Estou concentrada na cozinha, e são quase oito horas. O restaurante está quase cheio, os pedidos chegam no balcão principal no mesmo instante em que os pratos preparados evaporam.— Risoto de cogumelos com ancho saindo! — escuto um dos chefs gritar, logo em seguida outro anuncia: — Filé-mignon com batata duchesse pronto em dois minutos!Decidi oferecer uma diversidade de pratos hoje, e o cardápio está um pouquinho variado. Iremos servir receitas do mundo, só que cada país terá seu dia.— Chef — um dos garçons se aproxima de mim — a mesa 06 reclamou que o fettuccine com cogumelo paris ficou um pouco duro, e o cliente quer conversar com o chef.Balanço a cabeça, surpresa, porque acho impossível ter errado esse prato.— Estarei lá em um minuto.Termino de montar outro prato de fettuccine com cogumelo paris, em dúvida se devo mandar servir ou não, pois se estiver ruim, será outra reclamação.— Vando, verifica esse prato para mim. Tivemos uma reclamação sobre ele, e eu não quero continuar
Caminho em direção a eles, tentando manter a compostura, embora o sorriso travesso no rosto de Rodolfo me deixe ciente de que ele sabe exatamente o que estou sentindo. Eu poderia estrangulá-lo por me colocar nessa situação.— Boa noite. — Digo, tentando soar profissional e esconder meu nervosismo.— Boa noite. — Responde a mulher de cabelos negros, e os outros acompanham logo em seguida. Não consigo deixar de admirá-la. Há algo nela que se destaca, talvez seja a mistura de confiança e doçura que transparece em seu olhar e na suavidade de sua voz.— Deixe-me apresentá-los. — Rodolfo se aproxima de onde estou, colocando sua mão em minha cintura e enquanto ele fala, me pego questionando se tomar a decisão de me casar com ele foi realmente a escolha certa.— Esses são meus irmãos, Alexander e Otávio.Estendo a mão. — Muito prazer.Ambos me cumprimentam educadamente. Eu esperava que, pelo menos, o chefe fosse mais ríspido, mas ele se mostrou surpreendentemente cordial, apesar de sua expres
— Esse casamento é para quando? — Zael pergunta, e todos os olhares se voltam para mim e Rodolfo.Depois de voltar com os garçons para servir os pratos, encontro meu primo, seu namorado e Paola reunidos com a família Gambino, envolvidos em uma conversa entusiasmada, como se todos se conhecessem há anos.— Um a... — Mês. — Rodolfo interrompe, respondendo por mim. — Em um mês estaremos casados. — Ele conclui, bebendo seu vinho enquanto me lança um olhar divertido. Aperto sua mão por debaixo da mesa, tentando esconder minha ansiedade, o que só o faz sorrir ainda mais.— Um mês? Tão rápido. — Maíra se pronuncia, surpresa. — Meu filho, uma mulher não consegue organizar um casamento em um mês.— Helena conseguiu, ela pode ajudar Halina. — Rodolfo sugere casualmente, sem se importar com meu olhar sério. Sério isso, Rodolfo?— Eu não planejei meu casamento em um mês. Foi minha madrasta. — Helena faz uma cara de pesar. — Ela e Mariana correram contra o tempo, e a cerimônia foi pequena. Se voc
— Você irá mesmo se casar, menina Halina.Eu havia acabado de chegar do apartamento de Rodolfo, e estava tomando café da manhã com Paola e Rose, discutindo algumas ideias para o casamento, mas parece que Rose não ficou muito feliz com o assunto. Isso me deixou incomodada, será que ela sabe de algo que eu não sei?Gosto muito de Rose. Ela é discreta, às vezes parece que nem está em casa, e sua comida é impecável. Estou pensando em levá-la para morar comigo quando me casar, mas para isso terei que apresentá-la a Rodolfo. Por incrível que pareça, eles ainda não se conhecem. Todas as vezes que ele vem aqui, Rose está ocupada ou sai para as compras.— Vou sim, Rose. Você não parece feliz.— É que você é nova, tem uma vida linda pela frente. Casamento traz filhos e esses homens do nosso mundo são complicados. Ele vai deixar você continuar com sua vida depois do casamento?Ela tem um ponto. A dúvida se espalha pelo meu coração, e eu não sei o que dizer. Nunca conversei com Rodolfo sobre isso
