O silêncio do outro lado era incômodo. Theo chamava por Ana, mas não obtinha resposta. Já Ana se manteve calada, processando esse novo sentimento que a pegou de surpresa.
— Foi pra isso que me ligou? Cheguei a pensar que algo tinha acontecido. Olha! Quer saber Theo. Estou ocupada, e vou desligar. - Suas palavras eram grosseiras, nelas escondia todo seu nervosismo causado por ele.
— Eu te amo!
Foi tudo que Ana escutou antes de encerrar a ligação. Com entusiasmo por ter escutado, mesmo que de uma forma grosseira, a voz de sua amada esposa. Theo deitou sobre a cama, levando com ele o seu celular com a imagem de Ana estampada na tela principal. E ficou ali encarando a foto dela, até pegá no sono.
Ana tinha encerrado a ligação, e permaneceu com o aparelho celular segurando-o firme em suas mãos. O mesmo repousado sobre os seus lábios, e o seu olhar para o vácuo da sala. Nesse momento não precisava mais segurar a respiração. Suspirou pesado, e o seu rosto ainda estava rubro. A porta da sala se abriu e Alexa se aproximou da amiga com um sorriso contagiante. Ana não notou a presença de Alexa. Parecendo estar hipnotizada olhando para o nada.
— Tá tudo bem amiga? Tá vermelha! Aconteceu alguma coisa? Hum? Oiii? Anaa... Porque esta parecendo uma pintura morta? Vamos, desembuxa. O que aconteceu agora? Quem deixou minha amiga nesse estado? Por um acaso foi o... Theo!?
Se aproximando cada vez mais de Ana, Alexa falava em um tom brincalhão com uma pitada de sinfônica musical. Ana ainda perdida em pensamentos só se deu conta de tal aproximação, quando ouviu o nome de quem tomou conta de seus pensamentos.
— O que? Como? Theo?
Os olhos surpresos de Ana encontraram os de sua amiga. E se não fosse coisa de sua cabeça, Alexa poderia até dizer que o brilho dos olhos da mais baixa, se apagou ao perceber que não era Theo ali, e sim ela.
— Alexa?
— Achou que era o Theo né? Desculpa desapontar!
— O que? Ta doida? Do que esta falando maluca?
— Sei! Vai! Desembucha. O que aconteceu pra deixar você naquele estado? E não vale mentir.
— Nada aconteceu. O do porquê dessa pergunta agora?
— Talvez porque você estava pensativa demais. Só que de um jeito bem peculiar? Era o Theo não era? Ele te ligou, foi isso?
— Porque essa sua mente louca foi logo pensar no Theo? Não acha que poderia ser algum problema que eu teria que resolver, mas não acho a solução?
— Não, não acho.
— E porque não? Saiba que...
— Você estava nervosa. Mas um nervosismo diferente. Um nervosismo, eu diria de alguem que acabou de receber uma linda confissão. Sem contar que seu rosto tava vermelho igual uma fruta madura. Então de duas uma: Ou você recebeu uma confissão de um fã maluco. Ou foi do proprio Theo! Prefiro acreditar na segunda opção.
— Você só pode mesmo estar maluca. Vamos tomar um café? Vou pegar pra gente.
Essa foi a forma que Ana usou para fugir do assunto Theo. E Alexa sabia bem disso. Sem esperar resposta, Ana levantou e saiu apressada rumo a maquina de café espresso que ficava na cozinha emprovisada. Mas claro que Alexa não iria deixar esse assunto morrer. Se levantou do lugar, e seguiu a amiga como um cachorrinho que não quer nada. Mas que no fim acaba sempre aprontando.
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Ao cair da noite, após chegar da empresa e resolver uma parte da burocracia que ocorria na sua empresa em Nova York, Theo estava no quarto onde estava hospedado. Tinha sobre o corpo apenas uma toalha enrolada na cintura, por ter saído há pouco do banho. Seus cabelos molhados eram secados por ele com a ajuda de uma toalha extra que tinha nas mãos. Batidas na porta eram contínuas, e ele já podia imaginar quem seria. Theo seguiu na direção da porta e a abriu, revelando seu amigo Lucas.
Lucas era considerado um playboy, um homem de vinte e seis anos, com um corpo musculoso impecável, cabelos cortados em chanel na tonalidade castanho, olhos cor de mel e pele parda. Lucas era apaixonado por Naomi, prima de Theo, mas não deixava de lado sua vida aventureira, já que Naomi nunca quis assumir um compromisso sério com ele. Os dois viviam o que se diz um "relacionamento aberto", uma "amizade colorida". Tanto ele quanto ela se envolviam com outras pessoas. Para Lucas, era um absurdo e uma perda de tempo o amigo Theo ficar tentando fazer Ana se apaixonar por ele, sendo que até o momento não viu nenhum progresso nisso. Na cabeça de Lucas, ele acreditava que o amigo deveria esquecer Ana e procurar alguma mulher que o agradasse na cama. Sabe que ele e Ana estão presos um ao outro para sempre, mas não concorda com Theo sendo fiel a uma mulher que o despreza.
