Ariel
Estava de boa no banho, relaxando com a água quente, quando a notificação do meu celular me tirou do meu momento zen. Com as mãos cheias de sabão, tentei pegar o celular, mas ele escorregou e caiu direto na banheira.
— Não… — falei, horrorizada, olhando o aparelho afundar.
Em um ato reflexo, estendi a mão e o puxei de volta, mas ao olhar para a tela, vi que estava toda azul escuro, com umas listras brancas dançando por ali.
— Perfeito! — resmunguei, com uma pitada de sarcasmo.
Respirei fundo, tentando não entrar em pânico. Saí da banheira e me enrolei em uma toalha, correndo para o computador. Comecei a pesquisar o que fazer com um celular molhado. As dicas eram variadas e bizarras: “coloque em um pote de arroz” e “não ligue o aparelho”.
Fechei a tela do laptop e encarei o meu celular. Ótimo, só o que faltava.
Me vesti rápido, sentindo a ansiedade aumentar, e quando olhei pela janela, percebi que a noite já estava caindo. Desci correndo as escadas, com o coração acelerado, em direção à loja do Nick, meu amigo que consertava celulares.
Assim que cheguei no quarteirão, avistei Nick trancando as portas e acelerei o passo.
— Nick! — gritei, enquanto ele se virou e deu um pulo, assustando-se.
Ele colocou a mão no coração, como se tivesse levado um susto de verdade, e eu não consegui conter uma risadinha.
— Que susto, Ariel! — ele exclamou, tentando se recompor. — O que você está fazendo aqui? — perguntou, ainda um pouco atordoado.
Tirei o celular do bolso, mostrando a tela arruinada.
— Caiu dentro da água, não tem nem vinte minutos. Você acha que dá para arrumar? Começo a trabalhar amanhã e vou precisar dele!
Ele olhou para mim com uma expressão de pena.
— Infelizmente, tenho um compromisso agora. Mas prometo que amanhã pela manhã vai estar pronto. Se ainda houver alguma solução.
— Não fala isso, pelo amor de Deus! — exigi, fazendo uma cara de desespero. — Não tenho dinheiro para comprar outro celular agora.
— Vou tentar dar um jeito, tá? — respondeu, tentando me acalmar.
— Obrigada! Posso passar aqui no meu horário de almoço, umas onze e meia, pode ser?
Nick acenou, confirmando, e eu me despedi dele, sentindo uma mistura de alívio e nervosismo. Amanhã seria um dia importante, e eu não podia deixar um celular estragado me derrubar.
Quando cheguei em casa, a cena que encontrei no sofá me fez piscar algumas vezes. Jéssica estava com um cara desconhecido, parecendo completamente à vontade.
Passei por eles rapidamente, sem querer atrair atenção, e fui direto para o meu quarto. A última coisa que eu queria era me envolver com o que quer que estivesse rolando ali.
Assim que a porta se fechou, deixei os pensamentos de lado e me concentrei no que realmente importava: escrever mais um capítulo do meu romance. Não que eu tivesse planos de publicar; era só um hobby que me fazia feliz e me ajudava a escapar da rotina.
Enquanto as palavras se desenrolavam no papel, fui interrompida por um ronco alto do meu estômago. Era hora de caçar algo para comer. Levantei-me silenciosamente, tentando não fazer barulho, mas me certificando de que ninguém estava por perto para presenciar a minha caça noturna.
Na cozinha, avistei a salada de frutas que havia preparado mais cedo. As frutas estavam lá, brilhantes e convidativas. Depois de satisfazer a fome, voltei para o meu quarto e consegui dormir mais um pouco, aproveitando a tranquilidade.
***
Acordei com batidas insistentes na porta. Era Jéssica, que tinha prometido me acordar.
— Acordei! — gritei, tentando espantar o sono enquanto me forçava a sentar na cama.
— Acelera… — foi tudo o que ela disse antes de se afastar, já em sua missão de me apressar.
Estiquei os braços e as pernas para espantar a preguiça e me levantei. Fui até o armário e peguei a roupa que havia separado na noite anterior. O dia prometia ser longo, então não podia me dar ao luxo de demorar.
Depois de um banho rápido e escovar os dentes, passei uma escova pelos meus cabelos, prendendo-os em um rabo de cavalo. Ao sair do meu quarto, senti o cheiro do café fresco vindo da cozinha. Jéssica já estava lá, comendo e tomando seu café da manhã.
— Bom dia! — disse, juntando-me a ela na mesa. Começamos a comer e a conversar sobre os planos para o dia.
