Ariel
Prendi a respiração como se isso pudesse me fazer desaparecer. Era ele. Christian estava aqui? E agora? — pensei baixinho, com o coração acelerado. Meus olhos estavam fixos na maçaneta da porta do banheiro que começava a se mover, lentamente, para baixo. A tensão no ar parecia interminável, e meu corpo estava paralisado. Cada centímetro que a porta se abria era uma tortura.
De repente, a porta se abriu de uma vez, e quem apareceu ali foi Jessica, com um sorriso enorme e seu vestido justo, radiante como sempre.
— Ei, eu queria saber se você pode trocar os brincos comigo? — ela perguntou, toda animada, como se nada estivesse acontecendo.
Soltei a respiraç&atild
— Aqui, Ariel, pra você!— disse ela, balançando o copo na minha direção.Eu dei um sorriso meio forçado, tentando ser educada, mas balancei a cabeça em recusa. A lembrança do álcool ainda era algo que me deixava desconfortável. Nunca bebi, e as memórias que eu tinha dela — de Thomaz — ainda me assombravam. O cheiro da bebida, o som dos risos descontrolados... tudo isso ainda fazia meu estômago revirar e meu corpo entrar em alerta, como se estivesse revivendo aqueles momentos.— Não, obrigada. Eu não bebo... — disse com a voz mais firme do que eu esperava.Alicia me olhou surpresa.— Sério? Nunca vi você beber mesmo... — comentou, seu tom era mais de curiosidade do que julgamento.— Ela é toda certinha. — Jessica entrou na conversa, rindo e me cutucando com o cotovel
(Christian)Eu não estava nos meus melhores dias. Tinha vindo a São Francisco para resolver uns negócios, dei uma passada rápida no evento de lançamento dos livros, mais por obrigação do que por interesse, e fui direto encontrar meus amigos depois.Alex tinha ficado por aqui até hoje por causa de uns ensaios, e decidimos que não valia a pena voltar para Nova York ainda, então a ideia era aproveitar a cidade. Já que eu não ia beber essa noite, acabei ficando com a responsabilidade de ser o motorista da vez.Depois de algumas horas, decidimos esticar a noite. Tava rolando um luau na praia, cheio de mulheres bonitas, e cada um já tinha escolhido uma companhia. Eu encontrei uma
ArielAcordei com um sobressalto, meu coração batendo tão rápido que parecia prestes a explodir do meu peito. Pisquei várias vezes, tentando lembrar onde estava, até perceber que era minha casa. O alívio veio rápido, mas uma sensação estranha de solidão me envolveu. Jéssica tinha insistido para faltar o trabalho hoje e ficar comigo, mas eu sabia o quanto aquela reunião era importante, e neguei. Ela tinha que estar ao lado de Alicia e de um cliente, e eu não queria atrapalhar.Levantei devagar, esfregando os olhos, e fui até a cômoda, onde o celular estava carregando. O relógio já marcava quase duas da tarde. "Merda... Dormi o dia inteiro," pensei, enquanto meu estômago roncava em protesto pela falta de comida. Montei um sanduíche simples de frango e um copo de suco, e me sentei à mesa, respondendo rapidamente às mensagens de Alicia e Jéssica, que estavam preocupadas. Eu ainda tentava processar tudo o que tinha acontecido ontem, quando uma batida na porta me fez interromper meus pens
ArielEstava nervosa, meu coração acelerado enquanto eu me olhava no espelho. Por que eu estava me metendo no meio dessas pessoas ricas? Não fazia sentido para mim.O pior de tudo era a possibilidade de me deparar com Thomaz. Só de pensar, meu corpo se arrepiava. Se algum dia ele me encontrasse, toda a liberdade que eu tinha conquistado, toda a paz que eu lutava para manter, desapareceria.— Ei, deixa esses pensamentos negativos de lado — ouvi a voz familiar de Jess ao meu lado. Ela apareceu no espelho, me olhando com um sorriso firme.— Você é linda e merece viver sua vida. Não deixa ninguém tirar isso de você, nem o Thomaz e
