#18 Briga entre amigos

Os olhos suplicantes de Lucas eram como os de um cachorrinho abandonado, implorando para que seu amigo bobo, fiel e apaixonado, o acompanhasse.

— Já cansei de dizer que não vou nesses lugares sem a galera.  

— O seu "sem a galera" é só porque a Ana sempre está junto.  

— Sabe perfeitamente que é isso sim! — confessou Theo, sem vergonha alguma.  

— Sabe o que eu penso a respeito disso?  

— Sei! E não preciso que você fique enchendo a minha paciência de novo com isso.  

— Cara, eu não acredito... Você é o CEO de grandes empresas, é conhecido mundialmente. Poderia ter o mundo aos seus pés, mas prefere viver preso a uma mulher que não dá a mínima para você? 

Theo fechou a cara, mas Lucas ignorou totalmente o olhar sério do amigo. 

— Eu já disse que não quero falar sobre isso. Mas já que você insiste tanto, vou falar uma coisa que já disse várias vezes: eu. não. traio. a minha esposa.  

As últimas palavras ditas por Theo saíram pausadamente entre seus dentes raivosos, enquanto encarava Lucas. Lucas se aproximou de Theo e não baixou a guarda, decidido a vencer essa batalha.

— Você fica agindo como o marido honrado que não trai a esposa. Mas por acaso a sua esposa faz isso por você? — rebateu Lucas. — Cai na real, Theo... Ana não gosta de você. Ela não te ama, e você sabe bem disso... Então para de correr atrás de uma mulher que não está nem aí para você e que provavelmente te trai com muitos homens!

Aquelas palavras foram suficientes para Theo perder a paciência. Fechou o punho e se aproximou mais de Lucas, a fim de lhe dar um belo e caprichado murro no rosto. Mas, antes de socar a cara do indivíduo à sua frente, o murro acertou a parede mais próxima, deixando Lucas estático, encarando-o com surpresa. Os dois eram amigos de longas datas, e ele sempre soube que o amigo vivia para falar besteiras. Mas, mesmo com esse defeito, Lucas era um bom amigo.

— Cara! Quem avisa, amigo é! E é só isso que eu quero: que acredite em mim, porque eu realmente sou seu amigo. Agora me escuta: para de preservar a sua vida por uma mulher que não te ama e vai viver a sua vida.  

— Tá! Sei que seu pai fez o favor de deixar você preso a ela e que, para piorar a situação, colocou aquele advogado filha da pu*ta para garantir que vocês dois não se separem. Mas você ainda é jovem, cara. Ainda pode e deve aproveitar a vida.

Lucas insistiu mais uma vez, e Theo o encarou com os olhos cerrados. 

— Vou te dar três segundos para sair do meu quarto. Ou, caso contrário, aquele murro que acertei na parede vou fazer questão de parar nesse seu rosto.

Lucas levantou as mãos em rendição e saiu do quarto do amigo, batendo a porta com tamanha força. Theo, indignado com o comportamento de seu amigo e com os pensamentos à flor da pele pelas palavras ditas por ele, sentiu todo o sangue do seu corpo ir para a cabeça, onde ali se instalou uma dor insuportável. Em cima da mesinha perto da cama estava seu celular. Theo pegou o aparelho apressado e conferiu as horas. Já beirava às oito e meia da noite. Seus dedos foram guiados por ele, ativando o primeiro número salvo em favoritos: o número de Ana. Apertou o botão de chamada, que tocou diversas vezes sem sucesso, fazendo Theo ficar ainda mais frustrado e sua cabeça doer ainda mais. Mesmo nervoso com a situação, não desistiu. Retomou a ligação que há pouco foi encerrada por falta de atendimento. Iria ficar ali a noite toda, se possível, mas precisava ouvir a voz dela para se acalmar do tormento deixado por Lucas em sua cabeça.

Ana estava frustrada. Sua cabeça estava em um turbilhão de pensamentos, e todos eles tinham a ver com seu marido. Precisava jogar essa frustração fora, e qual o melhor método para fazer isso do que um belo copo de sua bebida favorita? "Cosmopolitan", um coquetel clássico feito com vodka, triple sec, suco de limão e cranberry. Uma combinação perfeita para ajudar a superar pensamentos indevidos. 

Ainda eram 19h15, e como companhia para degustar esse delicioso drink, ela levou consigo sua companheira de copo, Alexa, que não dispensava uma bebedeira. Amigas e companheiras de copos seguiram para o bar onde toda a galera da turma tinha o costume de ir. Era um ambiente conhecido e confiável. 

Já no local, sentadas na mesa de sempre, um ponto mais reservado do bar, as duas conversavam abertamente. 

— Fala pra mim, amiga! Qual foi o real motivo de vir aqui hoje?  

— E precisa de um motivo? Só queria relaxar um pouco depois de um dia estressante de trabalho.  

— Tem certeza de que o motivo é mesmo por conta do trabalho estressante, e não por conta de um certo loiro de olhos azuis claros?  

— O quê? — Ana tinha na mão o copo de bebida e um olhar relaxado. Mas bastou ouvir o nome "Theo" para que seus olhos se arregalassem. Alexa apenas sorriu, óbvia.  

— Por que do nada Theo está fazendo parte da nossa conversa?  

— Porque o real motivo de estarmos aqui não é o trabalho, e sim ele! — Alexa não supôs, afirmou. E Ana não teve argumentos para negar. Levou o copo à boca e tomou um generoso gole de sua bebida, enquanto Alexa ainda avaliava suas ações.  

— O Theo te ligou, não foi? E aposto que ele te disse algo que te incomodou.  

Com um suspiro derrotado e se vendo sem saída no momento, a única escolha a tomar foi confessar.  

— Theo tem me tirado muito do sério ultimamente. Ele não deixa de lado aquela bendita frase: "eu te amo". E isso... isso... — Ana tentou de todas as maneiras terminar aquela frase, mas as palavras simplesmente lhe faltaram. Foi Alexa quem complementou o óbvio.  

— Está mexendo com você!  

Fez-se uma pausa de alguns minutos entre as duas, tendo apenas o barulho em volta. 

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