Peguei uma carona com Jéssica, sabendo que em breve teria que me virar sozinha quando as coisas não se encaixassem. Mas por enquanto, tudo estava bem e eu estava pronta para enfrentar o dia.
Ela estacionou no estacionamento subterrâneo e nós duas seguimos em direção ao elevador. O ar estava tenso, e eu não conseguia deixar de sentir um frio na barriga.
— Aquele outro elevador leva até os escritórios também? — perguntei, apontando para um elevador ao longe.
Ela olhou na direção que eu indicava.
— Aquele é o de serviço. Geralmente, é usado pelo pessoal da limpeza ou para transportar coisas para os andares — respondeu, sua voz descontraída. Eu admirei a forma como ela parecia tão à vontade nesse ambiente.
— Então eu deveria ir no outro.
— Talvez amanhã... — Ela piscou para mim, e isso me fez sentir um pouco mais leve. Entramos no elevador, mas a sensação de alívio durou pouco.
Assim que as portas se abriram, encontramos os dois irmãos no saguão. Christian e Alicia estavam ali, ambos com a expressão fechada, como se estivessem discutindo. Quando o olhar de Christian se fixou em mim, a raiva e o desdém eram quase palpáveis. Não consegui evitar de me encolher.
Ele deu um passo em nossa direção enquanto Jess me puxava para fora do elevador.
— Bom dia, senhor — Jess disse, tentando manter a calma, mas o tom dela era mais firme do que eu esperava.
— O que ela está fazendo aqui? — Christian interrompeu, os olhos ainda presos aos meus, como se quisesse me queimar com o olhar.
— Eu... — Tentei dizer algo, mas as palavras morreram na minha garganta.
— Eu já te disse que a Ariel vai trabalhar aqui — Alicia se colocou entre nós, com um olhar de fúria.
— Mandei a Dulce cancelar a sua contratação e entrar em contato com você. Por que ainda está aqui? E usando o elevador errado.
— Desculpe, eu a chamei para esse elevador — Jess disse, agora com um tom irritado.
Christian desviou o olhar para Jess, mas a tensão ainda era palpável.
— Você sabe que eu não gosto desse lance dos elevadores — Alicia cruzou os braços, claramente agitada.
A angústia me consumia. Aquela situação estava ficando fora de controle.
— Então, eu não posso trabalhar aqui? — Finalmente consegui encontrar minha voz, mesmo que soasse fraca e insegura.
— Não!
— Sim! — Christian e Alicia responderam em uníssono, trocando olhares cheios de raiva. Alicia respirou fundo, olhando para o irmão.
— Deixa que eu resolvo isso. Se acontecer qualquer coisa ou problema, eu me responsabilizarei — disse, tentando manter a calma.
— Me desculpe, eu… eu não queria causar problemas — murmurei, olhando para o chão.
Christian soltou um sorriso forçado.
— Começou o teatro — ele disparou, com um tom sarcástico.
— Teatro? — Jess perguntou, confusa.
Olhando ao redor, percebi que todos os outros funcionários tinham parado o que estavam fazendo para nos observar, e a pressão aumentava. Era como se eu estivesse em um palco, sem saber as falas.
— Chega disso, Christian! — Alicia se aproximou, segurando meu braço. Ao notar que eu estava tremendo, ela deu um aperto leve, transmitindo um pouco de conforto. — Vem, eu mesma te levarei aos trocadores.
Ela me puxou gentilmente, mas a sensação do olhar de Christian queimando em minhas costas ainda estava presente, me fazendo sentir como se estivesse presa entre duas tempestades.
Jess nos acompanhou até uma sala pequena, e assim que entramos, pude notar que havia acesso a duas cabines de banheiros, uma delas com chuveiro. Do outro lado, vi alguns armários com trancas e, à frente, uma pia enorme com um espelho que refletia a expressão de ansiedade no meu rosto.
— Aqui é onde você vai se trocar para usar o seu uniforme. Pode tomar banho no fim do expediente e guardar suas coisas em um desses armários — disse Alicia, sorrindo de forma acolhedora. — Saindo daqui, tem uma porta à direita onde ficam todos os equipamentos e produtos de limpeza que você vai precisar.
Eu a olhei, surpresa por ela saber tanto sobre o funcionamento da empresa, considerando que era a dona. A mão de Alicia se apoiou em meu ombro, um gesto reconfortante que me ajudou a relaxar um pouco.
— Não se preocupe com meu irmão — ela disse, sua voz firme. — Ele viu a sua ficha e está apenas preocupado com a empresa.
