativa, talvez considerando a possibilidade de aceitar ajuda profissional. Isso já era um bom começo; quem sabe em breve ela aceitaria tal ajuda. As horas foram passando, e as duas entraram em assuntos mais relaxados. Até que Alexa notou uma figura masculina entrando no estabelecimento. O rapaz era um moreno, musculoso medindo seus dois metros e cinco de altura. Um verdadeiro homem de grande estatura. Dono de um rosto que parecia pintado a pincel. Seus olhos verdes chamativos exalavam um charme, que fazia qualquer mulher molhar a calcinha, apenas com esse olhar lançado a elas. As mulheres das mesas vizinhas torciam o pescoço alvoroçadas para conferir a beldade que ele era. E claro, isso gerou revolta em Alexa, que não gostou nadinha de ver seu noivo sendo "secado" pelos olhos sem vergonha dessas mulheres abusadas. — Não sei se mato primeiro ou trucido depois, ou se trucido primeiro e mato depois! — A voz de Alexa não saiu nada gentil. Ao contrário, soou tão alta que era possível ser ouvida a cerca de um metro de distância. Ana encarou a amiga divertida. Essa era sua amiga, ciumenta e bem barraqueira, diga-se de passagem. — Isso é porque você disse uma vez que não era nada ciumenta. — Se disse, não me lembro. — respondeu Alexa, com uma tromba maior que a de um elefante. — Calma amiga! Elas podem até olhar. Mas só você é quem pôde pegar! — Ana estava se divertindo com a situação, não tinha nada melhor do que provocar Alexa. — Anrham tá! Queria ver se fosse o Theo que elas tivemos secando, se você ficaria nessa calma que tá aí! Ana podia até gosta de provocar Alexa. Mas a morena sempre teve bons argumentos para debater com Ana. E parece que ela mexeu no ponto certo. Ana até tentou disfarçar. Mas tava na cara que ela pensou na possibilidade de ser Theo no lugar de Marlon. E a carranca que ela fez, só vi firmou que Alexa estava certa. — Até parece que eu me importaria. — Hum! Mente que eu gosto! — Alexa a provocou mais, e sorriu vitoriosa. Marlon já estava próximo o suficiente da mesa, e sorriu lindamente para sua noiva, que não quiz nem saber. Se levantou apressada e se jogou nos braços fortes do moreno, que não se surpreendeu com tal atitude vindo dela. E, para mostrar que ele tinha dona, Alexa lhe tascou um beijão de língua, digno de um Oscar, fazendo com que as mulheres que o encaravam com insistência, desviarem o olhar no mesmo instante.Se o comportamento exagerado de Alexa deu certo? Oh, se deu! Ninguém ali presente ousou olhar mais para o lado do moreno chamativo. Mas, claro, havia aquelas que davam umas olhadas sutis. Afinal, olhar não arranca pedaço. Marlon acompanhou sua noiva de volta para o assento, sentando-se em seguida ao lado dela enquanto dava os devidos cumprimentos a Ana.— Como vai, Ana? — Eu vou bem, Marlon! E você? — Bem, também! — Isso é ótimo! Veio buscar a Alexa? Fique à vontade. — Não, amiga! O que temos que fazer não é tão importante assim! — Amor! — interveio Marlon. A morena só pode ter esquecido; os dois haviam marcado de encontrar os pais dele hoje. — Meus pais estão nos esperando! Você se esqueceu? O olhar surpreso dela só confirmou o óbvio. A sua tão distraída amada havia mesmo esquecido do compromisso deles.— Me desculpa, amor! Eu realmente esqueci! Ana, eu... — Não diga nada, sua pateta. Só andem logo. Os pais dele já devem estar esperando. A compreensão de Ana fez com q
Marlon não pensou duas vezes antes de partir para cima do infeliz abusado, enquanto Alexa correu para acudir Ana. O barman também não se segurou e correu para ajudar Marlon. Com os braços imobilizados para trás por Marlon, Kauan era interrogado por ele. Marlon, a todo custo, perguntava de um modo nada amigável o que Kauan poderia ter feito a Ana. E claro, Kauan, a todo momento, gritava dizendo que não fez nada. Ana estava nos braços de Alexa, e agora, com o alvoroço da confusão, as pessoas ao redor se solidarizaram para ajudar. Algumas mulheres se prontificaram a ajudar Alexa com Ana, enquanto os homens ajudavam Marlon e o barman. Nessa confusão, Kauan levou a pior. No caminho para o hospital, Ana, desacordada, não aparentava estar nada bem. Alexa foi a acompanhante que seguiu junto na ambulância. A morena, desesperada, chorava horrores enquanto segurava a mão gélida de sua amiga, a todo momento se culpando por deixar Ana sozinha. Já Marlon seguiu o infeliz rumo à cadeia. Kauan saiu
Foi por volta da meia-noite e meia quando o voo de Theo pousou no aeroporto da Califórnia. Theo estava desolado; por hora, a única coisa com que ele se preocupava era ir até o hospital onde Ana estava internada. Assim que pisou no aeroporto, Marlon já o esperava, já que há meia hora atrás, Theo havia avisado que estaria chegando. Os dois seguiram direto para o hospital, e entre eles foram ditas poucas palavras. Theo estava calado demais, apenas olhando para fora da janela do carro em movimento.— Cara! Ela está fora de perigo agora! Já a levaram para o quarto. Até a dona Maria e a Dona Bárbara vieram vê-la... — eram palavras ditas por Marlon na intenção de acalmar o amigo. Mas não pareceu dar muito certo, já que em poucas palavras Theo cortou suas falas, sem nem olhar para sua direção. — Só vou acreditar que ela está bem quando eu a ver pessoalmente. — Eu entendo! Mas precisa se acalmar um pouco, e ser forte. O seu sogro... O senhor Bento vai te causar muitos problemas. Sabe disso m
