— Você irá mesmo se casar, menina Halina.Eu havia acabado de chegar do apartamento de Rodolfo, e estava tomando café da manhã com Paola e Rose, discutindo algumas ideias para o casamento, mas parece que Rose não ficou muito feliz com o assunto. Isso me deixou incomodada, será que ela sabe de algo que eu não sei?Gosto muito de Rose. Ela é discreta, às vezes parece que nem está em casa, e sua comida é impecável. Estou pensando em levá-la para morar comigo quando me casar, mas para isso terei que apresentá-la a Rodolfo. Por incrível que pareça, eles ainda não se conhecem. Todas as vezes que ele vem aqui, Rose está ocupada ou sai para as compras.— Vou sim, Rose. Você não parece feliz.— É que você é nova, tem uma vida linda pela frente. Casamento traz filhos e esses homens do nosso mundo são complicados. Ele vai deixar você continuar com sua vida depois do casamento?Ela tem um ponto. A dúvida se espalha pelo meu coração, e eu não sei o que dizer. Nunca conversei com Rodolfo sobre isso
Uma semana depois...Se tem uma coisa que amo é o escritório do restaurante. Tirando a cozinha, ele é o meu lugar favorito. Quando planejei essa sala, mandei caprichar, porque é aqui onde passo a maior parte do meu tempo. Estudo, trabalho, e até mesmo momentos de descanso são compartilhados aqui.Hoje, por exemplo, estou focada em um trabalho da faculdade sobre Antropologia e História da Alimentação. É um pouco difícil fazer essa análise, já que a cultura alimentar muda em cada país. Também tenho que levar em consideração as práticas históricas, culturais, e até mesmo ambientais e territoriais, tudo relacionado à alimentação. Ou seja, terei muito no que trabalhar hoje.Rodolfo está fora há uma semana. Depois de fazer sua minuciosa vistoria na mansão e me dar autorização para mudar, ele viajou. Mas liga todas as noites e quando acordo encontro mensagens dele querendo saber como estou, o que me deixa com o coração quentinho. Nunca imaginei que um homem como ele pudesse ser assim. Paola
Paro o carro poucos metros longe do restaurante de Halina e atendo a ligação de Fabiano antes de descer.— Como estão as coisas por aí?— Perfeitas, amigo. E quando voltará para casa? Preciso da sua ajuda.— Em breve, ainda estou resolvendo uns assuntos por aqui. E Halina?Suspiro, sabendo o quanto ele se apaixonou por ela, mas o coração de minha irmã já tem dono.— Feliz com o futuro casamento.— Ela vai mesmo se casar, né?— Sim. Você ainda tinha esperança?— Muitas. — Ele ri, mas posso sentir que é uma risada sem vida. — Bom, deixe-me ir. Qualquer coisa, me liga.— Pode deixar. Adeus.Desligo, pego minha bolsa e saio do carro. Graças ao bom Deus, Apolo não é mais o segurança de Halina. Acho que meu futuro cunhado teve pena de mim, mas isso me fez bem. Estou conseguindo focar minha mente em outro lugar. Minha viagem está marcada, apartamento comprado e mobiliado. Itália me espera.Enquanto caminho em direção ao restaurante, vejo uma mulher grávida sair às pressas, chorando. Acho est
A neblina negra se aproximava novamente, mas desta vez, eu não sentia medo. Permaneci sentada, observando-a como se fosse minha única salvação. Desta vez, eu desejava ser arrastada por aquele jovem e sua escuridão profunda; queria que o sangue derramado fosse o meu.Eu o vi sair do galpão da máfia, com as mesmas calças e o torso nu, e a faca ensanguentada em sua mão sujas de sangue. Ele sorriu ao me ver sentada no chão, observando-o. Acho que percebeu que desta vez eu não fugiria. O medo já não me dominava mais.Ele se aproximou com passos decididos, deixando marcas de sangue a cada passo.— Você não vai correr? — Ele sorriu, sentando-se no chão, à minha frente.— Você não é mais o pior monstro da minha história. — Sorri, lembrando do homem que um dia amei.Eu me sentia anestesiada, quase entorpecida, como se nada mais fizesse sentido.— Que bom. — Ele olhou para o céu, encarando as nuvens negras. — A tempestade está chegando.Levantei a cabeça. — Ela já chegou, amigo.Ele soltou uma