— O que você está fazendo uma hora dessas no meu quarto?
— Festa do pijama!
— Rá rá, morri de rir com a piada.
— Colé, Theo! Por que você acha que eu estaria aqui perdendo meu precioso tempo? É óbvio que vim te tirar dessa sua vida deprimente e levar você para se divertir!
— E quem te disse que a minha vida é deprimente?
— Hum! Vamos ver... Você é apaixonado por uma mulher há vida toda e ela nunca te deu bola. Agora se casou com ela e ela te esnoba ainda mais. Você está sem se*xo há um bom tempo e ainda fala que a sua vida não é deprimente?
— Eu acho que você está louquinho pra morrer hoje!
— Não! Ainda sou muito jovem pra morrer. O que eu quero mesmo é aproveitar a vida. E você vem comigo!
— Não vou a lugar nenhum!
— Você não tá falando sério, tá? Olha como a noite está bonita. E pode apostar que pode ficar ainda mais bonita com várias mulheres ao nosso lado. Hum! O que me diz?
Os olhos suplicantes de Lucas eram como os de um cachorrinho abandonado, implorando para que seu amigo bobo, fiel e apaixonado, o acompanhasse.— Já cansei de dizer que não vou nesses lugares sem a galera. — O seu "sem a galera" é só porque a Ana sempre está junto. — Sabe perfeitamente que é isso sim! — confessou Theo, sem vergonha alguma. — Sabe o que eu penso a respeito disso? — Sei! E não preciso que você fique enchendo a minha paciência de novo com isso. — Cara, eu não acredito... Você é o CEO de grandes empresas, é conhecido mundialmente. Poderia ter o mundo aos seus pés, mas prefere viver preso a uma mulher que não dá a mínima para você? Theo fechou a cara, mas Lucas ignorou totalmente o olhar sério do amigo. — Eu já disse que não quero falar sobre isso. Mas já que você insiste tanto, vou falar uma coisa que já disse várias vezes: eu. não. traio. a minha esposa. As últimas palavras ditas por Theo saíram pausadamente entre seus dentes raivosos, enquanto encarava Luca
Alexa encarava Ana cúmplice, e Ana tentava de todas as formas fugir daquele olhar. — Amiga! Sei que já disse isso um milhão de vezes, mas vou dizer uma vez mais. Você sempre foi apaixonada pelo Theo, mas guardou seus sentimentos a sete chaves, por que é teimosa demais. Não acha que já é hora de dar uma chance para esse casamento dar certo? — Dar uma chance? Eu não posso fazer isso... Simplesmente não dá! — É claro que pode, amiga! — Não, Alexa! Não posso! Sofri demais com esse casamento. Sabe o que é ter o pavor de andar sozinha na rua, mesmo que em plena luz do dia? E a sensação de que a qualquer momento posso ser levada novamente e passar por aquele mesmo tormento que passei? Ter medo de ser presa dentro de uma camisa de força, tendo alguém ao lado dizendo repetidas vezes que vai te mandar para um lugar onde jamais poderá ser livre? Me sinto ainda dentro daquela camisa de força, lutando pra ser liberta. Acha mesmo que consigo ignorar tudo isso e viver uma vida feliz ao la
Se o comportamento exagerado de Alexa deu certo? Oh, se deu! Ninguém ali presente ousou olhar mais para o lado do moreno chamativo. Mas, claro, havia aquelas que davam umas olhadas sutis. Afinal, olhar não arranca pedaço. Marlon acompanhou sua noiva de volta para o assento, sentando-se em seguida ao lado dela enquanto dava os devidos cumprimentos a Ana.— Como vai, Ana? — Eu vou bem, Marlon! E você? — Bem, também! — Isso é ótimo! Veio buscar a Alexa? Fique à vontade. — Não, amiga! O que temos que fazer não é tão importante assim! — Amor! — interveio Marlon. A morena só pode ter esquecido; os dois haviam marcado de encontrar os pais dele hoje. — Meus pais estão nos esperando! Você se esqueceu? O olhar surpreso dela só confirmou o óbvio. A sua tão distraída amada havia mesmo esquecido do compromisso deles.— Me desculpa, amor! Eu realmente esqueci! Ana, eu... — Não diga nada, sua pateta. Só andem logo. Os pais dele já devem estar esperando. A compreensão de Ana fez com q
Marlon não pensou duas vezes antes de partir para cima do infeliz abusado, enquanto Alexa correu para acudir Ana. O barman também não se segurou e correu para ajudar Marlon. Com os braços imobilizados para trás por Marlon, Kauan era interrogado por ele. Marlon, a todo custo, perguntava de um modo nada amigável o que Kauan poderia ter feito a Ana. E claro, Kauan, a todo momento, gritava dizendo que não fez nada. Ana estava nos braços de Alexa, e agora, com o alvoroço da confusão, as pessoas ao redor se solidarizaram para ajudar. Algumas mulheres se prontificaram a ajudar Alexa com Ana, enquanto os homens ajudavam Marlon e o barman. Nessa confusão, Kauan levou a pior. No caminho para o hospital, Ana, desacordada, não aparentava estar nada bem. Alexa foi a acompanhante que seguiu junto na ambulância. A morena, desesperada, chorava horrores enquanto segurava a mão gélida de sua amiga, a todo momento se culpando por deixar Ana sozinha. Já Marlon seguiu o infeliz rumo à cadeia. Kauan saiu
