Um grito desenfreado escapa da minha garganta, a raiva e o ódio me consumindo de uma forma que eu nunca imaginei ser capaz. Quando percebo, estou golpeando-o com as mãos, o ódio que sinto por ele tomando conta de todo o meu ser. Queria matá-lo ali mesmo, arranhar e destruir cada pedaço desse monstro, mas não posso. Não posso deixá-lo morrer agora, não posso deixar que ele acabe, por mais que a dor que ele me causou seja insuportável. Ele ainda tem um valor. Marcela, minha amiga... A vida dela está entrelaçada com a dele, e essa troca nojenta, essa barganha, me consume por dentro.Eu continuo esmurrando-o, e ele permanece lá, quieto, sem revidar, aceitando o furor das minhas mãos, permitindo que todo o ódio que sinto seja despejado sobre ele. Eu grito, eu choro, e o som das minhas emoções rasgando o silêncio é o único que ecoa. Ele, em sua estranha calmaria, não responde. Apenas se mantém em silêncio, como se já soubesse que nada que ele diga poderia mudar o que eu sinto, a destruição
Essa noite foi uma das mais terríveis que já experimentei. O silêncio se arrastava pelo quarto enquanto minha mente mergulhava em cenários que eu preferia não imaginar. No entanto, como combinado, às sete horas eu já estava na garagem, esperando por ele. Não baixaria a guarda, muito menos voltaria atrás na minha decisão. Por mais que meu coração doa, por mais que minha mente grite para que eu não faça isso, não há escolha. E, mesmo que houvesse, acredito que ainda assim não escolheria outro caminho.O som do elevador subterrâneo rompe o silêncio me fezendo levantar a cabeça. A porta se abriu e lá estava ele. Otávio. Calmo, tranquilo, como se fosse mais um dia qualquer. Uma rocha inabalável, como sempre, mas algo dentro de mim não consegue mais interpretar essa calma como força. É indiferença, ou talvez resignação. Ele caminha em minha direção, e tudo em sua postura diz que ele não teme o destino que o aguarda.A morte. Fecho meus olhos com força ao sussurrar essa palavra em meus pen
— Chegamos. — A voz de Otávio é baixa, quase calma, enquanto ele estaciona o carro em uma área de mata fechada. O som do motor silenciando faz meu coração bater ainda mais rápido, como se soubesse que estou me aproximando do inevitável.Tento respirar fundo, tento controlar a avalanche de emoções, mas é inútil. Cada passo que dou é um caminho direto para a morte.Viro-me para encará-lo, minha voz trêmula. — Só tem nós dois aqui?Ele mantém os olhos fixos no horizonte, como se já soubesse a resposta. — Não. Provavelmente eles já estão por perto, verificando os arredores. É assim que funciona. Se a área estiver limpa, eles saem da toca para me pegar.O ar se prende na minha garganta, e uma onda de pânico me atravessa. — Você não está com medo? — Minha voz sai mais fraca do que eu pretendia.Ele suspira, um som pesado e cansado. — Homens como eu e seu pai não têm medo da morte.Meu corpo endurece, e as palavras saem antes que eu consiga me conter. — Meu pai não era como você.Otávio se v
Dirijo o carro em alta velocidade, mas, cerca de meia hora depois, dois carros bloqueiam a rodovia, obrigando-me a frear bruscamente. Minhas mãos tremem no volante, e o medo de sair do carro me paralisa.— Será que são eles? — Marcela sussurra com a voz quebrada pelo choro.— Espero que não. — Minha resposta sai trêmula, o coração batendo descompassado.Antes que eu consiga dizer algo mais, vejo Giovanni saindo de um dos carros. Ele corre em nossa direção, e um alívio imenso me invade. Marcela e eu estamos seguras... mas Otávio?Fecho os olhos com força, tentando não pensar nele. Eu não deveria pensar nele. Eu não posso. Não agora.Eu sei que havia outra forma de puni-lo. Ele poderia ter sido preso. Mas agora?Abro a porta do carro assim que Giovanni se aproxima. Ele balança a cabeça ao me ver, e seus olhos estão cheios de desapontamento.— Você agiu igual sua mãe... Não, pior. — Suas palavras são como um golpe direto ao meu coração. — Que diabos você fez, Desirée?— Eu fiz o que era