Observo o jardim coberto pela escuridão da varanda do meu quarto. A mansão da minha mãe permanece exatamente como ela a deixou, até os móveis do meu quarto são os mesmos, intocados pelo tempo, como se ela estivesse aqui cuidando de tudo. O silêncio ao meu redor é absoluto, e a noite parece mais densa do que o normal, com uma sombria promessa de tormento.Quando cheguei em casa, mal consegui conter a dor que transbordava dentro de mim. Tive outra crise intensa de choro, dessas que te deixam sem fôlego, enquanto Paola foi resolver uns assuntos com Zael. A ausência dela me deu uma espécie de alívio, mas ao mesmo tempo me deixou ainda mais vulnerável.Ainda bem que meu primo ainda está em Nova York. Saber que ele está por perto me dá uma sensação de proteção ilusória. Ao menos, com ele aqui, Rodolfo tem menos alguém para manipular. Mas, no fundo, sei que não importa onde Zael esteja, ninguém pode realmente me proteger de Rodolfo. Não de tudo que ele representa.Afinal, Rodolfo não é uma p
— Inferno, vocês podiam resolver essa merda sem mim, né? — falo assim que entro no galpão da máfia.A discussão com meu irmão caçula, logo após Halina ter deixado o hospital, não saiu como esperado. Acabou em socos e um caos no quarto onde ela estava. Só paramos quando meu telefone tocou, e Alexander me avisou que três homens da Yakuza haviam sido pegos perto do apartamento de Roberta.Por causa disso, não pude ir atrás de Halina pessoalmente, mas enviei homens para mantê-la sob vigilância. Halina? Ela só pode estar brincando, se acha mesmo que vai se afastar de mim. Nunca. Nem que o inferno venha à terra, eu a deixaria escapar. Se for preciso, eu mato o próprio diabo para tê-la de volta.— O que aconteceu com vocês dois? — A voz de Alexander ecoa, mas meu olhar está fixo nos Yakuzas à minha frente.— Uma pequena briga. — Otávio responde, limpando o sangue do canto da boca.— Vocês dois não têm nada melhor para fazer? — Alexander nos repreende. — A organização está cheia de problemas
Sento-me na cama, refletindo sobre como certas coisas nos desestabilizam completamente. Situações que deveriam ser resolvidas de imediato, mas que, por negligência ou teimosia, acabamos deixando para depois. E, com isso, só alimentamos uma bola de neve que cresce cada vez mais, tornando-se incontrolável. É como tentar encontrar o início de um fio emaranhado — uma tarefa praticamente impossível. O certo seria jogar tudo fora e começar de novo, pegar um novo carretel e seguir em frente.Mas e quando essa bagunça acontece em um relacionamento? Devemos simplesmente descartar tudo, ignorar o que já foi vivido e deixar para trás a confusão que se formou? Se eu fosse o mesmo homem que era antes, com a mentalidade que tinha, provavelmente deixaria Halina ir. Afinal, de que adianta correr atrás de alguém que já disse que não te quer?Mas esse novo Rodolfo... ele não consegue. Eu não consigo. E é nesse ponto que me pergunto o que me tornei. Até onde estou disposto a ir por causa dela? Até onde
Eu conheço várias facetas do meu irmão: o supermacho, o que acha que sabe tudo, o que sempre estava pronto para defender a mim e a Alexander, o rei das piadinhas, o conhecedor de caras e bocas, e o que eu mais admiro, o seguro de si mesmo.Se me perguntarem se já vi meu irmão chorar em 26 anos, a resposta é não. Por ter sido o único filho criado sempre ao lado do meu pai, ele sempre foi durão, peito estufado para fora e, às vezes, até inventava de falar grosso.Quando íamos para o ringue de luta, ele era o valentão que ficava fazendo piadinhas. Embora muitas vezes apanhasse no ringue de Alexander, nunca deixava de sorrir e lançar suas piadas de mal gosto.Hoje, pela primeira vez, vejo um lado quebrado do meu irmão que me destrói. Desorientado, sem salvação, o lado que eu desejava nunca ver dele. Só queria que tudo voltasse a ser como antes.Eu o encaro, sentado no sofá da sala, segurando uma caixinha aberta com dois pares de alianças, alianças que ele não teve tempo de entregar.— Pre