Despauso o vídeo e vejo meu pai amarrado a uma cadeira, sendo brutalmente espancado por Rodolfo. Mesmo com a imagem borrada e distorcida, consigo compreender o que está acontecendo. Vejo o exato momento em que Alexander se aproxima, fazendo Rodolfo se afastar. Eles trocam algumas palavras, mas o vídeo não tem som, então não consigo entender.Meu coração dói, queima como fogo ao ver Otávio se aproximando com uma cadeira e uma pasta na mão. Meu pai cospe sangue, e eu me afasto brutalmente da mesa, sentindo o ar me faltar. Uma angústia sufocante me aperta, me fazendo sentir tonta e uma raiva que não consigo controlar.Foram eles... Eles mataram meu pai. Otávio...Não consigo concluir o pensamento. Fecho meus olhos, tentando afastar a imagem, mas não há como. É mentira, tem que ser mentira.— A parte mais interessante está no final. - Ouço Ren Katakana, mas não olho para ele. Tento controlar minhas mãos trêmulas, o choro e o grito que estão presos na garganta. — Veja, menina.Me viro e,
Mantém a calma.Essa palavra reverberava na minha cabeça todas as vezes que me questionava onde Desirée poderia estar. Mobilizei todas as conexões, todos os recursos da organização, e ainda assim, nada.Cinco horas. Fazem cinco horas que estamos virando Nova York de cabeça para baixo em busca dela, e mesmo assim nada. Cada minuto que passa só aumenta o peso no meu peito, como se a cidade inteira estivesse se fechando ao meu redor.A incerteza é sufocante. E, pior, o silêncio é absoluto.É como se Desirée tivesse evaporado. Não conseguimos acessar as câmeras de segurança, o que, para mim, não é nenhuma surpresa — sei que Ren Katakana está com ela.Mas onde?Essa incerteza aumenta ainda mais minha tormenta. A ideia de que ela está sob o poder de alguém tão cruel e imprevisível me consome, e cada minuto que passa sem notícias é uma faca girando no meu peito.Olho para Rodolfo, que está concentrado no notebook, analisando rotas e lugares que provavelmente ainda não verificamos. Ele está c
—Você não pode trair o conselheiro da Cosa Nostra.Depois de revelar a Giovanni tudo o que sabia, a única coisa que ele conseguiu entender foi que eu, de alguma forma, estaria traindo Otávio. Como se eu tivesse a obrigação de ser fiel a ele, como se eu fosse uma peça qualquer nesse jogo sujo deles, como se entre Otávio e Marcela eu fosse escolher Otávio.Nem morta faço uma besteira dessa.Otávio mentiu, me enganou, me usou... e a única preocupação de Giovanni foi com minha lealdade. A lealdade que me exigiam, enquanto Otávio, o homem com quem achei que poderia compartilhar uma história, me arrancava do meu próprio chão, me traía de uma forma tão profunda que nem mesmo minha dor parecia suficiente para aplacá-la.Frustrada, joguei o vaso de flores contra a parede. As flores que ele mesmo me deu essa semana, e que agora se estilhaçam ao chão, como uma metáfora para tudo o que era bonito, mas se partiu. O impacto do vaso contra a parede ecoa pela sala, e o som das flores se espalhando pa
Sinto o calor reconfortante me envolvendo, um perfume familiar que traz uma sensação de segurança, mas não consigo afastar o peso da dor e da raiva que ainda estão em minha mente. Ele me levanta do chão, e o conforto que sua presença deveria me trazer agora só me causa repulsa. Eu tento resistir, mas as lágrimas ainda se acumulam, ameaçando cair a qualquer momento enquanto ele me aperta contra seu peito.Quando sou colocada na cama, me viro, ainda tentando afastar o cansaço que ameaça me consumir, e abro os olhos. O que vejo me faz parar por um instante: Otávio está ao meu lado, sua mão segurando a minha. Seus olhos, os mesmos que presenciaram a morte do meu pai, me fitam com uma intensidade que me faz querer gritar.Meus dedos tremem quando tento puxar minha mão das suas, mas é como se um peso invisível me impedisse. A mesma mão que apertou o gatilho, a mesma mão que tirou a vida de meu pai, agora me segura com força.Como eu pude, um dia, achar que esse homem poderia ser o meu futur