Foi por volta da meia-noite e meia quando o voo de Theo pousou no aeroporto da Califórnia. Theo estava desolado; por hora, a única coisa com que ele se preocupava era ir até o hospital onde Ana estava internada. Assim que pisou no aeroporto, Marlon já o esperava, já que há meia hora atrás, Theo havia avisado que estaria chegando. Os dois seguiram direto para o hospital, e entre eles foram ditas poucas palavras. Theo estava calado demais, apenas olhando para fora da janela do carro em movimento.— Cara! Ela está fora de perigo agora! Já a levaram para o quarto. Até a dona Maria e a Dona Bárbara vieram vê-la... — eram palavras ditas por Marlon na intenção de acalmar o amigo. Mas não pareceu dar muito certo, já que em poucas palavras Theo cortou suas falas, sem nem olhar para sua direção. — Só vou acreditar que ela está bem quando eu a ver pessoalmente. — Eu entendo! Mas precisa se acalmar um pouco, e ser forte. O seu sogro... O senhor Bento vai te causar muitos problemas. Sabe disso m
Estava bem tarde, e Theo dormia tranquilo, com sua cabeça repousada sobre a cama de Ana. Sentiu uma mão leve tocar seu ombro e a voz de sua sogra, Emília, soar calma em seus ouvidos. Bastou apenas isso para desapertar e voltar o olhar para a sogra, de sorriso gentil.— Meu querido, você deveria ir para casa. Teve um voo cansativo, que eu sei. Você deveria descansar — relatou a senhora Emília, preocupada com o genro. Ele, por outro lado, não demonstrou vontade de sair dali. Seus olhos de menino pidão repousaram sobre os dela, para em seguida voltar para o rosto pálido de Ana, e sua mão segurou firme a dela. Emília sorriu com a cena. Como era possível sua filha cabeça oca não ver o quanto esse rapaz era apaixonado por ela?— Não estou cansado! E, se a senhora me permitir, eu gostaria de ficar aqui com ela. — Tem certeza de que o melhor é você descansar em casa e voltar pela manhã mais disposto. — insistiu uma vez mais a senhora Emília, se compadecendo da cena de Theo, com os olhos meig
O silêncio no quarto fez Ana ficar pensativa. Todos os seus pensamentos eram voltados para Theo, enquanto seus olhos o avaliavam. Ele era lindo, não podia negar. Sempre foi. E essa beleza já a fez sentir-se muito estranha na época da escola, quando as moças do colégio ficavam secando ele. Elas eram displicentes o suficiente para deixá-la nervosa. Com esses pensamentos, não soube que horas dormiu, mas o sonho que teve foi bom. Os olhos de Theo abriram quando a luz do sol ultrapassou a janela, atingindo seus olhos perfeitamente belos. Ele estava meio aéreo, e sentia uma leve dor no pescoço pelo mal jeito que dormira. Theo levantou a cabeça, conferindo Ana ainda adormecida. A preocupação com sua baixinha o atingiu em cheio. Levantou-se, aproximando-se dela o máximo que conseguiu, conferindo sua respiração, que, por sorte, estava serena e calma. Contudo, respirou fundo e ficou ali, observando-a dormir. A pele do rosto de Ana já não tinha a tonalidade pálida da noite passada, o que o de
Os olhos dele se prenderam nela mais uma vez. Até voltar a razão e notar que ela saiu da cama. — O que você... Ana, porque saiu da cama? Você... — atordoado ele a repreendia. Já ela, sorriu com o cuidado que recebia dele. Sentiu a mão dele segura a sua, e notou ele tentar a guiar na direção da cama. Mas ela o impediu, estava se sentindo bem o suficiente para estar ali. E queria a todo custo mudar seu destino. Sabia que a hora era aquela, se esperasse mais, poderia não ter coragem de fazer o que tinha em mente.— Espera Theo. — Ana! Deveria estar deitada...— Me desculpa! — Para de me pedir desculpa Ana. Eu que deveria... — Ana interrompeu suas falas mais uma vez. Parecia mesmo decidida em estar ali. E sem muito o que fazer, ele apenas se manteve ao lado dela, esperando o que vinha a seguir. — Não deveria não! Sabe Theo. Fechei meus olhos por muito tempo. Mas estou cansada... Quero mudar... Mudar por mim, por você... Por nós! Acha que seria possível?Surpreso, era assim que ele esta