Capítulo Três

Las Vegas

Bianca

Ouço um som persistente de "bip". Não estou familiarizada com esse barulho, mas sei que pertence a alguma máquina hospitalar. Sinto o cheiro de desinfetante e álcool, minha pele arrepia com o frio. Tento mover minha cabeça, mas para ao sentir náuseas. Tento falar algo, mas desisto, minha garganta está estranhamente dolorida. Fico parada, ainda sinto um pouco de tontura e dores pelo corpo, tenho a sensação que meu corpo foi jogado de um prédio. Vagamente lembranças do que aconteceu vão surgindo na minha mente. Toco minha perna, dou um leve beliscão, a dor aguada é imediata. Eu não morri! Obrigada Deus! Obrigada! Obrigada! Obrigada! Mas o que aconteceu comigo! Eu só lembro de sentir uma dor muito forte, a sensação de sufocamento ainda me assombra. A imagem de Sirius surge em meus pensamentos. A forma como ele me tomou em seus braços, sua feição preocupada. Aquela foi à primeira vez desde que nos vimos que vi sua postura de homem de negócios vacilar. O Sr. Gelo, não é totalmente feito de gelo pelo visto. Abro meus olhos lentamente, a luz me cega parcialmente. Pisco algumas vezes sem pressa, me acostumando com a claridade. O teto é totalmente branco, movo meus olhos pelo quarto. Tem um sofá próximo à janela com cortinas brancas, percebo que ainda está escuro lá fora, ainda é noite. Um pouco, mas afastado uma poltrona do lado direito do quarto, próxima ao canto da parede, vejo que tem até mesmo um móvel de madeira. As paredes brancas são decoradas com dois quadros, as pinturas são de um campo aberto com flores. Do lado esquerdo vejo uma porta, que imagino por trás dela ser um banho. É um quarto hospitalar bastante sofisticado, mas o que realmente chama minha atenção é ele está vazio, não tem ninguém aqui.

Ainda sentindo um pouco de náuseas, movo minha cabeça para o lado esquerdo. O abajur em cima do móvel ao lado da cama hospital em que estou deitada, está ligado, iluminando o quarto e meu celular. Movo minha mão para pegá-lo, mas para ao notar o soro em meu braço. Olho melhor para o meu estado. Não estou, mas usando meus jeans, e minha blusa branca simples. Por baixo da coberta estou usando uma camisola hospitalar, em meu braço esquerdo está o soro, olho para o meu braço direito. No meu dedo indicador está o oxímetro, fazendo minha leitura cardíaca. Nunca fiquei tão feliz em ler o livro de medicina de Margo, e saber para o que é isso funciona. Minha atenção se volta para o meu celular, eu preciso falar com as minhas irmãs. Balanço minha mão, removendo o oxímetro do meu dedo indicador. Pego o aparelho, ao acender a tela vejo que são duas da madrugada. Noto as notificações de chamadas perdidas, só Margo, me ligou vinte vezes desde uma da madrugada. Abro o chat, lendo suas mensagens vejo o quanto ela está preocupada, e a urgência em cada mensagem. Deslizo meu dedo sobre a tela, é difícil escrever uma mensagem só com uma mão, mas não posso desistir. Margo, precisa saber onde estou. Nesse momento a porta do lado oposto do quarto se abre. Sirius para na soleira da porta. Instantaneamente sou capturada por seu olhar, seus olhos de cor azul oceânico passeiam por todo meu corpo, por algum motivo meu rosto fica quente, é deprimente ser vista dessa forma catastrófica. Gostaria de pelo mesmo está usando algo, mas adequado. Suas mãos se movem e ele cruza os braços em frente ao corpo, seus músculos se sobressaem. Sua feição é séria e não transmite qualquer afeição, percebo que ele não usa o mesmo terno de três peças quando o encontrei. Seu visual é, mas casual, eu diria que até relaxado. Sirius usa calças jeans escuras, e um suéter vermelho. Até mesmo seus sapatos mudaram, e ele usa tênis. Mesmo não usando seu terno ele ainda expelir poder. Me pergunto como o Sr. Gelo, é trabalhando, ele deve devorar literalmente seus concorrentes.

— como se sente?

Sou pega de surpresa por suas palavras, aperto o aparelho em minha mão. Me sinto nervosa, mas não como antes.

— me... lhor.

Minha voz saí arrastada, uma tosse seca faz minha garganta dolorida piorar.

— não fale.