Uma semana depois...Se tem uma coisa que amo é o escritório do restaurante. Tirando a cozinha, ele é o meu lugar favorito. Quando planejei essa sala, mandei caprichar, porque é aqui onde passo a maior parte do meu tempo. Estudo, trabalho, e até mesmo momentos de descanso são compartilhados aqui.Hoje, por exemplo, estou focada em um trabalho da faculdade sobre Antropologia e História da Alimentação. É um pouco difícil fazer essa análise, já que a cultura alimentar muda em cada país. Também tenho que levar em consideração as práticas históricas, culturais, e até mesmo ambientais e territoriais, tudo relacionado à alimentação. Ou seja, terei muito no que trabalhar hoje.Rodolfo está fora há uma semana. Depois de fazer sua minuciosa vistoria na mansão e me dar autorização para mudar, ele viajou. Mas liga todas as noites e quando acordo encontro mensagens dele querendo saber como estou, o que me deixa com o coração quentinho. Nunca imaginei que um homem como ele pudesse ser assim. Paola
Paro o carro poucos metros longe do restaurante de Halina e atendo a ligação de Fabiano antes de descer.— Como estão as coisas por aí?— Perfeitas, amigo. E quando voltará para casa? Preciso da sua ajuda.— Em breve, ainda estou resolvendo uns assuntos por aqui. E Halina?Suspiro, sabendo o quanto ele se apaixonou por ela, mas o coração de minha irmã já tem dono.— Feliz com o futuro casamento.— Ela vai mesmo se casar, né?— Sim. Você ainda tinha esperança?— Muitas. — Ele ri, mas posso sentir que é uma risada sem vida. — Bom, deixe-me ir. Qualquer coisa, me liga.— Pode deixar. Adeus.Desligo, pego minha bolsa e saio do carro. Graças ao bom Deus, Apolo não é mais o segurança de Halina. Acho que meu futuro cunhado teve pena de mim, mas isso me fez bem. Estou conseguindo focar minha mente em outro lugar. Minha viagem está marcada, apartamento comprado e mobiliado. Itália me espera.Enquanto caminho em direção ao restaurante, vejo uma mulher grávida sair às pressas, chorando. Acho est
A neblina negra se aproximava novamente, mas desta vez, eu não sentia medo. Permaneci sentada, observando-a como se fosse minha única salvação. Desta vez, eu desejava ser arrastada por aquele jovem e sua escuridão profunda; queria que o sangue derramado fosse o meu.Eu o vi sair do galpão da máfia, com as mesmas calças e o torso nu, e a faca ensanguentada em sua mão sujas de sangue. Ele sorriu ao me ver sentada no chão, observando-o. Acho que percebeu que desta vez eu não fugiria. O medo já não me dominava mais.Ele se aproximou com passos decididos, deixando marcas de sangue a cada passo.— Você não vai correr? — Ele sorriu, sentando-se no chão, à minha frente.— Você não é mais o pior monstro da minha história. — Sorri, lembrando do homem que um dia amei.Eu me sentia anestesiada, quase entorpecida, como se nada mais fizesse sentido.— Que bom. — Ele olhou para o céu, encarando as nuvens negras. — A tempestade está chegando.Levantei a cabeça. — Ela já chegou, amigo.Ele soltou uma
Observo o jardim coberto pela escuridão da varanda do meu quarto. A mansão da minha mãe permanece exatamente como ela a deixou, até os móveis do meu quarto são os mesmos, intocados pelo tempo, como se ela estivesse aqui cuidando de tudo. O silêncio ao meu redor é absoluto, e a noite parece mais densa do que o normal, com uma sombria promessa de tormento.Quando cheguei em casa, mal consegui conter a dor que transbordava dentro de mim. Tive outra crise intensa de choro, dessas que te deixam sem fôlego, enquanto Paola foi resolver uns assuntos com Zael. A ausência dela me deu uma espécie de alívio, mas ao mesmo tempo me deixou ainda mais vulnerável.Ainda bem que meu primo ainda está em Nova York. Saber que ele está por perto me dá uma sensação de proteção ilusória. Ao menos, com ele aqui, Rodolfo tem menos alguém para manipular. Mas, no fundo, sei que não importa onde Zael esteja, ninguém pode realmente me proteger de Rodolfo. Não de tudo que ele representa.Afinal, Rodolfo não é uma p