Observo o jardim coberto pela escuridão da varanda do meu quarto. A mansão da minha mãe permanece exatamente como ela a deixou, até os móveis do meu quarto são os mesmos, intocados pelo tempo, como se ela estivesse aqui cuidando de tudo. O silêncio ao meu redor é absoluto, e a noite parece mais densa do que o normal, com uma sombria promessa de tormento.Quando cheguei em casa, mal consegui conter a dor que transbordava dentro de mim. Tive outra crise intensa de choro, dessas que te deixam sem fôlego, enquanto Paola foi resolver uns assuntos com Zael. A ausência dela me deu uma espécie de alívio, mas ao mesmo tempo me deixou ainda mais vulnerável.Ainda bem que meu primo ainda está em Nova York. Saber que ele está por perto me dá uma sensação de proteção ilusória. Ao menos, com ele aqui, Rodolfo tem menos alguém para manipular. Mas, no fundo, sei que não importa onde Zael esteja, ninguém pode realmente me proteger de Rodolfo. Não de tudo que ele representa.Afinal, Rodolfo não é uma p
— Inferno, vocês podiam resolver essa merda sem mim, né? — falo assim que entro no galpão da máfia.A discussão com meu irmão caçula, logo após Halina ter deixado o hospital, não saiu como esperado. Acabou em socos e um caos no quarto onde ela estava. Só paramos quando meu telefone tocou, e Alexander me avisou que três homens da Yakuza haviam sido pegos perto do apartamento de Roberta.Por causa disso, não pude ir atrás de Halina pessoalmente, mas enviei homens para mantê-la sob vigilância. Halina? Ela só pode estar brincando, se acha mesmo que vai se afastar de mim. Nunca. Nem que o inferno venha à terra, eu a deixaria escapar. Se for preciso, eu mato o próprio diabo para tê-la de volta.— O que aconteceu com vocês dois? — A voz de Alexander ecoa, mas meu olhar está fixo nos Yakuzas à minha frente.— Uma pequena briga. — Otávio responde, limpando o sangue do canto da boca.— Vocês dois não têm nada melhor para fazer? — Alexander nos repreende. — A organização está cheia de problemas
Sento-me na cama, refletindo sobre como certas coisas nos desestabilizam completamente. Situações que deveriam ser resolvidas de imediato, mas que, por negligência ou teimosia, acabamos deixando para depois. E, com isso, só alimentamos uma bola de neve que cresce cada vez mais, tornando-se incontrolável. É como tentar encontrar o início de um fio emaranhado — uma tarefa praticamente impossível. O certo seria jogar tudo fora e começar de novo, pegar um novo carretel e seguir em frente.Mas e quando essa bagunça acontece em um relacionamento? Devemos simplesmente descartar tudo, ignorar o que já foi vivido e deixar para trás a confusão que se formou? Se eu fosse o mesmo homem que era antes, com a mentalidade que tinha, provavelmente deixaria Halina ir. Afinal, de que adianta correr atrás de alguém que já disse que não te quer?Mas esse novo Rodolfo... ele não consegue. Eu não consigo. E é nesse ponto que me pergunto o que me tornei. Até onde estou disposto a ir por causa dela? Até onde
Eu conheço várias facetas do meu irmão: o supermacho, o que acha que sabe tudo, o que sempre estava pronto para defender a mim e a Alexander, o rei das piadinhas, o conhecedor de caras e bocas, e o que eu mais admiro, o seguro de si mesmo.Se me perguntarem se já vi meu irmão chorar em 26 anos, a resposta é não. Por ter sido o único filho criado sempre ao lado do meu pai, ele sempre foi durão, peito estufado para fora e, às vezes, até inventava de falar grosso.Quando íamos para o ringue de luta, ele era o valentão que ficava fazendo piadinhas. Embora muitas vezes apanhasse no ringue de Alexander, nunca deixava de sorrir e lançar suas piadas de mal gosto.Hoje, pela primeira vez, vejo um lado quebrado do meu irmão que me destrói. Desorientado, sem salvação, o lado que eu desejava nunca ver dele. Só queria que tudo voltasse a ser como antes.Eu o encaro, sentado no sofá da sala, segurando uma caixinha aberta com dois pares de alianças, alianças que ele não teve tempo de entregar.— Pre