Ariel.Estava terminando de limpar a sala de reuniões, ajustando os últimos detalhes, quando a porta se abriu e Alex entrou, trazendo consigo aquela presença imponente de sempre. Olhei para ele, surpresa, enquanto ele se aproximava e colocava sua pasta sobre a mesa.— Bom dia, Ariel. — Ele disse com um sorriso amigável.— Bom dia. — Respondi, tirando as luvas de limpeza e as colocando de lado, tentando entender o motivo de ele estar ali.Alex olhou ao redor, como se estivesse verificando se estávamos sozinhos, e então voltou a me encarar.— Vai participar da reuni&atil
(Ariel)Depois de nos arrumarmos, seguimos no carro da Jess. Estava um pouco distraída, observando as luzes da cidade pela janela, mas percebi que ela estava quieta, mais do que o normal. Algo estava errado. Ela geralmente falava sem parar quando estávamos a caminho de algum lugar.— O que foi? — perguntei, tentando quebrar o silêncio. — Você parece um pouco tensa.Jess suspirou, apertando o volante. Quando o semáforo ficou vermelho, ela se virou para me olhar rapidamente, como se estivesse ponderando se deveria ou não dizer o que estava pensando.— Tenho quase certeza que a prima da Alicia vai estar lá — disse, com uma expressão apreensiva.— E tem algum problema? — perguntei, sem entender o motivo da preocupação.Ela deu um sorriso meio sem jeito antes de responder:— Apenas que... ela não gosta muito de mim.Franzi a testa, surpresa. Jess sempre foi querida por todos, não conseguia imaginar alguém não gostando dela. — Qual o motivo? — perguntei, curiosa.O sinal abriu e Jess avanç
Sem perceber, todos nós esvaziamos a primeira garrafa de vinho, e Alex foi até a cozinha para buscar outra. Eu já estava sentindo o efeito do álcool, um calor suave que me relaxava um pouco, embora o filme continuasse me deixando tensa a cada cena. Olhei para Alex enquanto ele se acomodava no sofá ao meu lado, e percebi que Alícia e Jess tinham capotado no sofá oposto, provavelmente efeito do whisky que insistiram em misturar.— Elas vão se arrepender… dessa mistura amanhã — sussurrei, tentando conter uma risada.— Com certeza — ele respondeu, com um sorriso divertido.Voltei minha atenção para a tela, mas fechei os olhos quando uma cena horrível apareceu. Senti Alex me observando e, um instante depois, ele perguntou:— Quer parar o filme?— Não, tô curiosa pra saber como vão matar essa coisa — respondi, e ele riu. Sua risada acabou me contagiando, e foi nesse momento que percebi que já estava um pouco mais alegre do que o habitual. Talvez um pouco demais.Depois de recuperar o riso,
(Ariel) Acordei com uma onda terrível de enjoo. Saltei da cama e corri até o banheiro, despejando tudo no vaso. Após o que pareceu uma eternidade de ânsia, lavei o rosto, escovei os dentes e tomei um banho rápido. Quando voltei para o quarto, vi que já eram sete da manhã. Arrumei a cama e chequei que tudo estava no lugar antes de sair. Ao abrir a porta do quarto, quase esbarrei em Alex no corredor, que segurava uma xícara e sorria.— Achei que você não tinha acordado muito bem — disse ele, estendendo a xícara na minha direção.— Deu para ouvir? — perguntei, envergonhada.Ele assentiu com um sorriso meio culpado, mas me entregou a xícara. — Chá de gengibre. Vai ajudar.Seguimos para a cozinha, onde me sentei no banco da bancada e comecei a beber o chá, tentando ignorar a vergonha enquanto ele, tranquilamente, comia ovos mexidos e panquecas.— Como você está tão bem? — perguntei, curiosa, ao ver que ele parecia perfeitamente normal. — Não sente nada no dia seguinte?Ele deu de ombros.