Cap.4 - Começou o teatro

Ariel

Estava de boa no banho, relaxando com a água quente, quando a notificação do meu celular me tirou do meu momento zen. Com as mãos cheias de sabão, tentei pegar o celular, mas ele escorregou e caiu direto na banheira.

— Não… — falei, horrorizada, olhando o aparelho afundar.

Em um ato reflexo, estendi a mão e o puxei de volta, mas ao olhar para a tela, vi que estava toda azul escuro, com umas listras brancas dançando por ali. 

— Perfeito! — resmunguei, com uma pitada de sarcasmo.

Respirei fundo, tentando não entrar em pânico. Saí da banheira e me enrolei em uma toalha, correndo para o computador. Comecei a pesquisar o que fazer com um celular molhado. As dicas eram variadas e bizarras: “coloque em um pote de arroz” e “não ligue o aparelho”. 

Fechei a tela do laptop e encarei o meu celular. Ótimo, só o que faltava.

Me vesti rápido, sentindo a ansiedade aumentar, e quando olhei pela janela, percebi que a noite já estava caindo. Desci correndo as escadas, com o coração acelerado, em direção à loja do Nick, meu amigo que consertava celulares. 

Assim que cheguei no quarteirão, avistei Nick trancando as portas e acelerei o passo.

— Nick! — gritei, enquanto ele se virou e deu um pulo, assustando-se.

Ele colocou a mão no coração, como se tivesse levado um susto de verdade, e eu não consegui conter uma risadinha. 

— Que susto, Ariel! — ele exclamou, tentando se recompor. — O que você está fazendo aqui? — perguntou, ainda um pouco atordoado.

Tirei o celular do bolso, mostrando a tela arruinada. 

— Caiu dentro da água, não tem nem vinte minutos. Você acha que dá para arrumar? Começo a trabalhar amanhã e vou precisar dele!

Ele olhou para mim com uma expressão de pena.

— Infelizmente, tenho um compromisso agora. Mas prometo que amanhã pela manhã vai estar pronto. Se ainda houver alguma solução.

— Não fala isso, pelo amor de Deus! — exigi, fazendo uma cara de desespero. — Não tenho dinheiro para comprar outro celular agora.

— Vou tentar dar um jeito, tá? — respondeu, tentando me acalmar.

— Obrigada! Posso passar aqui no meu horário de almoço, umas onze e meia, pode ser?

Nick acenou, confirmando, e eu me despedi dele, sentindo uma mistura de alívio e nervosismo. Amanhã seria um dia importante, e eu não podia deixar um celular estragado me derrubar.

Quando cheguei em casa, a cena que encontrei no sofá me fez piscar algumas vezes. Jéssica estava com um cara desconhecido, parecendo completamente à vontade. 

Passei por eles rapidamente, sem querer atrair atenção, e fui direto para o meu quarto. A última coisa que eu queria era me envolver com o que quer que estivesse rolando ali.

Assim que a porta se fechou, deixei os pensamentos de lado e me concentrei no que realmente importava: escrever mais um capítulo do meu romance. Não que eu tivesse planos de publicar; era só um hobby que me fazia feliz e me ajudava a escapar da rotina.

Enquanto as palavras se desenrolavam no papel, fui interrompida por um ronco alto do meu estômago. Era hora de caçar algo para comer. Levantei-me silenciosamente, tentando não fazer barulho, mas me certificando de que ninguém estava por perto para presenciar a minha caça noturna.

Na cozinha, avistei a salada de frutas que havia preparado mais cedo. As frutas estavam lá, brilhantes e convidativas. Depois de satisfazer a fome, voltei para o meu quarto e consegui dormir mais um pouco, aproveitando a tranquilidade.

***

Acordei com batidas insistentes na porta. Era Jéssica, que tinha prometido me acordar.

— Acordei! — gritei, tentando espantar o sono enquanto me forçava a sentar na cama.

— Acelera… — foi tudo o que ela disse antes de se afastar, já em sua missão de me apressar.

Estiquei os braços e as pernas para espantar a preguiça e me levantei. Fui até o armário e peguei a roupa que havia separado na noite anterior. O dia prometia ser longo, então não podia me dar ao luxo de demorar.

Depois de um banho rápido e escovar os dentes, passei uma escova pelos meus cabelos, prendendo-os em um rabo de cavalo. Ao sair do meu quarto, senti o cheiro do café fresco vindo da cozinha. Jéssica já estava lá, comendo e tomando seu café da manhã.

— Bom dia! — disse, juntando-me a ela na mesa. Começamos a comer e a conversar sobre os planos para o dia.

Peguei uma carona com Jéssica, sabendo que em breve teria que me virar sozinha quando as coisas não se encaixassem. Mas por enquanto, tudo estava bem e eu estava pronta para enfrentar o dia.

Ela estacionou no estacionamento subterrâneo e nós duas seguimos em direção ao elevador. O ar estava tenso, e eu não conseguia deixar de sentir um frio na barriga.

— Aquele outro elevador leva até os escritórios também? — perguntei, apontando para um elevador ao longe.

Ela olhou na direção que eu indicava.

— Aquele é o de serviço. Geralmente, é usado pelo pessoal da limpeza ou para transportar coisas para os andares — respondeu, sua voz descontraída. Eu admirei a forma como ela parecia tão à vontade nesse ambiente.