— Por que ele não ativou a droga do GPS ainda? — A voz de Rodolfo rompe o silêncio, carregada de tensão.Fecho minha mão com força sobre a mesa, sentindo os nós dos dedos estalarem. A mesma pergunta martela na minha cabeça. O pânico está se espalhando rápido, um calor sufocante no peito que não consigo controlar. Encaro Rodolfo, mas não tenho respostas. Pela primeira vez, dou razão a ele: eu mandei nosso irmão para a sepultura.Passo a mão pelo rosto, tentando reorganizar os pensamentos, mas a culpa pesa como uma âncora. Não deveríamos ter elaborado esse plano, muito menos colocado Otávio nessa posição. A ideia parecia perfeita no papel, mas agora que ele está lá fora, sozinho, sem sinal, tudo que consigo pensar é no que pode ter dado errado.Nos últimos meses, trabalhamos incansavelmente para pegar Ren Katakana. O velho é um rato, sempre se escondendo em lugares que nem conseguimos imaginar, deixando destruição por onde passa. Mas desta vez, precisávamos pegá-lo, não apenas pela orga
Sinto como se meus ossos estivessem se partindo, cada golpe mais intenso que o anterior, mas não cedo à dor. O gosto de sangue que invade minha garganta me desperta, me faz querer continuar vivo, apenas para acabar com esse desgraçado. Mais um soco atinge minhas costelas, e meus dentes rangem, forçando-me a suportar a dor, a consumir a dor.Fecho os olhos, permitindo que as memórias do treinamento com meu pai invadam minha mente. Lembro-me do primeiro conselho que ele me deu, sempre firme, sempre direto:"O silêncio é a melhor opção quando o corpo recebe punição."Tantas vezes, quando eu gritava de dor, ele me observava em silêncio, até que a escuridão me tomava. Com o tempo, aprendi a bloquear a dor, a me distanciar do meu próprio corpo. Aprendi a deslocar minha mente, a não sentir, a não reagir. Cada golpe agora é apenas mais uma confirmação do que fui treinado para suportar.— Quantos dos nossos foram mortos pelas suas mãos?Encaro Ren Katakana, esse velho infeliz. Eu vou adorar qu
O local onde Otávio está escondido é um labirinto de obstáculos naturais e artificiais, quase impossível de acessar sem alertar o entorno. Eu divido os homens em grupos para cercar a área, mas sei que uma abordagem direta seria um risco fatal para ele. Minha mente trabalha em alta velocidade, procurando uma solução que evite transformar a missão em um desastre.Depois de analisar o terreno, fica claro que não conseguiremos entrar sem criar uma distração. É a única saída.— Mudança de planos. — Dou a ordem pelo ponto, a voz fria e calculada. — Matem qualquer um é mantenham Otávio e Ren vivos. Só avancem ao meu sinal.A resposta uníssona ecoa em meu ouvido, a coordenação sendo cumprida com precisão, mas ainda assim, meu instinto me diz que é uma missão arriscada. Me sento encostado em uma árvore, fechando os olhos por um momento, tentando reorganizar meus pensamentos. Como vou tirar Otávio dali sem perder o controle? Ele sabe o que vamos fazer. Eu preciso confiar nisso.O som de um moto
A arma em minha mão parece mais pesada, como se compartilhasse do peso da raiva que me consome. Me aproximo rapidamente, meus passos ecoando pelo espaço. Cada detalhe da cena alimenta minha fúria: o sangue no chão, as marcas de tortura no corpo dele, o cheiro metálico no ar.Porra.— Aguenta, Otávio. Vou tirar você daqui. Me ajoelho diante dele, tentando avaliar o estado em que está enquanto minhas mãos já trabalham rapidamente para abrir as algemas. O som do metal rangendo e das vozes abafadas no corredor me mantém em alerta, mas minha atenção está focada em Otávio.— Você... pegou... ele? — Sua voz é um sussurro rouco, cada palavra carregada de dor.— Não.— Rosno entre dentes enquanto finalmente solto suas mãos.Ele quase desaba na minha direção, mas consigo segurá-lo, apoiando-o com um braço. Seu corpo está fraco, e cada movimento é um esforço visível.— Apolo, cobertura! — Chamo, minha voz fria e autoritária. Não posso arriscar nenhum deslize agora.O som de tiros e passos apress