Sua voz me causa um arrepio na coluna. Sirius se aproxima em passos lentos. Ele descruza os braços, sua mão se move pegando meu celular. O mesmo segura o aparelho em frente ao meu rosto.

— depois.

Coloca o aparelho de volta no móvel em que peguei. Sirius aperta um botão que eu não tinha visto antes ao lado da cama hospitalar. Quase que instantâneo uma enfermeira surge, ela para na soleira da porta com um sorriso gentil, ela deve ser só alguns anos meu velha do que eu.

— sim, Sr. Cavill?

— traga água, e chama o Dr. Melendez. — fala sem nem ao menos virar para encara-la.

— claro.

A mesma vai embora, os olhos de Sirius, continuam em mim, tão ávidos como o vi pela primeira vez. Mas de alguma forma sinto que tem algo a, mas por trás desse olhar, sinto que está, mas frio e distante do que hoje de manhã. Pergunto-me o que mudou. Sem conseguir sustentar essa guerra de olhares, desvio meus olhos para minhas mãos. Pego o controle da cama ao meu lado, e aperto o botão para cama subir. Estou cansada de estar deitada. Sem olhar, sinto a presença de Sirius, se mover pelo quarto, andando lentamente para o outro lado. Por que sinto que ele quer me dar uma bronca? Solto o botão quando estou em uma posição confortável. A tensão dentro do quarto é enorme, sinto que estou sendo esmagada pela olhar de Sirius. Se minha garganta não doesse tanto, perguntaria qual era seu problema. Sinto certo alívio quando um homem de jaleco branco entra no quarto. Ele não deve ter mais que trinta e poucos anos, mesmo o jaleco escondendo seu corpo, vejo que ele possuí um porte atlético.

— Srta. Dantés é bom vê-la acordada. Como se sente?

Faço menção em responder, mas ao sentir a mesma dor aguada de antes desisto.

— desculpe, sou um tolo. Sua garganta dói muito?

Apenas balança a cabeça em afirmação, nesse momento a mesma enfermeira de antes entra no quarto segurando uma bandeja com uma jarra de vidro em cima, e um copo.

— doutor, a água. — Diz deixando a bandeja sobre o móvel ao lado da minha cama.

— obrigada Mia, já pode ir — A mesma vai embora. O Dr. Melendez, me oferecer um copo com água — beba devagar.

Orienta-me, bebo alguns goles. Minha garganta dói um pouco ao engolir, mas a dor diminui um pouco. Ao beber metade d'agua devolvo o copo ao mesmo que o coloca de volta na bandeja.

— o que aconteceu comigo?

Pergunto sentindo um pouco de dificuldade, mas comparado com antes, minha voz saí muito melhor.

— tivemos que fazer uma lavagem gástrica com urgência, o incomodo na garganta pode ficar por alguns dias — diz voltando seu olhar para a prancheta que entrou segurando, seu olhar volta para mim novamente. — você teve uma reação negativa à pílula do dia seguinte, sabia que era alergia ao medicamento?

Meus olhos quase saem das órbitas ao ouvir suas palavras. Mal consigo acreditar que tudo isso aconteceu só porque tomei aquele mísero comprimido. Já vi Amanda, usar aquela pílula muitas vezes, não achei que teria uma reação ruim sobre mim.

— não.

Falo envergonhada por fazer algo tão estúpido. Me sinto como uma criança boba que colocou o prego na tomada. O Dr. Melendez escreve ao na folha em sua prancheta.

— presumo que nunca vez uso desse medicamento antes?

— não.

Respondo. Desvio meus olhar para minhas mãos, como se elas fossem, mas importantes do que o Dr. Melendez, está perguntando. Sinto-me tão constrangida que sinto meu rosto quente. Posso sentir os olhos de Sirius, me queimar. Gostaria de poder enfiar minha cabeça em um buraco agora.

— seu ginecologista receitou esse medicamento?

— não, eu apenas peguei na bolsa da minha irmã.

Posso sentir o olhar de reprovação de ambos. Sei que foi algo imaturo e irresponsável, mas é com os erros que se aprende no fim das contas.

— entendo. Por favor, não faça, mas uso desses medicamentos, como teve uma reação negativa à pílula recomendo que fale com seu ginecologista, e achem algo acessível para você. — contínuo encarando minhas mãos, apenas aceno com a cabeça concordo. — também tiramos seu sangue para fazer alguns exames — diz anotando algo na folha na prancheta — você ainda vai sentir um pouco de náuseas e enjoos por dois dias, recomendo tomar bastante líquidos e repouso.