Estava bem tarde, e Theo dormia tranquilo, com sua cabeça repousada sobre a cama de Ana. Sentiu uma mão leve tocar seu ombro e a voz de sua sogra, Emília, soar calma em seus ouvidos. Bastou apenas isso para desapertar e voltar o olhar para a sogra, de sorriso gentil.— Meu querido, você deveria ir para casa. Teve um voo cansativo, que eu sei. Você deveria descansar — relatou a senhora Emília, preocupada com o genro. Ele, por outro lado, não demonstrou vontade de sair dali. Seus olhos de menino pidão repousaram sobre os dela, para em seguida voltar para o rosto pálido de Ana, e sua mão segurou firme a dela. Emília sorriu com a cena. Como era possível sua filha cabeça oca não ver o quanto esse rapaz era apaixonado por ela?— Não estou cansado! E, se a senhora me permitir, eu gostaria de ficar aqui com ela. — Tem certeza de que o melhor é você descansar em casa e voltar pela manhã mais disposto. — insistiu uma vez mais a senhora Emília, se compadecendo da cena de Theo, com os olhos meig
O silêncio no quarto fez Ana ficar pensativa. Todos os seus pensamentos eram voltados para Theo, enquanto seus olhos o avaliavam. Ele era lindo, não podia negar. Sempre foi. E essa beleza já a fez sentir-se muito estranha na época da escola, quando as moças do colégio ficavam secando ele. Elas eram displicentes o suficiente para deixá-la nervosa. Com esses pensamentos, não soube que horas dormiu, mas o sonho que teve foi bom. Os olhos de Theo abriram quando a luz do sol ultrapassou a janela, atingindo seus olhos perfeitamente belos. Ele estava meio aéreo, e sentia uma leve dor no pescoço pelo mal jeito que dormira. Theo levantou a cabeça, conferindo Ana ainda adormecida. A preocupação com sua baixinha o atingiu em cheio. Levantou-se, aproximando-se dela o máximo que conseguiu, conferindo sua respiração, que, por sorte, estava serena e calma. Contudo, respirou fundo e ficou ali, observando-a dormir. A pele do rosto de Ana já não tinha a tonalidade pálida da noite passada, o que o de
Os olhos dele se prenderam nela mais uma vez. Até voltar a razão e notar que ela saiu da cama. — O que você... Ana, porque saiu da cama? Você... — atordoado ele a repreendia. Já ela, sorriu com o cuidado que recebia dele. Sentiu a mão dele segura a sua, e notou ele tentar a guiar na direção da cama. Mas ela o impediu, estava se sentindo bem o suficiente para estar ali. E queria a todo custo mudar seu destino. Sabia que a hora era aquela, se esperasse mais, poderia não ter coragem de fazer o que tinha em mente.— Espera Theo. — Ana! Deveria estar deitada...— Me desculpa! — Para de me pedir desculpa Ana. Eu que deveria... — Ana interrompeu suas falas mais uma vez. Parecia mesmo decidida em estar ali. E sem muito o que fazer, ele apenas se manteve ao lado dela, esperando o que vinha a seguir. — Não deveria não! Sabe Theo. Fechei meus olhos por muito tempo. Mas estou cansada... Quero mudar... Mudar por mim, por você... Por nós! Acha que seria possível?Surpreso, era assim que ele esta
Meu nome é Ana Mayra. Vivo na cidade de São Francisco. Califórnia. Tenho vinte e cinco anos. E vi minha vida vira do avesso. Graças a um homem, que por capricho me forçou a casar com o seu filho. Mas vamos por partes. Vou contar a vocês a história desde o começo. Meus pais, Bento Alves e Emília Alves. São donos de um restaurante. Desde nova, aprendi a valorizar o árduo trabalho. Os dois desempenham bem esse papel. Mas não faltava tempo para o amor e o carinho de ambos comigo. Estudava em uma escola aqui em São Francisco. E como melhor amiga, confidente e até irmã, filha de outra mãe. Tenho ao meu lado, Alexa. Naquela época, eu tinha apenas doze anos, e Alexa Treze. Moramos na mesma rua, desde que me entendo por gente. Na escola tinha muitos amigos. Mas, em compensação, tinha o menino a quem eu julgo como peste. O seu nome. Theo. Theo tinha a aparência de anjo, mas a mente de um demônio. Os seus lindos olhos azuis-claros, os seus cabelos castanhos que de longe aparentavam ser mac
Aquilo foi o fim da picada para Ana. Enquanto o abusado pronunciava o apelido que ela tanto detestava. Ele se aproximou, e elevou a mão na direção do queixo de Ana, apertando sem colocar força. Os olhos de Ana o fuzilou, e retirou a mão dele do seu queixo. Com passos rápidos. Ana deixou o seu lugar que antes era de seu sossego. Mas que agora foi invadido pelo homem que adora a deixar zangada. Vendo ela sair da biblioteca. Theo deixou um sorriso escapar. E logo sai da biblioteca indo na mesma direção que a mulher a sua frente. Rumo a sala de aula. Que para o azar de Ana. É a mesma que a sua. Ana entrou na sala, e o atrevido entrou atrás. Ela seguiu na direção, quase que, no fundo da sala, sentando ao lado de sua melhor amiga, Alexa. Enquanto Theo, sentou ao lado do amigo Marlon. — Você estar com cara de quem aprontou. E pela expressão no rosto de Ana. Arrisco um palpite de que você a perturbou. - Falou o amigo ao lado de Theo. E a expressão sorridente que Theo lhe olhou. Não precis