— Oh, eu não quero ser motivo de briga entre vocês. Posso tentar encontrar outro emprego — respondi, minha insegurança transparecendo.
— Não se preocupe, Ariel. Ele vai encontrar outra coisa com o que se preocupar ainda hoje. Só o evite por uns dias e tudo dará certo. Não vou deixar você ser demitida, tudo bem?
Não sabia como agradecer a essa mulher por sua generosidade. O máximo que consegui foi dar um sorriso de gratidão.
— Obrigada, você nem me conhece e já me defendeu. Além de me empregar. Serei eternamente grata. Sei que não posso fazer muito, mas se precisar de mim para qualquer coisa, saiba que ficarei feliz em te ajudar.
— Eu sei que sim — Alicia disse, seu olhar sério agora se suavizando. — E é capaz de eu precisar de você mais do que pensa.
A última frase dela me deixou confusa, mas antes que eu pudesse perguntar, outras pessoas entraram na sala, paralisando ao nos ver ali.
— Bom, tenho que trabalhar. Vamos, Jess? — Alicia disse, interrompendo o momento.
— Ah, sim. Já estou indo — minha amiga respondeu, vindo para o meu lado. Ela se inclinou e falou baixinho: — Vai dar tudo certo. Te vejo no almoço.
Com um leve aceno, elas saíram, e eu me senti um pouco mais leve. A sala estava agora mais tranquila, mas minha mente ainda estava cheia de perguntas.
ArielAssim que Alicia saiu, Jess a seguiu, me deixando sozinha com os outros funcionários. Eles começaram a se arrumar, mas três mulheres ficaram me encarando de maneira estranha, seus olhares julgadores faziam minha insegurança crescer. Tentei me concentrar em qualquer outra coisa até que uma mulher de pele negra, cabelos cacheados e olhos verdes veio até mim, exibindo um sorriso caloroso.— Não liga para elas, estão sempre com essa cara fechada — disse ela, estendendo a mão de maneira amigável. — Sou Emily, mas pode me chamar de Mily.Senti meu corpo relaxar um pouco diante de sua atitude gentil. Apertei sua mão, devolvendo o sorriso.— Prazer, sou Ariel.— Aquelas são Bethy e Maya. Nós três cuidamos da limpeza por aqui. Você é a nova contratada, certo? — perguntou Mily, seus olhos brilhando.— Sim — respondi, tentando soar mais confiante.— Ótimo! Você vai ser minha parceira. Vou te mostrar tudo o que precisa saber. Primeiro de tudo, os outros andares não são problema nosso, têm
A comida chegou, fumegante e perfumada, e tentei me concentrar no prato à minha frente, mas a conversa sobre o noivado do meu irmão e a sensação de desconfiança em relação à noiva dele ainda pairavam sobre mim como uma nuvem carregada. Tentamos mudar de assunto, mas a questão continuava ali, pendente, silenciosa, como algo prestes a eclodir.Enquanto eu mexia distraidamente na comida, ouvimos uma batida suave na janela ao nosso lado. Jess e eu viramos, curiosas, e encontramos Alicia acenando para nós com um sorriso caloroso. Ela fez um gesto com a mão, indicando que esperássemos, e logo a vimos entrando pela porta do restaurante. Ela parecia elegante e segura, como sempre, movendo-se com uma graça natural até se aproximar da nossa mesa.— Oi, meninas! — Alicia cumprimentou, com o tom leve e amigável de sempre.— Oi — respondi, um pouco surpresa com sua presença, mas feliz por vê-la.— Oi, senhora — Jess disse, tentando manter o tom formal, mas logo percebendo o erro quando Alicia er
ChristianEu estava indo até a copa pegar um café quando, para minha irritação e satisfação, vejo exatamente quem eu queria ver: Ariel. Ela estava reabastecendo as cápsulas da máquina de café. Isso me deu uma oportunidade perfeita.Aproximei-me devagar, cada passo calculado. Quando cheguei mais perto, minha voz saiu em um tom baixo e frio.— Por que você correu de mim mais cedo? — perguntei. — Ficou com medo?Ela se assustou e, em sua tentativa de manter o equilíbrio, quase escorregou no balcão. Ariel me olhou, visivelmente nervosa, sua pele começando a corar, e disse:— Eu... eu não corri, senhor. — Sua voz tremeu, revelando o desconforto.Eu sorri internamente. Adorava vê-la intimidada assim. Cheguei mais perto, a poucos centímetros dela, a prendendo contra a bancada. Ela prendeu a respiração e desviou o olhar, sem saber o que fazer.Enquanto ela estava ali, sem saída, eu peguei uma xícara, coloquei a cápsula de café na máquina e comecei a preparar o meu. Virei-me novamente para ela