Deitada na cama do hospital, fixo meu olhar na janela, ainda tentando processar tudo o que aconteceu. As memórias do carro afundando nas águas geladas do Rio Hudson voltam em flashes, e minha respiração se torna curta e ofegante. O pânico me invade enquanto tento me lembrar dos momentos finais antes de tudo acontecer.De onde surgiu aquele carro? Isso não estava nos planos de Zael, e se estava... por que ele não me contou?Não consigo parar de chorar. O medo toma conta de mim, o frio parece nunca ir embora. O som das sirenes, a água cobrindo tudo à minha volta... Eu deveria estar morta. Eu juro que pensei que dessa vez eu morreria, quando aquele carro veio com tudo para o meu lado e me empurrou sob a ponte.Naquele momento, tive certeza de que seria o meu fim. A única coisa que passou pela minha mente foi: "Ainda bem que Halina não está aqui." Eu não suportaria perder minha irmã. Enquanto tudo acontecia tão rápido, toda a minha vida passou como um filme diante de meus olhos. Mas agor
— Você vai responder à merda da minha pergunta ou vai esperar eu estourar seus miolos? — Minha voz sai num tom baixo, mas ameaçador. Eu já estava no limite. Arranquei Alexander de uma reunião importante sobre o hotel, só porque Zael fez questão de ter uma conversa comigo e meus irmãos, agora esse infeliz continua sem dar uma única informação útil. Zael apenas ri, acendendo um cigarro com uma calma irritante. Olho para a arma em minha mão, louco para puxar o gatilho, mas sei que não posso. Esse desgraçado tem muita influência, e qualquer erro meu pode custar caro. Conheci Zael há alguns anos, quando Alexander precisou escapar de uma investigação do FBI. Zael estava lá dentro, sempre no controle. Ele é conhecido como o "anjo da guarda" da máfia, ajudando todos os lados, mas se uma organização o trair, tudo desmorona. Ele equilibra os dois mundos de forma magistral, sabendo de coisas que nunca imaginamos. Uns dizem que o "anjo da guarda" é o olho que tudo vê, e possivelmente é verdade
— Está pensando em alguém, não é? — Zael comenta, observando minha reação. — Esse seu silêncio diz muita coisa.Dou um passo para trás, tentando manter o controle sobre minha raiva crescente.— Damon e Fabiano são os únicos que fazem sentido agora. — Respondo, com a voz grave.Zael joga seu cigarro no cinzeiro, e balança a cabeça enquanto olha para o chão.— Precisamos ter certeza. Quem quer que seja, vai pagar caro por isso. — Sua voz carrega uma promessa sombria, mas meu foco já está em outra direção. — Damon e Fabiano são os únicos que fazem sentido agora. — Repito.Zael levanta a cabeça, os olhos fixos em mim, como se estivesse tentando ler além do que eu digo.— Acho que não. Pelo que sei, Fabiano é loucamente apaixonado por Halina, ele não faria isso. Se o atentado fosse contra você, eu não duvidaria. — Suas palavras despertam algo dentro de mim, uma raiva velada. Fabiano sempre me pareceu um problema, e agora eu poderia aproveitar a oportunidade para acabar de vez com esse adv
— Graças a Deus cheguei em casa. — Digo assim que Zael abre a porta e me deixa entrar.— Vá descansar, eu tenho assuntos seríssimos para resolver. — Ele responde, com um olhar sério, antes de se afastar.— Menina, que bom que você está bem! — Observo Rose vindo em minha direção com um sorriso no rosto. Eu tento retribuir, mas simplesmente não consigo. Minha vida está um caos, quase morri, e para piorar, Rodolfo não me deixou em paz, mesmo com Zael tomando a frente de tudo. Ele ainda mandou mais homens da organização para vigiar cada passo meu.— Oi, Rose. Cheguei. — tento soar mais animada do que realmente me sinto. Vejo Zael parar e se virar para nós.— Sinto muito por Halina. Já a encontraram? — Ela pergunta com um tom de preocupação.Antes que eu pudesse responder, Zael nos interrompe. — Estamos procurando. Se Deus quiser, ela será encontrada com vida. A polícia e o resgate estão fazendo seu trabalho.Vejo Rose assentir, apertando o avental com força. — Eu espero que a encontrem lo