Um grito desenfreado escapa da minha garganta, a raiva e o ódio me consumindo de uma forma que eu nunca imaginei ser capaz. Quando percebo, estou golpeando-o com as mãos, o ódio que sinto por ele tomando conta de todo o meu ser. Queria matá-lo ali mesmo, arranhar e destruir cada pedaço desse monstro, mas não posso. Não posso deixá-lo morrer agora, não posso deixar que ele acabe, por mais que a dor que ele me causou seja insuportável. Ele ainda tem um valor. Marcela, minha amiga... A vida dela está entrelaçada com a dele, e essa troca nojenta, essa barganha, me consume por dentro.Eu continuo esmurrando-o, e ele permanece lá, quieto, sem revidar, aceitando o furor das minhas mãos, permitindo que todo o ódio que sinto seja despejado sobre ele. Eu grito, eu choro, e o som das minhas emoções rasgando o silêncio é o único que ecoa. Ele, em sua estranha calmaria, não responde. Apenas se mantém em silêncio, como se já soubesse que nada que ele diga poderia mudar o que eu sinto, a destruição
Essa noite foi uma das mais terríveis que já experimentei. O silêncio se arrastava pelo quarto enquanto minha mente mergulhava em cenários que eu preferia não imaginar. No entanto, como combinado, às sete horas eu já estava na garagem, esperando por ele. Não baixaria a guarda, muito menos voltaria atrás na minha decisão. Por mais que meu coração doa, por mais que minha mente grite para que eu não faça isso, não há escolha. E, mesmo que houvesse, acredito que ainda assim não escolheria outro caminho.O som do elevador subterrâneo rompe o silêncio me fezendo levantar a cabeça. A porta se abriu e lá estava ele. Otávio. Calmo, tranquilo, como se fosse mais um dia qualquer. Uma rocha inabalável, como sempre, mas algo dentro de mim não consegue mais interpretar essa calma como força. É indiferença, ou talvez resignação. Ele caminha em minha direção, e tudo em sua postura diz que ele não teme o destino que o aguarda.A morte. Fecho meus olhos com força ao sussurrar essa palavra em meus pen
— Chegamos. — A voz de Otávio é baixa, quase calma, enquanto ele estaciona o carro em uma área de mata fechada. O som do motor silenciando faz meu coração bater ainda mais rápido, como se soubesse que estou me aproximando do inevitável.Tento respirar fundo, tento controlar a avalanche de emoções, mas é inútil. Cada passo que dou é um caminho direto para a morte.Viro-me para encará-lo, minha voz trêmula. — Só tem nós dois aqui?Ele mantém os olhos fixos no horizonte, como se já soubesse a resposta. — Não. Provavelmente eles já estão por perto, verificando os arredores. É assim que funciona. Se a área estiver limpa, eles saem da toca para me pegar.O ar se prende na minha garganta, e uma onda de pânico me atravessa. — Você não está com medo? — Minha voz sai mais fraca do que eu pretendia.Ele suspira, um som pesado e cansado. — Homens como eu e seu pai não têm medo da morte.Meu corpo endurece, e as palavras saem antes que eu consiga me conter. — Meu pai não era como você.Otávio se v
Dirijo o carro em alta velocidade, mas, cerca de meia hora depois, dois carros bloqueiam a rodovia, obrigando-me a frear bruscamente. Minhas mãos tremem no volante, e o medo de sair do carro me paralisa.— Será que são eles? — Marcela sussurra com a voz quebrada pelo choro.— Espero que não. — Minha resposta sai trêmula, o coração batendo descompassado.Antes que eu consiga dizer algo mais, vejo Giovanni saindo de um dos carros. Ele corre em nossa direção, e um alívio imenso me invade. Marcela e eu estamos seguras... mas Otávio?Fecho os olhos com força, tentando não pensar nele. Eu não deveria pensar nele. Eu não posso. Não agora.Eu sei que havia outra forma de puni-lo. Ele poderia ter sido preso. Mas agora?Abro a porta do carro assim que Giovanni se aproxima. Ele balança a cabeça ao me ver, e seus olhos estão cheios de desapontamento.— Você agiu igual sua mãe... Não, pior. — Suas palavras são como um golpe direto ao meu coração. — Que diabos você fez, Desirée?— Eu fiz o que era