(Ariel)Eu estava quase terminando de limpar o gabinete do pessoal de design gráfico quando percebi uma movimentação estranha. Vários deles se amontoavam, apressados, tentando caber no elevador de uma vez só. — Isso tem cara de reunião de emergência — comentou Emily. Antes que eu pudesse responder, ouvi alguém me chamar.— Ariel! — A voz era de Alicia, e ela parecia aliviada ao me ver. Me virei, sem entender muito bem o que estava acontecendo.— Oi, Alicia. Posso ajudar em algo? — perguntei, um pouco surpresa com a abordagem repentina.— Sim, por favor. Você é formada em Literatura Inglesa, certo? — perguntou, como se isso fosse uma informação importante naquele momento.— Sim, sou — respondi, ainda mais confusa.— E você gosta de ler, não é? — Alicia continuou, sem pausa.— Gosto... mas por que essas perguntas? pensei, mas não disse em voz alta. — Ótimo! — exclamou Alicia, me segurando pelo pulso com um brilho de alívio nos olhos. — Eu preciso de você, Ariel.— Para o quê? — perg
ArielAcordo com o som suave do alarme. Me espreguiço, sentindo os músculos ainda meio tensos da noite anterior. Depois da minha rotina matinal habitual, preparo-me para ir trabalhar. Decido sair mais cedo. Começo uma hora antes que Jess, e não quero que ela acorde por minha causa. Ela sempre tenta me convencer de que não é problema, mas hoje quero evitar isso.Coloco meu casaco, o clima ainda frio, mesmo com o sol começando a despontar no céu. Caminho até a estação de metrô, que fica a poucas quadras do nosso prédio. O sol, brilhando entre os edifícios, promete um dia mais quente, mas o vento gelado ainda é insistente.Assim que chego à estação, entro e me acomodo num banco enquanto espero o metrô. O ar lá dentro é abafado, contrastando com o frio da rua. Penso brevemente em começar a caminhar mais – uns minutos de caminhada e já estou ofegante, e isso nem deveria ser difícil. Quando o metrô finalmente chega, me junto à multidão, cada um no seu próprio mundo, esperando que o dia c
ArielPrendi a respiração como se isso pudesse me fazer desaparecer. Era ele. Christian estava aqui? E agora? — pensei baixinho, com o coração acelerado. Meus olhos estavam fixos na maçaneta da porta do banheiro que começava a se mover, lentamente, para baixo. A tensão no ar parecia interminável, e meu corpo estava paralisado. Cada centímetro que a porta se abria era uma tortura.De repente, a porta se abriu de uma vez, e quem apareceu ali foi Jessica, com um sorriso enorme e seu vestido justo, radiante como sempre.— Ei, eu queria saber se você pode trocar os brincos comigo? — ela perguntou, toda animada, como se nada estivesse acontecendo.Soltei a respiraç&atild
— Aqui, Ariel, pra você!— disse ela, balançando o copo na minha direção.Eu dei um sorriso meio forçado, tentando ser educada, mas balancei a cabeça em recusa. A lembrança do álcool ainda era algo que me deixava desconfortável. Nunca bebi, e as memórias que eu tinha dela — de Thomaz — ainda me assombravam. O cheiro da bebida, o som dos risos descontrolados... tudo isso ainda fazia meu estômago revirar e meu corpo entrar em alerta, como se estivesse revivendo aqueles momentos.— Não, obrigada. Eu não bebo... — disse com a voz mais firme do que eu esperava.Alicia me olhou surpresa.— Sério? Nunca vi você beber mesmo... — comentou, seu tom era mais de curiosidade do que julgamento.— Ela é toda certinha. — Jessica entrou na conversa, rindo e me cutucando com o cotovel
(Christian)Eu não estava nos meus melhores dias. Tinha vindo a São Francisco para resolver uns negócios, dei uma passada rápida no evento de lançamento dos livros, mais por obrigação do que por interesse, e fui direto encontrar meus amigos depois.Alex tinha ficado por aqui até hoje por causa de uns ensaios, e decidimos que não valia a pena voltar para Nova York ainda, então a ideia era aproveitar a cidade. Já que eu não ia beber essa noite, acabei ficando com a responsabilidade de ser o motorista da vez.Depois de algumas horas, decidimos esticar a noite. Tava rolando um luau na praia, cheio de mulheres bonitas, e cada um já tinha escolhido uma companhia. Eu encontrei uma