— Então eu deveria ir no outro.

— Talvez amanhã... — Ela piscou para mim, e isso me fez sentir um pouco mais leve. Entramos no elevador, mas a sensação de alívio durou pouco.

Assim que as portas se abriram, encontramos os dois irmãos no saguão. Christian e Alicia estavam ali, ambos com a expressão fechada, como se estivessem discutindo. Quando o olhar de Christian se fixou em mim, a raiva e o desdém eram quase palpáveis. Não consegui evitar de me encolher.

Ele deu um passo em nossa direção enquanto Jess me puxava para fora do elevador.

— Bom dia, senhor — Jess disse, tentando manter a calma, mas o tom dela era mais firme do que eu esperava.

— O que ela está fazendo aqui? — Christian interrompeu, os olhos ainda presos aos meus, como se quisesse me queimar com o olhar.

— Eu... — Tentei dizer algo, mas as palavras morreram na minha garganta.

— Eu já te disse que a Ariel vai trabalhar aqui — Alicia se colocou entre nós, com um olhar de fúria.

— Mandei a Dulce cancelar a sua contratação e entrar em contato com você. Por que ainda está aqui? E usando o elevador errado.

— Desculpe, eu a chamei para esse elevador — Jess disse, agora com um tom irritado.

Christian desviou o olhar para Jess, mas a tensão ainda era palpável.

— Você sabe que eu não gosto desse lance dos elevadores — Alicia cruzou os braços, claramente agitada.

A angústia me consumia. Aquela situação estava ficando fora de controle.

— Então, eu não posso trabalhar aqui? — Finalmente consegui encontrar minha voz, mesmo que soasse fraca e insegura.

— Não!

— Sim! — Christian e Alicia responderam em uníssono, trocando olhares cheios de raiva. Alicia respirou fundo, olhando para o irmão.

— Deixa que eu resolvo isso. Se acontecer qualquer coisa ou problema, eu me responsabilizarei — disse, tentando manter a calma.

— Me desculpe, eu… eu não queria causar problemas — murmurei, olhando para o chão.

Christian soltou um sorriso forçado.

— Começou o teatro — ele disparou, com um tom sarcástico.

— Teatro? — Jess perguntou, confusa.

Olhando ao redor, percebi que todos os outros funcionários tinham parado o que estavam fazendo para nos observar, e a pressão aumentava. Era como se eu estivesse em um palco, sem saber as falas.

— Chega disso, Christian! — Alicia se aproximou, segurando meu braço. Ao notar que eu estava tremendo, ela deu um aperto leve, transmitindo um pouco de conforto. — Vem, eu mesma te levarei aos trocadores.

Ela me puxou gentilmente, mas a sensação do olhar de Christian queimando em minhas costas ainda estava presente, me fazendo sentir como se estivesse presa entre duas tempestades.

Jess nos acompanhou até uma sala pequena, e assim que entramos, pude notar que havia acesso a duas cabines de banheiros, uma delas com chuveiro. Do outro lado, vi alguns armários com trancas e, à frente, uma pia enorme com um espelho que refletia a expressão de ansiedade no meu rosto.

— Aqui é onde você vai se trocar para usar o seu uniforme. Pode tomar banho no fim do expediente e guardar suas coisas em um desses armários — disse Alicia, sorrindo de forma acolhedora. — Saindo daqui, tem uma porta à direita onde ficam todos os equipamentos e produtos de limpeza que você vai precisar.

Eu a olhei, surpresa por ela saber tanto sobre o funcionamento da empresa, considerando que era a dona. A mão de Alicia se apoiou em meu ombro, um gesto reconfortante que me ajudou a relaxar um pouco.

— Não se preocupe com meu irmão — ela disse, sua voz firme. — Ele viu a sua ficha e está apenas preocupado com a empresa.

— Oh, eu não quero ser motivo de briga entre vocês. Posso tentar encontrar outro emprego — respondi, minha insegurança transparecendo.

— Não se preocupe, Ariel. Ele vai encontrar outra coisa com o que se preocupar ainda hoje. Só o evite por uns dias e tudo dará certo. Não vou deixar você ser demitida, tudo bem?

Não sabia como agradecer a essa mulher por sua generosidade. O máximo que consegui foi dar um sorriso de gratidão.

— Obrigada, você nem me conhece e já me defendeu. Além de me empregar. Serei eternamente grata. Sei que não posso fazer muito, mas se precisar de mim para qualquer coisa, saiba que ficarei feliz em te ajudar.

— Eu sei que sim — Alicia disse, seu olhar sério agora se suavizando. — E é capaz de eu precisar de você mais do que pensa.

A última frase dela me deixou confusa, mas antes que eu pudesse perguntar, outras pessoas entraram na sala, paralisando ao nos ver ali.

— Bom, tenho que trabalhar. Vamos, Jess? — Alicia disse, interrompendo o momento.

— Ah, sim. Já estou indo — minha amiga respondeu, vindo para o meu lado. Ela se inclinou e falou baixinho: — Vai dar tudo certo. Te vejo no almoço.

Com um leve aceno, elas saíram, e eu me senti um pouco mais leve. A sala estava agora mais tranquila, mas minha mente ainda estava cheia de perguntas.

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