— obrigada. — minha voz soa um pouco fraca, mas é o suficiente para que ele ouça.

— Srta. Dantés, Sr. Cavill.

O mesmo saí do quarto. Novamente o silêncio predomina. Umedeço os lábios, pensando bem agora foi realmente estúpido o que fiz. Mas já vi Amanda, fazer isso tantas vezes que não achei que algo assim aconteceria comigo. Muitas mulheres tomam pílula do dia seguinte, é inacreditável que só comigo aconteça essas coisas. A sorte não é minha amiga no final das contas, só imagino as consequências disso quando minha família descobrir vai ser um caos total. Papai vai ficar furioso. Sendo filha de um juiz renomado sei que as aparências importam, só espero que ninguém me reconheça e não saía nenhuma matéria no Brasil, sobre a filha caçula alcoólatra e droga do renomado juiz Frederico Dantés. Sei muito bem como a mídia pode ser cruel. Margo comprovou isso muito bem uma vez, o que a fez ter certo trauma de câmeras.

— eu disse que cuidaria de tudo.

Meus pensamentos são interrompidos pela voz rouca e fria de Sirius. Sim, você disse que cuidaria de tudo, mas não é como se eu não fosse fazer nada.

—, mas isso não era o suficiente para mim.

Sem me conter as palavras saem por meus lábios, o encaro pelo canto do olho. Sua sobrancelha está erguida formando uma ruga em sua testa, sua boca está em uma linha reta. Não conheço as expressões de Sirius, tão bem. Mas quando ele quer demonstrar o que está sentindo é bem evidente. Seu olhar de reprovação permanece, como se me desse uma bronca. Odeio como me tratam como criança, agir de forma imatura não faz parte da minha índole, até eu mesma estou surpresa pelo que fiz. Mas isso não é o momento para implicar com algum que está doente. Nesse momento ouço vozes femininas, mas que conheço muito bem.

— Bianca!

Giro minha cabeça em direção à porta. Margo entra primeiro. Em passos rápidos ela vem até mim. Amanda vem logo atrás. Margo toca minha face, noto seus olhos inchados, sua feição transmite um pouco de alívio. Já Amanda, está, mas imparcial, ela sempre foi a, mas durona de nós três, enquanto Margo leva o título de chorona.

— você é a pessoa, mas idiota do mundo! — as palavras de Amanda, são agressivas. Mas sei que por trás disso ela está realmente preocupada.

— Amanda!

Margo tenta intervir. Ela sempre ficou ao meu lado, não importa qual bobagem eu fizesse. Ela sempre estava lá para me proteger, mas acho que desta vez ela não vai conseguir impedir a fúria de Amanda.

— não, Margo. Nem tente protegê-la — fala erguendo uma mão em um ato nervoso acho que dessa bronca não vou escapar. Mas por hora, me contento apenas com seu olhar raivoso.

— tá se sentindo melhor?

— sim, só vou precisar descansar por alguns dias.

— graças a Deus. — diz levando uma mão ao vão dos seus, ouço a mesma soltar um suspiro em alívio.

— garota! Onde "cê" estava com a cabeça em tomar minhas pílulas? — Amanda, se afasta um pouco da cama hospitalar colocando ambas as mãos na cintura, seu olhar é interrogativo. — se não fosse pelo bombadão bonitão ali, a gente nem ia saber que você tinha morrido.

A presença de Sirius, ainda no quarto se torna presente para mim. Tinha me esquecido completamente da sua presença marcante. Agradeço a Deus, por Amanda, e Margo estarem falando português. Caso contrário eu já teria saído correndo desse quarto pela vergonha.

— afinal, quem é esse cara?

Amanda, pergunta. Meu olhar vai até Sirius. Sua expressão se tornou imparcial, seus olhos oceânicos estão ficados em mim. Tenho a sensação que ele entendendo o que estamos falando, porque ele está muito quieto, apenas nos encarando. Seu olhar é muito intenso, sinto que ele está esperando que eu apenas responda a essa pergunta. Mas não tenho ideia de como fazer isso. Que tal, meninas esse é o homem que passei a noite ontem, e perdi minha virgindade e o futuro Pai, da criança que talvez eu esteja esperando. Nem toda preparação do mundo me ajudaria nessa situação. Meu olhar alterna entre minhas irmãs, e Sirius. Me sinto nervosa, se eu fingir passar mal de novo posso adiar as apresentações. Nesse momento Sirius, da um passo a frente. Sinto um arrepio atravessar meu corpo.

— Sirius Cavill. Sou o marido da sua irmã.

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